quinta-feira, 15 de abril de 2010

Reflexão do dia – Roberto Freire


Nestes 25 anos da Nova República, há muito o que comemorar como também há muito ainda o que fazer, nos mais importantes aspectos da vida brasileira. Nesse sentido, agora se abre uma nova etapa. E não só no Brasil.
Apesar de muita falácia e tergiversação, o governo do PT divorciou-se radicalmente das esperanças que acendeu com a sua vitória em 2002. Os sonhos que provocou transformaram-se em frustração. O discurso ético revelou-se vazio e a corrupção maculou a esquerda brasileira. O espetáculo do crescimento mostrou-se uma pantomima. As taxas de crescimento de nosso PIB, por todos esses anos, só é superior, na América Latina a pouquíssimos países, dentre esses, às do Haiti.

(Roberto Freire, no lançamento da pré-candidatura de José Serra à Presidência da República, sabado - 10/4/2010)

Palanque não é urna::Dora Kramer




DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

As dificuldades que os partidos governistas enfrentam com suas alianças regionais não representam necessariamente, e por si, prejuízos à candidatura Dilma Rousseff.

Uma coisa são as confusões que a candidata arruma, outra bem diferente são os acertos políticos locais sempre difíceis porque são várias correntes disputando o mesmo espaço.

Consta que os aliados de Dilma ainda não resolveram suas questões em 15 Estados, enquanto aos correligionários de José Serra só falta se acertarem em três.

Dito assim parece que na campanha governista reina a completa desordem e que na seara oposicionista impera a repentina ordem, contrariando a gritaria dos aliados de José Serra que até outro dia diziam que seria absolutamente impossível articular as alianças regionais se o então governador de São Paulo insistisse em ficar no cargo até o último dia permitido por lei.

Pois ele ficou, lançou-se candidato no dia 10 e o mundo não se acabou.

Tanto no governo quanto na oposição, as questões das alianças vêm sendo encaminhadas há algum tempo. Ocorre que, além de tudo acontecer em seu devido tempo, as situações são diferentes: na coalizão governista as coisas são bem mais complicadas de resolver.

Do lado do governo amontoam-se mais de dez partidos, todos com ambições referidas na máquina federal e, para complicar, os dois principais parceiros, PMDB e PT, se já viviam aos trancos e barrancos há anos, por mais razão se estranham agora quando o poder maior está em disputa.

Antes de prosseguir, convém registrar uma obviedade que Ulysses Guimarães gostava muito de repetir porque as pessoas parecem se esquecer: ninguém mora na União. Pois é: embora a representação de repercussão nacional se dê em Brasília, política se faz na província.

É nos Estados que os partidos definem suas forças, de lá é que poderão sair maiores ou menores em termos de governadores, deputados e senadores. Não que a Presidência da República seja mero detalhe. Mas o PMDB é o melhor exemplo de partido sem presidente e com poder porque é forte País afora.

Mas voltando à questão das alianças.

Os tucanos aparentemente estão com a vida ganha. Alianças ajeitadas, à exceção de três Estados, sendo um, o Rio de Janeiro, bem complicado. Mas, ao contrário do governo, contam com dois aliados, DEM e PPS, pacificados, a simpatia de parte do PSB, a adesão de alguma coisa do PMDB e mais o que sobrar em forma de lucro. O cenário é bem menos adverso.

Claro que o PSDB vai pôr o pé na estrada para ter muito mais. Assim como o governo trabalha para organizar os seus. Mas vamos que os acertos de Serra desandem e os aliados de Dilma resolvam brincar separados. É de se perguntar se isso influi realmente de maneira negativa na decisão do eleitor em relação à candidatura presidencial.

A julgar por eleições anteriores, depende muito mais do desempenho dos protagonistas. Quando estão eleitoralmente bem posicionados, são recebidos e disputados por todos, nada é obstáculo. Se vão mal, não há organização perfeita que dê jeito.

Para todos. Inicialmente marcada para o próximo dia 19, a viagem de José Serra a Minas pode ser transferida para 21 de abril, data dos 25 anos da morte de Tancredo Neves. Há tucanos convencidos de que seria o contraponto ideal à visita de Dilma Rousseff ao túmulo do avô de Aécio Neves.

O risco é a motivação soar algo indevida, com um quê de exploração alguns centímetros além da medida.

Mas há o outro lado: se não fizerem, os tucanos ficariam reféns da agenda da adversária.

Efeméride. A onda anual de invasões do MST denominada "abril vermelho" é tratada pelo poder público como parte do calendário nacional.

Da tolerância com a ilegalidade passou-se à cumplicidade, faltando apenas a inclusão na agenda de atrações turísticas internacionais para completar a chancela oficial.

Sangue no verde-e-amarelo:: Clóvis Rossi



DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Faz um mês, depois de visitar o Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "a visita deveria ser quase obrigatória para todos os que querem dirigir uma nação". Seria, achava Lula, um modo de entender o "que pode acontecer quando a irracionalidade toma conta do ser humano".

O que faz depois o governo brasileiro? Recomenda a Mahmoud Ahmadinejad, o presidente do Irã, que visite o Yad Vashem? Não, ao contrário. O ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), que, aliás, estava na visita ao museu de Jerusalém, entrega com um sorriso a camisa verde-e-amarela ao homem que nunca vai visitar o Yad Vashem, não só porque nega o Holocausto mas porque regularmente prega a "aniquilação" dos judeus.

É esse carinho absurdo o problema real das relações Brasil/Irã, e não a posição brasileira de preferir o diálogo às sanções para forçar o regime dos aiatolás a desenvolver um programa nuclear só para fins pacíficos.

Essa é matéria opinável. Tampouco é um problema o fato de Miguel Jorge e comitiva empresarial estarem em Teerã para fazer negócios. Desde sempre, países fazem negócios com quem lhes convêm, sem olhar minimamente para o caráter do regime com o qual negociam.

O que não é tolerável é fazer carinho em quem prende, tortura e mata os opositores, em quem limita brutalmente as liberdades públicas.

A Anistia Internacional divulgou faz pouco relatório em que aponta a execução de ao menos 112 pessoas no Irã nas oito semanas que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad, vivamente contestada.

São mais de duas execuções por dia, quase o dobro da média dos seis meses anteriores à votação.

O gesto do governo brasileiro cobriu de sangue, pois, a camisa verde-e-amarela.

Roberta Sá | Sei Que É Covardia / Leva Meu Samba

PF indicia 'aloprado' do PT por corrupção



DEU EM O GLOBO

Valdebran Padilha está envolvido em fraude em licitações

CUIABÁ. A Polícia Federal confirmou ontem o indiciamento do "aloprado" Valdebran Padilha e mais 45 pessoas pela acusação de desvio de recursos públicos federais em Mato Grosso. Padilha está preso há oito dias, por fraude em licitações de obras financiadas com recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Ministério das Cidades. Ele foi indiciado por fraude em licitação, corrupção ativa e formação de quadrilha.

Os outros 45 foram indiciados por nove crimes: formação de quadrilha, estelionato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, apropriação indébita, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva e prevaricação. Nos próximos dias, o Ministério Público Federal deverá denunciá-los à Justiça. A PF acusa as construtoras de Padilha de fraudar concorrências de obras no município de Santo Antônio de Leverger, a 26 quilômetros de Cuiabá. O prefeito de Leverger, Faustino Dias (DEM), que está afastado por compra de votos, também foi preso e indiciado.

As fraudes foram descobertas durante a operação Hygeia, deflagrada há uma semana. Padilha ficou conhecido em setembro de 2006, às vésperas das eleições. Ele foi flagrado em um hotel de São Paulo portando R$1,7 milhão, que seriam usados para comprar um dossiê com supostas acusações contra candidatos do PSDB. A PF concluiu que o dinheiro era do PT. Na época, o presidente Lula chamou de "aloprados" os petistas envolvidos no caso. Padilha foi indiciado, mas a PF jamais identificou a origem do dinheiro.

MST invade 35 fazendas, sem resistência



DEU EM O GLOBO

No Congresso, Stédile diz que eleição de Serra será "o pior dos mundos"; presidente da CNA pede ajuda à polícia

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Sem enfrentar qualquer resistência da polícia, apesar dos apelos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), até o fim da tarde de ontem o Movimento dos Sem Terra (MST) já havia invadido 35 fazendas em cinco estados, dentro do Abril Vermelho, como é conhecida a temporada de invasões organizada pelo movimento. Só ontem foram quatro invasões, três em Pernambuco, estado com mais casos (19 ao todo) e uma em São Paulo.

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA, pediu ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal sejam usadas para ajudar a impedir as invasões e sugeriu ações da Força Nacional de Segurança para evitar que fazendeiros façam "bobagem" ao reagir às ocupações.

- São 13 anos de Abril Vermelho e 25 anos de MST. É tempo suficiente para criminalizar esse movimento, que já atingiu a maioridade faz tempo - criticou a senadora.

O movimentou também ocupou três escritórios regionais do Incra em São Paulo, no Paraná e em Mato Grosso. Enquanto o MST fazia as invasões, o líder do movimento, João Pedro Stédile, participava de audiência na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, onde criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que a eleição de José Serra (PSDB) à Presidência "seria o pior dos mundos para o MST":

- É claro que nós percebemos que a candidatura Serra seria a retomada do neoliberalismo no Brasil, a retomada das privatizações, a retomada do que foi o governo Fernando Henrique. Então, um governo Serra, para nós, seria o pior dos mundos. Acredito que em nossas bases ninguém vai votar no Serra - disse, com a ressalva de que, até o momento, os sem-terra não discutiram em quem votar.

Convidado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado a fazer um balanço sobre sua gestão na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes criticou o Abril Vermelho. Gilmar disse que o direito à propriedade deve ser respeitado:

- Protestar sim, direito de manifestação sim, direito de reunião sim, mas sem violência. Os direitos fundamentais todos, inclusive o de propriedade, devem ser respeitados.

A direção do MST vai concentrar as ações do Abril Vermelho no próximo sábado, para lembrar o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás. Será realizado o que o MST chama de dia nacional de lutas pela reforma agrária. Em resposta à senadora, o MST afirmou que as propostas da CNA "pretendem mais uma vez criminalizar as lutas sociais e impedir o avanço da reforma agrária".

