*Luiz Werneck Vianna, sociólogo (PUC-Rio), "A questão social e a democracia política: mais uma oportunidade". Blog Democracia Política e Novo Reformismo, 28.1.2022.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
*Luiz Werneck Vianna, sociólogo (PUC-Rio), "A questão social e a democracia política: mais uma oportunidade". Blog Democracia Política e Novo Reformismo, 28.1.2022.
Folha de S. Paulo
A desonestidade do Estado e de parte da
sociedade brasileira com seus jovens é constrangedora
A perversa e persistente estratégia de
desenvolvimento nacional, fundada em altos níveis de concentração de renda,
baixos padrões
educacionais, desigualdade social, racismo
estrutural e na violência e
arbítrio como formas de ordenação social, nunca foram tão evidentes como no
presente momento.
Dois relatórios publicados recentemente escancaram o quanto a sociedade brasileira, leia-se os adultos, temos descumprido nossas obrigações, plasmadas no artigo 227 da Constituição Federal, de assegurar às crianças e adolescentes "com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação... à dignidade..., além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão".
Folha de S. Paulo
A turbulência está só começando; apertemos
os cintos
Bolsonaro apresentou, nos últimos dias,
pequena mostra de como será sua campanha à reeleição. Dá para identificar três
eixos muito bem coordenados. Um deles é o discurso e a produção de símbolos
para arregimentação de suas bases. Nisso, merecem destaque sua imagem em um
clube de tiro e os palavrões, emitidos em estudado tom de desabafo, em comício,
no Nordeste.
Também voltaram os ataques golpistas ao sistema eletrônico de votação e deturpações, como a expressão "ditadura das canetas", em evidente alusão às decisões de ministros do STF. Misturadas a muitas baboseiras, proliferam ameaças explícitas, como a que foi feita por Eduardo Bolsonaro: "(...) a gente vai dar um golpe que a gente vai acabar com o Lula". São apitos para mobilizar os cães de guerra.
Folha de S. Paulo
Pela violência que inevitavelmente encerra,
deve permanecer como 'ultima ratio'
"Ultima ratio regum" é a frase
que o cardeal Richelieu mandou inscrever nos canhões franceses utilizados na
Guerra dos Trinta Anos (1618-48). Significa "o último recurso dos
reis". No século 20, a expressão "ultima ratio", agora sem o
"regum", passou a ser usada para evocar o princípio da
proporcionalidade no direito, em especial no penal. Esse ramo do direito
recorre sempre a algum grau de violência.
Na versão "light", é intrusivo e abre flanco para o arbítrio de autoridades. Na pesada, joga pessoas na cadeia por longos períodos. Pelo princípio da proporcionalidade, leis penais deveriam ser o último recurso do legislador e dos órgãos repressores, usadas só para prevenir e reparar males piores do que aqueles que a própria violência estatal enseja.
Folha de S. Paulo
Macron contesta liderança dos EUA em visita
à Rússia
Macron sentou-se no lado oposto da interminável
mesa de Putin e entoou música para os ouvidos do russo. Um sistema de
"segurança coletiva" negociado "entre europeus" —eis a
senha pronunciada pelo francês. São ecos de Charles De Gaulle, um ruído
horrendo para os ouvidos de Biden. No fundo, a França reativou o debate sobre
os contornos da Europa.
Do ponto de vista de Washington, segurança
coletiva não se negocia, pois já existe: a OTAN, que prende a Europa à
liderança dos EUA e exclui a Rússia. O presidente francês contestou
precisamente este dogma, enraizado na Guerra Fria.
De Gaulle falou, exatos 60 anos atrás, numa "Europa do Atlântico aos Urais", que incluiria a Rússia (na época, núcleo da URSS) e excluiria os EUA. A recuperação do tema gaullista revela uma fratura ainda mais ou menos oculta na Aliança Atlântica.
O Estado de S. Paulo
Relatórios bianuais do EIU divulgados desde 2006 mostram uma acentuada redução na qualidade de nossa democracia
O leitor certamente conhece o instituto de
pesquisas inglês Economist Intelligence Unit (EIU), ligado à revista The
Economist, que compila anualmente um “índice de democracia” para mais de 60
países. Baseando-se em diversos indicadores, o EIU classifica tais países com
base em diversos indicadores e situação conjuntural de cada um.
Em seu relatório de 2020 – o mais recente
divulgado –, a instituição traçou um quadro sombrio, indicando um enorme
retrocesso em todos os continentes. O título do relatório, In sickness and in
health? (Na doença e na saúde?), já sugere o fator posto em relevo: a pandemia
de covid-19, que forçou a maioria dos governos a tomar medidas que
provavelmente seriam rejeitadas pelos cidadãos caso fossem submetidas a algum
tipo de plebiscito. Esse trágico painel reforça numerosas análises que vêm há
anos prognosticando o iminente fim da democracia liberal-representativa.
