quinta-feira, 5 de março de 2020

Bolsonaro insiste em desonrar a Presidência da República – Editorial | O Globo

Escalar um humorista para, passando-se por ele, dar bananas aos repórteres foi mais uma agressão à imprensa e aos direitos constitucionais que a garantem

O presidente Bolsonaro, em mais uma agressão aos jornalistas profissionais que por dever de ofício o seguem — logo, em mais um ataque à própria imprensa — recusou-se a responder sobre o frustrante PIB de 2019, ao escalar um humorista para que, passando-se por ele, oferecesse bananas aos repórteres.

Em decisão correta, parte se retirou. Foram desrespeitados e, por meio deles, agredidos, além da própria imprensa profissional, os direitos constitucionais que a garantem.

Bolsonaro insiste em desonrar a Presidência da República. Continua sem entender o que ele representa por ocupar o Palácio do Planalto. E vai, assim, criando ineditismos, como ser um presidente que simpatiza com motim de policiais, e manda desligar radares das estradas federais para atender a seu curral eleitoral de caminhoneiros, mesmo que aumente o número de mortes nas vias.


Se não criasse uma crise profunda, já teria decretado o congelamento do diesel para agradar à categoria. A imprensa continuará a informar tudo de importante que o presidente faça ou diga. Cenas como a que patrocinou ontem agravam a falta de decoro com que representa a nação.

Roberto Dias – A claque

- Folha de S. Paulo

Presidente ativa engrenagem ao ligar a câmera na frente do Alvorada

O dia era de PIB raquítico, mas teve um número que Jair Bolsonaro conseguiu fazer crescer. Foi o de comentários em seus posts no Facebook. Sua média em março vinha na casa de 3.800 reações por post. Isso até a transmissão ao vivo desta quarta (4), ao lado do humorista Carioca. Nas oito primeiras horas no ar, o vídeo somou mais de 16 mil comentários.

Entre algumas poucas críticas e reclamações, como as relacionadas ao preço dos combustíveis, ao efeito das chuvas e às aposentadorias, muitos, muitíssimos elogios, quando não declarações de amor e pedidos de encontro. Uma pequena amostra dá ideia da engrenagem que Bolsonaro ativa ao ligar a câmera na frente do Alvorada.

"Bom começar o dia sorrindo, espantando as tristezas", escreveu Shirley Aparecida Dervinis, de Osasco.

"Como é maravilhoso ter um presidente que, mesmo com toda luta e problemas, ainda arranja um tempo para abraçar, ouvir, brincar, sorrir para as pessoas!", escreveu Márcia Ébani, do Espírito Santo.

"Aí pergunta por que o cara é mito. Adoro, ele tira onda mesmo. Comédia com comédia se paga", disse Luis Claudio Pedroso, de Porto Alegre.

Bruno Boghossian – Bolsonaro e o circo sem pão

- Folha de S. Paulo

Ao se esconder atrás de imitador, presidente cria retrato vergonhoso de si mesmo

Era para ser uma sátira, mas foi uma representação fiel da realidade. No dia em que o país registrou um crescimento frustrante do PIB, Jair Bolsonaro apareceu ao lado de um humorista que encarnava um presidente que não dá a mínima para a economia e não sabe nem o significado daquelas três letras.

"PIB? O que que é PIB? Pergunta o que que é PIB", recomendou Bolsonaro ao piadista Márvio Lúcio, vestido com a faixa presidencial.

Quem esperava do verdadeiro governante um plano para o crescimento precisou se contentar com mais uma encenação indecente. Bolsonaro pôs um imitador diante das câmeras e o estimulou a se comportar como um pateta malcriado. Depois que o presidente se recusou a falar sobre os apertos da economia, o comediante atirou bananas aos jornalistas.

Além de levar a um novo patamar de insulto suas afrontas à imprensa, Bolsonaro criou um retrato vergonhoso de si mesmo e do governo. A cena revelou um presidente sem capacidade de liderança sobre um tema delicado, disposto a apelar para distrações cada vez mais infantis.

Mariliz Pereira Jorge - Circo Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Para falar do PIB, presidente pôs um comediante em seu lugar

O contorcionismo que Jair Bolsonaro faz para não responder perguntas indesejadas é digno do Cirque du Soleil. Diante da missão de falar sobre o pobre desempenho do PIB, achou OK que um comediante tomasse o seu lugar e distribuísse bananas à imprensa.

Este governo é o que melhor ilustra a máxima "se cobrir com lona, vira circo; se trancar a porta, vira hospício". E, se era por falta de palhaço, o circo Bolsonaro está completo. No dia a dia, temos o próprio presidente, que se acha muito engraçado, apesar de só fazer piadas desrespeitosas e de mau gosto. Agora, ganhou um comediante para chamar de seu, Márvio Lúcio, o Carioca.

Na terça (3), Carioca gravou com Bolsonaro um quadro para o Domingo Espetacular (Record). No dia seguinte, tomou café da manhã com o presidente e teria sugerido que se passasse por ele na saída do Alvorada. Chegou no carro em que estava o chefe da Secom, Fabio Wajngarten.

Maria Hermínia Tavares* - O alvo é outro

- Folha de S. Paulo

Congresso não é nem foi obstáculo às iniciativas do Planalto

Entraram pela madrugada de terça-feira (3) as conversas entre líderes do Congresso em busca de uma saída negociada para o impasse que impedia a votação dos vetos presidenciais ao trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020 que ampliava o poder dos parlamentares sobre a execução de emendas impositivas.

Alcançado o entendimento, a votação foi adiada porque o governo tardou em enviar ao Congresso os projetos de lei que eram parte do acordo e deveriam regulamentar a execução do Orçamento impositivo. De seu lado, Bolsonaro pela enésima vez apelou às redes sociais a fim de trapacear, negando que tivesse autorizado o acerto —o que é público e notório.

Disso tudo fica claro que o Congresso não é —nem foi, desde o início do governo— obstáculo às iniciativas do Planalto. É o que confirma o boletim do Observatório do Legislativo Brasileiro, do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro publicado há dois meses.

O trabalho classifica deputados e senadores pelo seu grau de governismo, conforme se conduziram em 252 votações na Câmara e 28 no Senado. O ranking mostra que, mesmo sem articulação entre Executivo e Legislativo, ampla maioria governista dominou as votações nominais em que não houve unanimidade: cerca de 73% dos deputados e 50% dos senadores destacaram-se pela frequência com que apoiaram as propostas do Executivo.

Fernando Schüler* - Madison tinha razão

- Folha de S. Paulo

Há uma agenda estrutural de reformas no Congresso, e é nela que devemos focar nossa atenção

A semana do Carnaval foi agitada. Bolsonaro distribuiu aquele vídeo pelo WhatsApp, e a república quase caiu. A república digital, bem entendido. Do vídeo ninguém mais se lembra, mas consta que inspirou paródias impagáveis de filmes com super-heróis que circulam na internet.

