O Globo
O instituto das federações partidárias foi
concebido para que pequenas legendas ameaçadas de extinção a partir do
estabelecimento de cláusulas de desempenho, ou de barreira, sobrevivessem. Mas
a negociação em curso para a criação de vários desses agrupamentos passou a
levar em conta uma outra lógica, a sobrevivência parlamentar dos partidos no
próximo governo. O que se tem são fábricas em que são projetadas novas versões
do Centrão, ao gosto do próximo freguês, ops, presidente.
O sucesso do Centrão atual, comandado por
Arthur Lira, que tem como satélites partidos como o PL de Jair Bolsonaro, o
Republicanos e outros que ora o integram, ora se afastam, foi tal que será
inexorável que o eleito em outubro conte com algo parecido para ter alguma
capacidade de governar.
Já escrevi aqui, e as declarações subsequentes do cacique do Centrão atual corroboraram: qualquer um que vença o pleito não terá sucesso em desarmar a bomba do Orçamento secreto, na prática o principal motor das relações entre Executivo e Legislativo hoje. Todos os candidatos prometerão fazê-lo, mas é bem provável que o vencedor nem chegue a tentar.
Uma das razões é que ele já encontrará no
Congresso novos blocos mais ou menos formados, sejam eles originários das
federações formais de partidos ou não.
O PT tenta aglutinar o seu, com PCdoB, PSB
e, se possível, também o PSOL, à esquerda, e até o PSD, à direita. Seria esse o
coração de um eventual terceiro governo Lula.
O Centrão original caminhará com Bolsonaro,
ao menos seu núcleo duro PP-PL, e depois, a depender do resultado das urnas,
buscará um novo hospedeiro, pois são partidos desprovidos de qualquer conteúdo
ideológico ou programático, cuja existência está unicamente ligada à execução
de verbas orçamentárias.
Para que esse grupo custe menos ao Erário e
ao capital político do futuro presidente, é preciso que haja outras âncoras de
governabilidade que o tornem menos vital.
Bolsonaro bravateou que não precisaria
disso, pois governaria com os “conservadores” e a pressão das ruas. Deu no que
deu: hoje não decide nada sem o aval de Lira e Ciro Nogueira.
A criação do União Brasil já foi uma reação
a essa hipertrofia do Centrão. Tornado grande, o partido oriundo da fusão entre
DEM e PSL quer ir às compras. Estuda uma federação com o MDB que, nas conversas
internas, batizam sem muita criatividade de “o verdadeiro Centro”. Não deixa de
ser irônico e um sintoma da nossa metamorfose ideológica que, décadas depois, o
velho MDB e a Arena convirjam dessa maneira.
Caso vingue essa federação, qual seria o
papel do PSDB, filho rebelde do velho PMDB, surgido ostentando uma exuberância
de quadros e propósitos, que chegou à Presidência duas vezes com FH antes mesmo
de completar uma década?
A depender do atual estágio das negociações
de bastidores, a situação dos tucanos nessa fabricação de um dos postulantes a
“novo Centrão” não é privilegiada. Os demais partidos não veem na candidatura
de João Doria uma alternativa viável para atrelar a ela o destino de candidatos
no Brasil todo. O que têm oferecido ao PSDB é participação na federação, mas
sem o assento de piloto.
Não é esse o plano de Doria, que conduz uma
negociação que ficou difícil até com o nanico Cidadania, uma daquelas siglas de
que falei na abertura desta coluna, que dependem de ajuda para não ser
extintas.
Por fim, haverá o bolsonarismo, que, pela
sua característica antiestablishment, só conseguirá manter ao seu redor os
partidos que hoje dão apoio ao presidente caso ele seja reeleito, hipótese
difícil, segundo as pesquisas, mas não impossível, dada a disposição
indisfarçada de gastar os tubos e de fazer campanha full time desde
já que vem sendo demonstrada pelo capitão.
Um comentário:
Só faltava,''MDB e Arena'' juntos.
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