O EIU classifica os países estudados em quatro categorias. A “nata” da democracia, designada como “democracias plenas”, compreende apenas 23 países, nos quais vivem 8,4% da população mundial. Os países nórdicos da Europa e o Canadá ocupam as posições mais altas. Na América Latina, só três países – Uruguai, Chile e Costa Rica – podem gabar-se de ser “plenamente” democráticos.
O Estado de S. Paulo
Depois de uma era viciada em mitos, teremos um ganho se o debate for baseado em evidências
Evidências não é apenas a música mais
cantada nos karaokês da pequena Tóquio encravada no centro de São Paulo. A
palavra é recorrente no jargão acadêmico atual, a ponto de ser a marca da nova
geração de intelectuais brasileiros.
Dizer que o conhecimento se baseia em
evidências é, claro, uma obviedade. Toda boa pesquisa acadêmica se assenta em
fatos. Num país onde as “fake news” se tornaram moeda corrente, no entanto, a
“geração evidências” se destaca por trazer algum rigor à conversa.
Será lançado na próxima semana o livro
Reconstrução, um belo cartão de visitas da “geração evidências”. Ele reúne
ensaios sobre o Brasil escritos por intelectuais que juntam as duas
características: o amor pelos fatos e – como destaca o economista Persio Arida
no prefácio – a juventude. A média de idade dos autores é 34 anos. A orelha do
livro ficou a cargo de Arminio Fraga.
O livro, organizado por João Villaverde, Laura Karpuska e Felipe Salto – os dois últimos são colaboradores fixos do Estadão –, nasceu de uma angústia. “Todos víamos a destruição que este governo vem perpetrando em várias áreas das políticas públicas”, diz João Villaverde, professor da Fundação Getúlio Vargas e entrevistado no minipodcast da semana. “Montamos um grupo para ver o que poderíamos fazer a respeito.”
Revista Veja
A ideia dos partidos é usar federações para
criar bolsões de poder no Congresso
Se a chamada terceira via tiver de morrer
antes mesmo de chegar à praia (das urnas), não será por vontade do eleitorado,
que a ela ainda não foi devidamente apresentado. Caso as candidaturas
alternativas ao embate Jair Bolsonaro/Luiz Inácio da Silva venham a falecer,
será obra de morte matada. Encomendada pelos partidos que as lançaram e agora
se ocupam em firmar alianças sob a nova regra das federações.
Sabem do que se trata? Pois então, devido à
proibição de coligações nas eleições proporcionais (deputados e vereadores) em
setembro do ano passado, o Congresso autorizou os partidos a se juntar sem a
necessidade de fusão, mas os obrigou a fazê-lo de modo uniforme em todo o país
e assim permanecer durante quatro anos. Ah, sim, obriga também a que tenham
identidade programático-ideológica, coisa um tanto fantasiosa em nosso cenário
de doutrinas partidárias bastante gelatinosas.
A ideia em si não é má ou, por outra, é boa. Em tese poderia resultar na redução da quantidade de partidos, acabar com a extrema dispersão na representação popular e facilitar a interlocução entre os poderes Executivo e Legislativo.
'
Nós vamos ter que convergir lá na frente', diz Simone Tebet sobre terceira via de centroSenadora diz que os nomes terão que se
unir, mas descarta abrir mão da cabeça de chapa para ser vice. Ela tem como
desafio se tornar conhecida e como trunfo, a baixa rejeição
Julia Lindner e Camila Zarur / O Globo
BRASÍLIA — Pré-candidata do MDB à
Presidência da República, a senadora Simone Tebet (MS) é vista como a vice
ideal por alguns de seus concorrentes nas eleições deste ano. Em contraponto,
ela diz que a sua candidatura está se tornando irreversível, sob os argumentos
de que alguns integrantes da terceira via já “ficaram pelo meio do caminho” e
de que seu nome enfrenta uma baixa rejeição do público. A pré-candidata
ressalta ainda representar o eleitorado feminino — 52% do total. Simone foi a
primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do
Senado, a mais importante da Casa.
Apesar de ter conquistado projeção nacional
durante a CPI da Covid, a senadora ainda é desconhecida na maior parte do país
e, até o momento, não decolou nas pesquisas de intenção de voto. Para reverter
esse cenário, aposta na convergência do centro para quebrar a polarização entre
o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. A pré-candidata aposta que
o grande tema da eleição será a economia, com foco na desigualdade social, na
fome e no desemprego. E acredita que o combate à corrupção, embora importante,
não terá papel central como na disputa de 2018.
O GLOBO vai convidar para entrevistas todos
os pré-candidatos a presidente à medida que eles forem anunciados formalmente
por seus partidos.
Alguns pré-candidatos avaliam
a senhora como uma boa vice. Como vê isso?