"A senadora não apresenta nenhuma proposta para resolver os problemas das quatro milhões de famílias pobres do campo e das 90 mil acampadas em todo o país. No entanto, suas medidas buscam proteger da lei agrária cerca de 15 mil fazendeiros", afirma nota do MST.

Contra as ocupações, a CNA fará campanha na TV e designará advogados para auxiliar fazendeiros. Segundo Kátia, o pedido ao ministro é o primeiro passo da campanha "Vamos Tirar o Brasil do Vermelho - Invasão é Crime". O próximo passo será a coleta de um milhão de assinaturas contra as invasões.

Chesf entra no discurso de Serra



DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Seguindo estratégia definida pelos líderes do PSDB, DEM e PPS, presidenciável tucano irá abordar temas regionais, como o esvaziamento da estatal

O esvaziamento da Companhia Hidro Elétrica de São Francisco (Chesf) em Pernambuco será um dos temas regionais que o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, absorverá no seu discurso. A ideia é que o tucano, que já tem a pecha (veemente negada por ele) de não gostar do Nordeste, não se prenda a uma agenda nacional e diversifique sua fala, tentando aproximação com todas as regiões do País. O assunto entrou na pauta do comando da campanha de Serra (líderes do PSDB, DEM e PPS), que se reuniu terça-feira em São Paulo. Também foi proposta a criação de uma frente parlamentar com agenda e discurso afinados para que todos “falem a mesma língua”.

Serra não participou da reunião, pois dedicou o dia a conceder entrevistas a emissoras de rádio, como tem feito para se apresentar como presidenciável ao País. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, presente no encontro, levantou o tema da Chesf, colocando como exemplo de como é possível desdobrar problemas regionais dando foco nacional. Guerra, coordenador-geral da campanha de José Serra, contou que a reunião foi convocada pela equipe de comunicação da campanha do presidenciável. O senador, assim como os colegas Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Marco Maciel (DEM), já se pronunciaram contra o desmonte da Chesf, a partir de mudanças patrocinadas pelo governo Lula.

O presidente do PPS, Roberto Freire, adiantou que o mote do discurso de Serra será a “má gestão do sistema elétrico brasileiro”. “A Chesf vai experimentar mudanças que não serão para melhor. Acham que o governo Lula é muito bom para Pernambuco, mas o esvaziamento da Chesf é um exemplo do descuido dessa gestão do PT. Dilma é boa gerente? É nada! É péssima! Esse setor era da dona Dilma”, disse Freire, ao JC, ontem, referindo-se à presidenciável o PT, Dilma Rousseff, que foi ministra de Minas e Energia, antes de ocupar a Casa Civil.

José Serra já demonstrou publicamente o desejo de discutir o setor elétrico com sua principal adversária nesta eleição. Ele chegou a cogitar falar da Chesf no seu discurso de lançamento da pré-candidatura, sábado passado, em Brasília. Mas recuou para não ser acusado de oportunista. Curiosamente, o mesmo PSDB que defende hoje o fortalecimento da Chesf tentou privatizá-la no segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Não conseguiu por causa de uma reação suprapartidária que envolveu os ex-governadores Miguel Arraes (PSB) e Roberto Magalhães e até, nos bastidores, o vice-presidente Marco Maciel (DEM). A oposição em Pernambuco, em recente protesto que realizou no Recife, apelidou Dilma de “madrasta da Chesf”. Ontem, o governador Eduardo Campos (PSB) recebeu o ministro das Minas e Energias, Márcio Zimmermann, no Palácio das Princesas. O ministro foi sabatinado em reunião do Cedes. Eduardo criticou, pela primeira vez, o processo de reestruturação do setor elétrico brasileiro, que está tirando a autonomia da Chesf.

ELOGIOS

Ontem, em visita a Salvador (a primeira oficial como pré-candidato), Serra elogiou o governo Lula. Questionado se o presidente fez coisas boas em sua administração, o tucano respondeu:
“Sem dúvida, sem dúvida. Por exemplo, na época do enfrentamento da crise econômica. O governo foi bastante ágil”, afirmou Serra, que citou ainda a “consolidação de várias transferências de renda, de auxílios”. “No Bolsa Família foi um avanço. Aliás, eu quero dizer que o Bolsa Família, na minha perspectiva, deve ser reforçado.” Serra negou que estivesse fazendo uma viagem “política” a Salvador. Mesmo assim, teve agenda de candidato.

Discurso bravo mas pouca radicalização:: Maria Inês Nassif




DEU NO VALOR ECONÔMICO

As pesquisas de opinião que foram divulgadas desde o início do ano revelam uma sociedade muito menos radicalizada do que fazem crer os sangrentos debates em torno dos dois candidatos que polarizarão a campanha eleitoral para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, o PSDB foi bloqueado nas classes de renda e escolaridade baixas e o PT praticamente expulso do eleitorado de renda e escolaridade altas; e o PT praticamente monopolizou os votos nas regiões mais pobres, enquanto o PSDB manteve índices mais altos de votação em regiões mais ricas. Nessas eleições, pelo menos até agora, não parece existir um enorme bloqueio de acesso de candidatos a determinadas faixas de renda e escolaridade, ou mesmo a regiões.

Tomadas as pesquisas de intenção de voto de 2006 e de 2010 mais próximas da data de desincompatibilização para disputar as eleições (seis meses antes) do Instituto Vox Populi - a divulgada em março e a de junho de 2006 -, o quadro de radicalização das eleições passadas se revela, de forma explícita, na divisão regional. O Estado mais pobre, o Nordeste, em junho de 2006 acenava com 62% das intenções de voto a Lula; no Sudeste, o índice caía para 39%; no Sul do país, para 38% e no Centro-Oeste/Norte, ficava em 37%. Na média nacional, Lula tinha, nessa ocasião, 45% das intenções de voto. Na pesquisa do mês de março deste ano, o mesmo instituto não registra uma disparidade regional tão grande.

De todas as regiões, o Nordeste e o Sudeste parecem ser as regiões que mais radicalizam. No Nordeste, a candidata do PT, Dilma Rousseff, tem 40% das intenções de voto, contra 26% de José Serra (PSDB). Os votos declarados a ela em todo país representam 31% (9 pontos a menos que os dos nordestinos); a Serra, são 31% (8 acima dos votos a ele declarados no Nordeste). Naquela região, a taxa de rejeição de Dilma é de apenas 9% (contra 15% da média nacional); a de Serra sobe para 20% (contra 18% da média nacional).

No Sudeste, ocorre o inverso: José Serra tem 43% das preferências (5 pontos a mais que a média nacional), contra 27 de Dilma (6 a menos que a nacional). Mas, nessa região em que Lula amargou dificuldades em 2006, Dilma e Serra empatam nos índices de rejeição (19% cada, 1% acima da média nacional de Serra e 4% acima da média de Dilma).

Na Região Sul, onde o PT teve problemas de acesso em 2006, os dois candidatos mantém índices aproximados à média nacional de intenção de voto (Serra tem 38% e Dilma 34%). Nessa região, existem elementos nas pesquisas que podem indicar maior facilidade para a petista do que seu partido teve há quatro ano. Lá, a rejeição de Dilma está próxima da média nacional - 16%, 1 ponto acima. Serra tem 13%, 5 pontos abaixo de sua média nacional. Em compensação, Dilma é fortemente identificada como candidata de Lula, cuja avaliação positiva atinge 73% naquela região (contra 77% da avaliação nacional mas, de qualquer forma, muito alta). No Rio Grande do Sul, onde o Vox Populi fez uma pesquisa em janeiro, Serra tem uma grande vantagem: 38%, contra 24% de Dilma. Mas Lula, que perdeu no Estado nas eleições passadas, exibe um inédito poder de transferência: 15% dos entrevistados declararam que votariam, com certeza, num candidato indicado por Lula, e 33% que poderiam votar. Nesse mesmo Estado, Serra, de um partido que tem captado mais votos conservadores (eleitores mais velhos e de renda e escolaridade mais alta), exige uma singular posição entre jovens de 25 a 29 (46%) e mantém favoritismo entre os com mais de 50 anos (44%), mas consegue acesso a eleitores de até um salário mínimo (42%). Nessa última faixa de renda, Dilma obtém a preferência de apenas 16% dos entrevistados.

No índice nacional, existem também dados que podem indicar que o comportamento do eleitor nessas eleições não será exatamente o observado 2006. Serra, que tem 34% das intenções de voto, exibe 30% das preferências dos entrevistados que declaram ganhar até um salário mínimo e 36% entre os jovens de 16 a 24 anos. Dilma, que registrou 31% das preferências dos entrevistados em todo o país, teve 35% das declarações de voto dos eleitores com nível superior.

Os dados do Instituto Sensus parecem corroborar a tese de que as intenções de voto nos dois candidatos estão distribuídos de forma muito mais uniforme nessas eleições do que nas passadas. Pesquisa CNT-Sensus de 3 de abril de 2006 apontava a preferência de 37,5% dos entrevistados em Lula, contra 20,6 para o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. No Nordeste, Lula tinha 55,1% das preferências, 17,6 pontos acima da sua média nacional; Alckmin, apenas 8,7% das declarações de voto na região, 11,9 pontos a menos que sua média nacional. Alckmin tinha, no país, 34,6% das preferências dos entrevistados com curso superior ou mais, 14 pontos a mais que sua média nacional; nessa faixa, apenas 23,4% declararam que iriam votar em Lula, 11,1 pontos a menos que o índice total de intenções de voto no petista.

Na pesquisa do Instituto Sensus semana passada - coletada entre 5 a 9 de abril de 2010 -, Dilma aparece como a preferida de 43,6% dos nordestinos (um índice 11,2 acima de seu nacional) e Serra, com 25% das intenções de voto (menos 7,7 pontos que o nacional). Na faixa de escolaridade superior, Serra exibe 6,3 pontos acima de sua preferência nacional e Dilma, apenas 5,2% a menos que sua média.

