segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Penso que o polo progressista, radicalmente democrático, popular e íntegro precisa se “fulanizar” numa candidatura que em 2018 encarne a esperança. As dicotomias em curso já não preenchem as aspirações das pessoas: elas não querem o autoritarismo estatista nem o fundamentalismo de mercado. Desejam um governo que faça a máquina burocrática funcionar, com políticas públicas que atendam às demandas das pessoas. Um governo que seja inclusivo, quer dizer, que mantenha e expanda as políticas redutoras da pobreza e da desigualdade (educação pública de maior qualidade, impostos menos regressivos, etc.); que seja fiscalmente responsável, atento às finanças públicas, e ao mesmo tempo entenda que precisamos de maior produtividade e mais investimento público e privado, pois sem crescimento da economia não haverá recuperação das finanças públicas e do bem-estar do povo.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi Presidente da República, “Convicção e esperança”, O Estado de S. Paulo, domingo, 6 de agosto de 2017.

'Podemos sair da crise, mas não sairemos do século 20', diz José Arthur Giannotti

Filósofo é autor do recém-lançado 'Os Limites da Política - Uma Divergência'

Vítor Marques | O Estado de S. Paulo / Aliás

A travessia até as eleições de 2018 será árdua e não se sabe até que ponto o atual governo implantará seu projeto. Mas a vantagem do presidente Michel Temer é que a oposição está enfraquecida. A análise é do filósofo e professor emérito da USP José Arthur Giannotti, 87. “A crise da esquerda é profunda”, afirmou Giannotti, em entrevista ao Aliás.

No momento em que os partidos estão em xeque, Giannotti lança novo livro que dialoga com autores clássicos e discute política a fundo. Os Limites da Política - Uma Divergência é, sobretudo, um debate em que Giannotti dá espaço ao também filósofo Luiz Damon Moutinho. Trata-se de uma versão revisitada e ampliada de sua obra anterior, A Política no Limite do Pensar (Cia. das Letras). 

Abaixo, os principais trechos da entrevista do filósofo.

Qual é o lugar da política neste momento em que predomina o discurso da apolítica?

A política está em todos os lugares. O problema todo está como lidamos ou fugimos dela.

Há saída para a crise política a curto prazo?

Não há. A crise é muito séria porque ela começa com uma crise de representação e depois ela se transforma em uma crise de Estado. Isto é, lembremos uma velha definição de Estado, a instituição que tem o monopólio da violência. Hoje nós já não temos o monopólio da violência. O narcotráfico, por exemplo, se expande, se internacionaliza, começa a organizar a produção, e então temos paralelos que se cruzam diante daquilo que seria o Estado nacional.

Sem a justa ira dos inocentes | Ricardo Noblat

- O Globo

“Caráter a gente não compra, não tem para vender no mercado, nem no sacolão, nem no melhor shopping.Lula, ex-presidente da República

Renan golpista”. Calheiros De acordo é golpista. com o PT, Um golpista “velho é aquele que por voto, palavras e obras apoiou a queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi o caso de Renan. O “novo golpista” torce para que Lula seja impedido pela Justiça de disputar a eleição presidencial do próximo ano. Não é o caso de Renan. Que deseja Lula candidato esbelto e forte para beneficiar-se dos seus votos.

POR FAVOR, NÃO ESQUEÇAM, suplicou Renan outro dia: ele sempre foi de esquerda. Ele é Renan. Lula, não. Jamais foi de esquerda. Valeu-se dela para fundar o PT. Serviu-se dela para chegar ao poder. E uma vez lá, governou com as elites que antes amaldiçoava. Que hoje amaldiçoa na tentativa de não perder a simpatia dos mais pobres. Lula é o que foi sempre: um irresponsável manipulador de palavras e de sentimentos.

O ENCONTRO DOS RÉUS LULA E RENAN marcou a passagem por Alagoas na semana passada da caravana do mais ilustre alvo da Lava-Jato. Renan não discursou com medo de ser vaiado. Queria livrar-se, e ao visitante, do constrangimento. Mesmo assim foi vaiado e fingiu que não era com ele. Lula encantou os que queriam ouvi-lo e tocá-lo como se fosse um demiurgo. Provou que está em boa forma.

A retomada será feita se a política não atrapalhar | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Em meio às permanentes notícias sobre a corrupção endêmica que abraçou o país, a ebulição em torno de mais uma tentativa de reformar o sistema político e as dúvidas relacionadas à estabilidade política necessária para o prosseguimento do processo de mudanças e reformas estruturantes, a economia começa a esboçar, ainda que timidamente, a geração de boas notícias.

Uma conceituada revista semanal, especializada em economia, estampou na sua capa do final de semana a manchete: “Recuperação começou”. E qualifica abaixo: “O desemprego cai 5%. As vendas de carro sobem 4%. A exportação está em alta. Um conjunto de dados mostra que a economia brasileira toma um primeiro impulso e tem tudo para engatar o crescimento – desde que a política não estrague”.

É evidente que há um abismo a separar a sociedade e o sistema político. A política não tem sido fonte de boas notícias. Mas é também verdade que apenas o sistema político pode produzir decisões para nos tirar do atoleiro em que o Governo Dilma meteu o país.

Desastre à espreita | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Méritos e possíveis vantagens da privatização à parte, Michel Temer está querendo vender algo que não lhe pertence. A procuração dada pelos proprietários à representante que ele substituiu não fala nada em entregar patrimônio público para cobrir um buraco – buraco que Temer não foi o primeiro a cavar mas ajudou a aprofundar. Até que o eleitor diga que é isso que quer, alienar florestas e estatais causará desconfiança e suspeição – especialmente quando 93% desaprovam o presidente.

Collor e Dilma caíram após prometeram uma coisa em campanha e fazerem o oposto. Temer não prometeu nada, mas herdou cargo, compromissos e promessas da titular. Ele pode achar que não. Pode crer que chegou lá por suas ideias e convicções. Mas a “Ponte para o futuro” não recebeu um sufrágio sequer. Alavancou outras contrapartidas, eventualmente, mas voto nenhum.