Para responder a essa pergunta eu teria que
perguntar a eles o porquê que acham que sou o melhor nome para vice. Se a
resposta for porque me acham preparada, responsável, ética, compromissada com o
país, sou tudo isso, tenho capacidade de ser cabeça de chapa e pedir também que
algum deles ceda o espaço para que possa ser meu vice. Com isso, a gente não
tira do processo a única pré-candidata mulher para falar o que a mulher pensa,
o que a mulher quer para o Brasil. Eu não tenho plano B, pelo menos não a nível
nacional.
O senador Renan Calheiros
(MDB-AL) falou recentemente que, se o partido não tiver um nome competitivo,
deveria apoiar Lula.
Ele foi honesto. E tudo que a gente espera de um companheiro é honestidade. Eu prezo por isso. Eu, que já fui traída diversas vezes, prefiro aqueles que falam “olha, eu não vou te acompanhar por isso e por aquilo”, do que aqueles que falam que vão estar contigo e te abandonam. Ele tem um histórico de ligação com o PT e com o próprio Lula. Mas nós vamos ter a unidade do partido na convenção.
O Globo
Se o petista conseguir fazer no estado a
média de votos que tem no resto do país, pode fechar a conta ainda no primeiro
turno
Não há hipótese de Lula fazer
corpo mole na campanha eleitoral no Rio. Tampouco caberá ambiguidade neste
pleito, como já ocorreu em outras eleições. O candidato do PT terá
indiscutivelmente que se posicionar de um lado, porque do outro estará seu
adversário, o presidente Jair Bolsonaro. Se tergiversar, dança. Não que o Rio
seja decisivo num pleito em dois turnos. Mas se quiser resolver no primeiro, é
bom olhar com atenção para o estado onde seu partido vem perdendo eleitores
seguidamente desde 2002. Naquele ano, Lula ganhou de Serra aqui com 79% dos
votos. Em 2006, fez 69% contra Alckmin. Dilma ganhou com 60% sobre Serra em
2010 e passou apertada por Aécio em 2014, com apenas 51,64% dos votos. Em 2018,
Haddad perdeu para Bolsonaro com apenas 32% dos eleitores ao seu lado.
Lula precisa de um candidato forte no Rio, forte suficiente para rivalizar com o governador Cláudio Castro, candidato à reeleição que terá Bolsonaro em seu palanque, além de todas as demais forças de direita no estado. Esse candidato, de acordo com todas as pesquisas feitas até agora, deveria ser o deputado Marcelo Freixo, ex-PT, ex-PSOL, hoje no PSB. O palanque de Freixo terá a cara da esquerda, mais moderna e flexível do que a representada pelo PT, mas ainda assim de esquerda e anti-Bolsonaro. Uma solução caseira, pode ser redundante. Restam ainda alternativas ao centro, com o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, ou brizolista, com o candidato do PDT, Rodrigo Neves.
O Globo
Após a tragédia de Moïse, deveríamos tentar
nos tornarmos aquilo que pensamos ser: um país aberto e receptivo
O brutal assassinato de Moïse Kabagambe na
orla carioca, entre outras reverberações, nos força a repensar a autoimagem que
temos sobre o Brasil. Sempre nos vimos como um país de imigrantes, receptivo à
maioria dos estrangeiros. Mas a realidade é que já não somos um país de
imigrantes e nem sempre fomos receptivos a todos os que vêm para cá.
É verdade que, historicamente, o Brasil recebeu levas de imigrantes portugueses, italianos, japoneses e sírio-libaneses, dentre outros; bem como de africanos trazidos em cativeiro para aqui. Mas, hoje em dia, nascidos no estrangeiro que vivem no Brasil são cada vez mais raros.
O Globo
A controvérsia do começo da semana sobre um
episódio do podcast Flow, em que o apresentador Monark defendeu a liberdade de
defender ideias nazistas e antijudaicas, mostra a dificuldade que temos tido em
travar debates produtivos num ambiente capturado pelas guerras culturais.
Caso algum leitor ainda não saiba, o Flow, um dos podcasts mais ouvidos do país, recebeu na segunda-feira os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral. No meio da conversa com eles, o apresentador Monark defendeu uma concepção radical de liberdade de expressão que permitiria a difusão de ideias nazistas e antijudaicas e sua organização política.
O Globo
Em 1969, um executivo anônimo de uma
fabricante de cigarros dos Estados Unidos redigiu um memorando de nove páginas
com o título “Tabagismo e Saúde: Proposta”. O problema a enfrentar era as
pessoas saberem que tabaco causa câncer. O memorando é histórico porque contém
a quase poética frase “dúvida é nosso produto”. Menos conhecida é a conclusão
do raciocínio: a dúvida é o produto porque “é o modo de estabelecer uma
controvérsia”.
