quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Jairo Nicolau*: O efeito inesperado da federação partidária

O Globo

A federação partidária é a mais badalada alteração da legislação eleitoral que passará a vigorar em 2022. Pela nova regra, dois ou mais partidos federados são obrigados a funcionar como uma organização única por quatro anos. Isso significa que disputarão juntos as eleições deste ano e as municipais de 2024 e que terão uma bancada única no Congresso e nas Câmaras Municipais de todo o país.

Até onde eu saiba, a federação partidária é uma invenção brasileira. Em todas as democracias, as legendas se aliam para disputar uma eleição ou dar sustentação a um governo. Ocasionalmente, partidos próximos no espectro ideológico se fundem e viram uma nova organização. O Brasil inventou a fusão envergonhada: um casamento partidário com respaldo para acabar depois de quatro anos.

Não é fácil fazer uma federação. Os partidos brasileiros têm uma grande autonomia estadual e municipal. Em muitos casos, seus parceiros preferenciais (e adversários) nos estados e municípios não são os mesmos da política nacional.

Em que pese o grande destaque que a discussão em torno de formação de federações partidárias tem recebido, a mais importante mudança da legislação eleitoral que entrará em vigor em 2022 é o fim das coligações nas eleições para deputado federal e estadual.

Vera Magalhães: O pior já passou para Bolsonaro?

O Globo

Foi sutil, embora nada trivial, a mudança de rota empreendida no governo e na campanha de Jair Bolsonaro desde o fim do ano passado. Operada de forma engenhosa pelo Centrão, que domou o voluntarismo do presidente e dos filhos, conseguindo até que eles colaborassem com o plano. O resultado parece ser ter estancado a queda livre do capitão. Saber se o pior momento para ele foi definitivamente superado, no entanto, dependerá de alguns fatores.

Os pragmáticos de plantão conseguiram fazer Bolsonaro parar de vociferar todos os dias contra a vacinação de crianças para Covid-19. Ficou evidente, por pesquisas, que a forma desarrazoada com que ele investiu contra a imunização dessa faixa no momento em que a Ômicron avançava, e as famílias estavam aflitas sem poder proteger os pequenos, poderia representar os pregos em seu caixão reeleitoral.

Tirar o presidente (e até Marcelo Queiroga, que seguia cegamente a cartilha do chefe) de cena naquele episódio foi essencial para estancar a sangria.

Bernardo Mello Franco: O desespero da terceira via

O Globo

O fracasso está subindo à cabeça da chamada terceira via. Seus candidatos comem poeira nas pesquisas, mas insistem em se vender como salvadores da pátria. Sem modéstia, sugerem que o país vai acabar se eles não forem ungidos ao poder.

Ontem dois presidenciáveis voltaram a apostar no discurso apocalíptico. Em seminário promovido pelo banco BTG Pactual, João Doria previu uma fuga de empresários caso Lula e Jair Bolsonaro passem ao segundo turno.

“O risco de vocês começarem a pensar em não permanecer no Brasil será enorme. Será que é isso o que a gente quer?”, questionou. Um ouvinte distraído poderia confundi-lo com Mario Amato, o industrial que projetou a debandada de 800 mil empresários se Lula vencesse Fernando Collor em 1989.

Raphael Di Cunto: O nome que a terceira via agora trabalha

Valor Econômico

Estratégia é rifar Doria depois de abril e focar nos Estados

A bola da vez na “terceira via” é a senadora Simone Tebet (MDB-MS). Mulher, preparada, com posições firmes, discurso afiado, sem escândalos no currículo e, principalmente, com baixa rejeição, ela é o nome que passou a ser visto por dirigentes de partidos de centro-direita como alternativa ao ex-juiz Sergio Moro (Podemos), rejeitado pela classe política, a Ciro Gomes (muito à esquerda, no PDT) e ao governador João Doria (PSDB) - que, se não chega a ser rejeitado por eles, tampouco desperta simpatias.

Atente-se, aqui, que a expectativa desses dirigentes não é de vitória. Todos creem que a Presidência será ocupada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) em 2023. A polarização estaria consolidada e vários deles citam que quase 60% dos eleitores respondem nas pesquisas espontâneas que já escolheram votar em um dos dois. Isso antes mesmo de serem informados sobre quem são os candidatos, o que aponta grau maior de convicção na escolha, e que é algo inédito tantos meses antes da eleição.

