Por Bruno Peres | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em uma semana sensível para o governo do presidente Michel Temer e o meio político em geral, a Câmara dos Deputados ficará sob o comando do jovem deputado André Fufuca (PP-MA), de 28 anos completados ontem, alçado ao posto de segundo-vice-presidente da Casa a partir de articulações e alianças que contrastam, em alguma medida, com o discurso de renovação na política propagado pelo parlamentar.
Fufuca integra um dos principais partidos do grupo conhecido como Centrão, que tem ameaçado e pressionado o Palácio do Planalto por mais espaços no governo. O deputado assegura que não haverá surpresas nem sobressaltos durante sua gestão interina efetiva. Em julho deste ano, em pleno recesso parlamentar, Fufuca também esteve à frente da Câmara, em função das ausências do primeiro-vice-presidente, Fábio Ramalho (PMDB-MG), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória presidencial. Com a viagem de Temer à China, acompanhado de Ramalho, Fufuca estará novamente no posto durante oito dias a partir de amanhã.
"O destino mais uma vez me coloca um desafio", disse o deputado ao Valor. "É uma experiência diferente. Uma responsabilidade grande. Espero poder manter a estabilidade da Casa e dar prosseguimento às votações já em trâmite", acrescentou.
Trata-se de uma promessa carregada de significados para a cúpula do governo: avançar nos debates envolvendo uma proposta de reforma política já para as eleições do próximo ano e concluir a votação entre os deputados da nova taxa para contratos em operações do BNDES.
Nas entrelinhas, também é um aceno para a estabilidade do governo Temer, diante da expectativa pela apresentação de nova denúncia contra o presidente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e da garantia de que permanecerão dormitando nas gavetas da Presidência da Câmara os pedidos de impeachment de Temer. "Vou dar prosseguimento ao que está em andamento. Questões, digamos, mais pontuais vou deixar para o presidente de fato", assegura Fufuca, fazendo referência a Maia, que estará, por sua vez, no comando do Palácio do Planalto nesse período. Os dois devem se reunir hoje para tratar das atividades legislativas dos próximos dias.
Já o projeto de revisão da meta fiscal deste e do próximo ano depende mais da atuação do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que preside o Congresso Nacional.
Ao reforçar a expectativa por uma marca de "estabilidade", Fufuca busca se diferenciar do correligionário e conterrâneo Waldir Maranhão, que tentou suspender o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em maio de 2016, enquanto ocupava interinamente a cadeira de presidente da Câmara, após o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), posteriormente cassado e preso. Coincidentemente, Fufuca manteve relações com ambos ao longo de sua breve e ascendente trajetória política.
As circunstâncias e o trânsito pela Câmara conquistado em seu primeiro mandato como deputado federal lhe garantiram simultaneamente um posto na Mesa Diretora - a partir da divisão de espaços entre as bancadas e de vitória em eleição interna do PP - e o comando regional do partido, até então presidido por Waldir, que enfrentou represália após insubordinação partidária no processo de impeachment e até hoje se ressente da perda.
Fiel a Cunha, Fufuca foi escalado já em sua chegada à Câmara para atuar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada a mais importante. Também assumiu missões arquitetadas por Cunha como integrar a comitiva de deputados formada para visitar no hospital o então ministro da Educação Cid Gomes - situação alegada para não comparecer à sessão para a qual tinha sido convocado para sofrer desgaste político atingindo Dilma.
O deputado não esboça constrangimento ao comentar o período em que integrava a linha de frente da tropa de choque de Cunha. E diz que já nessa época mantinha bom contato com Maia, quando era inimaginável o atual comando da Câmara.
"Eu acredito que político tem que ter palavra e compromisso. Eu tinha uma visão, fazia parte de um grupo, que era o Centrão, e fiquei até o último momento. Não por amizade, mas por acreditar", disse Fufuca, apontando o ritmo de atividades impresso por Cunha em sua gestão e a independência do governo na Câmara.
O deputado defendeu Cunha no processo movido no Conselho de Ética, mas ausentou-se durante a votação em plenário. Formalmente, estava licenciado do mandato para atuar na campanha municipal de 2016 promovendo políticos aliados, atividade que mantém permanentemente no Maranhão.
Na região, há expressiva influência política da família do deputado, liderada pelo pai Fufuca Dantas, prefeito de Alto Alegre do Pindaré, de quem o filho herdou o apelido de origem desconhecida e a primeira candidatura, a deputado estadual em 2010, aos 21 anos, quando iniciou pelo PSDB a caminhada política. Dantas, do PMDB, teve o registro de candidatura cassado pela Justiça Eleitoral local e cedeu o posto e os votos ao filho.
Com a ascensão política desde a migração para o PP em 2016, após ter sido eleito deputado federal pelo PEN em 2014, Fufuca busca se descolar da proximidade histórica com o grupo de José Sarney e ampliar alianças políticas locais. Em conta rápida, Fufuca diz que da última eleição para cá, o PP na região saltou de quatro para 17 prefeitos e quase dobrou seu número de 80 vereadores, passando de 150.
Parte do espaço alcançado por Fufuca na Câmara deve-se ao tratamento considerado cordial pelos colegas. Mesmo com o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), Fufuca diz manter boas relações. Ambos protagonizaram um dos embates mais marcantes durante a análise do processo contra Cunha no Conselho de Ética, quando Júlio Delgado afirmou que o defensor do pemedebista o chamava de "papi" pelos corredores - o que Fufuca nega. Apesar de ter contra-atacado à época, hoje o deputado contemporiza. "Ele fez aquilo para chamar a atenção só", afirma.
Fufuca também nega atuar contrariamente ao deputado Cleber Verde, atual líder do PRB na Câmara, apontado como um adversário local do conterrâneo na disputa por espaços de influência política no Maranhão. O deputado também contesta todas as críticas e acusações, como de achaque político, envolvendo seu grupo de aliados na tentativa de manter influência na região central do Estado, por onde inclusive passam trilhos da Vale.
O deputado, médico de formação, proclama a marca de renovação na política, embora admita que tenha aprendido o modus operandi político com figuras experientes, desde quando conquistou a cadeira na Assembleia Legislativa junto com vários ex-presidentes da Casa.
A chegada de Fufuca ao mais alto posto de comando da Câmara é comemorada pelos demais integrantes mais jovens da Mesa Diretora, uma marca da atual direção da Casa. "Essa é uma oportunidade para dar a essa nova geração de poder uma chance de apresentar seu trabalho", afirma o deputado JHC (PSB-AL), de 30 anos, terceiro-secretário da Câmara. "Essa geração, tendo essas oportunidades, é um estímulo para que a política tenha outro perfil, de mais responsabilidade, e mais pessoas jovens se interessem em conquistar esses espaços", diz Mariana Carvalho (PSDB-RO), também de 30 anos, segunda-secretária da Câmara.
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