Em poucas linhas, esse soldado desconhecido da guerra corporativa articulou o princípio básico do negacionismo enquanto estratégia política: produzir dúvida com o objetivo de semear, na mente do público, a falsa noção de que existe uma controvérsia legítima a debater. Da negação do aquecimento global antropogênico ao estímulo bolsonarista à hesitação vacinal, chegando até mesmo a ideologias mais antigas, como o fundamentalismo bíblico (“ensine a controvérsia!” tornou-se o grito de guerra dos criacionistas a partir da década de 1990), os defensores de ideias derrotadas pelos fatos e pela ciência parecem ter abraçado, em massa, a fabricação de dúvida como atividade principal.
É sabido que a política se assemelha a um
jogo de xadrez. O único prazo que os políticos respeitam é o prazo legal. Antes
a realidade fica povoada de balões de ensaios, blefes, dissimulações, factoides.
Em março, três prazos legais impactarão a armação do tabuleiro.
O primeiro é o da chamada janela partidária. Os 35 partidos políticos brasileiros existentes, com raras exceções, não primam pela consistência programática e ideológica e pela coerência política. A fidelidade partidária é baixa. A janela permite ao parlamentar mudar de partido sem perder o mandato. É de se prever uma verdadeira revoada de deputados. Isso mexerá com a correlação de forças.
EDITORIAIS
Analfabetismo infantil exige reação urgente
O Globo
Os estragos provocados por dois anos de
escolas fechadas na pandemia começam a ser traduzidos em números e, como se
previa, são catastróficos. Uma nota técnica do Todos Pela Educação divulgada
nesta semana mostrou que cresceu 66% o número de crianças de 6 a 7 anos que não
sabem ler ou escrever neste período em que o mundo foi assombrado pelo
coronavírus. Com base em dados do IBGE, a nota afirma que esse contingente
passou de 1,42 milhão, em 2019, para 2,36 milhões em 2021. A Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) prevê que todas as crianças sejam alfabetizadas até os
7 anos.
Em termos percentuais, a fatia de crianças de 6 a 7 anos não alfabetizadas subiu de 25,1% em 2019 para 40,8% em 2021. Quase metade dos alunos brasileiros nessa faixa etária não aprendeu o básico: ler e escrever. Convém lembrar que essa tragédia infelizmente não se restringe aos anos de 2020 e 2021, de fato atípicos. Ela compromete inexoravelmente o futuro dessas crianças. Sem as ferramentas básicas para ingressar na vida escolar, dificilmente elas terão como acompanhar as aulas. “Um aluno que não consegue se alfabetizar bem tem a sua trajetória prejudicada pelo resto da vida”, disse ao GLOBO Olavo Nogueira Filho, diretor executivo do Todos pela Educação.
Macaíbeiras chovendo
O Globo
O instituto das federações partidárias foi
concebido para que pequenas legendas ameaçadas de extinção a partir do
estabelecimento de cláusulas de desempenho, ou de barreira, sobrevivessem. Mas
a negociação em curso para a criação de vários desses agrupamentos passou a
levar em conta uma outra lógica, a sobrevivência parlamentar dos partidos no
próximo governo. O que se tem são fábricas em que são projetadas novas versões
do Centrão, ao gosto do próximo freguês, ops, presidente.
O sucesso do Centrão atual, comandado por
Arthur Lira, que tem como satélites partidos como o PL de Jair Bolsonaro, o
Republicanos e outros que ora o integram, ora se afastam, foi tal que será
inexorável que o eleito em outubro conte com algo parecido para ter alguma
capacidade de governar.
Já escrevi aqui, e as declarações subsequentes do cacique do Centrão atual corroboraram: qualquer um que vença o pleito não terá sucesso em desarmar a bomba do Orçamento secreto, na prática o principal motor das relações entre Executivo e Legislativo hoje. Todos os candidatos prometerão fazê-lo, mas é bem provável que o vencedor nem chegue a tentar.
O Globo
O Brasil vive um recuo democrático? Afinal
as instituições seguem funcionando, dizem muitos. A revista
"Economist" diz que a nota da democracia brasileira diminuiu e
que América Latina foi a região em que houve o maior recuo democrático. Eu
concordo com a revista. A democracia corre riscos no Brasil.
Quero usar um exemplo que está hoje
publicado neste jornal: "A Polícia Federal afirmou ao Supremo Tribunal
Federal que uma milícia digital atua contra a democracia e as instituições
usando a estrutura do chamado gabinete do ódio”, assim abre a matéria
do Aguirre Talento e Mariana Muniz, hoje no "O Globo".
Isso significa que dentro do Palácio do Planalto, essa é a suspeita da PF e há muitos indícios disso, funcionários públicos que, como todos sabem, trabalham sob o comando informal do vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro, disparam mensagens de ódio contra as instituições brasileiras. Entre os alvos, o principal é o Supremo Tribunal Federal. que é colocado como inimigo da atual administração. A imprensa é outro alvo.