Maratona privatista | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Semana de Temer foi compacto de temporadas sem spoiler do desfecho

Se há uma palavra que não combina com o governo Temer, no momento, é paralisia. Ao contrário. A semana passada valeu por muitas: anúncio-bomba da privatização da Eletrobrás na segunda-feira, apresentação da proposta de simplificação tributária na terça, pacotaço de 57 projetos disponíveis para concessão ou venda na quarta. As novidades foram tantas e de tal amplitude, que a mudança tributária, de interesse direto de empresários e motivo de infindáveis debates entre especialistas, acabou submergindo. Nas redes sociais, o choque com a venda do controle da Eletrobrás cedeu lugar aos memes ácidos sobre o leilão da Casa da Moeda e o clima de “família vende tudo”. Foi praticamente uma maratona das sete temporadas de Game of Thrones, de tirar o fôlego, como diriam os fanáticos, com o roteiro da última temporada ainda protegido de spoilers.

Em princípio, não se pode negar que há uma demanda forte por privatização. Afinal de contas, o avanço das parcerias com grupos privados tornou-se gênero de primeira necessidade, diante das fragilidades do setor público tanto para investir quanto para administrar megaprojetos, muitos deles submetidos aos efeitos nefastos do loteamento político – e como o País precisa desses investimentos para sair do atoleiro! Para os mercados, o governo Temer já havia se mostrado amigável aos investidores interessados em privatizações, mas ainda precisava atuar com mais agilidade nessa direção.

De volta aos anos 80 | Eduardo Cucolo

- Folha de S. Paulo

Salário-mínimo de R$ 1.000, autorização para ministros, parlamentares e procuradores viajarem de classe executiva e um rombo no orçamento de quase R$ 180 bilhões. Quase 70 sugestões foram apresentadas para modificar a proposta que aumenta o rombo nas contas do governo federal de 2017 e 2018 para R$ 159 bilhões.

O projeto precisa ser aprovado pela comissão de Orçamento e pelo Congresso nesta semana. Qualquer resultado fora do script obrigará o governo a refazer toda a previsão de gastos e despesas do próximo ano.

Nenhuma dessas sugestões parece ter como objetivo contribuir para uma melhora efetiva daquele que é hoje o principal problema não só para o atual governo, mas também para o próximo.

A crise fiscal tem sido subestimada pelo Congresso, mais preocupado com a reforma política, e por pré-candidatos ao Planalto.

A grande transformação | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Uma crise política e econômica de meia década (2013-2018) terá marcado uma grande transformação no Brasil. A chamada Nova República, primeiro formato da longa implantação da democracia de massas, dará lugar a outro arranjo.

Chegou ao fim a capacidade do Estado, em seus diversos braços, de honrar plenamente os compromissos assumidos com a sociedade nas últimas décadas. O milagre do crescimento exponencial das receitas, pressuposto para o atendimento do conjunto das demandas, não ocorreu.

Privatizar empresas e serviços estatais, nesse ambiente, é como vender o carro para comprar gasolina. A depender dos desenhos, o processo vai inibir o clientelismo e favorecer a eficiência, mas em nada aplacará o desequilíbrio primordial se as despesas públicas obrigatórias continuarem a superar o poder de arrecadar.

Reforma política? Meia boca | Gaudêncio Torquato

Blog do Noblat

O mês de outubro está à vista, mas a tão proclamada reforma política mais uma vez está em plena escuridão. Ameaça ser um fiasco, após meses de debate. A Comissão encarregada de apresentar uma proposta se vê às voltas de um novelo sem fim.

Ora é um fundão de R$ 3,6 bilhões para financiar as campanhas eleitorais, defendido por parcela significativa do conjunto parlamentar, mas repudiado pelo olho crítico da sociedade; ora é o distritão, sistema que cada transforma as 17 unidades federativas em distritos, onde seriam eleitos os candidatos de maior votação.

A polêmica se estende por outros vetores, como a cláusula de desempenho, que exigirá dos partidos 1,5% dos votos nacionais (ou 9 deputados) em 9 Estados, no mínimo, em 2018, índice que, gradativamente, subirá 3% até 2030; ou o fim das coligações proporcionais, essa parceria que pode juntar alhos e bugalhos no mesmo caldeirão, pelo qual o voto dado em um candidato da esquerda poderá eleger um candidato da direita.

O que teremos para 2018? As duas propostas, aprovadas na Câmara, irão ao Senado.
Qualquer que seja o resultado a ser alcançado pelo projeto de reforma política, pode-se garantir que estará longe do ideal. Será uma reforma meia boca.

O pecado mora ao lado | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Agentes da Justiça são especialistas em burlar teto salarial

No final de julho, o juiz Sergio Moro concedeu rara entrevista a um grupo de jornalistas. O 'julgador' evitou bolas divididas. Saiu pela tangente, por exemplo, diante das referências às críticas do ministro Gilmar Mendes ao direito penal de Curitiba. "Não faria réplica à crítica do ministro", declarou.

Não usou da mesma fidalguia ao falar dos políticos. "Lamentavelmente, eu vejo uma ausência de um discurso mais vigoroso por parte das autoridades políticas brasileiras em relação ao problema da corrupção." Findo o introito, sentenciou: "Vejo no mundo político uma grande inércia."

Em geral, Moro não dá entrevistas, preferindo os autos ou as sentenças. Porém, sempre a postos para contribuir com um exemplo edificante, quebrou a norma para "incentivar o trabalho cooperativo de jornalistas investigativos."

Menos contido, mas igualmente disposto à propedêutica civilizatória dos jurisconsultos, o ministro Luís Roberto Barroso não precisou de circunstâncias excepcionais para conceder entrevista e decretar: "O Brasil precisa desesperadamente de uma reforma". Apelou ao "patriotismo dos parlamentares da Câmara para aprovarem estas duas providências [cláusula de barreira e a proibição de coligações], indispensáveis para que a política recupere a sua credibilidade."

Temer ou Meirelles, quem capitalizará o PIB? | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Temer completa 1º ano com avanços, lista consultoria

Sexta-feira, 1º de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil do segundo trimestre do ano. A média das projeções colhidas pelo Valor Data indica estabilidade do indicador e aponta alguma melhora na abertura das contas. E ela será mais que comemorada. No governo e fora dele. Após retração de 7,5% nos últimos dois anos, se a atividade parar de cair o país estará no lucro.