Luiz Carlos Azedo: Doria está derretendo e pode disputar reeleição em São Paulo

Correio Braziliense

Quem está com o mico na mão é o Cidadania, que aprovou a federação com o PSDB por apenas um voto, mesmo sabendo que Doria estava se inviabilizando

Num encontro promovido pelo banco BTG Pactual para operadores do mercado financeiro, ontem, o governador de São Paulo, João Doria, pela primeira vez, admitiu que pode desistir de concorrer à Presidência da República, em razão da alta rejeição e do fraco desempenho nas pesquisas. “Não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole. Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil”, disse.

Elio Gaspari: A carta chinesa virou um mico

Folha de S. Paulo / O Globo

Há 50 anos, Richard Nixon descia em Pequim

Há meio século, o presidente americano Richard Nixon desembarcou em Pequim, coroando uma espetacular reaproximação com a China. Teve de tudo: uma viagem secreta de Henry Kissinger, seu assistente para assuntos de segurança nacional, e convites a equipes de pingue-pongue.

Nixon foi recebido por Mao Tsé-Tung, o Grande Timoneiro da Revolução Chinesa. A fotografia do encontro correu o mundo. Poucos sabiam que Mao estava chumbado, com dificuldade para falar e respirar. (Na sala ao lado, guardava um respirador portátil mandado por Kissinger.)

Vinicius Torres Freire: A guerra de Putin e Brasil

Folha de S. Paulo

Rússia pode ter meios de bancar sanções e prolongamento da crise na Ucrânia

As retaliações do "Ocidente" contra a Rússia divulgadas até agora não devem tirar o sono do Vladimir Putin, que talvez nem durma. Quem sabe seja um Vampiro Highlander movido a venenos energéticos da defunta, mas viva, KGB.

Além da piada, e daí? Se Putin pode aguentar as sanções, pode ainda por muito tempo comer a Ucrânia pelas bordas e, assim, manter o salseiro na política e na finança do "Ocidente".

Se por mais não fosse, isso nos interessa, habitantes do extremo ocidente, periferia do mundo, do Brasil. Para contínua e quase geral surpresa, o real e a Bolsa continuam a se valorizar, a subir dos buracos profundos onde a epidemia, a dívida e Jair Bolsonaro haviam jogado os preços dos ativos financeiros do país.

Bruno Boghossian: A polícia faz política

Folha de S. Paulo

Protesto contra governador em MG reacende alerta de politização das forças de segurança

O país parece ter se acostumado a ver policiais fazendo política dentro e fora dos quartéis. No início da semana, agentes em Minas Gerais organizaram um protesto contra o governador Romeu Zema para cobrar um aumento salarial anunciado no início do mandato. As entidades que representam as categorias ameaçam fazer uma paralisação.

A tranquilidade com que os agentes foram às ruas reflete um lento processo de desestabilização das forças de segurança em muitos estados. Zema cometeu uma barbeiragem ao prometer um reajuste que não teria como pagar, mas a lei proíbe greves de policiais porque é preciso proteger até o governante mais inábil da pressão de homens armados.

Fábio Alves: A polêmica da meta

O Estado de S. Paulo

Muitos analistas acreditam que, como meta de longo prazo, 3% de inflação ainda é plausível

Numa das já tradicionais reuniões trimestrais de economistas do mercado financeiro com diretores do Banco Central, na semana passada, foi levantado o temor de que, se eleito, o eventual governo do ex-presidente Lula, a partir de 2023, iria revogar, entre outros pontos da agenda econômica, a meta de inflação de 3%, estabelecida para 2024.

A meta para 2025 deverá ser fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho. E já se fala que a meta ficará novamente em 3%, patamar que sempre foi almejado por autoridades de governos anteriores para convergir com o objetivo perseguido por vários países emergentes.

O debate entre analistas do mercado é de que, no Brasil, até o teto da meta foi estourado em 2021 e muito provavelmente o será também em 2022. Em 2021, a inflação foi de 10,06%, enquanto o teto da meta era de 5,25%. Já neste ano, a projeção do mercado é de uma inflação de 5,56%, acima do limite superior de 5,0%.

Roberto DaMatta: A vida em caixas de papelão

O Estado de S. Paulo

O transitório nos faz ser o que somos, pois sem ele seríamos todos tediosa e perigosamente iguais

Um dos meus professores me disse que sua vida profissional cabia em caixas de papelão. “Em 42 caixas, para ser preciso!”, afirmou, irônico.