Folha de S. Paulo
Considerar Lula e Bolsonaro ‘faces do mesmo
mal’ é demofobia eleitoral
Falemos de futuro em vez de alimentar as
ideias mortas que ainda matam. É preciso cultivar nosso jardim. Sempre me
incomoda quando os tais "mercados" —às vezes, com cara; com
frequência, sem ela — resolvem comparecer ao debate público para demonizar a
política, como se a empresa de expectativas chamada "Brasil" fosse
uma potência massacrada por interesses mesquinhos, que têm de ser exorcizados.
No que há de sincero nessa conversa,
trata-se de uma ilusão entre tecnocrática e autoritária. No que há de
insincero, é só o vício de sempre se vendendo como virtude, muitas vezes na
pena de rufiões da opinião. Isso tem custo. Observo, à partida, que nem sei
direito quem é esse "ente" que fala.
As vozes parecem vir de alguma racionalidade empírea, que nos faz o favor de baixar lá do mundo das ideias para nos libertar das correntes da escuridão. Na última vez em que esses arautos julgaram ter visto a luz para nos relatar a verdade do mundo, escolheram Jair Bolsonaro e Paulo Guedes para nos tirar da caverna. Deu no que deu.
Folha de S. Paulo
Presidente recicla promessas para reter
apoio de policiais, conservadores e agronegócio
Os três últimos anos foram intensos para
Jair Bolsonaro. O presidente gastou toda a sua energia política e a verba
pública que tinha à disposição para se segurar no cargo, atacar adversários,
sabotar a vacinação e
passear de jet ski.
Faltou força para executar um programa de governo.
O Planalto decidiu reciclar as propostas feitas pelo capitão em 2018 e na permanente campanha pela reeleição que conduziu desde então. Numa portaria publicada na quarta-feira (9), o governo informou que daria prioridade a 45 projetos no Congresso nesta reta final de mandato. A lista foi feita sob medida para agitar alguns dos principais alvos de Bolsonaro na disputa eleitoral.
Folha de S. Paulo
Tem festinha na Bolsa e dólar em baixa, mas
asteroide do juro dos EUA é um risco
Aqui na terrinha, o Ibovespa
continua em alta, indiferente ao tombo dos irmãos americanos. Para surpresa
quase geral, o dólar caiu da casa dos R$ 5,60 de dezembro para perto dos R$
5,20. Se a gente olhar para cima, porém, verá que o asteroide dos juros
americanos ficou mais próximo. Mesmo quando apenas passa perto, costuma causar
confusão.
A inflação
nos Estados Unidos chegou a 7,5% ao ano em janeiro, a maior em 40
anos, sem sinal de esfriar. As taxas de juros lá deram saltos raros nesta
quinta-feira. Agora, se discute em que ritmo o Fed, o Banco Central deles, vai
elevar a taxa básica de juros, ora próxima de zero. Muito analista velho de
guerra, reputado e administrador de muito dinheiro diz que o Fed está atrasado.
Portanto, teria de aumentar muito mais seus juros, para compensar o atraso no
controle da inflação.
Aumentos rápidos, grandes e sem hora para acabar podem ser um problema. Além de bater na economia "real", podem causar acidentes. Isto é, pegar gente graúda de calças curtas, em aplicações grandes e erradas, provocando estouros. Não é profecia. É só a cautela de qualquer um que já deu uma olhada na história de viradas financeiras.
Correio Braziliense
Todos são políticos profissionais, mas há
uma diferença nada sutil entre ser remunerado com um salário de parlamentar ou
ter esse salário multiplicado pelo fato de representar grandes interesses
privados
Uma das características da política em Brasília é o fato de que o outro lado do balcão não muda muito em matéria de lobbies no Congresso. O que muda é a composição da Câmara e do Senado, a cabeça de quem manda na pauta das duas Casas e a correlação de forças a favor e/ou contra os interesses em jogo. Nos bastidores, os lobistas que atuam a favor desses interesses são muito conhecidos. Quando são flagrados fazendo coisa errada, são rapidamente substituídos por outros.
Há todo tipo de lobistas. Os mais sérios atuam com competência na discussão de
mérito e na articulação política. Os bandidos engravatados são os que operam as
malas da propina. Como não há regulamentação da prática de lobby, todos acabam
estigmatizados pela opinião pública. Por isso, talvez a mãe de todas as
prioridades do Centrão deveria ser a regulamentação do lobby, como acontece nos
Estados Unidos e muitos países da Europa. Haveria mais responsabilidade e
transparência na tramitação das propostas.
O sociólogo alemão Max Weber, na célebre palestra A política como vocação, divide os políticos em duas categorias: os que vivem para a política e os que vivem da política. Na primeira categoria estão aqueles que veem a política como bem comum, ou seja, não são financeiramente remunerados pelos projetos que votam em favor de interesses privados ou corporativos. Na segunda, os que têm a política como verdadeiro negócio, na acepção da palavra, pois se beneficiam financeiramente das leis que aprovam. Muitas vezes são empresários do ramo ou agentes remunerados diretamente pelo engajamento em projetos empresariais. O Centrão é formado por parlamentares que veem a política como negócio.