Muita gente achou que o fim havia chegado. Li de uma jornalista que “o golpe estava em curso”. O texto era longo, confesso que tive preguiça de ler até o fim, mas parecia ser um “alerta ao país”. Fui na janela temeroso de ver tanques na rua, mas nada. Tudo que vi, ao longe, foi um bloquinho de Carnaval um pouco cansado, já no fim da festa.

Na semana seguinte, governo e Legislativo fecham acordo em torno do Orçamento impositivo, confirmam-se os vetos de Bolsonaro, e um certo tédio volta a reinar em nosso mundo político. Ao menos por alguns dias, imagino. Até a próxima frase mal-humorada do general Heleno, em algum coquetel de Brasília.

Tudo isso parece engraçado, mas é o novo feijão com arroz das nossas democracias. A política na era da irrelevância. Voltei a ler Baudrillard e suas teses esquisitas sobre os males do excesso de informação e o assalto do mundo virtual sobre a realidade. Baudrillard profetizou a nós todos.

Vinicius Torres Freire – O pibinho na geringonça da direita

- Folha de S. Paulo

Geringonça política e econômica da direita deve continuar, assim como o arrocho do povo miúdo

O Brasil está em crise política ou econômica faz seis anos. Mais pobre do que era faz dez anos. Com o sistema político tradicional desacreditado pelo menos desde 2013 e desmoralizado desde 2015. Caberia perguntar por quanto tempo o país ainda pode se desmilinguir sem revolta social ou rompimento político.

A pergunta parece mais oportuna por causa da renovação da perspectiva de quase nenhum crescimento da economia, como agora. Até quando seria paciente a maioria silenciosa do povo miúdo, que parece ainda mais quieta por causa da algazarra atroz das milícias digitais?

Mas algum rompimento houve, pela via institucional. Jair Bolsonaro é o resultado disso. De certo modo, o tempo de tolerância da crise voltou a ser contado na eleição de 2018. As urnas são momento de renovação de otimismo, por mais estranha ou monstruosa a forma que essa esperança possa tomar.

O sentimento de que o país se esboroa se deve também ao fato de que acontecem mudanças profundas, goste-se ou não. Mudam a Previdência, a poupança pública e privada, as relações trabalhistas, o emprego. Há contenção do gasto público por asfixia.

Maria Cristina Fernandes - A guarda pretoriana do comediante

- Valor Econômico

Se estava difícil de entender, o coronel Aginaldo desenhou com o estímulo à insubordinação policial

Como estivesse difícil entender, o coronel Aginaldo de Oliveira resolveu desenhar. Ao celebrar a coragem dos policiais militares na assembleia que deliberou pelo fim do motim policial no Ceará, o coronel, que é diretor da Força Nacional de Segurança, mostrou que o presidente Jair Bolsonaro hoje dispõe de meios para arregimentar uma guarda pretoriana. Não é um feito solitário. Tem a decisiva ajuda do ministro da Justiça, Sergio Moro, cuja autoridade se mostrou incapaz de repreender amotinados.

A guerra de facções do crime organizado no Ceará, Estado que se tornou corredor de exportação do narcotráfico andino, foi a primeira crise enfrentada pelo presidente da República. Na semana da sua posse, Bolsonaro optou pelo envio da Força Nacional de Segurança para o Estado que havia acabado de reeleger um governador do PT.

Um ano depois, nova crise eclodiria sob a forma de motim policial. Como a força especial composta por policiais militares já não desse conta de reprimir seus próprios colegas, o presidente foi pressionado a decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), conduzida por militares do Exército. Entre uma e outra crise, deterioraram-se as bases da hierarquia e da disciplina das tropas locais e a capacidade de operação da força nacional. O governador é o mesmo, Camilo Santana, reeleito pelo PT. Quem mudou foi o presidente, ocupado, desde a posse, em incutir, nas bases policiais, o vírus da insubordinação que marcou sua carreira militar.

É uma barafunda bolsonarista por excelência. Desde sua criação, em 2000, a Secretaria Nacional de Segurança Pública, chapéu, no MJ, para a Força Nacional de Segurança, foi ocupada por policiais e especialistas. No governo Michel Temer, assumiu o primeiro general, Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro do governo Bolsonaro e um dos poucos militares da reserva a expor publicamente sua crítica à insubordinação policial.

Ribamar Oliveira - Regulamentação chegou muito tarde

- Valor Econômico

Agilidade do governo teria evitado os problemas ocorridos no início deste ano envolvendo o Orçamento impositivo

Por mais incrível que possa parecer, somente nesta semana o governo tomou a iniciativa de encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei alterando a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), válida para 2020, estabelecendo normas para aplicação, com segurança jurídica, do chamado Orçamento impositivo. Ou seja, os pneus estão sendo trocados com o carro em movimento.

Na exposição de motivos que acompanha o projeto de lei, o ministro da Economia, Paulo Guedes, comete uma impropriedade. Ele diz ao presidente Jair Bolsonaro que a regulamentação está sendo feita agora porque, quando as emendas constitucionais 100 e 102, que instituíram o Orçamento impositivo, foram promulgadas, o projeto da LDO válido para 2020 já tinha sido aprovado pelo plenário da Comissão Mista de Orçamento do Congresso (CMO).

Na verdade, a emenda constitucional 100 foi promulgada no dia 26 de junho de 2019, quando o relator do projeto da LDO, deputado Cacá Leão (PP-BA), nem sequer tinha apresentado o seu relatório, o que só foi feito no dia 7 de julho do ano passado. Foi a EC 100 que determinou ser dever da administração “executar as programações orçamentárias, adotando os meios e as medidas necessários, com o propósito de garantir a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade”.

Luiz Carlos Azedo - Acordo envergonhado

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Bolsonaro mantém uma posição ambígua em relação aos três projetos enviados pelo governo ao Congresso e um apoio velado à manifestação convocada para 15 de março”

O Congresso Nacional manteve os vetos do presidente Jair Bolsonaro a trechos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020 que tratam do chamado “Orçamento Impositivo” por 398 votos a 2. Quando ocorre uma maioria dessa magnitude, não tenham dúvida, houve um tremendo acordão, ainda que um dos lados, no caso o presidente Jair Bolsonaro, bata no peito e diga que não. O acordo incluiu o envio, pelo Palácio do Planalto, de três projetos para regulamentar o assunto, que serão analisados na próxima semana. Provavelmente, haverá disputa entre grupos governistas e da oposição que discordam do acordo feito nos bastidores da negociação entre a equipe econômica e os líderes do Congresso, principalmente seu presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Há muitos interesses em jogo, além das emendas parlamentares ao Orçamento da União.