O presidente Michel Temer, um dos interessados em capitalizar o feito, estará na China. Embarca amanhã. Lá, participa da cúpula do G-20. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles - duplamente interessado no dado do IBGE - estará no Brasil. Assim como os ministros do núcleo político de Temer. O titular do Planejamento, Dyogo Oliveira, estrela em ascensão na administração pública, integra a comitiva - lotada de políticos - do presidente.

O bom desempenho da economia ou uma piora menor - se capitalizada - aproxima Temer de uma possível, embora negada, candidatura à Presidência em 2018 ou, no mínimo, de um passe livre para a história. Meirelles cobiça esse destino, mas tem meta adicional a cumprir. É ministro da Fazenda. Portanto, responsável imediato pela gestão da política econômica - sucesso ou fiasco. É um aspirante à Presidência e nessa condição depende do sucesso do seu atual trabalho.

A desfaçatez de Dilma – Editorial | O Estado de S. Paulo

A cada manifestação pública da presidente cassada Dilma Rousseff – e elas são cada vez mais frequentes –, a maioria da população que apoiou o seu impeachment, consumado pelo Senado há quase um ano, é tomada por um misto de realização e alívio por não ver mais o destino do País entregue às mãos ineptas de alguém capaz de tanta confusão, tantos erros e tanta dissimulação.

Talvez a sra. Rousseff esteja se esforçando para compensar, agora que está fora do poder, a alegria que não foi capaz de dar aos brasileiros durante os mais de 5 anos em que ocupou a Presidência da República, um período tão desastroso que ainda exigirá da Nação alguns anos de muito esforço de superação.

Após o governo federal anunciar o plano de privatização da Eletrobrás na terça-feira, a ex-presidente usou as redes sociais para criticar a medida. “Vender a Eletrobrás é abrir mão da segurança energética. Como ocorreu em 2001, no governo FHC, significa deixar o País sujeito à (sic) apagões”, escreveu Dilma Rousseff em sua conta no Twitter.

O PSDB se emenda - Editorial | O Estado de S. Paulo

Depois de meses de titubeios e ameaças de desembarque do governo de Michel Temer, como se o partido tivesse perdido a capacidade de enxergar o que é melhor para o País, a cúpula do PSDB reiterou, na quinta-feira passada, seu apoio ao presidente. Dessa forma, os tucanos dão sinais de que, mesmo com todas suas tibiezas, apatias e indefinições, o partido ainda conserva alguma capacidade de reflexão. É um alentador sinal de vida, especialmente em razão de sua responsabilidade na aprovação das reformas tão necessárias para o País.

Na quinta-feira passada, a cúpula nacional do PSDB reuniu-se com os 27 presidentes de diretórios estaduais. Após o encontro, o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), asseverou que está superada a discussão sobre eventual rompimento do PSDB com o governo federal.

“O partido tem divergências e vai continuar tendo divergências, graças a Deus. Tem divergências porque nós não somos um partido de pensamento único. Partido de pensamento único é o Partido Comunista. Nós somos um partido exposto à variedade de ideias, de opiniões, e essa discussão é que leva a uma convergência de um ideal em comum do partido”, disse Jereissati.

É fácil entender – Editorial | O Globo

Servidor público tem vantagens em relação ao assalariado privado e, por isso, deve contribuir

Até devido à própria formação do Brasil, desde o Império, o emprego público costuma ser o sonho de muita gente. O regime monárquico foi substituído pela República, e o sonho de ter o Estado como patrão se manteve, e foi até fortalecido, com a multiplicação de empresas estatais, no século XX.

Na Constituição de 37, a “Polaca”, da ditadura do Estado Novo getulista, instituiu-se a estabilidade no emprego na administração direta, consolidando na sociedade este sonho. Algumas estatais terminaram convertidas em empresas de capital misto, público e privado, seus empregados ficaram sob o regime da CLT, de 1943, mas, mesmo assim, a segurança de um posto em companhia pública é grande. Não se tem notícia de demissões em massa neste universo, porque prejuízos são cobertos pelo Tesouro, e a cobrança por eficiência do empregado não é a mesma do setor privado, em que não há o Erário para socorrer em qualquer eventualidade.

Paradoxo tucano – Editorial | Folha de S. Paulo

Seria de esperar que, com a sequência de escândalos vividos pelo lulismo e com a derrocada do governo Dilma Rousseff (PT), coubessem ao PSDB, principal agrupamento de oposição, os maiores ganhos políticos de todo o processo.

Nada mais distante do que ocorreu: o partido se vê em uma crise talvez sem precedentes em sua história, a qual parece agravar deficiências crônicas da agremiação.

A contingência histórica sem dúvida contribuiu para a situação: para o impeachment de Dilma, foi decisivo o papel de seus antigos aliados peemedebistas, como Eduardo Cunha e Michel Temer.

Colocou-se o PSDB no papel, que sempre gostou de exercer, de avalista ético e ideológico para procedimentos em boa parte orientados pelo pragmatismo e pela barganha.

Bênção – Editorial | Folha de S. Paulo

Considerada a realidade do sistema penitenciário brasileiro, o empresário Jacob Barata Filho pode julgar-se indivíduo de sorte. Detido no dia 2 de julho em mais uma fase da Lava Jato, o famigerado Rei do Ônibus permaneceu menos de dois meses atrás das grades.

De acordo com os investigadores, a prisão provisória era necessária não só para frustrar planos de fuga mas também para interromper o ciclo de pagamento de propinas e garantir o levantamento de provas sobre ilegalidades no sistema de transporte coletivo do Rio.

Os argumentos convenceram o juiz Marcelo Bretas e os desembargadores Abel Gomes e Paulo Espírito Santo (do Tribunal Regional Federal da 2ª Região), mas não Gilmar Mendes. O ministro do Supremo Tribunal Federal concedeu a Barata nada menos do que duas ordens de soltura, uma no dia 17, outra no dia 18 deste mês.