Não entendi bem o “Mestre” pois, aos 20 anos, como eu ia entender um cara com suas 80 e tantas primaveras?

“Como 42 caixas?”, repliquei agastado co moque tomava co mouma auto desvalorização. “O senhor tem uma bela carreira e seus livros são importantes. Sua trajetória é impecável.”

“Você não entendeu. Falo de uma vida encaixotada que vai para um depósito para ser, dizem, pesquisada, mas que será esquecida como ocorre com todas as vidas. Roída por traças, como diria um duro Machado de Assis que, por sinal, não foi esquecido...”

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Invasão redesenha mapa geopolítico do Pós-Guerra Fria

O Globo

A entrada de tropas russas em território ucraniano, depois do discurso agressivo em que Vladimir Putin contestou a própria existência da Ucrânia como país independente da Rússia, pôs em marcha um conflito de desdobramentos ainda imprevisíveis no curto prazo. Já houve escalada da mera diplomacia ao endurecimento de sanções, por parte tanto dos americanos quanto dos europeus. A Alemanha suspendeu a licença para um novo gasoduto que traria energia russa à Europa Ocidental.

Analistas se debruçam agora sobre cenários de invasão que vão desde a anexação das duas províncias ucranianas de maioria étnica russa — que a Rússia reconheceu como independentes — até a ocupação de toda a Ucrânia, com ataques aéreos e o avanço dos 190 mil soldados mobilizados por Putin. Independentemente do dano que qualquer conflito venha a causar à região e do choque inevitável na economia global — cujo primeiro sinal é a nova alta na cotação do petróleo —, estão no médio e longo prazos as consequências mais preocupantes.

Poesia | Carlos Pena Filho: Elegia para a adolescência

 

Música | Coral Edgard Moraes: Carlos Fernando

 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Míriam Leitão: Rui Costa defende um pacto nacional


O Globo

O governador Rui Costa, da Bahia, acha que o PT deveria conversar com economistas de outras visões e com pessoas de todo o arco da sociedade, “porque para colocar o Brasil nos trilhos vai ser preciso a ajuda de muita gente e um pacto de governança”. Ele concorda com o senador Jaques Wagner de que o PT precisa de humildade durante o processo eleitoral e, se ganhar, para governar o Brasil.

— A situação está muito pior do que quando Lula assumiu em 2003. Nós tínhamos naquela época um país mais estável, com ferramentas e possibilidades macroeconômicas muito maiores do que temos hoje. Com imagem e credibilidade no exterior. O cenário interno e internacional era mais favorável. Temos que ter a dimensão do desafio e a noção de que precisamos de muitas pessoas para colocar o Brasil de volta nos trilhos —afirmou. Eu o entrevistei na Globonews.

Perguntei se o PT havia errado ao chamar de “herança maldita” a administração de Fernando Henrique Cardoso. Ele respondeu: “Sem dúvida.” E voltou a falar nos terríveis indicadores de hoje, inflação, desemprego, queda da credibilidade, aumento da pobreza, a fome de volta:

Merval Pereira: Maioria regressiva no STF

O Globo

O presidente Bolsonaro tem dito que sua reeleição neste ano representará uma espécie de “bônus” para os conservadores brasileiros, a possibilidade de nomear mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele já indicou dois, Nunes Marques e André Mendonça, que já deram mostra de compromissos retrógrados em relação à liberdade de expressão, e teria direito a indicar os sucessores de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Ambos têm 73 anos e, de acordo com as regras atuais, deixam a Corte em 2023 ao completarem 75.

A movimentação política em torno das nomeações para o Supremo tem repercutido no Congresso, com diversos projetos e emendas constitucionais sendo apresentados. Há na Câmara até uma proposta de emenda constitucional para que se volte à idade máxima de 70 anos para a aposentadoria compulsória de ministros do Supremo, em todos os tribunais superiores e mesmo no Tribunal de Contas da União. A ampliação para 75 anos, aliás, foi feita para impedir que a presidente Dilma pudesse nomear mais ministros durante sua gestão.