Seis vetos foram derrubados pelos congressistas, para impedir o bloqueio de verbas destinadas à pesquisa da Embrapa, Fiocruz, Ipea e IBGE, de autoria do deputado Arnaldo Jardim (SP), líder do Cidadania. Nesse caso, porém, a orientação do governo foi pela derrubada dos vetos. Votaram a favor 282 deputados e 50 senadores (eram necessários 257 e 41 votos, respectivamente). O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), lembrou que o acordo fora costurado no fim do ano passado e assegura recursos para instituições científicas, inclusive para garantir pesquisas sobre o coronavírus.

William Waack - Haja Confusão

- O Estado de S.Paulo

O cenário político está embaralhado, mas o pequeno PIB de 2019 não confunde

É óbvio que um presidente contracenando com humoristas faz parte do arsenal de promoção de imagem “humana” ou “popular” em qualquer lugar – Barack “Late Night Show” Obama que o diga. Mas quando Jair Bolsonaro divide a cena com um humorista fantasiado de presidente do Brasil diante do Alvorada (um edifício oficial) – como ocorreu ontem –, a quem encarrega de responder a perguntas de repórteres, e depois o próprio presidente divulga o vídeo em redes sociais, sugere uma confusão: afinal, quem é o comediante?

Pode-se até acreditar que confusão seja uma arma conscientemente empregada por Bolsonaro para desequilibrar adversários, mas não se pode fugir à constatação de que virou uma de suas características permanentes. Para focar no que é mais recente, é confusa a pauta da manifestação que ele apoia (ou não?) para o dia 15, além da palavra de ordem mais abrangente de prestigiar o presidente.

Ficou confusa também a demanda, do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que participantes do ato “defendam reformas”. No caso da tributária, qual a ser defendida? Existe uma do governo? Qual das várias que tramitam no Legislativo? Qual se deveria pedir em primeiro lugar? A PEC emergencial, talvez?

A favor de Bolsonaro deve-se assinalar que não é o único, de propósito ou não, a criar confusões. Na raiz da queda de braço entre Legislativo e Executivo para disputar migalhas do Orçamento (afinal, mais de 90% já estão comprometidos em despesas obrigatórias), está uma confusão política de autoria dos próprios parlamentares.

O fundo da questão não era o Orçamento impositivo, mas a esdrúxula criação do dispositivo que permitiria a um relator dispor de R$ 30 bilhões do Orçamento. Os parlamentares criaram uma perigosa confusão entre “legisladores” e “executores” do Orçamento. Que o governo, confuso, demorou para perceber.

Zeina Latif* - Juros baixos não blindam a economia

- O Estado de S.Paulo

O contágio financeiro sobre o setor produtivo, se relevante, precisa ser mitigado

O momento é de apreensão por conta das incertezas decorrentes da epidemia de coronavírus. Não há, no momento, como afirmar quando será o ápice da crise, para podermos dizer que o pior já passou.

Como agravante, o timing da epidemia não é nada favorável, pois o comércio mundial está encolhendo desde o ano passado, por conta, principalmente, das políticas protecionistas dos países. O foco da crise, a China, representa hoje mais de 20% do PIB mundial, e a expectativa de uma desaceleração econômica suave caducou. Estivesse a economia mundial em melhor forma, seria mais fácil dirimir as incertezas.

Adicionalmente, os países, com poucas exceções, não contam com muitos instrumentos para mitigar o impacto da crise. Além dos juros já muito baixos, poucos têm espaço para expansão fiscal, diante dos déficits e dívidas elevados. Exageros na expansão dos gastos públicos podem até piorar o quadro econômico, ao despertar a desconfiança de credores. Além disso, não é qualquer expansão fiscal que funcionaria. O momento pede políticas sanitárias e para ampliar o acesso da população aos serviços de saúde, e não o aumento indiscriminado de gastos.

Celso Ming - A fraqueza desse PIB

- O Estado de S.Paulo

Se não chegou a surpreender, esse Produto Interno Bruto (PIB) também não deixou de decepcionar.

Um avanço de 1,1% em 2019 (sobre 2018) e de 0,5% no quarto trimestre (sobre o terceiro) foi o que a maioria dos analistas já vinha cantando.

As previsões iniciais de um crescimento de pelo menos 2,8% em 2019 se frustraram em consequência de três fatores: a crise da Argentina; os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que estreitaram o mercado de exportações e derrubaram os preços das commodities, das quais o Brasil é grande fornecedor global; e a tragédia de Brumadinho, que achatou a produção da indústria extrativa. Só esses três fatores devem ter comido cerca de 1% do PIB em 2019.

Mas isso é como trombada de carro em barranco provocada por um cachorro que atravessava a estrada. As verdadeiras causas são outras: é desatenção e imperícia do condutor do veículo e, talvez, freios sem manutenção. Dá para conferir, também, que o Brasil só consegue bons resultados no seu sistema produtivo quando tudo vai bem no resto do mundo e quando não sobrevêm desastres naturais.

Há anos, a economia brasileira vem patinando em consequência de sua reduzida poupança e baixíssimo investimento. Quem come as sementes não semeia e também não colhe. Para crescer pouco mais de 3% ao ano, o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) teria de ser da ordem de 22% do PIB. No ano passado, ficou nos 15,4% e, em 2018, em 15,2% do PIB, como está no gráfico ao pé desta Coluna. Ninguém esperava a piora do ritmo do investimento no quarto trimestre de 2019 de 3,9% para 2,2%.

A poupança nacional também é a precariedade já conhecida. Não passou de 12,2% do PIB, abaixo dos 12,4% registrados no ano anterior. E não se diga que baixo nível de poupança é sina de país pobre, que vive da mão para a boca, como tanto se ouve por aí. O padrão asiático de países ainda pobres é poupança de 30% a 35% do PIB. A China vai muito além, poupa em torno de 50% da renda. Ou seja, o chinês, de quem tanto se diz que é mal remunerado, consegue poupar metade do seu salário. E ainda tem de sustentar seus idosos, porque o país não tem sistema previdenciário público. No ano passado, o Brasil apresentou poupança de apenas 12,2%.

Merval Pereira - Futuro Nublado

- O Globo

Presidente da República sem apoio do Congresso, e com a economia em desacerto, não termina bem

Mesmo, ou talvez por isso, com o presidente Jair Bolsonaro fazendo piada sobre seu próprio pibinho, nada muda o fato de que o país está com dificuldades econômicas graves, e sem perspectiva de solução, agora que o Covid-19 atacou a economia mundial. Antigamente dizia-se que quando os Estados Unidos espirrava, o Brasil pegava uma pneumonia. E agora que o coronavírus contaminou o mundo todo, numa pandemia não declarada, inclusive as duas maiores economias do mundo globalizado, Estados Unidos e China?

Mais do que nunca é preciso avançar com as reformas, mas à medida que o resultado econômico não chega, mais Bolsonaro vai deixando de lado seu viés liberal. Já teria pedido um crescimento mínimo de 2% do PIB para este ano a Paulo Guedes, missão que, com as novidades, parece impossível.

Seu faro político-eleitoral está apontando para um cenário perigoso, e ele tem razão, sobretudo quando a crise com o Congresso, que o favorece diante de seu eleitorado mais fanático, tem efeitos colaterais que nossa história recente registra tristemente.