Congresso deve ao país regra política permanente – Editorial | Valor Econômico

Há consenso na sociedade, no governo e no Congresso sobre a necessidade e urgência da reforma política. No entanto, a cada vez que o Senado e a Câmara dos Deputados se reúnem para tratar do assunto a discussão, em geral, termina em impasse. Aparentemente é o que está acontecendo com a nova tentativa em curso no Legislativo para enfim dotar o país de um sistema político e eleitoral duradouro, ou pelo menos este deveria ser o objetivo.

A atual rodada da reforma política padece do mesmo mal das que a antecederam: é feita de afogadilho, às vésperas das eleições gerais de 2018 e está contaminada pelo interesse eleitoral imediato de cada candidato e partido. A diferença da atual tentativa é que ela é emulada também pela proibição do financiamento privado das campanhas eleitorais. Os congressistas gostariam de primeiro acertar como as eleições serão financiadas para só depois definir o modelo político e eleitoral a ser adotado.

“Não acabaremos com o crime da noite para o dia no Rio” diz Jungmann

Entrevista Raul Jungmann

Germano Oliveira | IstoÉ

Ele já foi comunista de carteirinha (membro do PCB, o famoso “partidão”) e adversário ferrenho dos militares que deram um golpe em 1964 exatamente para conter o avanço dos comunistas. Hoje, Raul Jungmann, de 65 anos, é o ministro da Defesa, que comanda os militares das três forças (Marinha, Exército e Aeronáutica). E lidera as casernas com o aval dos chefes do Estado Maior. “Eu cheguei ao cargo por sugestão dos militares, acatada pelo presidente Temer”. E é com esse respaldo que o pernambucano Jungmann, deputado federal por três mandatos pelo PPS e que foi ministro do Desenvolvimento Agrário de Fernando Henrique Cardoso, está à frente da Operação Rio, com o uso ostensivo de tropas das Forças Armadas para o combate ao crime organizado que tomou conta da rotina dos moradores da cidade. “Não vamos acabar com o crime da noite para o dia, mas vamos fustigá-lo. Não haverá trégua”, disse o ministro em entrevista à ISTOÉ. Para ele, o crime está incrustado no Rio e o tráfico já domina 850 comunidades cariocas.

Qual o balanço que o senhor faz da atuação das Forças Armadas no Rio? Com as tropas do Exército nas ruas a violência diminuiu?

As Forças Armadas estão no Rio para apoio às forças de segurança estadual. Não participam diretamente do confronto e nem ocupam comunidades. Dão apoio na área de inteligência e logística. Não se concebeu acabar com o crime da noite para o dia, mas fustigá-lo de forma contínua até atingir a sua capacidade de operação. Não haverá trégua. As operações irão até o final deste governo por decisão do presidente Temer.

Não é a primeira vez que tropas federais precisam socorrer o Rio. O senhor acha que a cidade precisa de forças do Exército permanentes?

Definitivamente, não. Por isso mudamos em relação às operações anteriores que se limitavam ao poder dissuasório com as tropas federais nas ruas. Equivalia a dar férias aos bandidos: tão logo as Forças Armadas deixavam as ruas, eles reapareciam e retomavam as atividades. Dessa vez a ação é continuada, sempre com o fator surpresa e a partir de um trabalho de inteligência.

Apesar dos tanques nas ruas, os criminosos continuam agindo. Os senhor acha que os traficantes perderam o medo das forças militares?

Como já disse, tanques e tropas nas ruas, crime de férias, o que dá uma sensação passageira de segurança. Portanto, não se trata de o crime perder o medo das Forças Armadas ou não. O crime organizado com base no tráfico de armas, drogas – e até de pessoas – ganhou dimensão transnacional. Quando chega nesse estágio, ele desafia o Estado. É disso que se trata no Brasil, de forma mais aguda no Rio, porque lá o conjunto da obra produziu um quadro de falência fiscal, com o crime incrustado no Estado, capturando instituições. É o estado paralelo. Demarcaram territórios. São quase 850 comunidades sob o controle do tráfico.

Fufuca descarta surpresas e sobressaltos

Por Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - Em uma semana sensível para o governo do presidente Michel Temer e o meio político em geral, a Câmara dos Deputados ficará sob o comando do jovem deputado André Fufuca (PP-MA), de 28 anos completados ontem, alçado ao posto de segundo-vice-presidente da Casa a partir de articulações e alianças que contrastam, em alguma medida, com o discurso de renovação na política propagado pelo parlamentar.

Fufuca integra um dos principais partidos do grupo conhecido como Centrão, que tem ameaçado e pressionado o Palácio do Planalto por mais espaços no governo. O deputado assegura que não haverá surpresas nem sobressaltos durante sua gestão interina efetiva. Em julho deste ano, em pleno recesso parlamentar, Fufuca também esteve à frente da Câmara, em função das ausências do primeiro-vice-presidente, Fábio Ramalho (PMDB-MG), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória presidencial. Com a viagem de Temer à China, acompanhado de Ramalho, Fufuca estará novamente no posto durante oito dias a partir de amanhã.

"O destino mais uma vez me coloca um desafio", disse o deputado ao Valor. "É uma experiência diferente. Uma responsabilidade grande. Espero poder manter a estabilidade da Casa e dar prosseguimento às votações já em trâmite", acrescentou.

Temer age para garantir votações de matérias fiscais impopulares

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - Com um pacote de medidas fiscais - e impopulares -, a serem votadas e à sombra da segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer age para deixar a casa arrumada antes de se ausentar do país por dez dias. Temer embarca amanhã para a China para uma visita de Estado e para participar da reunião do Brics (bloco formado por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul). O presidente só retorna na madrugada de 7 de setembro, para a cerimônia do Dia da Independência.

Um auxiliar presidencial minimizou o potencial de danos da nova denúncia e afirma que a preocupação do Planalto é a aprovação dos projetos. "A primeira já era uma peça de ficção, a segunda, se vier, será uma obra de realismo fantástico, cem anos de ilação", ironizou. De acordo com o inquérito, Janot pode acusar Temer de formação de quadrilha ou obstrução de Justiça. Ele aguarda o desfecho da delação do doleiro Lúcio Funaro para encorpá-la.

No NE, Lula joga xadrez político

Por Marina Falcão | Valor Econômico

JOÃO PESSOA - Com sua caravana pelo Nordeste na metade do caminho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já deixou claro que vai passar por cima de constrangimentos com parceiros nos Estados - e dentro da própria militância - em nome de alianças políticas para 2018.