Esses dados iniciais da campanha podem indicar que não será bom negócio, para os dois candidatos, uma grande radicalização ideológica. Para Serra, seria interromper um acesso junto ao eleitorado mais pobre e menos escolarizado - e, nesse momento, opera inicialmente com a vantagem de ser o mais conhecido para essa faixa da população. Para Dilma, radicalizar à esquerda poderia interromper uma aceitação maior junto aos mais ricos e aos mais escolarizados, que rejeitaram in limine o presidente Lula nas eleições passadas.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

Charge: Dilminha furacão


DEU NO JORNAL EXTRA(Rio)

Dia de cantoria e elogios a Lula

DEU EM O GLOBO

Em visita à Bahia, Serra, bem-humorado, aponta avanços do governo petista

Fábio Fabrini


SALVADOR. No primeiro ato público após o lançamento de sua candidatura à Presidência, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) incorporou o discurso "paz e amor", evitando o confronto com o governo Lula - e chegando até a elogiá-lo. Em visita à capital baiana, onde a popularidade de Lula é alta e candidata petista, Dilma Rousseff, está à sua frente nas pesquisas, o tucano apontou boas políticas da administração petista: as medidas para enfrentar as turbulências da economia no ano passado e o Bolsa Família, que prometeu consolidar.

Perguntado, em tumultuada entrevista, se houve coisas boas no atual governo, Serra respondeu:

- Sem dúvida, sem dúvida. Por exemplo, na época do enfrentamento da crise econômica, o governo foi bastante ágil; na consolidação de transferências de renda, de auxílios. No Bolsa Família, foi um avanço. Aliás, eu quero dizer: na minha perspectiva, ele deve ser reforçado - afirmou o tucano, prometendo agregar ao programa oportunidades de emprego e outros cuidados, inclusive na área da saúde.

Numa clara demonstração de que evitará comparações do atual governo com o de Fernando Henrique Cardoso, o pré-candidato tucano disse que o debate eleitoral versará sobre a continuidade de boas ações e voltou citar a era Lula:

- É um governo que trabalhou, que produziu vários avanços. Agora, nós temos de olhar para o futuro. O tema desta eleição não vai ser o presente nem o passado. Vai ser o futuro: quem é que pode continuar tocando bem o Brasil para a frente - disse Serra.

Perguntado sobre declarações de Lula, que disse ter deixado o "prato feito" para os sucessores, Serra repetiu apenas o bordão de sua campanha - "O Brasil pode mais" - e citou três áreas em que há necessidade de avanços: emprego para os jovens, saúde e segurança.

Em Salvador, ele visitou obras sociais de Irmã Dulce, acompanhado do pré-candidato do DEM ao governo baiano, o ex-governador Paulo Souto. A cúpula tucana resolveu antecipar a sua viagem ao estado para aproveitar a divisão da base aliada do presidente Lula no estado. Depois de dar como certa a presença do ex-governador César Borges (PR) em sua chapa, como pré-candidato ao Senado, o governador Jaques Wagner (PT) o perdeu para o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), que também disputará o Palácio de Ondina.

Na chegada ao complexo hospitalar fundado pela religiosa, Serra beijou crianças, conversou com médicos e, bem-humorado, entoou versos de Ataulfo Alves numa roda de samba de pacientes.

- Atire a primeira pedra, iaiá, aquele que não sofreu por amor - cantou, microfone em punho, gingando o tronco e com largo sorriso: - De Ataulfo, eu conheço todas - gabou-se, antes de arriscar trechos de "Help", dos Beatles.

Serra seguiu depois para uma rápida visita ao Mercado Modelo, tradicional ponto de visitação turística. À noite, concedeu entrevista à Rádio Metrópole e, em seguida, visitaria uma emissora de TV.

Pelas ruas da capital baiana, enfrentou alagamentos, provocados pelas fortes chuvas, e chegou a passar próximo a uma loja que desabou à tarde, ferindo gravemente uma pessoa. Uma das poucas críticas foi justamente sobre a capacidade de resposta do governo federal a temporais:

- A chuva aqui em Salvador foi espantosa. O governo federal precisa criar uma Defesa Civil especial, no país inteiro, com tropas preparadas.

À rádio, Serra se disse confiante no apoio do ex-governador mineiro Aécio Neves, que disputou com ele a vaga de pré-candidato à Presidência.

- Houve muita antecipação de campanha, mas tem certas coisas que não se antecipam. A minha ida a Minas não tem nada a ver com isso. Vice é (definido em) maio ou junho. Aliás, ninguém ainda tem vice - comentou, referindo-se a Dilma Rousseff, que ainda não oficializou a entrada do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), em sua chapa.

Lula critica slogan, e Serra evita polêmica



DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente diz que tucanos "não achavam que o Brasil podia mais" quando governavam; ex-governador elogia gestão de petista

Na Bahia, presidenciável reafirma bordão, mas evita bater boca com Lula; para Serra, todos os governos têm "crédito" por avanços

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou diretamente o slogan da campanha do pré-candidato José Serra (PSDB) à Presidência, "O Brasil pode mais". Lula disse que o país não podia mais quando era governado pelo PSDB. "O problema é que, quando eles [os tucanos] governaram, eles não achavam que o Brasil podia mais", disse, após visitar uma feira do setor de aço em São Paulo, à noite.Questionado se concordava com o mote, Lula respondeu: "O Brasil sempre pode mais. O Brasil pode tudo, é só a gente acreditar na gente".

Mais cedo, em Brasília, Lula havia ironizado o lema ao falar a uma plateia de micro e pequenos empresários: "Eu acho que vocês podem fazer mais do que estão fazendo, porque muitas vezes a gente também se deixa acostumar pela mesmice".

No sábado, Lula havia criticado o slogan por, supostamente, ser uma cópia da campanha de 2008 do presidente norte-americano Barack Obama ("Yes, we can", que significa "Sim, nós podemos").

No evento em São Paulo ontem, Lula criticou a oposição, sem, no entanto, mencionar Serra diretamente: "Quando tudo está pronto fica fácil, a gente não quer discutir".

Serra, que ontem abriu a pré-campanha no Nordeste pela Bahia, evitou polemizar com Lula.

Ele disse que o Brasil pode mais, sim, nas áreas de saúde, segurança pública e criação de empregos para jovens.

O PSDB não pretende cair na estratégia do PT, de contrapor Serra a Lula, evitando a polarização diretamente com Dilma.

"O Brasil pode mais e isso é indiscutível", disse Serra, durante visita às obras sociais de Irmã Dulce (religiosa que morreu em 1992), em Salvador.

Serra posou para fotos, dançou, assistiu a um coro e fez um dueto com um dos pacientes.

Sobre a boa avaliação do governo Lula, Serra reconheceu avanços na atual administração, mas disse: "Esta eleição não é do passado, é do futuro, de quem é que pode continuar tocando o Brasil para a frente".

À noite, Serra voltou a comentar a fala de Lula, em tom conciliador: "O presidente quis dizer que o Brasil avançou nos últimos anos, criando uma base para que possamos avançar muito mais. Eu concordo. E concordo também que devemos dar o crédito a quem merece. No meu discurso fiz questão de frisar todos os avanços dos governos da Nova República".

Ao final da visita a Salvador, Serra concedeu uma entrevista de quase uma hora à rádio Metrópole. Ele afirmou ainda que as eleições só vão "esquentar" após a Copa. "Você acha que alguém vai prestar atenção na corrida eleitoral com a Copa? Eu mesmo vou ficar atento à Copa do Mundo. A partir do fim dela é que tem a aceleração."

Ele também defendeu a extradição para a Itália de Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua em seu país por assassinato durante militância na esquerda armada. O Supremo Tribunal Federal julgou a questão e deu ganho de causa para o governo italiano, mas delegou a decisão final a Lula.

Plano B de Gabeira contra desistência depende do TSE

DEU EM O GLOBO

Palanque de Serra no Rio ficaria prejudicado sem aliança

Isabel Braga e Cássio Bruno


RIO e BRASÍLIA. A tentativa do PV de contornar os problemas da coligação em torno da candidatura do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) ao governo do Rio, com o lançamento de mais de dois candidatos ao Senado na mesma chapa, deverá render novo debate no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento de especialistas é que essa dúvida tornou-se procedente a partir do fim da regra da verticalização nas alianças partidárias.

O TSE terá de dizer se a emenda que acabou com a verticalização liberou totalmente a possibilidade de coligações eleitorais ou se ainda vale a regra prevista no artigo 6º da lei eleitoral ( Lei 9.504/ 97). Este artigo faculta aos partidos, dentro da mesma circunscrição ( no caso do Rio, o estado), celebrar coligações para eleição majoritária, proporcional, "ou para ambas". E estabelece que, no caso das proporcionais, é permitido fazer subcoligações, desde que formadas por partidos que integram a coligação na eleição majoritária.

Ou seja, se quatro partidos se unem para tentar eleger um governador, eles podem, no caso de eleição de deputados, fazer coligações menores. No entendimento de especialistas, isso não se estenderia à eleição de senadores, mas caberá ao TSE esclarecer.

O deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), relator da minirreforma eleitoral do ano passado, diz acreditar que o TSE manterá o entendimento de que não é possível subcoligações no caso de eleições majoritárias nos estados.

- Entendo que cada partido pode se coligar para o governo e apresentar, sozinho, seu candidato ao Senado. Mas não pode haver, para o Senado, subcoligações entre os partidos que formam a chapa para o governo.

Para o advogado eleitoral do PSDB, Afonso Ribeiro, a lei é mais restritiva e só permite que uma coligação para o governo lance dois candidatos ao Senado. O PV entrou com consulta indagando justamente se cada partido pode lançar individualmente seu candidato ao Senado. E também perguntou se é possível sub coligações. O PV quer lançar Aspásia Camargo ao Senado, e os nomes de Marcelo Cerqueira (PPS) e Cesar Maia (DEM) seriam lançados pelos demais partidos. A consulta ainda não foi respondida.

Verde diz estar preocupado com palanque da oposição

Gabeira disse ontem que sua maior preocupação é a de garantir um candidato da oposição que seja competitivo.

- Essa proposta (de lançar quatro candidatos ao Senado) foi feita para acomodar as divergências. Estamos também pensando em outras opções, mas não posso adiantar ainda - disse Gabeira. - Existe uma dominação do PMDB no estado, que pode ser ameaçada por uma candidatura de oposição. Podemos nos unir porque o mais importante é ter um candidato de oposição competitivo.

A crise na coligação PV/PSDB/DEM/PPS no Rio, provocada pela resistência de parte dos verdes e dos tucanos a Cesar Maia, pode atingir as pretensões do pré-candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, de ter um palanque no estado.

Gabeira está sendo pressionado por aliados, que temem desgaste se o deputado fizer dobradinha com Cesar Maia, que vai disputar uma vaga no Senado pelo DEM. Gabeira e Serra devem se encontrar ainda esta semana para tentar solucionar o impasse.