Presidente sem apoio do Congresso, e com a economia em desacerto, não termina bem. É verdade que os dois presidentes impedidos desde a redemocratização chegaram a crises econômicas devastadoras: o governo Collor registrou retração de 2,06% do PIB e, de 6,97% da renda per capita.

Ascânio Seleme - A quem o Congresso assusta

- O Globo

Brasil superaria muito mais rapidamente suas crises sob regime parlamentarista

Um grande número de brasileiros odeia o Congresso Nacional ou dele tem pavor. Estas pessoas enxergam no Parlamento um poço por onde escorrem todas as economias nacionais ou boa parte delas. Olham para deputados e senadores e só conseguem ver larápios, usurpadores das riquezas nacionais. Dizem sem se constranger que são eles que destroem o Brasil impedindo que gente digna e honesta, como Jair Bolsonaro, trabalhe. As convocações para o ato do dia 15 de março carregam esse vício de nascença, já que todos os problemas do Brasil têm origem no Congresso. Por esta ótica, enfrentar, atacar, desonrar o Congresso significa dar uma chance ao Brasil.

Vejo exatamente o contrário. Pelo ritmo alucinado com que se escala a intolerância política no Brasil, onde até a primeira-dama do país é vilipendiada pelo radicalismo, o Parlamento pode ser a única saída. Já testamos uma vez a alternativa parlamentarista. Funcionou provisoriamente para que João Goulart pudesse assumir o cargo aberto pela renúncia de Jânio Quadros. Como os militares não aceitavam Jango, achou-se a opção parlamentar.

Fabricada às pressas para resolver um impasse, não durou. Como também não durou o governo de Jango, derrubado pelo golpe de 1964, menos de dois anos depois.

O parlamentarismo é discutido nas redes sociais como uma armação que está sendo tramada no Congresso para tirar poder de Bolsonaro. Um golpe contra o presidente eleito democraticamente, denunciam. Bobagem. O tema não está na pauta da Câmara ou do Senado. Depois, para se fazer uma mudança de sistema de governo é obrigatório que todo o país participe do debate. Além disso, para aprovar uma emenda constitucional nesse sentido seriam necessários dois terços dos votos do Congresso, impossível de se alcançar nas circunstâncias atuais.

Bernardo Mello Franco - Pouco pão e muito circo

- O Globo

Em dia de pibinho, Bolsonaro levou um comediante ao Alvorada. O truque já ficou manjado. Quando a notícia é ruim, o capitão apela ao bizarro para desviar a atenção

O truque já ficou manjado. Quando se vê diante de uma notícia ruim, Jair Bolsonaro apela à bizarrice para desviar a atenção. Ontem o presidente recrutou um humorista para substituí-lo no contato matinal com a imprensa. O objetivo era se esconder de perguntas sobre o pibinho do ano passado.

O dado mostrou que as promessas de recuperação econômica eram conversa fiada. No início de 2019, o Banco Central projetava um crescimento de 2,53%. O ministro Paulo Guedes arrochou salários e cortou aposentadorias, mas só conseguiu entregar 1,1%. Um desempenho pior que o do governo Michel Temer.

Para não comentar o resultado pífio, Bolsonaro cedeu o lugar a um comediante da TV Record. De terno escuro e faixa presidencial, o dublê tentou distribuir bananas e dar entrevista no lugar do presidente. Só arrancou risos dos puxa-sacos que amanhecem na porta do palácio para aplaudir o “Mito”.

A presepada consumiu tempo e estrutura do governo. O humorista desceu de um carro oficial com o secretário de Comunicação Social, o enrolado Fabio Wajngarten. Um ajudante de ordens filmou a cena para abastecer as redes sociais do chefe.

Bolsonaro ainda tentou participar do número. “PIB? O que é PIB? Pergunta para eles o que é PIB”, disse, apontando na direção dos repórteres. Ninguém achou graça, e ele foi embora sem dar explicações sobre o fiasco econômico.

O desrespeito tem sido rotina nas entrevistas no cercadinho do Alvorada. Em vez de prestar contas à sociedade, o presidente usa o espaço para fazer grosserias e insultar jornalistas. Os bolsonaristas pensam que os desaforos humilham a imprensa. Na verdade, eles só escancaram a falta de compostura do capitão.

Míriam Leitão - Erros e fatos que explicam o pibinho

- O Globo

Ano de 2019 poderia ter sido de recuperação no PIB, mas o governo Bolsonaro perdeu tempo com falsos problemas e criou desgastes evitáveis

O primeiro ano do governo Bolsonaro foi decepcionante também do ponto de vista da economia. A previsão do PIB em janeiro era 2,5% e terminou em 1,1%. Houve fatores externos e tormentos internos na essência desse número. Mas o mais relevante agora é que 2020 não será igual ao ano que passou, porque o coronavírus criou uma nova dinâmica nas economias mundial e brasileira. Os economistas olham para 2019 como sendo um passado remoto, porque o presente concentra a atenção e é intensamente incerto.

O PIB per capita cresceu apenas 0,3%. O último trimestre, que se esperava fosse ganhar fôlego após a aprovação da reforma da Previdência, cresceu 0,5%. No ano, houve dados um pouco melhores no consumo das famílias (1,8%) e na construção (1,6%). O consumo foi estimulado pela liberação dos recursos do FGTS, mas isso não tem muita duração. O resultado da construção é decorrente da forte queda de juros ao longo dos últimos anos e que tem efeito cumulativo. É uma boa notícia, principalmente quando se pensa no contexto de cinco anos consecutivos de queda e de um encolhimento do setor em 30%. Porém, o último trimestre da construção foi decepcionante, queda de 2,5%. O crescimento brasileiro tem sido anêmico e não se sustenta.

É contrafactual tentar saber o que seria esse PIB se o governo não tivesse criado tanto ruído, mas certamente dá para imaginar que uma nova administração sempre consegue aproveitar a lua de mel, as expectativas positivas, e injetar ânimo na economia. O presidente Bolsonaro permaneceu em palanque e aprofundando as fraturas de uma eleição polarizada. Criou sucessivos ruídos com o Congresso. Deu sinais assustadores nas áreas ambiental e de direitos humanos.

O que a mídia pensa – Editoriais

Piada de mau gosto – Editorial | O Estado de S. Paulo

Como pode ter êxito um governo cujo presidente trata questões sérias como piada?

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reuniu-se na terça-feira passada com representantes do Vem Pra Rua e do Movimento Brasil Livre, grupos que ganharam projeção fazendo protestos contra o lulopetismo e se alinham à agenda econômica do governo de Jair Bolsonaro. No encontro, durante um almoço na casa do secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, Guedes pediu apoio dos movimentos às reformas. Disse que o governo tem “15 semanas para mudar o Brasil”, em provável referência ao fato de que, no segundo semestre, o Congresso estará desmobilizado em razão da campanha para as eleições municipais.