O Estado de S. Paulo
Lula amplia apoios ao centro e à direita, mas adesão de tucanos ao petista é esquecer a história
Como todos os caminhos levavam a Roma, o PT
quer fazer crer que todas as articulações levam a um apoio ao
ex-presidente Lula.
Lula está sedimentando a esquerda e ampliando seus horizontes à direita, é
verdade. Mas que todos os partidos estejam indo em fila, bovinamente, para
apoiá-lo no primeiro turno, é exagero.
Geraldo Alckmin, tucano desde criancinha, é o troféu de Lula para conversar com líderes de MDB, PSD e Centrão, incluindo o PP do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é do Nordeste, onde Lula e o PT são campeões de votos. Mas a grande novidade é a aproximação de Lula com tucanos históricos.
Essas conversas com o arquirrival PT, com José Dirceu na jogada, podem estar por trás do jantar desta semana de quatro ex-presidentes do PSDB em busca de alternativas à candidatura de João Doria: Pimenta da Veiga e Aécio Neves (MG), Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP). Tasso considera apoiar Lula desde a vitória de Doria nas prévias. Zé Aníbal é o mais radical contra esse apoio.
Quadro histórico do partido afirma que prioridade este ano é evitar a reeleição de Bolsonaro
Eduardo Kattah e Pedro Venceslau |O Estado
de S. Paulo
Tucano histórico, o atual diretor da SP
Negócios, Aloysio Nunes
Ferreira, foi um dos líderes tradicionais do PSDB procurados pelo
ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em aceno ao centro neste ano eleitoral. Em
entrevista ao Estadão, Aloysio defendeu como prioridade impedir a
reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Ex-senador e ex-ministro da Justiça e das Relações Exteriores, Aloysio disse ver potencial na candidatura do governador João Doria ao Palácio do Planalto, mas destacou que, se o tucano “não decolar”, não há opção viável na “terceira via”.
Ao analisar a crise interna do partido –
uma ala contrária à candidatura própria à Presidência tem pressionado a
pré-campanha de Doria –, o ex-chanceler afirmou que o PSDB “não é mais uma
referência nacional”.
O ex-presidente Lula teve uma
série de encontros com líderes históricos do PSDB – o sr. foi um deles. Qual é
o simbolismo desses encontros?
Durante o processo de impeachment (de Dilma
Rousseff), o antipetismo acabou se transformando em uma segunda natureza do
PSDB. Isso nos fez andar em muito má companhia. Agora, diante do desastre que
foi a eleição do Bolsonaro – um desastre até previsível – e do seu governo de
destruição sistemática, vem a ideia de que é preciso retomar um diálogo que
houve ao longo do tempo com forças de esquerda, como o PT. Talvez o PT tenha
sido anti-PSDB, e a campanha Fora FHC é um exemplo disso, mas nós, do PSDB,
antes desse processo de radicalização, sempre tivemos a compreensão da
importância do PT na vida política brasileira como expressão do movimento
popular. Ainda que não houvesse um papel escrito, houve convergência em muitas
coisas importantes.
Quais, por exemplo?
No tema dos direitos humanos houve toda uma legislação que nós aprovamos. Lei da Imigração, Comissão da Verdade, Lei de Proteção de Dados, Marco Civil da Internet. Houve um diálogo das forças democráticas, e não só PT e PSDB. O Código Florestal foi um mutirão envolvendo gente do MDB, do PT, do PSDB e do PFL. Mesmo na política externa, fui presidente da Comissão de Relações Exteriores (do Senado), e meu vice era o Jorge Viana (do PT), que fazia constantemente a ligação entre a pauta do plenário e da comissão. A luta contra a pobreza extrema e a transferência de renda. Tudo isso foi feito com uma colaboração não formalizada, mas existente na vida real. São duas vertentes da social-democracia brasileira: uma mais à esquerda, representada pelo PT, e uma mais direita, cada uma com seu sistema de alianças. Aí chega Bolsonaro e destrói isso. Nesse processo de radicalização, que vem de antes do impeachment, uma parte do nosso eleitorado foi embora. Perdemos um componente importante dos nossos eleitores, de uma direita civilizada e moderada.
Para Lavareda, candidatos à direita disputam o controle da segunda via e devem ter clareza de que o adversário principal é Bolsonaro, sem desperdício de energia com ataques a Lula
Por Cristian Klein / Valor Econômico
Rio - A seguir os principais pontos da entrevista do presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda:
Valor: Qual é a chance dos candidatos da terceira via?
Antonio Lavareda: Terceira via
significa, de saída, um formato triangular, e hoje estamos próximo disso. Na
verdade, temos mais. Nos votos válidos, há quatro candidatos [Lula, Bolsonaro,
Moro e Ciro] com mais de 10%. Isso já configura quatro candidatos competitivos,
ou seja, com mais de dois dígitos. Hoje há um formato quase quadrangular.