Ontem, o presidente regional do PV no Rio, Alfredo Sirkis, admitiu que a situação na coligação está tensa:

- A hipótese (da desistência de Gabeira) tem que ser considerada. Ele (Gabeira) está preocupado e impaciente. Mas temos até junho, na convenção, para resolver. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, disse que o partido seguirá as orientações de Serra, independentemente de Gabeira ser ou não candidato ao governo do Rio:

- Faremos o que Serra mandar para beneficiá-lo no palanque do Rio.

Há quase duas semanas, Rodrigo Maia centrou ataques em Gabeira, dizendo que "ele recebe meia dúzia de mensagens contra Cesar Maia e entra em TPM".

Ontem, por e-mail, Cesar Maia foi mais cauteloso:

- Acho que o Rio deixaria de contar com um vetor alternativo, o que prejudicaria muito a decisão do eleitor. Espero que isso (a desistência de Gabeira) não ocorra.

A herança maldita:: Luiz Aurélio Leite


A herança maldita a ser deixada por Lula ainda é difícil de ser avaliada. No contexto da cultura do brasileiro, sem nenhuma dúvida, ela será gigantesca em função da valorização da malandragem, da esperteza, do vale-tudo político, da tentativa de consolidação da impunidade, da desvalorização do esforço e da educação como instrumentos de conquista da cidadania etc.

Do ponto de vista econômico ... só a atuação do BNDES já dá medo. Ontem mais uma face desta realidade foi revelada pelo governo Lula. Como inexistem parceiros no mundo dispostos à tarefa, o Brasil, ou o BNDES, vai financiar o Irã. Lula levará esta alternativa pelega de furar o bloqueio internacional ao companheiro Ahmadinejad, se é que vale alguma analogia com o sindicalismo pós-moderno brasileiro.

É o banco, mais uma vez, atuando sem nenhum freio ou desconforto em quatro pontas. A que transforma a Amazônia em pasto, a que beneficia grandes conglomerados já ilegitimamente beneficiados, nos últimos 7 anos, a que permite o escoamento da carne de boi para o Irã e a que apóia a absurda e irresponsável política externa dos irresponsáveis Lula, Amorim e Garcia.

Além da questão econômica, da replicação da maldição de exportarmos produtos sem nenhum valor agregado, a comercialização de carne para o Irã ainda atende a alguns requisitos no mínimo esquisitos. Alguns até mesmo duvidosos em relação à legislação brasileira.

Os frigoríficos envolvidos na estória precisam dispor de fiscais e veterinários mulçumanos, o que é bastante razoável já que só a eles é dado o supremo privilégio de compreender a diferença do boi estar ou não com o peito apontado para Meca na hora em que é sacrificado, já que, neste caso, não cabe a expressão abatido. Algumas mudanças também precisam ser processadas de modo a incorporar tecnologias de ponta na hora em que se dá a matança: o animal deve ser sangrado nas traquéias e nas jugulares até a morte.

A explicação é tão óbvia que nem caberia aqui expô-la: elimina-se toxinas existentes no sangue e outras impurezas não especificadas. O resultado, segundo o diretor executivo da Federação das Associações Mulçumanas do Brasil, Mohamed Hussein El Zoghbi, responsável pela fiscalização dos frigoríficos que exportam carne para as nações mulçumanas, "é uma carne muito mais tenra, saborosa e de qualidade superior". Para quem enforca seres humanos apenas por padecerem de descontentamento político, isto soa até normal.

Também devem achar normal o BNDES ser usado nessa mixórdia. Em relação a essas “operações lucrativas”, espera-se que as taxas de juros aplicadas não engordem o conjunto dos dados sigilosos administrados pelo banco. Todos devidamente apartados da possibilidade de atender à “desnecessária” curiosidade alheia.

De nada vale, mas declaro aqui que não gostaria de ver o imposto que pago ser transformado em moeda de troca entre governos que funcionam a partir de concepções equivocadas.

Luiz Aurélio Leite é ambientalista e consultor empresarial

Basta a observação:: Alon Feuerwerker




DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Os sujeitos que entre 1964 e 1985 alcançaram o adjetivo de históricos, e que ainda estão por aqui, dividem-se basicamente em duas categorias: os pacificados com a própria biografia e os demais

Conduzir o debate a partir de juízos sobre os adversários é o caminho mais seguro para o desastre na política. Um bumerangue infalível, pois permite ao oponente vitimizar-se. De vez em quando desavisados enveredam pela trilha, pois ela leva jeito de ser bonita e fácil. Só impressão.

Dia desses vi um documentário sobre Nelson Mandela, onde a explicação para o longuíssimo período dele atrás das grades era a luta contra o apartheid. Uma falsificação histórica, comum nos processos de glorificação e criação de mitos.

Teve um monte de gente que lutou contra o apartheid e não foi presa. Mandela ficou um tempão encarcerado porque adotou o caminho da luta armada contra a segregação dos negros.

E daí? E daí nada. Uma vez no poder, Mandela seguiu pela trilha difícil e frutífera da conciliação. Está em Invictus, o filme bacana de Clint Eastwood. Um pouco glamourizado, mas paciência. O cinema seria muito chato se fosse só reprodução da vida real.

Concluiremos, então, que o epílogo da carreira de Mandela representou a negação do que propunha no começo da caminhada? Ou, ao contrário, a ratificação da tática adotada nos anos 1960? De novo, nenhuma das anteriores. Aqui, o método do juízo a posteriori conduziria a um desastre historiográfico.

Gandhi preferiu a não violência e alcançou a independência da Índia, mesmo amputada do que viria a ser o Paquistão. Pode-se então afirmar que Gandhi é superior moral ou politicamente a Mandela? Quem seria irresponsável de dizer isso?

A história não funciona assim. Na abordagem dela, mais útil é analisar os fatos e sua influência sobre os outros fatos. E como são influenciados por estes. Uma polêmica, por exemplo, é quanto a luta armada no Brasil na segunda metade dos anos 1960 foi causa ou consequência do endurecimento do regime militar. Um trabalho duro para os historiadores. Nunca chegarão ao consenso.

Vejam que eu disse quanto, e não se. Faz toda a diferença. O quanto permite uma avaliação histórica, escapando do juízo quase moral a que somos empurrados se optamos pelo se.

Suponha que a Palestina e Israel cheguem a um acordo de paz com o mútuo reconhecimento e o compromisso bilateral de plena segurança, além da anistia de quem praticou atos de violência. Razoável. Por acaso esse desfecho seria um diploma de honra ao mérito para quem explodiu crianças em ônibus ou atirou deliberadamente em civis? Claro que não.

A função de juiz moral ou político da história embute uma taxa letal de pretensão. Como julgar o preso político que sob tortura passa aos algozes informações que depois serão usadas para prender e eventualmente seviciar outras pessoas? Impossível, além de aí sim imoral. E repugnante, quando o carrasco se autonomeia para sentenciar sobre o comportamento da vítima.
Na ditadura brasileira houve quem lutou armado e quem preferiu fazê-lo só com as armas da mobilização e da palavra. Houve quem conseguiu ficar no Brasil e quem precisou sair. Houve quem se arrependeu e trocou de lado. Houve quem mudou de ideia sobre o melhor caminho para alcançar o objetivo, e ajustou-se no meio do caminho. E houve quem não viveu para refletir sobre a própria experiência.

São todas classificações que pegam gente de ambos os lados. E os critérios se referem a fatos já encerrados. Uma contabilidade factual fechada.

Vindo para o presente, os sujeitos que entre 1964 e 1985 alcançaram o adjetivo de históricos, e que ainda estão por aqui, dividem-se basicamente em duas categorias: os pacificados com a própria biografia e os demais.

Não é tão difícil identificar os integrantes de cada clube. Não é necessário método muito sofisticado. Basta a simples observação.

Bom sinal

Vai chegando ao fim o biênio do ministro Gilmar Mendes na Presidência do Supremo Tribunal Federal. Houve nesse período decisões do STF para todos os gostos, e para todos os desgostos.

Quem se der ao trabalho de listar, não conseguirá encontrar um fio condutor ideológico, ou político, nas sentenças da Corte.

O que é bom. Mostra que o Supremo está cumprindo sua função, julgando caso a caso de acordo com a consciência dos juízes.

Empresário aprova Lula, mas vota Serra

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Cristiane Agostine e Ana Paula Grabois, de São Paulo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi bom para o setor empresarial e será lembrado como um período de forte crescimento do setor produtivo, segundo empresários e dirigentes de grandes grupos industriais. Em enquete realizada pelo Valor na terça-feira, na entrega do prêmio "Executivo de Valor 2010", todos os que responderam à sondagem informaram que suas empresas cresceram de forma significativa nos últimos oito anos. Dos 142 empresários que participaram da pesquisa, nenhum disse que nesse período sua companhia estagnou ou encolheu. No entanto, a maioria pretende votar na oposição na eleição presidencial de outubro. José Serra (PSDB), ex-governador de São Paulo, recebeu 78% dos votos. A candidata do presidente Lula, ex-ministra Dilma Rousseff, teve 9% das intenções de voto. A pré-candidata do PV, senadora Marina Silva, conquistou 5,6% dos votos e o deputado Ciro Gomes, do PSB, teve apenas um voto, 0,7% do total.

O governo Lula é bem avaliado, segundo a sondagem: 52,8% consideram a gestão ótima ou boa e três em cada quatro empresários disseram que suas companhias ganharam muito no governo Lula. Apenas 6,3% classificam a administração como ruim ou péssima. A visão positiva em relação ao governo, entretanto, ainda não foi convertida em intenção de voto para a petista. Entre os que informaram que suas empresas cresceram muito, Dilma recebeu 9,3% dos votos e Serra, 79,4%.

Os empresários responderam três perguntas, sem se identificar e depositaram o voto em uma urna.

Durante a premiação, empresários ouvidos pelo Valor evitaram revelar a preferência por um candidato, mas apontaram a prioridade do próximo governo: o controle dos gastos públicos. A redução de gastos correntes, analisaram, ajudaria o país a ter mais recursos para investir em obras de infraestrutura. Na análise do presidente executivo da Vale, Roger Agnelli, o sucessor de Lula deverá atuar no controle de gastos. "Isso pode mexer na economia como um todo", disse. Walter Schalka, presidente da Votorantim Cimentos, reforçou: "Não podemos ficar sustentando a máquina pública. Precisamos de um choque de gestão".