Que dois altos funcionários do governo tenham deixado de lado seus afazeres para pedir o apoio e a opinião de movimentos de rua acerca das reformas econômicas que o governo pretende aprovar já é bastante inusitado. Mais inusitado ainda foi o cronograma apresentado por Guedes: em 15 semanas, o governo Bolsonaro pretende fazer o que foi incapaz nas 61 semanas de seu mandato até agora.

E não foi capaz porque se recusou a estabelecer as necessárias pontes com o Congresso e porque o próprio governo parece não se entender sobre o teor de algumas reformas que diz pretender apresentar, como a tributária e a administrativa. Em vez de pedir apoio às ruas, o governo Bolsonaro deveria se dedicar mais a melhorar sua interlocução com os parlamentares. Mas essa é uma perspectiva cada vez mais remota.

Música | A amizade - eu, você e o samba

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Canção amiga

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

quarta-feira, 4 de março de 2020

Opinião do dia – Cármen Lúcia*

A Constituição brasileira estabelece expressamente que os poderes são independentes e harmônicos entre si. Os agentes públicos que ocupam cargo nos órgãos de cúpula de todos os poderes têm o dever constitucional de não contribuir para a desarmonia. Se a Constituição determina harmonia, a desarmonia é inconstitucional. Simples assim.


*Cármen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal (STF). Entrevista, Globonews, 2/3/2020.

Vera Magalhães - Rua total flex

- O Estado de S. Paulo

O episódio do acordo depois desfeito e refeito em torno das emendas deveria ensinar o governo que ele precisa acertar sua negociação política, que ainda não disse a que veio

Afinal, para que são as manifestações convocadas para o dia 15? Elas começaram a ser gestadas como resposta ao chamamento do general Augusto Heleno, que chamou os congressistas de “chantagistas” por terem se assenhorado da destinação de cerca de R$ 30 bilhões do Orçamento.

Nunca um número de veto presidencial ficou tão famoso. Pessoas que nunca leram um projeto de lei passaram a fazer tuítes pela manutenção do veto 52.

Agora: se o governo tinha a força da rua e do argumento, por que negociou o envio de um Projeto de Lei (PL) do Congresso Nacional renegociando a divisão de parte dos R$ 30 bilhões com o mesmo Legislativo que antes era chantagista?

Jair Bolsonaro, com seu desapego aos fatos, foi logo para o Twitter posar de vencedor e durão. “Não houve qualquer negociação em cima dos 30 bilhões. A proposta orçamentária original do governo foi 100% mantida.” Como ele explica o PLN então?

Agora que o acordo foi feito, setores do governo tentam manter as ruas mobilizadas. Depois de o próprio presidente mandar por WhatsApp vídeos convocando para os atos, foi a vez do ministro Paulo Guedes (Economia) usar encontro com movimentos como Nas Ruas e Vem pra Rua para pedir que as manifestações se transformem em atos pró-reformas.

Rosângela Bittar - A arrogância dos fortes

- O Estado de S. Paulo

Sérgio Moro vai lapidando seu perfil político apenas com o culto à personalidade

À falta de um presidente que respeite a sociedade e compreenda a natureza de sua função, o Brasil precisa muito de um ministro da Justiça. Autêntico, daqueles que cuidam dos assuntos do equilíbrio político, econômico e social do povo e das instituições que o governam. E, no caso de acumular a Segurança Pública, cuide do ambiente da criminalidade descontrolada e impune em todos os grupos, inclusive o policial, sob seu comando.

Porém, o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, vai lapidando seu perfil político apenas com o culto à personalidade, como se tivesse vindo ao governo só para ser homenageado. A sua arma principal de ação no Executivo é a popularidade que brande ao menor sinal de crítica. Ela lhe dá direito a erros sucessivos e o último foi exemplar.

Na crise de segurança com o motim da Polícia Militar do Ceará, mostrou-se perdido e contraditório. Nunca Moro foi menos ministro da Justiça do que nesse labirinto em que se meteu. Foi ao local, mas disse não ter visto descontrole onde tinham sido assassinados 240 cidadãos, um recorde. A seguir, fez uma distinção que até agora carece de exegese: o motim é ilegal, mas os policiais não são criminosos. Quando juiz em Curitiba, era mais preciso nas tipificações.

Não providenciou a prorrogação da medida de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), era sua função convencer o presidente a despolitizar a questão e manter o apoio ao Estado governado pelo PT. Ao contrário, recrudesceu: quando governadores ameaçaram suprir a tarefa do governo federal, o ministro da Justiça acusou-os de politizar a movimentação. Já ultrapolitizada pelo governo federal.

Luiz Carlos Azedo - Que acordo é esse?

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Se houvesse mais transparência nas emendas parlamentares, talvez existisse menos desconfiança da opinião pública em relação à destinação dos recursos do Orçamento”

Ninguém sabe ao certo qual foi o acordo celebrado entre o presidente do Congresso, Davi Alumbre (DEM-AP), e o presidente Jair Bolsonaro para a aprovação do Orçamento de 2020. Em tese, o que foi acertado foi a manutenção dos vetos presidenciais às emendas impositivas no valor de R$ 30 bilhões em troca de três PLNs (Projeto de Lei do Congresso Nacional) enviados pelo governo, que seguirão o rito normal, passando pela Comissão Mista de Orçamento, antes de serem deliberados pelo plenário do Congresso. Houve uma negociação confusa, que envolveu também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes. E faltou clima para as votações, que foram adiadas para hoje.

No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro comemorou: “Não houve qualquer negociação em cima dos 30 bilhões”. Segundo o presidente da República, “a proposta orçamentária original do governo foi 100% mantida” e “está garantida a autonomia orçamentária do Executivo”. O problema são os PLNs, que enfrentam resistências. Um deles, por exemplo, reduz de R$ 9 bilhões para zero o superavit de estados e municípios. Com isso, o deficit primário de R$ 118,9 bilhões da União sobe para R$ 124,1 bilhões. Era a meta no projeto original da lei, enviado ao Congresso em 15 de abril.

A reviravolta nas negociações foi patrocinada pelo MDB no Senado, cuja bancada anunciou ontem, pela manhã, que apoiaria integralmente os vetos de Bolsonaro. Com isso, mesmo que os deputados quisessem derrubá-los, não haveria votos suficientes no Senado. A manobra das raposas do MDB relativizou o papel de Alcolumbre e deixou vendido o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que negociava a derrubada ao menos de um dos vetos do presidente da República, relativo aos recursos destinados à pesquisa, ciência e tecnologia. O assunto passou a ser objeto de um dos PLNs. Os partidos do novo Centrão na Câmara (PSL, PL, PP, PSD, MDB, PSDB, Republicanos, DEM, Solidariedade, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota) seriam os grandes beneficiados pelo pacote de quase R$ 16 bilhões em emendas impositivas do relator, mas foram com muita sede ao pote. Houve forte reação no Senado, inclusive, nesses partidos.

Líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO) ironizava a situação: “O novo líder do governo é o Randolfe Rodrigues (Rede-AP)”. O senador de oposição faz parte do grupo Muda Senado, que, desde o primeiro momento, defendeu a manutenção do veto, ao lado dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Álvaro Dias (Podemos-PR), Tasso Jereissati (PSDB) e Antônio Anastasia (PSD). “O veto vai ser mantido. Ponto. Agora, o ponto de discórdia é outro. Precisamos olhar com mais calma para esses três PLNs antes de votar, eles precisam seguir o rito normal, passar pelo CMO antes. Não vamos ser tratorados”, reclamava Randolfe. A discussão sobre as emendas impositivas uniu setores da base do governo no Senado, como o Major Olímpio (PSL-SP), e a oposição.

Fernando Exman - A nova realidade do Orçamento e o lobby

- Valor Econômico

Adesão à OCDE pode demandar regulação da atividade

O desfecho do impasse entre o Congresso e o governo em relação à manutenção do veto presidencial que trata da extensão do Orçamento Impositivo às emendas de relator não muda a realidade: o Legislativo passou a ter um poder enorme na definição do destino dos recursos públicos. Autoridades do Palácio do Planalto podem até ter demorado a notar que o Executivo estava deixando de ser o centro de gravidade da gestão orçamentária, dando cada vez mais espaço para o Parlamento ocupar essa posição. Os lobistas, contudo, há meses se adaptaram e transformaram o Congresso em habitat prioritário. É nesse contexto que cresce a importância da aprovação de um marco regulatório do lobby.

O Brasil chega tarde. Apesar de ter apoio de deputados e senadores de diversos partidos - tanto à esquerda, como ao centro e à direita -, as discussões sobre o tema ocorrem muito lentamente no Congresso. Não é de se surpreender que ele tenha se tornado um tabu, depois de o Brasil enfrentar sucessivos escândalos de corrupção. Nos autos da Operação Lava-Jato, por exemplo, não faltam histórias escabrosas sobre o relacionamento indevido entre empresas e homens públicos. Mas elas não deveriam servir de justificativa para travar ainda mais a tramitação dessa agenda no Congresso.

Não é a ausência de regulação que faz com que a prática do lobby deixe de acontecer. Pelo contrário: ele acabará ocorrendo de qualquer forma, com ou sem regras.

Nos últimos meses, o assunto novamente entrou em evidência e a expectativa é que um projeto de lei já em estágio avançado de tramitação ganhe novo impulso. Apresentado em 2007 pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), a relatoria foi da ex-deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) e pode passar por algumas mudanças de redação feitas pelas mãos do líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

O deputado também é relator da reforma tributária e deve ser recebido na semana que vem pela Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig).

Cristiano Romero - Conselhos: onde estão as mulheres?

- Valor Econômico

Entidade criada por um grupo de mulheres busca corrigir a ‘discriminação’ de gênero no conselho de empresas no país

Num país onde a escravidão perdurou por quase 400 anos, a discriminação do outro é regra e não exceção. É o que mais nos distancia da possibilidade de sermos uma nação. Tanto tempo vivendo sob um regime escravagista nos condenou a jamais enxergar o outro como um de nós. Na Ilha de Vera Cruz, mas não só aqui, floresceram todas as formas de discriminação: étnica, social, de gênero, origem, opção sexual...

A escravidão, previu o abolicionista Joaquim Nabuco, “permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. A história ensina que decorria do domínio de um povo sobre outro. Na colonização das Américas, de um cálculo econômico: a acumulação de capital, uma vez que escravos eram mercadoria, não recebiam salário e isso dava às colônias do Novo Mundo, dominado pelos europeus, vantagem competitiva em relação à Asia.

O Brasil foi o derradeiro país do continente americano a abolir a escravidão, em maio de 1888. O contexto em que isso se deu evidencia a dificuldade que sempre teremos para superar o vergonhoso legado. Contrários ao fim da escravidão, barões do café ajudaram a derrubar a monarquia pouco mais de um ano após a abolição da escravatura. O regime monárquico esticou a desonra escravagista, mas a nossa República não nasceu para modernizar o país. Fruto de um golpe militar, esteve a serviço dos produtores rurais de São Paulo e Minas Gerais por mais de 30 anos, condenando os habitantes de 48% do continente sul-americano a um atraso extraordinário.

Bruno Boghossian – Duelo ao alvorecer

- Folha de S. Paulo

Acordo recauchutado revela fragilidades tanto do governo quanto do Congresso

Governo e Congresso sacaram suas armas, mas ninguém quis atirar agora. A proposta recauchutada de divisão do Orçamento mostrou as limitações da política exercida com base na bravata e revelou fragilidades dos dois lados.
Há cerca de 20 dias, o Planalto costurava os detalhes de um acordo com os parlamentares para rachar R$ 30 bilhões que estavam em disputa nas contas deste ano. No meio do caminho, o general Augusto Heleno implodiu as conversas e acusou o Legislativo de chantagem. Ou não havia extorsão nenhuma ou o governo decidiu negociar com os vigaristas.

A nova oferta feita por Jair Bolsonaro nesta terça (3) aos deputados e senadores para tentar encerrar a tensão entre os dois Poderes tem efeito semelhante à que havia sido feita antes do embate —R$ 15 bilhões para cada lado. O presidente deu aval, na prática, à mesma proposta que o levou a emparedar o Congresso.

Hélio Schwartsman - Êxito chinês

- Folha de S. Paulo

Surpreende o sucesso do país em conter o alastramento da covid-19

O que surpreende no ritmo de propagação da covid-19 não é a cada vez mais extensa lista de países atingidos, mas o sucesso da China em conter o alastramento da doença.

Se algumas semanas atrás os hospitais chineses estavam apinhados de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, agora sobram leitos. Cientistas que conduzem ensaios clínicos de drogas para tratar a doença já não conseguem recrutar pacientes para os testes, como mostrou recente relatório da OMS.

Entender o que está acontecendo pode trazer lições valiosas para autoridades sanitárias de todo o planeta.

A primeira conclusão a tirar é que as brutais medidas de quarentena e isolamento impostas pelo governo funcionaram. Daí não decorre que as técnicas chinesas possam ou devam ser replicadas em países democráticos, mas não dá para fingir que não surtiram efeito ao menos nessa primeira fase da epidemia.

Vinicius Torres Freire – Juro menor não vacina contra vírus

- Folha de S. Paulo

Apenas para amainar crise, BC teria de jogar taxa real de juros para zero

O Banco Central do Brasil indicou que também vai cortar os juros: a crise mundial deve causar mais danos do que uma alta daninha do dólar.

Entenda-se: taxa de juros menor em tese favorece mais desvalorização da moeda brasileira; um real rapidamente desvalorizado pode provocar alta de preços. Porém, o risco de a economia brasileira travar é maior do que o de termos alguma inflação por causa do câmbio.