"A política é um jogo de xadrez, não é um jogo de dama e o presidente Lula é um grande jogador de xadrez", avalia o deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE), que discursou ao lado de Lula em Pernambuco.

Na passagem por sua terra natal, o petista teve agenda com dois adversários na política local: tomou café com o senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-ministro de Dilma Rousseff e defensor do seu mandato até o fim, e jantou com a família do ex-governador Eduardo Campos e o governador Paulo Câmara (PSB), que apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno de 2014 e, depois, o impeachment de Dilma. "Vejo com naturalidade, ele está conversando com todo mundo para tentar reconstruir a Frente Brasil Popular", diz Sílvio Costa, aliado de Monteiro, que não subiu no palanque com Lula.

No Maranhão, Lula pode se depara com situação semelhante. Nos bastidores, comenta-se que vai se encontrar com a família Sarney, embora essa agenda não seja confirmada oficialmente. Lula já fez o aceno quando disse, durante entrevista no Recife, que era "grato" ao ex-presidente como presidente do Senado.

Ao mesmo tempo, Lula deve discursar ao lado do governador Flávio Dino (PCdoB), opositor do "golpe" e dos Sarney. O Maranhão deve ser a última parada da caravana, no dia 5 de setembro.

Metade das capitais pode mudar de prefeito em 2018

Coluna do Estadão | O Estado de S. Paulo

Metade das capitais do Brasil pode trocar de comando a partir de abril de 2018. Pelo menos 13 dos 26 prefeitos de capitais avaliam os cenários políticos para disputar o governo. Para isso, precisam renunciar aos mandatos conquistados em 2016 e entregar a chave das cidades nas mãos de seus vices. Em São Paulo, se sair candidato, João Doria (PSDB) passará o bastão para seu vice, Bruno Covas (PSDB). Já a prefeitura de Salvador seria assumida pelo desconhecido Bruno Reis (PMDB) caso o prefeito ACM Neto (DEM) concorra ao governo.

Troca-troca. Concretizada, a renúncia dos prefeitos vai alterar o quadro partidário nas capitais. O PSDB, por exemplo, pode perder Porto Velho, Belém e Maceió onde os vices são do PSDC, PSB e PP.


Lá e cá. O PMDB entregaria a prefeitura de Boa Vista, cujo vice é do PSD. Mas ganharia João Pessoa, Manaus, Natal e Bahia. O PT deixaria de comandar Rio Branco, que passaria para as mãos do PSB.

Redução. O governo trabalha com a informação de que, embora ainda seja muito forte no Nordeste, Lula teria hoje oito pontos porcentuais a menos em relação a sua popularidade na região em 2016.

Vem aí. Thereza Collor negocia trocar o PSDB pelo PPS para disputar o Senado em 2018 por Alagoas. Sobre a possibilidade de o Senado ter dois senadores com o mesmo sobrenome, caso se eleja, ela tem dito que o Collor dela é diferente do ex-cunhado Fernando.

A influência da primeira leitura da infância de Graciliano Ramos

'O Menino da Mata e seu Cão Piloto' ajudou a formar muitos dos escritores brasileiros

Ieda Lebensztayn* | O Estado de S. Paulo

O menino estava apartado dos livros. Eis que, quase analfabeto aos nove anos, viveu a surpresa de ser convidado pelo pai a ler um folheto: O Menino da Mata e seu Cão Piloto. Naquela “noite extraordinária”, o pai foi lhe traduzindo em “linguagem de cozinha” as expressões literárias. Animada, a criança reconhecia que havia alguma coisa no livro, embora difícil de entender totalmente: “E uma luzinha quase imperceptível surgia longe, apagava-se, ressurgia, vacilante, nas trevas do meu espírito.”

Contudo, o pai interrompeu o novo hábito, provocando uma sensação de ruína no filho, que sofria com o estigma de incapaz: quando havia descoberto “uma coisa muito preciosa”, de repente “a maravilha” se quebrava, pareciam-lhe vedados os momentos de encanto.

Ora, existe a prima Emília: o menino recorreu a ela, que lhe sugeriu arriscar-se a ler sozinho. Se os astrônomos leem o céu, disse ela, o primo, que conhecia as letras, seria capaz de reuni-las em palavras e “adivinhar” a página diante de seus olhos.

Então, o menino se embrenhou no quintal com as personagens daquele folheto – os lobos, o homem, a mulher, os pequenos.

Irmão, Irmãos | Carlos Drummond de Andrade

Cada irmão é diferente.
Sozinho acoplado a outros sozinhos.
A linguagem sobe escadas, do mais moço,
ao mais velho e seu castelo de importância.
A linguagem desce escadas, do mais velho
ao mísero caçula.

São seis ou são seiscentas
distâncias que se cruzam, se dilatam
no gesto, no calar, no pensamento?
Que léguas de um a outro irmão.
Entretanto, o campo aberto,
os mesmos copos,

o mesmo vinhático das camas iguais.
A casa é a mesma. Igual,
vista por olhos diferentes?

São estranhos próximos, atentos
à área de domínio, indevassáveis.
Guardar o seu segredo, sua alma,
seus objectos de toalete. Ninguém ouse
indevida cópia de outra vida.

Ser irmão é ser o quê? Uma presença
a decifrar mais tarde, com saudade?
Com saudade de quê? De uma pueril
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?
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Carlos Drummond de Andrade, in 'Boitempo'

Wilson das Neves - Os Papéis / O Samba é meu dom (Ao Vivo)

domingo, 27 de agosto de 2017

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira*

Na sociedade civil, coração ético do Estado, a intolerância só faz crescer, quase não há mais ação comunicativa, ainda que as redes sejam a praia dos falantes. Aí dorme o problema principal, pois, sem um ativismo democrático que articule interesses e pressione por um futuro melhor, pouco haverá de correção de rumos e recuperação do Estado.