Valor: Não temos um quadro de polarização?
Lavareda: Pode ser um
formato quadrangular, como tivemos nas eleições de 1989 e 2002. As pesquisas
estão batendo na trave. Eu desconfio que vai ser reduzido para um formato
triangular, como foi em 1998, 2010, 2014 e 2018, havendo risco de ir para o
formato bipolar, como ocorreu em 1994 e 2006. Acredito que a lógica do segundo
turno vai se impor, vai se imiscuir no final da disputa do primeiro turno.
Valor: Que fatores prejudicam a terceira via?
Lavareda: Qual é a
plataforma que impulsiona a candidatura de Bolsonaro? É a incumbência, que é o
magneto do debate público. Qual é a plataforma que impulsiona Lula e o lulismo?
É a ex-presidência.
Candidatos atacam Lula e Bolsonaro. Mas não
estão disputando com os dois. O adversário deles é o bolsonarismo
Valor: Como os concorrentes podem se destacar numa
eleição tão baseada nesse voto retrospectivo?
Lavareda: Mais que desafio, o problema dos candidatos da terceira via é que, para protagonizarem a disputa eleitoral, eles ficam batendo à direita e à esquerda. Atacam Bolsonaro e atacam o Lula. Esses ataques nem sempre desgastam os dois candidatos, mas com certeza atraem a ira dos eleitores desses dois candidatos.
Para diretora do Ipec, chance da terceira via é muito difícil, mas não impossível
Por Cristian Klein / Valor Econômico
Rio - A seguir os principais pontos da
entrevista da diretora da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec),
Márcia Cavallari:
Valor: Qual a chance dos candidatos da terceira via?
Márcia Cavallari: É um desafio
muito grande, porque Bolsonaro e Lula são candidatos fortes, e para ter alguma
chance teriam que tirar voto dos dois. Mas eles ainda são desconhecidos. O
Ciro, que é o mais conhecido, tem um quarto da população que fala que não o
conhece o suficiente para votar nele ou não. Para os outros, o índice aumenta
ainda mais.
Valor: Concorrentes à direita, como Moro e Doria,
precisam desbancar Bolsonaro?
Cavallari: É, mas tem
gente que está declarando voto no Lula hoje porque não quer o Bolsonaro e pode
sair do Lula e ir para um deles. O Lula não está colocado como um candidato de
extrema esquerda em oposição à extrema direita de Bolsonaro.
Valor: Ao tentar ocupar o centro, Lula também tem mais
chance de perder esse eleitor eventualmente?
Cavallari: Sim, se
aparecer um candidato com 10%, 12%, que efeito vai ter? Esse eleitor pode
dizer: “Ah, nunca gostei do Lula mesmo”, e vem essas ondas... Há um típico
eleitor do Lula que não está vendo outra opção, mas se de repente começa um
movimento [para outro candidato], quantos vão fazer isso? Quando começa, vira
uma onda e aí ninguém segura.
Esse eleitor pode dizer: ‘Ah, nunca gostei
do Lula mesmo’, e vem essas ondas... Quando começa, ninguém segura. É
possível"
Valor: Ainda seria possível?
Cavallari: Já vimos, não em eleição presidencial ainda. Temos várias eleições a prefeito e governador que começam de um jeito e terminam de outro. O Witzel, no Rio em 2018, assim como outros, foi na carona do bolsonarismo. Mas no caso de Bolsonaro, ele já vinha crescendo, a força maior veio em setembro, depois da facada.
Valor Econômico
Lógica da campanha bolsonarista não visa só
a uma vaga no segundo turno, mas a cristalizar uma polarização paralisante na
política brasileira
Diante da enorme impopularidade e das
grandes dificuldades políticas que terá em 2022, o presidente Bolsonaro
escolheu estratégias muito claras para a disputa eleitoral. Seu provável modelo
de campanha, no entanto, vai além da conquista de votos para a chegada ao
segundo turno. O bolsonarismo quer consolidar a polarização como lógica principal
do jogo político brasileiro, haja a reeleição ou não. Isso causará não só uma
disputa com um caráter bélico inédito no Brasil, como também poderá ter
consequências para o próximo mandato presidencial.
Tomando como base o que ocorreu desde a criação da reeleição, Bolsonaro é um candidato atípico. Seu objetivo inicial não é liderar a disputa, mas obter algo entre 20% a 25% dos votos no primeiro turno, viabilizando desse modo seu lugar na rodada final. A montagem de suas estratégias passa, primeiro, pela aposta na fragilidade de qualquer tipo de terceira via. A fragmentação das candidaturas assim denominadas e a dificuldade de elas entenderem que o tema geral da eleição é um plebiscito contra o bolsonarismo têm facilitado a vida do atual presidente. Além disso, há o risco de uma vitória de Lula no primeiro turno, e a meta bolsonarista é evitar isso a qualquer custo, inclusive usando armas, digamos, heterodoxas de campanha.