Foi o que o BC disse em nota publicada no fim da tarde desta terça-feira (3). Disse daquele "jeito BC", de contador diplomata fazendo neurocirurgia. Mas disse.

Se o BC vai mexer mesmo na taxa básica de juros, são outros quinhentos. A próxima decisão agendada sobre a Selic ocorrerá em duas semanas. Até lá, o mundo pode ter entrado em colapso financeiro ou ressuscitado para a primavera do hemisfério Norte.

Como se sabe, o BC dos EUA, o Fed, deu um talho grande na taxa básica de juros deles, em reunião extraordinária, o que não acontecia desde a epidemia provocada pela grande finança global, a crise de 2008.

Igor Gielow - Motins estimulados pelo governo apontam politização dos quartéis

- Folha de S. Paulo

Confraternização do chefe da Força Nacional com PMs no Ceará acende alerta nos estados

Desde que as Forças Armadas cristalizaram a aliança com Jair Bolsonaro, já com o segundo turno da eleição de 2018 em curso, o risco da militarização da política foi cantado em prosa e verso.

Se tal movimento é praticamente impossível de negar, apesar do esforço da cúpula do serviço ativo para tentar distanciar-se de seus inúmeros membros no primeiro escalão do governo, seu corolário ainda era visto mais como uma hipótese assustadora do que como realidade.

Até aqui. A mão inversa da politização dos quartéis parece ter virado uma avenida, e o ponto de inflexão é o empenho do governo no estímulo velado aos motins policiais.

O tema estava na boca de governadores de estado ouvidos pela Folha nas duas últimas semanas, devido aos rumos da mobilização policial no Ceará —cujo saldo de 241 homicídios é um monumento à irresponsabilidade da gestão pública do país.

O malabarismo do ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), que admitiu o óbvio (greve de policial é ilegal) para sapecar uma esperteza retórica (os policiais parados não seriam criminosos), acendeu luzes de alerta.

Elas se transformaram numa piscante árvore de Natal com o complemento feito pelo coronel Aginaldo Oliveira, da Polícia Militar do Ceará por origem, na chefia da Força Nacional por oportunidade.

Ele se esqueceu da distinção e chamou os amotinados de “gigantes” quando deveria estar enquadrando seus pares.

Oficiais da ativa e pelo menos dois governadores lembraram, nesta terça (3), que o último homem em missão semelhante que resolveu confraternizar com rebeldes acabou em desgraça —ninguém menos que o “general do Lula”.

Conhecido como G. Dias, o general Marco Edson Gonçalves Dias foi figura carimbada durante os oito anos de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Chefe da segurança presidencial, era boa-praça e chamava a atenção com sua lustrosa calva.

Merval Pereira – Queda de braço

- O Globo

Houve um acordo, mas nem o Planalto nem o Legislativo querem admitir que cederam para que se chegasse a ele

Há apenas um vencedor visível até o momento nessa disputa entre o Executivo e o Legislativo em torno do Orçamento da União, os senadores que queriam manter os vetos do presidente Jair Bolsonaro.

Uns, por considerarem que a manobra da Câmara se prestava a interesses escusos em torno dos R$ 30 bilhões. Outros, com interesses puramente regionais, não querendo que seus adversários políticos na Câmara tenham mais recursos para a campanha municipal.

Coma disposição da maioria dos senadores, por razões diversas, de manter os vetos, Bolsonaro não precisaria fazer acordo para a divisão dos recursos, mas não quis se indispor coma Câmara.

Apenas uma coisa está certa nesse imbróglio do Orçamento: houve um acordo, mas nenhuma das partes, seja Palácio do Planalto ou Legislativo, quer admitir que cedeu para que se chegasse a ele.

O presidente Bolsonaro passou o dia em reuniões, recebeu o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ouviu seu ministro da Economia, Paulo Guedes, mando upara o Congresso três projetos de lei para regulamentar o Orçamento impositivo, mas avisou pelo Twiter que não fez nenhum acordo, e que a execução do Orçamento da União ficará integralmente mantida, preservada a autonomia do Executivo.

É a realidade paralela de quem vive no mundo digital, onde o que vale é o que está escrito no Twitter ou no WhatsApp. Depois de ter mobilizado seus seguidores para a manifestação do dia 15 contra os políticos e o Judiciário, Bolsonaro não poderia mesmo admitir que sucumbira à pressão do Congresso.

Bernardo Mello Franco - Cheiro de pólvora no ar

- O Globo

A Polícia Militar do Ceará voltou às ruas, mas deixou um cheiro de pólvora no ar. O motim expôs a cumplicidade do Planalto com a agitação nos quartéis. Isso pode servir de incentivo a novos levantes armados pelo país.

No sábado, o ministro Sergio Moro admitiu que a greve era proibida, mas afirmou que os policiais amotinados não eram criminosos. Isso equivale a dizer que nenhum brasileiro está autorizado a afrontar a Constituição, exceto aqueles que vestem farda da PM.

No domingo, o diretor da Força Nacional chamou os policiais que cruzaram os braços de “gigantes” e “corajosos”. “Só os fortes conseguem atingir seus objetivos”, elogiou o coronel Antônio Aginaldo de Oliveira. Ele é casado com a deputada bolsonarista Carla Zambelli, e Moro foi padrinho do enlace.

Não houve gigantismo nem coragem no motim da PM cearense. Os grevistas aterrorizaram a população desarmada, que permaneceu nove dias como refém. Em algumas cidades, policiais adotaram práticas do tráfico e saíram encapuzados para ordenar o fechamento do comércio.

Zuenir Ventura - Lavando as mãos

- O Globo

Estou disposto mesmo a usar máscara sanitária

Confesso que, só agora e graças à ameaça do coronavírus, aprendi a lavar as mãos corretamente, passando a esfregar água e sabão na palma e no dorso, entre os dedos, nas unhas e até no punho. Também passei a espirrar e a tossir protegendo o nariz e a boca não com o lenço, e sim com o braço dobrado, numa posição meio incômoda, mas que impede que as gotículas atinjam o interlocutor. Estou disposto mesmo a usar máscara sanitária protetora, se for preciso.

Pelo que sei, as pessoas estão fazendo o mesmo, até porque, coisa rara, em se tratando de ação governamental, o ministro da Saúde está conduzindo com competência e serenidade essa fase difícil que nós e o mundo estamos vivendo. Como disse o doutor Drauzio Varella, o trabalho de Luiz Henrique Mandetta orientando a população tem sido “impecável”. Já o presidente tem “lavado as mãos” no sentido figurado, ou seja, não tem tomado conhecimento do problema. Vai ver que é por isso que a campanha tem dado certo.