Carlos Andreazza: Me embosca que eu gosto

O Globo

O governo tem uma só dimensão: engrenagem a serviço da reeleição. Para isto existe e opera: para que o presidente, sujeito de índole golpista, permaneça no poder. O autocrata vai às urnas — e contra as urnas dispara suspeições. Padrão. Há método nessa atitude. Atacar é a maneira de eletrizar seus radicais. Ataca as urnas eletrônicas para ser competitivo nas urnas eletrônicas; e para que seus extremistas tenham ouvidos treinados ao apito caso a competitividade eleitoral não seja suficiente. Trata-se de um golpista, afinal.

E o golpista vai às urnas. Vai às urnas o autocrata que ministra golpismos desde a cadeira de presidente da República.

Jair Bolsonaro pretende ser, e creio que será, competitivo investindo na sociedade com Ciro Nogueira/Arthur Lira/Valdemar Costa Neto, pactuada no modo como o Orçamento de 2022 foi transformado-transtornado — com Guedes, com tudo — num grande orçamento secreto; e apostando no despertar, iniciada a campanha, do sentimento antilulopetista, rejeição que estaria adormecida. Esses seriam os caminhos para que crescesse até a vitória.

João Bernardo Kappen*: Um trauma legal

O Globo

Há coisas que não devem ser esquecidas para que não sejam repetidas, e há coisas que precisam ser lembradas, como os traumas, para que sejam superadas. Uma delas é que a Constituição brasileira diz que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Só pode ser considerado culpado quem tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva, sem possibilidade de recurso. E quem não tem, é o quê? Inocente. É o que prescreve a Constituição, goste-se ou não. Assim, a tese que se repete por aí de que o ex-presidente Lula não é inocente porque não foi absolvido não passa do desejo pessoal de interferir no processo eleitoral que se avizinha. Ele — como todos os que estão na mesma situação — é inocente justamente porque não tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva.

Eliane Cantanhêde: Fatos e sonhos

O Estado de S. Paulo

Em vez de cair, Bolsonaro recupera pontos lentamente e não está fora do segundo turno

No dia seguinte ao Festival da Ovelha, banhistas de Atlântida, no Rio Grande do Sul, divertiam-se fazendo churrasco na areia da praia. Cena inusual, digna de curiosidade e elogio. Mas o dono de uma das barracas reagiu mal, ao ver que a curiosa era de Brasília: “Sai ‘pra’ lá! Vai comer churrasco com o Lula!”

Isso mostra várias coisas: a politização de tudo, a grosseria de certos bolsonaristas, a força do “mito” no Sul e que, se adversários acham que o presidente Jair Bolsonaro já perdeu, estão enganados. Assim como o trumpismo nos EUA, o bolsonarismo está enraizado no Brasil.

Andrea Jubé: Navalha na carne

Valor Econômico

Boulos alerta para ofensiva do governo sobre a periferia

No comício de despedida da campanha de Fernando Haddad no Rio de Janeiro, a cinco dias da votação no segundo turno, o rapper Mano Brown jogou água no chope da festa petista. Ao discursar no palco do evento, ele criticou o distanciamento do PT do eleitor da periferia e a perda de comunicação da legenda com esse eleitorado.

“Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, alertou. “Partido dos trabalhadores tem que entender o que o povo quer, se não sabe, volta pra base e vai procurar saber. Se falhou, vai ter que pagar mesmo”. E o PT pagou com a derrota para Jair Bolsonaro após quatro vitórias consecutivas nos pleitos presidenciais.

Pedro Cafardo: Com sua licença, uma digressão otimista

Valor Econômico

Como no pós-guerra, “anos dourados” podem suceder a pandemia

A situação atual no mundo e principalmente no Brasil permanece tão assustadora que precisamos pedir licença ou desculpas antecipadas para fazer digressões otimistas sobre o futuro próximo.

Vamos a uma. Quem tem fé pode rezar e quem não tem, torcer para que o período pós-pandemia, ansiosamente esperado, seja semelhante ao pós-Segunda Guerra Mundial. A ômicron ainda atinge todo o planeta e aterroriza o Brasil em razão do estúpido negacionismo governamental. Apesar disso, as gerações atuais, depois de dois ou três sofridos anos da covid-19, talvez tenham a chance de saborear uma reprise dos “Anos Dourados” que sucederam o maior conflito bélico da humanidade, de 1939 a 1945, quando morreram 60 milhões de pessoas.