Poucos percebem que a democracia perde qualidade não tanto porque o sistema político derrapa, mas porque os cidadãos democráticos não conseguem se articular entre si. Os liberais democráticos não se projetam, a esquerda moderada e a centro-esquerda são inoperantes e a esquerda “pura”, radicalizada, é prisioneira de seus fantasmas e idiossincrasias, esperneia e joga palavras ao vento, mas pouco faz. Tais vetores da democracia estão se distanciando da sociedade, perdendo a credibilidade conquistada ao longo da democratização do País.

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* Marco Aurélio Nogueira é professor titular de teoria política e coordenador do núcleo de estudos e análises internacionais da Unesp, “A reforma que não cabe em si”, O Estado de S. Paulo, 26/8/2017.

O retrato de um desencanto | Cacá Diegues

- O Globo

Foram as alianças heterogêneas e esdrúxulas o principal motor da desmoralização do PT, do fim do mito de que poderia ser um partido diferente dos outros

Vi no jornal as fotos do senador Renan Calheiros e seu filho Renanzinho, governador de Alagoas, cercando o ex-presidente Lula em sua viagem ao Nordeste, em campanha para as eleições de 2018. Os três se abraçavam e riam muito, o riso de felicidade dos vencedores ou daqueles que pretendem vencer e não admitem outro fim da história.

Não sei o que isso significa em termos de aliança eleitoral, se cada um deles precisa mesmo dos outros dois para melhor desempenho nas urnas. Mas é difícil entender por que estão juntos, nos braços uns dos outros, naqueles retratos. É como ver o homem da mala correr com ela cheia pelas ruas noturnas da cidade, enquanto na televisão todos, de todos os partidos (inclusive o da própria mala), saúdam a vitória da luta contra a corrupção, anunciando seu apoio à Lava-Jato e ao Ministério Público.

É como se de dia proclamássemos a justiça e, na calada da noite, seguíssemos cometendo os mesmos crimes de sempre. É isso o que fazem os políticos que se abraçam naquelas fotos com aqueles sorrisos, diante do povo que pretendem enganar. Porque só pode ser por engano.

O projeto político dos Calheiros nunca foi muito diferente desse. Nele, enganar a população faz parte da natureza de sua presença na política. Não tem outro jeito de se levar vantagem em tudo.

A experiência, no passado, desse tipo de aliança heterogênea e esdrúxula já devia ter ensinado alguma coisa a Lula. Foram elas, as alianças heterogêneas e esdrúxulas, o principal motor da desmoralização do Partido dos Trabalhadores, do fim do mito de que o PT poderia ser um partido diferente dos outros pela sua fidelidade a um programa, pelo seu rigor ético, pelo seu real interesse pelo povo brasileiro. A governabilidade, ou a cooptação (podem escolher a palavra e o conceito que prefiram), acabou com aquela ilusão.

Notas sobre a decadência | Fernando Gabeira

- O Globo

A crise brasileira é tão brava que, às vezes, nos esquecemos de que existe uma outra mais ampla nos envolvendo: a decadência dos valores ocidentais. Alguns escritores franceses teorizam sobre a decadência da civilização judaico-cristã e chegam a prever a futura dominação muçulmana. Michel Onfray acha que os muçulmanos tendem a predominar, entre outras coisas, porque estão dispostos a morrer por sua crença.

Não tenho a mesma certeza da força da fé, sobretudo no universo político. Sem conhecimentos tecnológico e científico, tática e estratégia adequadas, a disposição de morrer por uma causa pode representar um autoextermínio em grande escala.

O que me atrai nisso tudo é estabelecer um nexo entre a crise ocidental e a brasileira; a mesma realidade, só que em dimensões diferentes.

No final do século, a European Science Foundation realizou uma ampla pesquisa e publicou cinco livros sobre ela. Um deles tem o título “O impacto dos valores”. A tese dos sociólogos e pesquisadores envolvidos no trabalho era que estava havendo uma mudança de valores. Esta mudança não era compreendida pelos governos que insistiam apenas em falar de melhorias materiais e mais riquezas, quando despontavam aspirações novas: desejos não materiais e emancipatórios. Isso acontece no Brasil em alguma escala, quando se defende qualidade de vida ou se constata o crescimento da espiritualidade.

Evidências, narrativas e civilização | Murilo de Aragão*

- O Estado de S.Paulo

Em vez de buscar novos cadáveres, o ideal seria enterrar os que já devem ser enterrados

Não temos dúvidas: para o bem e para o mal, a Operação Lava Jato cumpre uma missão que extrapola os limites do Judiciário. Talvez, até mesmo, resgatar o curso de nosso processo civilizatório. Não sem tempo, já que, se a política não se renova nem se recupera, alguém tem de fazer isso. Poderia ser pior – por exemplo, um golpe bolivariano, uma revolução bolchevique ou um golpe militar clássico.

No entanto, o seu curso é afetado por algumas obsessões, açodamentos, ativismo e pela busca da narrativa perfeita. Alguns dos procuradores acreditam que somente com a narrativa redonda será possível fazer a transformação que almejam. Uns creem nisso por idealismo; outros, por interesse próprio. No entanto, não precisamos apenas de narrativas perfeitas. Precisamos do império da lei e de que esta seja aplicada de forma clara e justa. Sem cadáveres de mentira nem denúncias “tabajaras”.

Por isso, como em alguns casos os cadáveres ainda não existem e as narrativas não se completam, o Brasil segue em suspense. Vivendo das teses do “não é possível” que não vá aparecer a bala de prata. A delegada Graziela Machado da Costa e Silva, em relatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que a delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sobre alguns políticos carecia de provas. Ou seja, segundo a Polícia Federal, neste caso não há “cadáveres” a enterrar. Tal constatação quebrou a narrativa que amparava o acordo de delação de Machado, que está “asilado” em sua mansão.

Alckmin pronto para a briga | Eliane Cantanhede

- O Estado de S. Paulo.

Há dúvida sobre Doria. Alckmin fala em “experiência”.

Os partidos tradicionalmente aliados ao PSDB acompanham a corrida tucana com nervosismo e atenção redobrada, como em uma Olimpíada. A melhor aposta continua sendo o governador Geraldo Alckmin, porque é cedo para concluir se o prefeito João Doria terá fôlego para ser o candidato à Presidência da República, apesar de estar a mil por hora, viajando pelo País, ocupando espaço na mídia e se destacando nas pesquisas.