Elio Gaspari - Tereza e Mandetta, dois êxitos

- O Globo / Folha de S. Paulo

Eles são apenas normais. Cuidam do expediente e evitam brigas públicas

Tereza Cristina e Luiz Henrique Mandetta são dois ministros de Jair Bolsonaro que abrem a quitanda às seis da manhã com berinjelas para vender e troco para as freguesas. Ela, desde os seus primeiros dias no Ministério da Agricultura. Ele, na Saúde, administrando o problema do coronavírus. Pode-se discordar de algumas de suas ideias, ou mesmo de todas, mas deve-se reconhecer que fazem seus serviços. Ambos pertencem à escola do centroavante Dario (o preferido do general Emílio Médici para a seleção de 1970). Numa época em que se falava muito em problemática, ele informou: “Eu dou a solucionática”.

A biografia e o comportamento de Tereza Cristina e Mandetta são uma aula de política e de administração.

Começando pela biografia. Ela vem da cepa oligárquica dos Corrêa da Costa. Desde a Regência, eles governaram Mato Grosso 11 vezes. Sabe-se lá quando a primeira Corrêa da Costa conseguiu um diploma universitário, mas Tereza Cristina formou-se em Engenharia Agronômica e tocou sua empresa. Mandetta vem de uma cepa neo-oligárquica, primo de senador, de deputado e do prefeito de Campo Grande. Um irmão meteu-se em negócios com o rei do jogo no estado. Ele formou-se em Medicina, é ortopedista, trabalhou em hospitais e dirigiu a Unimed de seu estado.

Míriam Leitão - Uma superterça na economia

- O Globo

O problema da epidemia do covid-19 na economia é saber quais os instrumentos apropriados para lidar com uma crise como esta

Na economia também foi uma superterça. O movimento de ontem no mercado americano mostrou o tamanho da crise provocada pelo novo coronavírus. O Fed fez uma reunião de emergência e cortou os juros. As bolsas subiram e depois despencaram. A ação foi entendida não como um estímulo, mas como alerta. Mais cedo, a Austrália também havia cortado os juros. E a Malásia. Houve casos na Argentina e no Chile. O FMI avisou que talvez não faça o encontro de abril. O Banco Central brasileiro soltou nota indicando futuros cortes. O Banco Mundial anunciou linha para auxiliar os países a enfrentaram os efeitos da crise, e o G7 fez uma reunião para discutir o que pode ser feito. Os BCs europeu e inglês defenderam medida para equilibrar a economia. No Japão, informou-se que os Jogos Olímpicos podem ser adiados.

O grande problema da epidemia do covid-19 é quais são os instrumentos econômicos apropriados para lidar com uma crise como esta. A produção está caindo não por uma desaceleração clássica, mas porque há falta de peças e componentes. O consumo está encolhendo porque as pessoas suspendem reuniões e evitam lugares públicos. Os instrumentos convencionais não funcionam.

A revista “Economist” usou um título recente que define o momento: “Globalização em quarentena.” A reportagem tratava de um assunto específico, mas o título reflete de forma ampla o momento de separação entre países, controle de fronteiras, redução da circulação de mercadorias. O fechamento de fábricas na China afetou países em série e isso terá impacto sobre a economia mundial.

Estão sendo revistas no mundo inteiro as previsões de crescimento. Do Brasil, só ontem, a consultoria Capital Economics cortou a projeção de crescimento em 2020 de 1,5% para 1,3% e o Goldman Sachs cortou de 2,2% para 1,5%. Outras instituições estão esperando o resultado do PIB de 2019, que sai hoje, para voltar a fazer contas.

A OCDE cortou a projeção do PIB mundial em meio ponto, para 2,4%, no melhor cenário, de impactos mais localizados na China. No pior, a desaceleração chegará a 1,5%, com a epidemia espalhando pela Ásia, Pacífico e hemisfério Norte. As estimativas da China sofreram o maior corte, de 5,7% para 4,9%. Para o Brasil, foram mantidas em 1,7% este ano e 1,8% no ano que vem.

Governo publica cartilha sobre proteção de direitos de jornalistas

Divulgação de material ocorre após ataques do presidente contra imprensa

João Paulo Saconi | O Globo

Autoridades devem reconhecer relevância do jornalismo, diz o documento

A reedição de uma cartilha com normas para a proteção dos direitos humanos dos jornalistas e de outros profissionais de comunicação foi divulgada ontem pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Elaborado inicialmente em 2018 pela gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB), o material contém padrões internacionalmente estabelecidos para a condução das relações entre autoridades, a imprensa e a sociedade.

A cartilha afirma, por exemplo, que autoridades precisam realizar discursos públicos “que contribuam para prevenir a violência contra jornalistas” e têm “a obrigação de condenar veementemente agressões contra jornalistas”. O documento também orienta agentes do serviço público a não adotar “discursos públicos que exponham jornalistas a maior risco de violência ou aumentem sua vulnerabilidade”. Há ainda trecho do texto que destaca a necessidade de atualização de estatísticas sobre crimes contra a imprensa.

Publicada online no site da pasta comandada pela ministra Damares Alves, a cartilha expõe contradições entre as orientações que a compõem e o comportamento de membros do governo, incluindo o presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com o levantamento “Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, lançado em janeiro pela Fundação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), os ataques contra comunicadores cresceram 54% no país durante o ano passado — e 58% deles foram feitos por Bolsonaro por meio de seu perfil no Twitter, transmissões ao vivo ou entrevistas.

Na contramão dos episódios registrados pelo estudo da Fenaj, a cartilha divulgada ontem propõe que o próprio governo siga preceitos estabelecidos por artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e do Pacto Internacional sobre Direitos

O que a mídia pensa - Editoriais

Irresponsável tolerância – Editorial | O Estado de S. Paulo

É simplesmente inadmissível a conduta do diretor da Força Nacional de Segurança Pública, coronel Aginaldo de Oliveira, apoiando os policiais militares (PMs) que se amotinaram no Ceará. Enviado pelo governo federal para garantir o policiamento e a ordem pública no Estado durante a ilegal greve de policiais militares, o coronel Oliveira dividiu palanque com as lideranças do movimento e elogiou a atuação dos amotinados. “Os senhores se agigantaram de uma forma que não tem tamanho. É o tamanho do Brasil que vocês representam”, disse o diretor da Força Nacional, não por acaso oficial superior da amotinada PM do Ceará.

Durante a assembleia dos amotinados no domingo passado, o coronel Oliveira discursou ao lado do principal líder do movimento, o ex-deputado federal Cabo Sabino, e do advogado dos policiais grevistas, o coronel Walmir Medeiros. “Só os fortes conseguem atingir os seus objetivos. E vocês estão resistindo, vocês estão atingindo objetivos”, disse Oliveira. “Acreditem: vocês são gigantes, vocês são monstros, vocês são corajosos. Demonstraram isso ao longo desses 10, 11, 12 dias em que estou aqui, dentro deste quartel, em busca de melhorias para a classe, que vão conseguir.” Como se fosse um líder sindical, o diretor da Força Nacional bradou: “Vamos conseguir. Sem palavras para dizer o tamanho da coragem que vocês têm e estão tendo ao longo desses dias”.