A questão é mais relevante do que uma eventual mudança no câmbio, avaliou Harry Schmelzer Junior, presidente da WEG. "É preciso ter controle de gastos. Mesmo quando a economia está favorável o governo continua aumentando o custeio. É o problema do governo e Dilma vai ter que mostrar como vai reverter isso."

Para empresários, ainda não está claro qual candidato está mais identificado com a questão cambial ou com o controle de gastos. Na avaliação de Mario Longhi, CEO da Gerdau Ameristeel, "é muito cedo para saber qual vai ser o posicionamento dos candidatos". "É preciso saber o que cada um vai defender", afirmou. Pedro Janot, presidente da Azul Linhas Aéreas, contudo, já definiu o voto e considera que Serra tem perfil adequado para reduzir gastos correntes. "O controle maior do gasto público e a reforma tributária terão que sair. É o que vai desonerar a produção e fazer o Brasil crescer. Serra está mais preparado, tem mais arcabouço para fazer essa mudança", disse Janot.

A maioria dos empresários disse não ter perspectiva de grandes mudanças no rumo da economia. Seja quem for o sucessor de Lula, deverá manter os eixos básicos da política econômica conduzida pelo governo federal. "Pode girar dez graus para a direita, dez graus para a esquerda, mas não vai mudar muito mais do que isso. O que aconteceu em 2002 não se repetirá. A campanha terá a tranquilidade de 2006", afirmou Schalka. "A mudança econômica que qualquer um dos candidatos fará será marginal." Para o presidente da Suzano Papel e Celulose, Antonio Maciel Neto, a "agenda está dada: responsabilidade fiscal, investimento e câmbio flutuante." Agnelli, da Vale, ressaltou que "o rumo está traçado" e "não haverá mudanças". Empresários, no entanto, ressalvam que pouco foi dito até agora pelos pré-candidatos sobre o tema.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deve manter a prioridade à formação de grandes conglomerados nacionais, defenderam empresários como Walter Schalka. "O trabalho que (Luciano) Coutinho fez no BNDES foi fantástico. Gerou investimentos e competitividade. Precisamos incentivar esse tipo de ação para ter representatividade maior na economia internacional", analisou. A estratégia do BNDES, no entanto, não tem consenso. "O banco poderia se voltar para pequenas e médias empresas", comentou o diretor presidente da Natura, Alessandro Carlucci. "Tem que ter equilíbrio e é preciso contemplar todos os lados", disse Schmelzer Junior.

O governo Lula, na visão de empresários, acertou ao promover uma política de valorização do salário mínimo, "que ajudou a aumentar o consumo e estimular a economia", e na criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "A política do salário mínimo é boa e deve ser mantida. É melhor do que o Bolsa Família, que é bom, mas não é sustentável", comentou Carlucci. Poucos sugeriram mudanças profundas no PAC, principal programa do governo e bandeira de Dilma na campanha eleitoral, mas apontaram que é preciso ter mais "velocidade" e "investimentos" no programa.

Stédile diz que MST vai trabalhar contra Serra

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Vasconcelo Quadros

BRASÍLIA - Principal dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stédile anunciou quarta-feira que os sem-terra vão trabalhar contra a candidatura do ex-governador de São Paulo José Serra à na Presidência da República. Segundo ele, apesar da complexidade das forças políticas que apoiam o governo do presidente Lula e que devem migrar para sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff está ao lado de grupos mais próximos do novo modelo de reforma agrária pregada pelo MST.

Serra representa a retomada do modelo neoliberal e das privatizações. É uma aliança da burguesia com as empresas transnacionais disse Stédile. Ele fez questão de lembrar que, quando foi ministro do Planejamento, o ex-governador paulista chegou a afirmar que era mais barato dar um táxi para cada trabalhador rural do que terra. Stédile disse que o novo modelo de reforma agrária tem que incluir a distribuição de terras, a disseminação de agroindústrias e educação no campo.

O dirigente também afirmou que, além das mais de duas dezenas de invasões ocorridas este mês em todo o país, nas ações conhecidas como Abril Vermelho, o MST vai intensificar o processo de organização dos trabalhadores rurais para pressionar o sucessor de Lula a incluir a reforma agrária como alternativa de desenvolvimento, como o agronegócio. Os sem-terra querem participar das eleições para mudar a correlação de forças no governo e no Congresso.

Apesar de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ter pedido, quarta-feira, prudência aos movimentos sociais, o MST elegeu como alvo as grandes propriedades rurais para invadir.

Nós queremos as grandonas, acima de 5 mil hectares anunciou Stédile.

Entre os alvos, ele citou dois grandes empreendimentos rurais: 56 fazendas do grupo controlado pelo banqueiro Daniel Dantas, no Sul do Pará, com cerca de 350 mil hectares, e 12 fazendas do Grupo Cutrale, uma delas invadida no ano passado em Borebi (SP), onde os sem-terra destruíram para do laranjal. Stédile afirmou que são terras públicas. Segundo ele, nas áreas em mãos de estrangeiros, devedores dos bancos oficiais e griladas daria para assentar 1 milhão de famílias.

O QUE PENSA A MÍDIA

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A reinvenção da pólvora:: Celso Ming




DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Amanhã será realizada em Brasília a segunda reunião de cúpula dos Brics. Não se trata aqui de montar um arsenal de decisões econômicas e políticas com consequência para o resto das nossas vidas. Trata-se apenas da retomada de um processo de entendimento que pode, sim, um dia, ter algum significado estratégico que, no momento, ninguém prevê.

Esta é a primeira vez que uma sigla montada sem nenhum conteúdo especial ganha importância pelo sentido que no futuro poderá ter. Bric é um acrônimo. É uma palavra formada com as iniciais de quatro países afastados entre si: Brasil, Rússia, Índia e China.

Foi criado em 2001 por Jim O"Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, para designar os quatro países emergentes com mais probabilidade de se transformar em potência econômica.

Bric não estabelece nem mesmo uma ordem entre as letras. Podia ser Cirb, Crib ou Birc. Ficou sendo Bric aparentemente porque lembra tijolo em inglês (brick).

Quando o Financial Times criou o termo Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), pelo menos referia-se a certa unidade geográfica (os quatro são da União Europeia) e a uma característica comum: potenciais maus pagadores. Nem mesmo isso pode ser encontrado nos Brics.

Os quatro detêm uma população de 2,9 bilhões de habitantes (43% do mundo), um PIB conjunto de US$ 8,7 trilhões (17% do mundo), exportações de US$ 1,8 trilhão (12%) e reservas externas de US$ 3,4 trilhões (38% do total). No entanto, não apresentam nenhuma unidade, nem política nem geográfica nem econômica.

Não mantêm entre si alianças estratégicas, nem permanentes nem episódicas. Ao contrário, entre eles há notáveis divergências. China e Índia, por exemplo, procuram empurrar produtos fabricados em seus países a preços que muitas vezes são considerados dumping (vendidos abaixo do custo) no Brasil. Apesar dos esforços do ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, de que se construa a sua bombinha, o Brasil é o único que não faz parte do seleto clube nuclear e isso, por si só, o deixa estranho no ninho.

Mas o fato relevante é que Bric foi uma designação que pegou. Todo o mundo a conhece e a toma como referência em qualquer fórum econômico quando se quer designar um conjunto de países que se notabiliza pela atual e, sobretudo, potencial energia econômica, especialmente quando a ele se compara o que hoje acontece nos países de alta renda.

Pó de carvão, enxofre e salitre são materiais que isoladamente não dizem muita coisa. Quando um chinês desconhecido os misturou, inventou a maravilha dos fogos de artifício. Séculos mais tarde, os portugueses viram aquilo a que deram o nome de pólvora e lhe deram outro uso.

Deve ser a expectativa de que um dia aconteça alguma coisa parecida com os Brics que chama atenção para essa reunião. O simples fato de que seus líderes estão agora se falando sugere que o novo agrupamento pode ganhar consistência e, quem sabe, tornar-se um bloco coeso.

Se isso acontecer, será a primeira vez que um exercício despretensioso de um economista ganhará significado.

Escorregando

As cotações do dólar voltaram ao patamar do início de janeiro. De lá para cá, as reservas externas cresceram 2,6%. O Banco Central comprou cerca de US$ 6 bilhões em moeda estrangeira nesse período. Mesmo assim, as cotações do dólar continuam escorregando no câmbio. Em abril (até ontem), a baixa acumulada é de 1,9% e em 12 meses, de 20,4%.

Mostrando o muque

"A força dos quatro" é o título do artigo sobre os Brics que saiu ontem no Times of India. Assina o presidente russo Dmitri Medvedev.

Monte de riscos:: Míriam Leitão




DEU EM O GLOBO

Uma liminar pode ser cassada, mas as dúvidas permanecerão. O espantoso no leilão da hidrelétrica de Belo Monte é que as dúvidas e incertezas estão em todos os pontos. Os fundos de pensão, que estão sendo empurrados para participar, acham que o retorno não garante nem suas obrigações atuariais. As empresas estão pressionando por mudanças na engenharia financeira.

Pode-se recorrer da liminar da Justiça do Pará que suspendeu o leilão de terça-feira, mas não dá para tapar com a peneira os enormes riscos de todos os tipos que essa obra representa.

As empreiteiras que desistiram de participar podem voltar. As negociações estão intensas. Querem condições de financiamentos ainda melhores, isenção de impostos, tudo que aumente o retorno do empreendimento. Na pior das hipóteses, aceitam participar depois como construtoras. Mas até os fundos de pensão estão dizendo que o retorno, com a energia a R$83 o megawatt, não lhes atende. Se participarem, vai ser uma decisão política, uma imposição governamental.

Quem vê a questão apenas do ponto de vista ambiental acha que os riscos são grandes demais, até porque, como disse aqui, pareceres do Ibama não garantiram viabilidade ambiental do empreendimento, e mesmo assim foi dada a licença prévia.

Quem vê apenas do ponto de vista econômico-financeiro considera que as concessões ambientais tornaram o empreendimento arriscado demais. É que para não fazer um grande lago, como sempre se fez nas hidrelétricas tradicionais, a usina vai operar a fio d"água, com tecnologia de turbinas bulbo. Haverá alagamento, mas de uma área menor. Mesmo assim é uma área considerável: 516 km serão alagados. Seria um lago três vezes maior. Essa "concessão" de redução da área alagada fará com em três meses por ano a usina possa estar produzindo apenas 1 mil MW, dos seus 11 mil MW potencial. A energia firme não deve passar de 4 mil MW, segundo todos os técnicos que ouvi. Da perspectiva do empreendedor, mais seguro seria fazer um grande lago, usar as turbinas tradicionais e ter uma energia firme mais alta. Eles dizem que abrir mão dessa possibilidade foi uma grande concessão feita às preocupações ambientais.