Sempre se fala em “fadiga de material” e que é hora de trocar o governo de São Paulo, depois de 22 anos de PSDB, mas o partido é vitorioso eleição atrás de eleição e acaba mantendo o Bandeirantes. Um dos motivos é que, em meio a uma crise que afundou a União e estados como Rio, Minas e Rio Grande do Sul, São Paulo continua respirando – e com uma reforma da Previdência de dar inveja.

Alckmin tem boa parcela de responsabilidade nisso, além de outros trunfos: é tucano de raiz, tem longa carreira política no Legislativo e no Executivo e recall de presidenciável em 2006. Até por isso, o presidente interino do partido, Tasso Jereissati, avisa: “Alckmin é o primeiro na fila do PSDB”.

Shakespeare e nós | Merval Pereira

- O Globo

O livro, “Ele, Shakespeare, visto por nós, os advogados”, a ser lançado amanhã, traz reflexões sobre nossa crise política, fazendo paralelos com “o complexo quadro das paixões, motivações, comportamentos, e grandeza e a mesquinhez humana”, abordado na obra de Shakespeare, segundo o editor José Luis Alqueres, que organizou o livro juntamente com o advogado e professor José Roberto Castro Neves, um bardólatra assumido.

Miguel Reale Júnior trata de Ricardo III. Luís Roberto Barroso apresenta Júlio César, com inquietante apreciação acerca do poder. Andréa Pachá manda uma carta para William. Francisco Müssnich tira reflexões sobre as desventuras do mundo contratual do Soneto 87. José Roberto de Castro Neves fala dos canalhas nas peças de Shakespeare. O jurista e professor Tercio Sampaio Ferraz Junior Brasil fala sobre o embate em torno da legitimidade no exercício do poder, referindo-se ao impeachment de Dilma Rousseff, que levou ao poder seu vice Michel Temer, “(...) girando em torno de mecanismos inerentes à ordem constitucional: uma vitória eleitoral inconteste contra o impeachment nela previsto. Na tela de fundo de uma tragédia anunciada, a luta pelo poder legítimo refletia o argumento do governante eleito, mas incapaz de dar conta dos desafios, contra a necessidade de um governo preparado, política e tecnicamente, para enfrentá-los.

Tempestade política | Míriam Leitão

- O Globo

O Brasil pode ter uma tempestade política perfeita. O conceito, importado do inglês, perfect storm, nasceu na meteorologia e foi para a economia. No nosso caso, pode ir para a política. O governo Temer, por seus defeitos e sua herança, vai desgastar a ideia das reformas e ordem fiscal. O PT falsifica os fatos recentes. Aumentou o risco da saída populista que poderá levar ao colapso da dívida pública.

O ministro Henrique Meirelles disse que o eleito em 2018 pode ser um candidato reformista. Isso é mais desejo do que realidade. governo Temer não conseguiu ainda entregar ao país um horizonte de equilíbrio fiscal e algum conforto econômico. Houve apenas pontos de alívio com a queda da inflação e dos juros. Mas o desemprego é muito alto, e a crise fiscal pode ficar mais aguda nos próximos meses, com a paralisação de serviços essenciais. Então, o caminho de reformas e de tentativa de controle de gastos será apontado como o culpado pela crise.

Quem desenhará os distritos eleitorais? | Elio Gaspari

- O Globo

O voto distrital tornou-se o quindim futurológico da reforma eleitoral. A ideia é boa, dividese cada estado em distritos e os candidatos a deputado disputam os votos desse eleitorado. Na sua versão pura, é o sistema inglês e americano. Para acompanhar diversidades étnicas e sociais, nesses países há distritos com as formas mais absurdas, e alguns desenhos tornaram-se exemplos de corrupção eleitoral. Até hoje nenhum sábio do Congresso ou do Judiciário respondeu a uma pergunta elementar: quem desenhará os distritos brasileiros?

Para brincar de voto distrital, imagine-se a cidade do Rio de Janeiro. Com cerca de cinco milhões de eleitores, o município seria dividido em 20 distritos e cada um deles agruparia cerca de 250 mil eleitores. (Hoje o Estado do Rio tem 12 milhões de eleitores e elege 46 deputados federais, o município do Rio elegeria 20.)

Seguindo-se o mapa das zonas eleitorais da cidade, pode-se construir o distrito “A”. Ele englobaria toda a Barra da Tijuca, o Alto da Boa Vista, São Conrado, a Rocinha e mais um pedaço da Gávea. A Rocinha, cuja zona eleitoral inclui cidadãos de outros bairros e, no conjunto, soma 74 mil votos, ficaria encapsulada num pedaço do Rio que sonha em ser Miami. Seria um desenho lógico, e o distrito teria 250 mil eleitores.

O público, o privado e o custeio dos partidos | Rolf Kuntz

- O Estado de S.Paulo

Respeitar os direitos políticos de todos não implica o dever de financiar candidatura

Candidato, vejam só, vem da palavra cândido. Candidus, em latim, significa branco, brilhante, sincero. O candidatus ao Senado vestia-se de branco. O modelito era escolhido, segundo alguns estudiosos, para indicar as boas intenções do aspirante a um posto público elevado. Candidaturas, no Brasil, têm sido sustentadas com recursos de propaganda muito mais complexos, mais caros e em boa parte financiados com dinheiro público. Os programas de rádio e televisão, usados há muito tempo e custeados pelo governo, são o exemplo mais conhecido. Há também o fundo partidário, recurso federal transferido todo ano, com ou sem eleição, a entidades privadas conhecidas como partidos. Tem-se discutido com frequência o uso dessa verba. Muito menos comum tem sido o debate sobre a questão mais importante, a única, de fato, fundamental: por que manter essa indecente e improdutiva drenagem do Tesouro? Mas a história continua. No arremedo de reforma política em discussão no Congresso, tentou-se criar um fundo eleitoral de R$ 3,6 bilhões, pendurado, naturalmente, na conta da viúva. A tentativa, por enquanto, se mantém, e mais uma vez o contribuinte está ameaçado.

A Bolsa comemora | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

A aposta do mercado é de que a recessão esteja no fim ou tenha ficado para trás

Então, a Bolsa ultrapassou os 71 mil pontos, nível que não se via desde janeiro de 2011.