Hélio Schwartsman: Presidência com menos poderes

Folha de S. Paulo

O que quer que Lula planeje fazer caso eleito sairá caro

O PT e o PSB conseguirão montar uma federação? O Kassab, cujo partido não é de esquerda nem de direita nem de centro, vai apoiar Lula, Bolsonaro ou vai mesmo insistir num candidato próprio? Eu não diria que essas questões sejam desimportantes, mas elas não parecem capazes de alterar muito o "grand jeu", que se encaminha para uma disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Na verdade, a menos que surjam os tais dos fatos novos, eu nem esperaria grandes mudanças nas pesquisas eleitorais até julho ou agosto, que é quando o eleitor começa a se posicionar mais seriamente em relação à sucessão presidencial e as campanhas efetivamente têm início.

Alvaro Costa e Silva: Candidatos terrivelmente bolsonaristas

Folha de S. Paulo

Além de Bolsonaro, Cláudio Castro tem o apoio dos filhos de Cabral, Garotinho, Picciani e Cunha

O cara, o peixe, o deus da pequena área, o baixinho. Mais de mil gols. Campeão do mundo em 1994, ídolo do Vasco, Flamengo, Barcelona e um dos maiores craques do futebol brasileiro, Romário entrou para a política em 2010. Aí o encanto começou a acabar. Manteve os privilégios dos tempos de jogador paparicado, mas sua imagem ruiu. Hoje, para continuar no jogo, resolveu ele próprio paparicar o poder.

Cristina Serra: Telegram e o ataque à democracia

Folha de S. Paulo

Tudo indica que ele será o substituto, piorado, do que foi o WhatsApp em 2018

Reportagem de Marcelo Rocha, publicada nesta Folha, mostra que o aplicativo de mensagens Telegram tem representante legal no Brasil, desde 2015. O empresário russo Palev Durov, um dos fundadores da plataforma, contratou o escritório Araripe & Associados, do Rio de Janeiro, para representá-lo junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, órgão do governo federal que faz o registro de marcas no país.

A revelação tira o Telegram da conveniente clandestinidade em que tentou permanecer até agora, ignorando esforços de contato das autoridades do Judiciário brasileiro. Há seis meses o aplicativo não responde a uma determinação do STF para remover publicação de Bolsonaro com ataques às urnas eletrônicas. Também ignora convite do TSE para discutir o combate a mentiras na campanha eleitoral que se aproxima. É como se dissesse: "E daí?".

Luiz Carlos Azedo: Nova “guerra fria” esquenta com escalada da crise ucraniana

Correio Braziliense

A intervenção militar russa em Donets e Luhansk é a antessala de uma guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, ou seja, de uma crise sem precedentes na Europa

O grande herói do trabalho da antiga União Soviética nasceu na última noite de agosto de 1935, quando o mineiro Alexei Stakhanov extraiu 105 toneladas de carvão em seis horas de trabalho. A cota era de sete toneladas. A proeza do jovem operário da mina Irmino, na bacia carbonífera às margens do rio Donets, deu origem ao chamado “stakhanovismo”, um movimento de emulação entre trabalhadores com objetivo de aumentar a produtividade da economia.

Em pleno esforço de industrialização pesada da antiga Rússia e de coletivização forçada do campo (que daria origem à “grande fome” na Ucrânia), o movimento empolgou os mineiros da região e se estendeu a outros ramos da economia. A máquina de propaganda de Joseph Stálin alçou à categoria de heróis comunistas operários e agricultores que se destacaram por bater recordes de produção.

Joel Pinheiro da Fonseca: Nada de apaziguamento agora

Folha de S. Paulo

Entre a União Europeia e uma ditadura expansionista, a escolha não é difícil, mas será pela força

O imperialismo norte-americano é ruim; mas você já viu as alternativas? Nesta segunda-feira (21) tivemos o gostinho de uma delas: o preparo explícito de uma ofensiva russa contra a Ucrânia.

Claro que, hoje em dia, nenhum país admite ter ambições. Não faltaram motivos alegados no discurso agressivo de segunda à noite para reconhecer oficialmente a independência de territórios ucranianos que hoje estão parcialmente nas mãos de grupos separatistas pró-Rússia.

Agora já abriu o terreno para invadir militarmente a Ucrânia. Acusou até o governo ucraniano e as nações ocidentais de patrocinarem terrorismo islâmico.

Mas Putin foi além. Em seu discurso, a Ucrânia nada mais é do que uma criação do Estado russo soviético.