Da perspectiva dos ambientalistas, mesmo essa opção da nova tecnologia não é suficiente para tornar o impacto aceitável, já que será reduzido fortemente o fluxo da água do leito tradicional do rio, para desviar esse fluxo para a usina, e isso causará um impacto de dimensões ainda não calculadas. O governo não respondeu às inúmeras dúvidas levantadas por ambientalistas, índios, ribeirinhos, ONGs, mas principalmente pelos técnicos do Ibama.

Há um ponto levantado como problema pelos dois lados, por razões diversas: a complexidade da obra. Terão que ser escavados canais de 30 quilômetros de extensão; o volume da escavação será de cerca de 230 milhões de m, maior do que o Canal do Panamá, mobilizando três mil equipamentos pesados. Terão que ser construídos 260 quilômetros de estradas de acesso aos vários pontos do canteiro.

Os empreendedores, ou potenciais participantes do leilão, veem essa complexidade como custo e incerteza econômico-financeira. Os ambientalistas veem como impacto ambiental intolerável. O problema dos empreendedores é fácil resolver: querem preço. Ou um preço maior para a energia que lhe dê, segundo ouvi ontem, um "colchão" de segurança para as surpresas de uma construção dessa complexidade, e para os riscos de paralisações, bloqueios e ações do Ministério Público; ou concessões fiscais e financeiras.

Os ambientalistas acham que a única coisa razoável a fazer é desistir da obra. O Ministério Público invoca o princípio da precaução e diz que com tamanha incerteza é preferível se interromper o processo agora, corrigir os vícios, responder às dúvidas, antes de se fazer o leilão.

O presidente Lula disse ontem que "eles já destruíram a floresta deles" e agora querem se intrometer na nossa. Tenta acender com esse lugar comum o sentimento nacionalista pelo fato de dois artistas de Hollywood terem falado contra o projeto. Ninguém vai tomar uma decisão dessa importância pela opinião de qualquer celebridade do showbiz. As dúvidas são brasileiras.

Há um temor que ouvi de técnicos e de procuradores: o de que mesmo essa concessão de se fazer uma usina a fio d"água seja revertida mais tarde. Que diante da constatação, mais tarde, de que o projeto não é lucrativo, eles tentem fazer novas usinas. O governo nega que haja esse risco. Mas empreendedores me disseram, com todas as letras, que, sim, se pensa que no futuro pode até ser feita uma usina tradicional de grande alagamento para que o projeto seja mais econômico.

Há uma enorme incerteza geológica que assusta tanto um lado quanto o outro. A escavação será feita num terreno que não foi suficientemente estudado. Como é uma área muito grande e o tempo era curto, o estudo foi feito por amostragem e tomou-se como boa a hipótese de que aquelas amostras representam toda a área. Vai se começar a escavar uma área que não se sabe até que ponto é rocha, até que ponto é terra.

Seja qual for o ponto de vista, a obra traz incertezas demais. O BNDES se prepara para amanhã afogar as dúvidas dos empreendedores, oferecendo um canal de dinheiro público que vai aumentar o subsídio ao financiamento. Assim, o governo poderá dizer que conseguiu fazer um leilão por um preço baixo da energia, e uma parte enorme do custo será escondido nas condições de financiamento que ficarão abaixo, muito abaixo, do custo que o próprio governo consegue para rolar a sua dívida. Faltam três dias úteis para o leilão e as incertezas são insanáveis.

Lago dos Cisnes - Tchaikovsky

Vou-me embora pra Pasárgada:: Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Reflexão do dia - José Serra

"Mas para isso temos de enfrentar os problemas nacionais e resolvê-los, sem ceder à demagogia, às bravatas ou à politicagem. E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores.
Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.
Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis. Mas não são únicos. Honestidade, verdade, caráter, honra, coragem, coerência, brio profissional, perseverança são essenciais ao exercício da política e do Poder. É nisso que eu acredito e é assim que eu ajo e continuarei agindo. Este é o momento de falar claro, para que ninguém se engane sobre as minhas crenças e valores. É com base neles que também reafirmo:
o Brasil, meus amigos e amigas, pode mais!


(José Serra, no discurso de lançamento de sua pré- candidatura, sábado (10/4/2010), em Brasília)

Palácio das louças:: Dora Kramer



DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Faz 12 dias que Dilma Rousseff deixou de ser ministra, virou pré-candidata à Presidência da República, soltou a mão do presidente Luiz Inácio da Silva e de lá para cá sua vida de política tem sido uma desventura em série.

Criou problemas com partidos seus aliados, errou nas duas viagens aos Estados que visitou, arrumou confusão com a esquerda toda tratando involuntariamente os exilados da ditadura nos mesmos termos usados pelo mais brucutu dos generais, ouviu cobranças públicas de correligionários sobre a maneira errática de se movimentar e para todos os seus atos precisou providenciar uma explicação.

Na política vigoram várias regrinhas básicas. Uma delas reza que o que precisa ser explicado não tem explicação; está, na origem, equivocado.

Dilma Rousseff não tem necessariamente obrigação de estar em dia com o manual do político profissional. Sua formação ao longo da vida adulta foi outra. Técnica. Burocrata, sem intenção pejorativa no termo. A experiência política da juventude na luta armada não se presta exatamente às sutilezas do embate político pela via eleitoral democrática.

Portanto, de certa forma é até natural que incorra em equívocos. Por inexperiência no ramo e por questão de personalidade, item que já derrubou outros bem mais experimentados.

O que não é normal é que nenhum dos vários senhores e senhoras experientes nas atividades em jogo, política e comunicação, e que fazem parte da grandiosa estrutura montada para sustentar a candidatura de Dilma, não tenham sido minimamente capazes de, se não prever, ao menos parar e corrigir o rumo das coisas aos primeiros sinais do desastre que já se avizinhava amazônico em Minas Gerais.

Ela prossegue, os tropeços vão sendo atribuídos à má-fé das interpretações, a mal-entendidos sabe-se lá de quem, pois quem tem reclamado são exatamente os aliados, e toca-se o barco na base do vamos que vamos com Dilma trocando o pneu do avião em pleno voo.

A candidata atira no que vê, acerta no que não deve, promove uma quebradeira por onde passa e ainda paga a conta sozinha. Onde os conselheiros? Onde os marqueteiros? Onde os articuladores aos quais caberia ajeitar as questões políticas locais antes de a candidata desembarcar, ou melhor, cair sem paraquedas?

Onde o presidente Lula? Dizem que Dilma é arrogante. Mas dizem também que é dócil "para cima". O que significa que seguirá à risca as orientações do chefe. Tempo há de sobra.

Foi ele quem a inventou. Quem avaliou as possibilidades e a capacidade de sua então ministra e que outro dia mesmo disse que se soubesse antes que ela seria tão boa candidata ele mesmo nem teria se candidatado a presidente deixando a vaga para ela. Pois então, deve saber como acionar suas habilidades.

Se não souber, e esses tropeços iniciais representarem de fato um quadro de inaptidão para o exercício do ofício a que Dilma foi designada, o inepto terá sido Lula em sua avaliação na escolha da candidata.

Ou, então, foi proposital a displicência. Talvez o presidente Lula tenha o entendimento de que sua presença em cena baste. Antes, durante e depois da eleição. E que para o Brasil o importante é que alguém o represente. Tanto faz como tanto fez se não o faça a contento. Isso como candidata. Se vencer, a conferir como presidente.

Toma lá. Enquanto o presidente Lula falou sozinho, sem a companhia do contraditório, inaugurou-se e vistoriou-se de tudo sem a menor preocupação.

Agora o Palácio do Planalto toma a precaução de evitar que o presidente inaugure obras inacabadas para não fornecer munição de graça para a oposição.

Pesquisa. Ante o empate entre Dilma e Serra apontado pelo Instituto Sensus, o governo comemora e a oposição prefere aguardar as pesquisas do Ibope e Datafolha previstas para o fim da semana. É que o "campo" das duas últimas foi feito depois do lançamento do tucano.

Força Sindical divulga pesquisa do Sensus


DEU EM O GLOBO

Consulta, paga por sindicato que apoia a petista, mostra José Serra e Dilma empatados

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A Força Sindical divulgou ontem pesquisa do Sensus, encomendada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada (Sintrapav), entidade ligada à central sindical e que também apoia a pré-candidata petista, Dilma Rousseff.

A sondagem mostra empate técnico entre Dilma e o précandidato tucano, José Serra, na disputa pela Presidência da República. Serra aparece com 32,7% das intenções de voto e Dilma, com 32,4%.

A pesquisa, que custou R$ 110 mil, mostra ainda o deputado Ciro Gomes (PSB) com 10,1% e a senadora Marina Silva (PV), com 8,1%. Foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número 7594/2010, com margem de erro de 2,2 pontos.

O registro da pesquisa, protocolado no TSE no último dia 5, mostrava que o contratante era o Sindicato dos Trabalhadores em Concessionárias de Rodovias (Sindecrep), que, no entanto, negou que tivesse pagado a pesquisa. O Sensus pediu então ao TSE que mudasse o nome do sindicato patrocinador.

— Houve uma confusão em relação apenas à sigla do sindicato porque, no mesmo local, funcionam o Sindecrep e o Sintrapav — justificou o Sensus.

Em 27 de março, em pesquisa do Datafolha, Serra aparece com nove pontos de vantagem sobre Dilma: 36% a 27%. Na pesquisa anterior, de fevereiro, Serra tinha 32% e Dilma, 28%.

O presidente do Sintrapav, Wilmar Gomes dos Santos, negou que a pesquisa tenha sido contratada para mostrar a pré-candidata do PT, que ele apoia, em melhores condições do que realmente está. Segundo ele, a pesquisa serviria para o sindicato avaliar dados da conjuntura que interessam à entidade, que representa trabalhadores da construção pesada.

Erros e explicações:: Fernando Rodrigues


DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Há em política uma regra de ouro: tudo o que precisa ser explicado não é bom.