Valor Econômico / Eu & Fim de Semana
A degradação das relações de trabalho e a
difusão do direito à violência privada no caso do linchamento de jovem congolês
O linchamento de Moïse Mugenyi Kabagambe,
na noite de 24 de janeiro, jovem congolês de família legalmente refugiada no
Brasil, indica mudanças preocupantes nas características dessa prática de
violência de turba no Brasil.
Entre nós, os linchamentos têm raízes
estruturais, com vestígios fortes das práticas da Inquisição e das normas e
valores das Ordenações Filipinas. Os avanços da sociedade brasileira no plano
do Direito não foram suficientes para eliminar sua prática. Ao contrário, ela
deixou de ser excepcional e anômala para se tornar normal e corrente.
Nos últimos 70 anos, o número de
linchamentos cresceu muito. Hoje são, pelo menos, dois linchamentos e
tentativas por dia.
Estudei em detalhe 2.028 casos ocorridos no Brasil inteiro e realizei, no respectivo local, três estudos de casos ocorridos no Oeste de Santa Catarina, na Alta Mogiana, em São Paulo, e no Sertão da Bahia por serem casos que continham os mais altos índices de crueldade.
O Globo
O líder da bancada do agora governista
Partido Social-Democrata alemão, Rolf Mützenich, viajou para o exterior pela
primeira vez na pandemia esta semana, para participar de um seminário em
Montevidéu intitulado “Quem disse que tudo está perdido?”. A pergunta
provocadora reflete a enorme expectativa que existe em vários países da região
e do mundo sobre o que muitos chamam de uma nova onda progressista ou de
esquerda na América Latina.
Que líderes de esquerda são favoritos em
eleições de peso, ninguém discute. O jovem Gabriel Boric derrotou o
ultradireitista José Antonio Kast no fim do ano passado e será empossado como
presidente do Chile no próximo dia 11 de março. Sentado ao lado de Mützenich,
na capital uruguaia, esteve Giorgio Jackson, ex-líder estudantil como Boric,
nomeado ministro da Secretaria-Geral da Presidência chilena.
Mas duas perguntas se impõem quando a torcida pela esquerda mostra tanta euforia: o que veremos será uma onda de proporções similares à que tivemos nos primeiros anos deste século? Ou apenas uma marola? Como farão os novos governos de esquerda, com menos recursos do que tiveram outros presidentes no passado (atualmente vive-se uma alta de preços, mas não uma explosão de commodities como a ocorrida entre 2000 e 2010), para enfrentar demandas sociais mais desafiadoras e populações mais impacientes?
O Globo / O Estado de S. Paulo
Esta é uma coluna sobre o Partido Nazista —
mesmo que não pareça.
Toda filosofia que temos para refletir a
respeito de liberdade de expressão parte do pressuposto de que há uma barreira
de entrada para alcançar um público grande. Fosse para publicar um texto e
distribuir ou, mais recentemente, falar na TV aberta, sempre foi difícil chegar
lá. Hoje, exige apenas a compra de um aparelho celular. E quem decide o alcance
de uma mensagem não é um ser humano. É um programa — e esse programa é um editor
de imprensa marrom de quinta que privilegia incentivar conflitos.
Nos séculos XVIII, XIX e XX, o tempo de existência das democracias, levar sua opinião a muita gente era uma corrida de obstáculos. Conseguiam falar com muitas pessoas apenas aqueles que desenvolvessem uma ou mais capacidades. Estudavam muito ou sofisticavam suas habilidades políticas ou desenvolviam um carisma quase mágico. Fundamentalmente, tudo isso demorava tempo e incluía convencer muita gente de que valia a pena levar sua voz a muitos. O século XXI não tem nada disso.
O Globo
Ainda vai longe o debate sobre a liberação
de paródias musicais nas eleições. Na quarta-feira, o Superior Tribunal de
Justiça voltou a analisar o processo da editora de Roberto Carlos contra o
deputado Tiririca. O ministro Luis Felipe Salomão considerou que o palhaço não
precisa pagar indenização por ter imitado o Rei na campanha de 2014. O
julgamento foi interrompido por um pedido de vista.
Em mensagem enviada à coluna, Caetano
Veloso se mostrou preocupado com as consequências da disputa judicial. “Nunca deixarei, se me for permitido
impedir, que a melodia de ‘O leãozinho’ ou ‘Odara’, ‘Você é linda’ ou ‘Alegria,
alegria’ seja usada para fazer eleitores votarem em figuras que representem o
que eu abomino”, afirmou.
“Tampouco quero que qualquer canção minha sirva para vender produtos que eu considere malignos. Eu, que até hoje não vendi nem uma nota ou sílaba para publicidade”, prosseguiu. “Suponho que tenho direito moral personalíssimo sobre minhas composições.”