Rubens Barbosa*: Fato novo no cenário internacional

O Estado de S. Paulo

Aliança estratégica, sem limites, entre China e Rússia, pelo peso político e econômico destes países, poderá ser um marco na geopolítica global

No meio da crise entre a Rússia e a Ucrânia, no início de fevereiro, depois de encontro entre Vladimir Putin e Xi Jinping, os governos da Rússia e da China divulgaram um longo comunicado que constitui um fato novo na ordem internacional e no desenvolvimento sustentável global. Neste contexto, ressaltam a emergência de uma nova era, que deveria ser consolidada evitando o estímulo à divisão da comunidade internacional.

Na visão da segunda maior potência global (China) e do segundo país com maior capacidade nuclear (Rússia), a ordem internacional passa por profundas transformações e tornou-se multipolar, com a redistribuição de poder no mundo, o que justificaria uma interação e uma interdependência entre os países, e não o incitamento às contradições e ações unilaterais. Por isso, pedem o reconhecimento desta nova fase, cuja principal referência seriam as Nações Unidas e o Conselho de Segurança da ONU.

Sergio Amaral*: Conflagrações exigem nova política externa

O Estado de S. Paulo

Num mundo como o de hoje, não é mais possível estabelecer uma fronteira nítida entre o que é interno e o que é internacional

Os temas de política externa raramente recebem destaque em campanhas eleitorais, inclusive para presidente da República. Isso é em parte compreensível. País de dimensões continentais, seus conflitos de fronteira foram, em sua maioria, negociados pelo Barão do Rio Branco. As grandes conflagrações mundiais não chegaram a semear discórdia entre nós. Desta vez, no entanto, poderá ser diferente. Os equívocos cometidos e as oportunidades perdidas pela diplomacia das trevas que se instalou no País nos primeiros anos do atual governo demandam um amplo debate para entender os desafios, delinear correções e novos rumos. As próximas eleições serão uma oportunidade para isso.

Cristovam Buarque*: Chuva e escola

Correio Braziliense

A chuva provocou a tragédia, mas não foi culpada por ela. O que aconteceu em Petrópolis, semana passada, tem responsáveis claros: o descaso com o uso do solo urbano e a irresponsabilidade na aplicação dos recursos públicos pelos atuais dirigentes; a permanência da pobreza, apesar da riqueza nacional. Não se sabia o dia e a hora, nem a quantidade de chuva, mas sabia-se que, mais dia menos dia, em Petrópolis ou em outra cidade, dezenas de pessoas, inclusive crianças, seriam soterradas. A dor dessas famílias já vinha sendo construída. 

Anos depois de anos, governantes impuseram um desenvolvimento cujos resultados são distribuídos, provocando emigração em massa, que incha as cidades grandes, despreza a regulamentação do solo urbano, usado de maneira temerária, porque a forma mais simples de resolver falta de moradia é construindo casas em lugares onde, mais dia menos dia, serão vitimadas pela chuva. Não é por falta de aviso, a cada ano temos mais de uma tragédia desse tipo em alguma cidade do Brasil. Nossos dirigentes não cuidam do problema. Fecham os olhos ao que já aconteceu e certamente voltará a acontecer.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Senado faz bem em priorizar PEC da reforma tributária

O Globo

O calendário eleitoral não deveria ser pretexto para adiar a agenda de reformas urgentes para modernizar a economia brasileira. Por isso fez bem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao se comprometer com a votação do texto sobre a mudança da estrutura tributária — barafunda injusta, bizarra e freio ao crescimento. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110, relatada pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), deverá ser avaliada ainda nesta semana pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Assim que estiver aprovada na CCJ, Pacheco prometeu levá-la imediatamente ao plenário.

O relator apresentou sua proposta no ano passado. A nova versão que deverá ser examinada na CCJ ainda não veio a público. Se o texto não tiver sido alterado de modo substantivo, trata-se da melhor chance de o Brasil avançar na questão. Por dois motivos: ataca a complexidade da estrutura tributária e elimina impostos cumulativos.

O texto original propõe um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) fundindo vários impostos. A diferença em relação às propostas do tipo é a criação de um sistema dual. Uma parte dos tributos ficaria com a União, a outra com estados e municípios. Ao estabelecer uma legislação nacional para o ICMS e determinar a cobrança no lugar de destino, não mais na origem, a mudança daria fim à guerra fiscal que distorce as decisões de investimento e alocação de recursos.