Dilma Rousseff tem se explicado muito.

Nenhuma das derrapadas verbais da pré-candidata do PT tem ainda um efeito mortal -como quando em 2002 Ciro Gomes ofendeu um eleitor e as mulheres em geral. São apenas sinais da inexperiência de Dilma quando se trata de ficar sob a tensão de uma campanha.

O caso dos exilados políticos é de todos o mais emblemático. No sábado, num discurso no qual remetia os ouvintes para o seu passado, a petista disse: "Eu não fujo quando a situação fica difícil. Não tenho medo da luta (...) Nunca abandonei o barco". Petistas na internet inundaram blogs e sites de relacionamento interpretando a declaração de Dilma como um ataque velado a José Serra (PSDB).

Durante a ditadura militar, Dilma foi para a luta armada, acabou presa e torturada. Serra se exilou no Chile. O esgoto tomou conta da web. "Fujão" era o qualificativo menos vitriólico que hidrófobos virtuais atribuíam ao tucano. Tudo ia bem até alguns levantarem o dedo dentro do PT. Muitos aliados de Dilma hoje tiveram de deixar o país durante a ditadura.

Era um caso de vida ou morte.

Depois de quase 48 horas do início da celeuma, a petista resolveu se explicar. Desculpas?

Nem pensar.

Fez uma pergunta e um ataque: "De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? (...) Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má-fé".

Os primeiros a interpretarem a fala de Dilma como um ataque a Serra foram os blogs petistas e dilmistas. Basta saber ler e fazer buscas no Google para comprovar a origem dessa suposta "má-fé" agora apontada pela candidata de Lula.

O mais provável é esse fato acabar sepultado. Tem relevância menor. Serve de exemplo sobre como reagem certos políticos quando tensionados. E, vale sempre repetir, a campanha está só no começo.

A Sua - Marisa Monte

Lula, dono do Brasil. Qual Brasil?:: Elio Gaspari




DEU EM O GLOBO

Serra ganhou um cabo eleitoral. É Lula, Nosso Guia, Nosso Mestre

O lançamento da candidatura de José Serra com uma proposta de superação das divisões políticas nacionais, porque “o Brasil não tem dono” e “pode mais”, obriga o comissariado petista a refletir sobre sua plataforma eleitoral.

A ideia de uma campanha que contrapõe Lula a Fernando Henrique Cardoso pode ser boa, mas falta combinar com os russos. Os tucanos chegaram com outro jogo.

Melhor assim, pois fazer de 2010 um video-tape de 2002 seria no mínimo uma discussão pouco inteligente.

Serra propõe a unidade do país e terá os próximos meses para botar substância nessa proposta.

Por enquanto, dispõe da colaboração de Nosso Guia, com suas declarações desrespeitosas ao Poder Judiciário e ao aparelho de fiscalização do Estado.

Mais: Lula comporta-se como dono do país quando se mostra confortável na condição de padrinho, animador e empresário de Dilma Rousseff.

Lula diz que “não podemos ficar subordinados, a cada eleição, ao juiz que diz o que a gente pode ou não fazer”.

Tudo bem, vamos ficar subordinados a quem? Nosso Guia defende a mudança da legislação eleitoral, por meio de uma reforma política. Qual? Não diz. Por duas vezes o PT (com socorro do tucanato) tentou aprovar uma reforma que não mexia nas limitações da propaganda eleitoral. Deram prioridade ao voto de lista, que fortalece os aparelhos partidários e confisca aos cidadãos o direito de votar nominalmente em seus candidatos à Câmara dos Deputados.

Sente-se na campanha petista um certo desconforto com as instituições.

Multado pela Justiça Eleitoral, o Grande Mestre deu-se a gracinhas que levariam à cadeia um motorista que debochasse do guarda de trânsito.

A ideia de mais um mandato petista para permitir que o comissariado imponha uma mudança de qualidade às instituições republicanas será divisiva, estimulará radicalismos minoritários e, na melhor das hipóteses, obrigará o PT a escrever uma nova “Carta aos Brasileiros”.

Nela, pedirá aos eleitores de 2010 que esqueçam suas extravagâncias políticas, assim como em 2002 pediu perdão por suas extravagâncias econômicas.

As campanhas eleitorais moldam os candidatos e Dilma Rousseff ainda não se adaptou ao contraditório do cotidiano da contenda.

Disse que “nunca abandonei o barco” e, quando foi confrontada com a impropriedade da soberba, acrescentou que só “a má-fé” poderia levar à conclusão de que se referia aos exilados da ditadura, como Serra. Não quis pagar o preço da insinuação e dobrou a aposta, insultando quem a cobrou. Nesse ritmo, perde o controle do verbo em questão de meses.

Em política, um candidato tem que dizer quem é. Se não o fizer, será aquilo que os adversários querem que seja. Serra deu uma vaga ideia do que pretende ser. Dilma, nem isso.

Erro: Estava errada a informação aqui publicada há uma semana, segundo a qual as memórias do escravo Mahommah Baquaqua, que em 1847 fugiu de um navio brasileiro no porto de Nova York, nunca foram editadas no Brasil. Eduardo Coelho, do Arquivo-Museu da Literatura Brasileira da Casa de Rui Barbosa, corrige: Elas já foram editadas na Revista Brasileira de História, com apresentação da professora Sílvia Hunold Lara e tradução de Sonia Nussenzweig. O texto está disponível, como apêndice, no livro “Questão de pele” de 2009.

Serra inicia pré-campanha com viagem à Bahia

DEU EM O GLOBO

Tucano tenta aproveitar o rompimento entre aliados da base lulista no estado; amanhã ele vai visitar Alagoas

Maria Lima, Gerson Camarotti,
Adriana Vasconcelos e Flávio Freire

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, aproveita o racha entre os aliados da base lulista na Bahia e desembarca hoje em Salvador, na primeira viagem de sua pré-campanha. O tucano foi convencido pelos aliados que não poderia ficar parado até semana que vem, quando iniciaria suas viagens pelo país, com a passagem simbólica por Minas ao lado de Aécio Neves.

Hoje, ele andará por Salvador e amanhã visitará Alagoas.

A estratégia da oposição é que Serra aproveite o bom momento provocado pela reviravolta na Bahia. O senador César Borges (PR-BA) rompeu as negociações para compor a chapa à reeleição do governador Jaques Wagner (PT) e anunciou apoio ao pré-candidato do PMDB, Geddel Vieira Lima.

Os aliados de Serra avaliam que Wagner perdeu a chance de eleição no primeiro turno, pois terá que enfrentar duas chapas fortes: a de Geddel, e a do ex-governador Paulo Souto (DEM), que aparece em segundo lugar nas pesquisas, aliado ao PSDB.

Isso sem contar o candidato do PV, Luiz Bassuma.

Serra visitará hoje o Hospital Irmã Dulce, andará pelo Mercado Modelo e depois participará do programa de rádio de Mário Kertesz. Amanhã, desembarca em Alagoas, governado pelo tucano Teotônio Vilela.

Ontem, César Borges e o presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), selaram simbolicamente o acordo da Bahia, no gabinete da presidência do PMDB em Brasília, junto com Michel Temer e Geddel. Eles reafirmaram compromisso com Dilma, embora os aliados de Serra alimentem expectativa de que a chapa Geddel/Borges possa dar palanque ao tucano na Bahia.

— Sou originário do carlismo.

Tenho o maior respeito e admiração pelo Serra, mas não é por aí. Estamos alinhados com Dilma — disse Borges, sem esconder a mágoa com o PT da Bahia. — Achavam que iam me deixar rendido, isolado, fraco para negociar. Muitas vezes, a pessoa fica escolhendo muito a roupa que vai vestir. Quando escolhe, já perdeu o avião.

Geddel rebateu com veemência especulações de que poderia abandonar Dilma.

— Tenho amizade com José Serra. Mas a minha candidata é Dilma. O resto é especulação, tititi, sonhos e devaneios. Não vou receber o Serra em Salvador.

Em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco, Serra disse que, se for eleito, não acabará com o Bolsa Família. Afirmou que vai manter e fortalecer o programa, um dos carros-chefe da campanha de Dilma: — Não só vai ser mantido, como vamos procurar fortalecer. E procurar abrir oportunidades para os jovens das famílias que recebem o Bolsa Família.

Em São Paulo, o comando da campanha de Serra reuniu-se ontem para discutir a criação de uma frente parlamentar com agenda e discurso afinados em torno da candidatura tucana.

Em reunião convocada pela equipe de comunicação da pré-campanha, líderes do PSDB, do DEM e do PPS decidiram que vão estabelecer uma ação coordenada entre as direções dos partidos, deputados e senadores, para que todos “falem a mesma língua” na campanha.

O próprio Serra foi quem pediu para o partido assumir um “discurso único”: — Todos nós, no conjunto dos parlamentares, devemos ajustar nossos discursos para que seja um só. Há muito tempo que o Serra pede uma ação mais articulada no Senado e na Câmara. Ninguém vai ver mais essa coisa de cada um pensando uma coisa diferente do outro, como aconteceu em 2006 — disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), referindo-se à campanha de Geraldo Alckmin.

Nem soberanos, nem vassalos: cidadãos :: José Nêumanne




DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem encontrado muito relevantes motivos para sentir saudades do tempo em que andava pajeando sua candidata à própria sucessão, Dilma Rousseff, pelo País afora. Sem a presença do patrono no palanque, a candidata do PT à Presidência da República em outubro que vem já deu mostras de que não será tão fácil como imagina noço guia genial dos povos da floresta tropical, da roça no cerrado e dos morros da periferia operar o milagre da transformação do prestígio e da popularidade pessoais dele nos votos intransferíveis com que espera elegê-la sucessora.