Novidade que levanta as cismas e as desconfianças de sempre, porque Bolsa também é como nuvem: você olha e está de um jeito, olha outra vez e já mudou.

A principal cisma tem a ver com a relação causa-efeito: se o mercado deve refletir o valor das empresas no estado em que estão e com os resultados possíveis, como pode haver uma valorização de 18,01% apenas em 2017 ou de 8,23% em agosto, enquanto a economia amarga brutal recessão, sofre com 13,5 milhões de desempregados e, nas contas públicas, apresenta um rombo cada vez maior que o anterior? E essa crise política, não tem nenhum impacto sobre o comportamento da Bolsa?

O que dá para dizer é que a Bolsa tende a sair na frente, sempre antecipa resultados. Como ficou dito nesta Coluna na edição publicada aqui na quinta-feira, a aposta do mercado é de que a recessão esteja no fim ou tenha ficado para trás. E de que, daqui para a frente, a recuperação é bem mais provável do que a continuação da prostração.

Os últimos meses de Temer – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Muitas cabeças rolaram para que fosse paga a conta dos votos que evitaram a decapitação de Michel Temer, a abertura do processo que o afastaria do cargo. Desafetos perdem cargos às dezenas. Vão-se anéis e dedos que em tese poderiam votar em alguma reforma da Previdência, hoje quase uma memória desbotada.

No entanto, há gente no Congresso e no governo que acha possível aprovar "alguma coisa" da mudança previdenciária a partir de outubro. O que seria essa coisa pouca? Idade mínima de aposentadoria e um tapa em servidores públicos.

O aumento do tempo de contribuição para 25 anos e todo o resto relevante iriam para o vinagre. Se sobrarem 40% da poupança estimada originalmente pela reforma do governo, será um milagre.

A prioridade, porém, é aprovar o pacote de agosto, as medidas desesperadas para evitar um buraco ainda maior nas contas do governo, e o pacotão privatizador, que pretende tapar o buraco na imagem do governo que se jactava do ajuste fiscal, que não veio, e da reforma essencial, a previdenciária, que vai indo.

Vai dar pé? Há refregas de geometria variada no Congresso.

Dívida pública e rentismo | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

O gasto do tesouro com serviço da dívida pública que é a renda dos rentistas, é muito muito menos do que se diz por aí


Na Semana passada, discuti as diversas meias-entradas que fazem com que o gasto público seja muito elevado. Argumentei que o inferno somos todos nós.

De uma forma ou de outra, há programas públicos que nos favorecem individualmente. A soma de todas essas distorções produz um Estado disfuncional. Não serve ao público e não consegue pagar suas contas. A dívida pública cresce ilimitadamente.

Houve comentários à coluna lembrando meias-entradas que esqueci. Por exemplo, a isenção de pagamento de impostos para as igrejas. Bem lembrado.

Outro desconforto comum dos leitores com a coluna é o tratamento dirigido aos juros da dívida pública. Por que não se trata de uma meia-entrada?

Liberal? | Marcos Lisboa

- Folha de S. Paulo

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, concedeu uma entrevista ao "Valor Econômico" em que defendeu a prestação das contas da entidade. Por ser "privada, não cabe fazer a sua gestão discutindo publicamente".

Sobre os recursos públicos destinados ao Sesi e Senai, destacou a existência de mecanismos de controle, como a fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU). Por fim, argumentou que uma pesquisa interna apontou a satisfação de 90% dos usuários do sistema. "Quem presta o serviço está feliz, quem paga a conta está feliz."

Skaf defendeu ainda a "união daqueles que olham na direção de uma economia liberal, de mercado, de mais iniciativa privada".

O conjunto da obra da entrevista surpreende.

A riqueza pública | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O valor dos nossos ativos é muito maior do que a dívida pública; administrá-los melhor poderia ajudar a resolver o problema do endividamento e, ao mesmo tempo, financiar o crescimento econômico

Sem preconceito, o governo Michel Temer virou um grande balcão de negócios. O seu novo programa de privatizações, que pretende se desfazer de 57 ativos, entre os quais a Casa da Moeda, a Eletrobras e a Reserva Nacional de Cobre (Renca), para citar os mais emblemáticos, pretende alienar boa parte da riqueza da União. Os argumentos a favor da decisão são verdadeiros: primeiro, o país não tem como financiar investimentos na modernização de nossa infraestrutura sem a venda de ativos e a entrega de serviços à exploração das empresas privadas; segundo, as empresas estatais e a gestão dos serviços públicos sempre estiveram a serviços dos partidos políticos, que miram seus próprios interesses e não os da sociedade. O problema é como isso será feito.

A necessidade de voltar a crescer e a impossibilidade de investir, com um Orçamento cujo deficit este ano será da ordem de R$ 159 bilhões, repôs o debate sobre as privatizações na ordem do dia. A tendência é a discussão reproduzir a velha polarização esquerda versus direita, ou seja, o embate entre um projeto nacional desenvolvimentista e o modelo neoliberal. É a mesma polêmica aberta nos anos 1980 por Margaret Tatcher, a primeira-ministra conservadora que reformou a economia britânica. E que pautou a discussão sobre as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, na década seguinte. Será que vale a pena reprisar esse debate, que pautou as eleições presidenciais de 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014?

As brumas sobre 2018 | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Com incerteza sobre regras e candidaturas, eleição pode virar um salto no escuro

O que esperar das eleições de 2018? A pergunta que mais ouço de leitores, ouvintes, amigos, familiares, empresários, taxistas, enfim, de todos com quem converso é justamente a mais difícil de responder.

E não apenas pela natural imprevisibilidade de uma eleição, agravada, neste caso, pela profunda crise econômica e política na qual o País está mergulhado há quase quatro anos. Mas porque ela se soma a uma completa incerteza sobre as regras que vão reger o pleito, quem serão os candidatos (e quais estarão aptos legalmente a concorrer) e até quais serão os partidos existentes.

Esse salto no escuro pouco mais de um ano antes daquela que é vista como a mais importante eleição desde a redemocratização é alarmante. Evitá-lo deveria ser um compromisso de todos aqueles que têm responsabilidade institucional com um ou vários aspectos que provocam a incerteza.