Poesia| Graziela Melo: A dor III

Perto

de mim

mora

uma dor!

 

Triste,

sombria,

solitária!!!

 

As vezes

ela toca

a campanhinha

de

minha alma!

 

Entreabro

a porta, apenas,

mas ela

sem cerimonia

enfia os dedos,

entra

e se instala!

 

E canta

e me encanta

e me embala!!!

 

Fico em

silêncio...

 

Mas ela chora

ela fala!

 

Triste,

minha alma

ouve,

sofre

e cala!!!!

Música | Dudu Nobre: Sinhá, Sinhá / Gamação / Peixeiro Granfino /Sinhá, Sinhá (Candeia)

 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Fernando Gabeira: O lugar da Amazônia nas eleições de 2022

O Globo

Na semana passada, tive a chance de moderar um debate, organizado pela rede Uma Concertação pela Amazônia, sobre o papel da região nas eleições. O encontro virtual envolveu líderes indígenas, empresários e artistas da própria região, assim como inúmeras e importantes vozes nacionais.

A ideia básica era oferecer algumas propostas aos candidatos à Presidência e aos que ocuparão o Congresso. A primeira questão que se levanta é esta: se os partidos têm gente especializada para formular programas, por que se importar com o tema?

Por mais que um pequeno grupo possa formular ideias sobre a Amazônia, a complexidade e a extensão do problema demandam uma contribuição social, principalmente das pessoas que moram lá.

Demétrio Magnoli: Ruínas da ponte chinesa

O Globo

‘Esta foi a semana que mudou o mundo’, disse Richard Nixon em Xangai, em fevereiro de 1972, numa referência direta ao livro-reportagem “Dez dias que abalaram o mundo”, de John Reed, sobre a Revolução Russa de 1917. Nas declarações, logo após a assinatura do Comunicado conjunto, o presidente dos EUA anunciou a construção de uma ponte imaginária “através de 16 mil milhas e 22 anos de hostilidades”. A ponte ajudou a encerrar a Guerra Fria e abriu caminho à integração da China ao mundo, mas não ficou em pé para celebrar seu aniversário de 50 anos.

Sem o encontro histórico de Nixon com Mao Tsé-tung, não é fácil enxergar a transição chinesa do fracassado modelo estatista à “economia socialista de mercado” que começou em 1979, sob Deng Xiaoping. Sem o Comunicado de Xangai, base da aproximação geopolítica entre China e EUA, quem sabe quanto tempo ainda viveria a URSS?

Marcus André Melo: Lula e a reformafobia

Folha de S. Paulo

É contraintuitivo que Lula apresente-se como candidato antirreforma

Já me referi aqui na coluna à crítica implacável de Eça de Queiroz n’"As Farpas" ao reformista retórico. Eça escarneceu de uma infinidade de subtipos: reformeiros, reforminhas, reformecos, reformaricas, reformânticos, etc. Mas há um subtipo que Eça apelidou de reformafóbico, que Lula está encarnando à perfeição: "Quem é que disse que o Brasil precisava das reformas?", perguntou, referindo-se à reforma trabalhista, da Previdência e ao teto de gasto.

Eça mirava no elemento retórico de reformas meramente discursivas, ritualísticas. Elas servem, afirmou, para "um ministério fingir que administra, iludir a nação ingênua, imitar a iniciativa fecunda dos reformadores ‘lá de fora’ , aparentar zelo pelo bem da pátria, justificar a sua permanência no poder, fornecer alimento à oratória constitucional".

Eça restringiu-se às reformas como discurso e demagogia. Lula a reformas implementadas. Falar é barato. Credibilidade e reputação é o que importa.

Celso Rocha de Barros: Bolsonaro pede bênção a papai Orbán

Folha de S. Paulo

A viagem-manifesto do presidente foi um spoiler dos seus próximos movimentos

Com dois anos de atraso, Bolsonaro finalmente conseguiu fazer a viagem-manifesto que queria. Bolsonaro planejava visitar os líderes autoritários de Hungria e Polônia em 2020, na mesma época em que começou a convocar atos golpistas, mas foi impedido pela pandemia.

Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, foi um dos poucos chefes de Estado que compareceram à posse de Jair. Logo depois da eleição, Eduardo Bolsonaro foi a Budapeste e voltou dizendo que havia aprendido como se lida com a imprensa. Na semana passada, a viagem-manifesto finalmente aconteceu.

Janela do troca-troca partidário na Câmara será teste de força para 3ª via

PT de Lula deve manter tamanho, PL de Bolsonaro cresce e demais presidenciáveis lutam para não murchar

Danielle Brant, Ranier Bragon, Renato Machado / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A janela do troca-troca partidário na Câmara dos Deputados, que se abrirá no dia 3 de março e irá até 1º de abril, representará um teste de força dos presidenciáveis da chamada terceira via, que tentam se desvencilhar do balaio de candidatos com baixa pontuação nas pesquisas e chegar perto dos dois mais bem posicionados, o ex-presidente Lula (PT) e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL).

Um fator primordial moverá os deputados: a avaliação sobre qual partido lhes dará as melhores condições regionais para conseguir a reeleição em outubro.

Para isso, é preciso haver uma definição mais clara sobre quais siglas vão de fato se unir em federações. A nova regra que permite a união de legendas aumenta a chance de eleição dos candidatos do bloco, mas exige atuação conjunta nos quatro anos da legislatura.

O PT, de Lula, que tem uma identidade ideológica mais consolidada, deverá ficar praticamente intacto, saindo dos atuais 53 deputados para 54, com a volta do deputado Josias Gomes (hoje secretário de desenvolvimento Rural da Bahia). A sigla é a segunda maior da Casa.

O PL de Valdemar Costa Neto, que conseguiu vencer a disputa e filiar Jair Bolsonaro, deverá ser a sigla que terá o maior crescimento, saindo dos atuais 43 para cerca de 60. Com isso, poderá ser a maior da Casa a partir de abril.

No pelotão da chamada terceira via, a disputa maior é para não murchar.

Ana Cristina Rosa: As vítimas do desleixo

Folha de S. Paulo

Praticamente nada foi feito para evitar que desgraça similar se repetisse

Quanto vale uma vida? Quem é razoavelmente instruído há de dizer que a vida não tem preço, é direito fundamental e inviolável previsto na Constituição Federal. No dia a dia, porém, o valor da vida no Brasil está atrelado a fatores como o Código de Endereçamento Postal (CEP) da residência, a cor da pele, a rede de contatos e o poder econômico da pessoa. E, como cantou Elza Soares, a voz do milênio, "a carne mais barata do mercado é a carne negra".

Mirtes Cordeiro*: Educação, a grande janela para a vida

João Lucca, meu neto, fez sete anos e atingiu a idade da razão.

Geralmente se pensa e se conta que a idade cronológica começa a partir do nascimento. Não é assim. A vida intrauterina desenvolve o ser humano em suas características físicas, genéticas e estabelecem outras relações entre a mãe e o bebê e o meio ambiente em que os dois estão habitando. Estudiosos falam do desenvolvimento do bebê no útero e mencionam sua estreita relação, começando aí, através da identificação da fala da mãe, a sua preferência e segurança.

Saindo da segunda infância que vai até os 6 anos, na visão de alguns estudiosos da psicologia, e adentrando à terceira infância que vai até os 11 anos. João abre uma janela muito importante na sua vida, porque diminuem as atitudes egocentristas, sai um pouco de si mesmo, se abre para o mundo através da estimulação da linguagem e da memória, logo se dispondo a ler, escrever e interpretar o que ler e o que conhece.

Carlos Pereira: A fantasia do bom governante

O Estado de S. Paulo

Lula não soube lidar com o Legislativo no passado e dá sinais de que não aprendeu a lição

Ao contrário do que muitos acreditam, a boa relação com o Legislativo não é determinada por habilidades pessoais do presidente, mas por suas escolhas de como montar e gerenciar coalizões. Mesmo presidentes que desfrutam de maiorias não serão bem-sucedidos no Legislativo se tais coalizões forem incongruentes com as preferências do Congresso.

Quanto mais a coalizão do presidente espelhar as preferências dos legisladores, mais fácil e mais barato seria governar. Por outro lado, quanto maior a diferença de preferências entre a coalizão e o Congresso, mais difícil e cara seria a gestão da coalizão e maior a probabilidade de forças minoritárias do Legislativo obstaculizarem o governo. A distância de preferências entre a coalizão e o Congresso é, portanto, o fator-chave para explicar tanto o sucesso legislativo do presidente, como também o custo de governabilidade. Há uma narrativa de que Lula, quando presidente, soube negociar bem com os parlamentares; mas dados evidenciam o contrário.