Ela foi ao Rio, lá posou com Anthony Garotinho e elogiou o marido de Rosinha com tanto entusiasmo que, em vez de a ex-governadora fluminense ficar enciumada, quem ficou foi o aliadíssimo Sérgio Cabral, notoriamente inimigo figadal do líder campista. Depois, em prosseguimento ao vale de lágrimas com que pretende abrandar a imagem de Dama de Ferro das Alterosas aos Pampas, visitou o túmulo de Tancredo Neves no centenário do avô de Aécio. Este se sentiu no direito de reclamar de tal oportunismo, pois, mesmo sendo neto, se negara a tirar proveito eleiçoeiro da efeméride. Para não perder a ocasião de mostrar essa sua vocação para colecionar inimigos e enxotar aliados, a candidata do ex-Lulinha paz e amor resolveu cutucar o alto tucanato com vara curta ao lembrar uma tal de "chapa Lulécio", que, reunindo o presidente e o ex-governador, teria feito, em 2006, um estrago desgraçado na votação de Geraldo Alckmin no Estado natal daquele outro Alkmin, o José Maria. Mas, mostrando que não foi das melhores alunas de tiro do capitão Lamarca à época da guerra suja, em vez de alvejar o inimigo, acertou o próprio joelho ao propagar a "cristianização" do oponente, José Serra, no segundo maior colégio eleitoral da Federação (e berço de Cristiano Machado, abandonado pelo PSD, que, em 1950, preferiu sufragar o petebista Getúlio Vargas), ao juntar seu próprio nome ao do candidato do PSDB ao governo mineiro, Antônio Anastasia. O ex-governador paulista adorou a sugestão de "Dilmasia", por lhe ter lembrado azia e neoplasia. Mas o candidato governista Hélio Costa, do PMDB, detestou e obteve dela um pedido de desculpas. Por fim (e o PT espera que por último), em São Bernardo do Campo, berço do lulismo, criou polêmica ao se vangloriar da coragem de ter ficado no País, enquanto outros não ficaram, insinuando covardia de quem preferiu o exílio aos rigores da tortura nos cárceres da ditadura. É claro que, depois, se diria mal entendida. Mas só isso já deve ter bastado para mostrar ao paraninfo que, sem a ajuda dele, em sua atuação solo, até agora, a candidata tem disparado mais contra o próprio pé que atirado na cabeça do adversário.

Ainda é cedo para dizer que efeitos esses desatinos podem provocar no devaneio continuísta da companheirada. Mas pode ser que tenham servido de combustível para turvar o costumeiro senso comum, principal virtude pessoal e política do presidente da República. Do topo de seus 73% de apoio popular, Sua Excelência já vinha violando de maneira exagerada dois pecados capitais, a vaidade e o orgulho. Mas nem um extremado grau de soberba pode justificar isoladamente as investidas que Lula fez, continuada e deliberadamente, contra a legislação eleitoral e a Justiça especializada que existe para fazer com que ela seja cumprida. Em duas ocasiões ele debochou para plateias loucas para bajulá-lo das multas que lhe foram aplicadas por antecipar uma campanha eleitoral que não tinha sido (nem foi ainda) iniciada. Em vez de "arrecuá os arfe para garantir o resultado", como ensinam os técnicos no futebol da várzea, o ex-peladeiro perguntou ao público que o aplaudia quem se disporia a pagar por ele as multas cobradas.

E foi além. Na abertura de um encontro de tradicional aliado do PT, o Partido Comunista do Brasil (PC do B), cujo modelo de gestão é o da Albânia, o país mais atrasado da Europa e até recentemente uma das ditaduras mais cruéis do planeta, disse literalmente: "Não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer." Depois, em São Bernardo do Campo, tentou corrigir o incorrigível dizendo-se (como Dilma o faria na ofensa aos exilados da ditadura) mal interpretado. Ao tentar negar o inegável, disse que, de fato, havia criticado os partidos políticos, que nada fazem para o Congresso Nacional aprovar uma legislação clara que balize definitivamente as decisões do Judiciário. Se o soneto foi péssimo, a emenda não foi lá uma obra prima. O presidente da República é o chefe partidário que tem mais poder no Legislativo na história recente do Brasil. Se ele quisesse, poderia ter proposto uma legislação eleitoral mais clara, que defenda mais os interesses dos representados e menos os dos representantes. Não o fez não porque não quis, mas por formar parte da elite dirigente, nada empenhada em garantir a igualdade de oportunidades para quem se candidata a mandatos executivos ou a representatividade mais justa da cidadania no Poder Legislativo. E mais interessada em assegurar os próprios privilégios por meio do continuísmo. Foi isso, aliás, que motivou esse palpite infeliz.

Ao reagir ao destempero do maioral do Executivo, o chefe do Judiciário deu a resposta cabível: "Nós não temos soberanos. Todos estamos submetidos à lei." A democracia é o Império da lei. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, encontrou a palavra certa para responder ao desaforo de Lula. Numa democracia, não há soberanos, cuja vontade determine o destino de todos. Nem vassalos pagando impostos para servi-los. No Estado Democrático de Direito, todos são cidadãos: do engraxate, que Lula foi na infância, ao presidente da República, cargo que ele ocupa por delegação legítima da maioria da cidadania. Os direitos do engraxate e os deveres do chefe de Estado são fixados pela lei impessoal e, só esta sim, suserana.

Jornalista e escritor, é editorialista do "Jornal da Tarde"

Em rota de solução:: Rosângela Bittar




DEU NO VALOR ECONÔMICO

Até onde se pode perceber, afunilou para uma solução o mais intrincado problema que havia para a campanha de Dilma Rousseff (PT) a presidente: a aliança PT-PMDB em Minas Gerais.

O nome do PMDB é o do senador Hélio Costa. O PT promoverá uma consulta prévia sobre qual deve ser o primeiro nome do partido, para a qual já estão inscritos os dois candidatos cujos grupos de apoio são atores de uma luta que está à beira de transpor as regras da política: Fernando Pimentel e Patrus Ananias. A escolha será no dia 2 de maio.

A prévia, oficialmente, é para apontar o candidato do PT a governador de Minas, mas na verdade o que se estará decidindo é a composição da chapa majoritária, de candidatos a governador, vice e senador, em composição com o PMDB. Claro e definitivo está, para todos os que acompanham, dentro do governo, o desenlace do grande nó mineiro para a candidata governista à sucessão do presidente Lula, que em Minas haverá uma chapa única, PT e PMDB, embora o presidente do partido no Estado continue a defender a candidatura própria e teoricamente a prévia seja para esta definição.

Não se pode falar que há um acordo, mas existe, sim, uma compreensão tácita de que não há desfecho melhor. De posse do nome mais votado na prévia, marcharão todos ao presidente de honra do partido, o presidente da República, com o pedido para que monte a chapa como bem entender, com os nomes que lhe forem apresentados. A expectativa é que o presidente arbitre, defina quem vai para o governo, quem vai para o Senado.

Se Lula continuar achando, como acha hoje, que o melhor para a candidatura de Dilma Rousseff (para a aliança PT-PMDB) é dar a Hélio Costa a candidatura a governador, o primeiro lugar das prévias do PT vai para o Senado. O perdedor pode ir para a Câmara, ou ficar na campanha nacional, pois ninguém imagina que Patrus ou Pimentel concordem em ir para a vice de Hélio Costa. Se, por acaso, Lula mudar de ideia e der ao PT a candidatura a governador, Hélio iria para o Senado ou, mais remotamente, para a vice de Dilma.

Esta pode não ser a melhor solução para algum dos contendores, talvez até para dois, pois todos querem ser candidatos a governador, mas deve ser a única aceitável para os três uma vez que não se imagina um enfrentamento de nenhum deles com Lula.

O PT ainda tem esperanças de ver esta virada do presidente porque se acha com mais chances de vencer do que Hélio Costa, embora na pesquisa realizada exatamente para orientar estas decisões ele esteja na frente. O Instituto Sensus mostrou ao PT e ao PMDB que Hélio Costa está com 38%, Pimentel com 24%, e Antonio Anastasia (PSDB) com 13%. Quando o candidato do PT é Patrus Ananias, ele fica com 18% e Anastasia oscila para até 16%.

Na avaliação dos petistas, essa votação em Hélio Costa pode ser apenas recall, tanto que ao longo da refrega vai perdendo espaço. Esta é uma das razões pelas quais petistas mineiros acham que têm mais chances

O presidente Lula já disse aos dirigentes petistas mineiros que estão cometendo um equívoco pois, na sua opinião, Hélio perdeu eleições porque tinha Lula e o PT contra si.

Agora, com o apoio decisivo de todos, seria outra a escrita. O PT não tem especial apreço por subir ao palanque de Hélio Costa, claro, mas se Lula for, todo mundo vai atrás. Se for o inverso, com Hélio na vice de Dilma ou na disputa do Senado, melhor ainda para o PT. Portanto, caminha-se para uma solução.

Depois que o vice-presidente José Alencar saiu da disputa, deixando o caminho livre para uma chapa PT-PMDB, ou PMDB-PT, se não o acordo, mas um acerto em Minas, onde o PT estava mais enroscado, se tornou realmente possível.

Educação

Desta vez, a Educação parece estar às vésperas de realmente se tornar uma prioridade nacional, vencendo a disputa presidencial qualquer um dos dois candidatos a presidente à frente nas pesquisas de intenção de voto do eleitorado. Em discurso proferido durante o Encontro Nacional do partido que apresentou-o como candidato a presidente pelo PSDB, o ex-governador José Serra, em primeiro lugar na disputa, foi ao âmago do maior problema educacional do país, hoje, num diagnóstico acurado. "Estou convencido de uma coisa: bons prédios, serviços adequados de merenda, transporte escolar, atividades esportivas e culturais, tudo é muito importante e deve ser aperfeiçoado. Mas a condição fundamental é a melhora do aprendizado na sala de aula".

Serra comprometeu-se com uma nova Educação em que "o filho do pobre frequente uma escola tão boa quanto a do filho do rico". O papel fundamental do professor, sua formação contínua e remuneração adequada foi destacado como instrumento imprescindível. Para que eles aprendam a ensinar e os alunos possam aprender.

E chamou a atenção para o que considera grave retrocesso nos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes. "Para essa faixa de idade vamos turbinar o ensino técnico e profissional, aquele que vira emprego. Emprego para a juventude, que é castigada pela falta de oportunidades."

A candidata do PT, Dilma Rousseff, em entrevista ao Valor e nas formulações que tem feito com sua equipe, nesta fase da campanha, indicou que enfrentar o desafio da educação de qualidade será sua prioridade. Segundo diz, a Educação de qualidade é que vai alavancar o Brasil, e isto não é tarefa para 4 ou 8 anos, mas é preciso começar.

Dilma coloca uma atenção sobre a educação infantil, a pré-escola, e também sobre a educação técnica e científica, que liga ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia. O Plano Nacional de Banda Larga, por exemplo, tem dito a candidata nas discussões, é importante para dar suporte tecnológico ao seu desenvolvimento.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras