sábado, 11 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Supremo restaura critério técnico nas estatais

O Globo

Apesar de condescendente com governo Lula, STF ajuda a manter qualificação do setor público

A Lei das Estatais está no centro de intensa discussão jurídica desde que o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski concedeu, em março do ano passado, liminar para suspender artigos que estabeleciam requisitos — comuns na iniciativa privada — para nomeação à diretoria e participação em conselhos dessas empresas públicas. Por 8 votos a 3, o STF avalizou a constitucionalidade da lei e confirmou as exigências que, ao restringir a nomeação de políticos, preservam a administração técnica das estatais.

Numa solução de compromisso, a decisão incluiu a garantia de que os nomeados durante a vigência da liminar expedida por Lewandowski poderão permanecer no cargo, ainda que não atendam ao perfil determinado pela lei. Não é a melhor solução possível para a gestão durante o atual governo. Mesmo assim, a confirmação da constitucionalidade da lei representa um avanço na direção da desejada profissionalização do setor público.

Pablo Ortellado - Guerra de informação em meio à tragédia

O Globo

Perdemos outra vez a oportunidade de nos unir e dar as mãos em solidariedade

Uma antiga máxima política diz que guerras e catástrofes unificam o país. No passado, políticos enfrentando dificuldades chegaram a se lançar em guerras com o único propósito de unir o país sob sua liderança. Mas a máxima não tem funcionado adequadamente em tempos de polarização. Na pandemia, o Brasil não se uniu, mas se dividiu, de maneira ainda mais aflitiva que em tempos de normalidade. Agora, com a tragédia no Rio Grande do Sul, perdemos outra vez a oportunidade de nos unir e dar as mãos em solidariedade.

Quando meio milhão de gaúchos atingidos pelas enchentes tiveram de abandonar suas casas, uma enxurrada de publicações e mensagens no meio digital passou a promover a ideia de que o governo e entidades governamentais não apenas não se empenhavam em ajudar a população, como criavam obstáculos, exigindo licenças de quem queria ajudar com lanchas, barcos e jet-skis ou notas fiscais de caminhões e carros que traziam doações. Nem o Exército brasileiro foi poupado das críticas.

Alvaro Costa e Silva - A chuva política

Folha de S. Paulo

Quem mais trabalha para acelerar a crise climática é o Congresso

"Todos os modelos climáticos mostram que, com o aumento da temperatura global, vai aumentar a quantidade de chuvas e secas intensas", disse o físico Paulo Artaxo para a repórter Jéssica Maes. Ele deu a declaração após o flagelo no Rio Grande do Sul. Mas há pelo menos 20 anos ouvimos a frase, quase com as mesmas palavras, e nada tem sido feito.

Na contramão do que recomenda o pesquisador da USP, a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real em prevenção a enchentes em 2023. "Aumentar o orçamento das defesas civis, multiplicando por cinco, por dez. Desse modo, é possível ter toda a estrutura de resgate pronta antes de desastres acontecerem e salvar vidas", afirmou Artaxo, lembrando que o prejuízo é maior para a população de baixa renda, que não tem para onde ir.

Eduardo Affonso - Oportunismo e insensibilidade

O Globo

É a eterna briga entre Estado mínimo e Estado paternalista, e o Estado eficiente que lute para ser levado em conta

Uma lenda urbana prosperou durante a pandemia de Covid-19: superada a emergência sanitária, nos tornaríamos pessoas melhores. A tragédia global teria o “lado bom” de turbinar a solidariedade. O isolamento social nos faria redescobrir a vida, à Vinícius de Moraes, como a arte do encontro. Passado o flagelo, caídas as máscaras, haveria mais abraços, e ninguém soltaria a mão de ninguém.

Balela.

A calamidade no Rio Grande do Sul mostra que continuamos como dantes — os antivacina e os anticloroquina ladrando uns contra os outros enquanto a enxurrada passa, arrastando vidas, histórias, História. Catástrofes em regiões de população majoritariamente preta e parda recebem o carimbo de “racismo ambiental”; no Sul, com vítimas de ascendência europeia, a responsabilidade vai para os governos neoliberais. É a eterna briga entre Estado mínimo e Estado paternalista — e o Estado eficiente que lute para ser levado em conta.

Hélio Schwartsman - Lula, Caramelo e a tragédia

Folha de s. Paulo

Muitas falhas contribuíram para o desastre no RS, mas nas batalhas simbólicas Brasil não se sai tão mal

situação no Rio Grande do Sul é de guerra, e guerras são vencidas ou perdidas também no plano simbólico. Isso gera alguns paradoxos.

No reino do estritamente objetivo, não faria sentido mobilizar recursos para salvar o cavalo Caramelo, em Canoas, quando ainda há muitos seres humanos que precisam de socorro. Mas o resgate do equino, que comoveu o país, cumpre a função de unir a população para enfrentar a tragédia. O sinal que a operação transmitiu foi o de que não somos indiferentes à dor de ninguém —nem mesmo da de outras espécies— e saberemos superar os desafios que nos são impostos. Caramelo é o Rio Grande.

Dora Kramer - Lição do abismo

Folha de S. Paulo

O Brasil é bom de ajuda, mas é preciso ser ainda melhor na prevenção dos desastres

O Brasil é um país bom de ajuda. A sociedade se mobiliza e o poder público, quando quer e se empenha, faz a sua parte com rapidez e competência. Vimos isso nas ações de solidariedade na pandemia, nas atuações de estados, dos Poderes Legislativo e Judiciário num momento em que o Executivo jogava contra.

Estamos vendo agora o país se movimentar em socorro ao Rio Grande do Sul. A tragédia sensibiliza, mas a precaução que poderia minorar as consequências de desastres, naturais ou não, não é um fator que nos aflija de modo contundente. Fala-se disso na hora do aperto, e depois o habitual tem sido o esquecimento até a próxima calamidade.

Rodrigo Zeidan - A reconstrução do Rio Grande do Sul

Folha de S. Paulo

Podemos aprender com erros e acertos de experiências como o furacão Katrina

Os efeitos econômicos de desastres naturais podem ter dono ou não. Não me interessa muito, neste momento, buscar culpados. Como muitos brasileiros, admiro quem está fazendo o máximo para ajudar e espero muito mais das esferas governamentais. Obrigado a todos os brasileiros que estão doando, dos mais pobres às celebridades, que estão gastando tempo e dinheiro tentando fazer algo.

Como analista, me preocupo com a reconstrução de Porto Alegre e outras cidades. E, sim, partes de muitas cidades precisam ser reconstruídas, não na sua essência, mas em infraestrutura e organização para sobreviver aos próximos desastres, alguns que serão inevitáveis. E podemos aprender com os erros e acertos de experiências internacionais, como as dos furacões Katrina e Rita, que devastaram Nova Orleans e outras cidades em 2005.

Demétrio Magnoli - Vozes do país carimbado

Folha de S. Paulo

Há contraste entre um país abençoado por verbas e outro na incerteza dos recursos extraordinários

As águas do Guaíba submergiram vastas áreas da Grande Porto Alegre. Mas as enchentes trouxeram à tona o contraste entre dois países: um abençoado por verbas carimbadas; outro suspenso na incerteza dos recursos extraordinários.

No ápice da tragédia, com águas ainda superando a cota dos 5 metros, o Congresso e o governo concordaram em desviar as emendas de parlamentares do RS para as urgências da catástrofe. Generoso, à luz dos holofotes, o país carimbado estendia uma mão ao país mendicante. Lá, na trincheira, voluntários empregavam barcos, jet skis e até pranchas de surfe no resgate das vítimas.

Carlos Andreazza - Bravo Dias Toffoli

O Estado de S. Paulo

É um perigo quando nosso editor supremo fica bravo com a imprensa

Dias Toffoli não gosta de jornalismo e está bravo com a imprensa. Não quer que suas viagens para palestrar em eventos privados sejam questionadas. As reportagens a respeito seriam “absolutamente inadequadas, incorretas e injustas”.

É um perigo quando nosso editor supremo – “enquanto Suprema Corte, nós somos editores de um país inteiro” – fica bravo com a imprensa. O monocrata, que compreende o tribunal como poder moderador, pode exercer seu autoritarismo – não deixa de ser forma de edição – ordenando censura.

Não é preconceito. O “amigo do amigo do meu pai” não apreciou quando a Crusoé contou que ele seria o amigo de Lula, amigo de Emílio, pai do delator Marcelo Odebrecht. A matéria foi tirada do ar, os inquéritos xandônicos mostrando a que vinham – em defesa da democracia – já em 2019. Censura virtuosa. Ninguém está livre.

Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco - Livres da polarização

O Estado de S. Paulo

Quem falará pelos 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas?

Há no Brasil de hoje dezenas de milhões de eleitores que não se sentem representados pelas forças que dominam a arena política. São esses – em boa parte – os que apoiam a democracia como um valor universal e que são contra toda sorte de preconceitos e discriminações. São os que acreditam na eficiência do Estado, mas defendem uma economia livre, querem aliar desenvolvimento e sustentabilidade, desejam empreender, mas precisam de apoio ou, quando menos, que não sejam atrapalhados, os que sabem que segurança é inteligência e a violência, irmã da desigualdade.

Cristovam Buarque - Populismo educacional

Revista Veja

É errada a ideia de educação superior como sinônimo de civilização

Nas últimas décadas, sucessivos governos democráticos adotaram o populismo educacional que prioriza o ensino superior sobre a educação de base. Aumentaram nas universidades vagas que agora não são preenchidas por três razões: o número de concluintes do ensino médio não cresceu na mesma proporção do aumento de vagas no ensino superior; a falta de cuidado com a educação de base forma candidatos reprovados no vestibular ou sem preparo para concluir seus cursos; e o ensino superior já não atrai porque seu propósito passou a ser o diploma, sem compromisso com a qualidade para assegurar empregabilidade e inclusão na atual era do conhecimento. Com o ensino médio de qualidade apenas para poucos, fracassou a estratégia educacional de iludir com a promessa de universidade para todos.

Aldo Fornazieri - A era das catástrofes

CartaCapital

Os desastres ambientais só vão piorar. É hora de a sociedade tratar os políticos negacionistas como criminosos

As enchentes diluvianas que devastam o Rio Grande do Sul, somadas a outros desastres ambientais em todo o planeta, não deixam dúvida: vivemos uma era de eventos catastróficos que só tendem a se ampliar e se intensificar. Mesmo assim, os governantes e as sociedades se comportam como ébrios delirantes que caminham alegremente para o abismo.

Não existem mais dúvidas científicas de que essa era é provocada pela ação depredadora dos seres humanos. Catástrofes ambientais ocorreram no passado, mas, pela primeira vez na história do planeta, as violentas mudanças ambientais são provocadas pelas ações humanas. O antropocentrismo tem gerado o caminho de uma mudança de era geológica, caracterizada como Antropoceno. Embora o Comitê da União Internacional de Ciências Geológicas, em votação realizada em fevereiro de 2024, tenha recusado reconhecer a presente era como Antropogênica, muitos cientistas e pesquisadores argumentam que as evidências e as marcas das ações humanas no planeta legitimam a adoção da tese.

Nathan Caixeta e Luiz Gonzaga Belluzzo - Traquinagens econométricas

CartaCapital

Avesso a incertezas, o modelo traz a convicção de que expansão fiscal é desgraça e austeridade, salvação

Em sua coluna semanal na ­Folha, o simpático palmeirense e economista Samuel Pessôa ofereceu espaço ao conceito de “superávit primário estrutural”, uma metodologia de cálculo do resultado fiscal que pretende normalizar as flutuações do ciclo econômico sobre as contas do governo, ocupando-se também dos eventos “não recorrentes”, como os gastos com a pandemia, desastres climáticos etc.

O Instituto Fiscal Independente (IFI) tem se encarregado de adaptar essa metodologia para as contas públicas do ­País desde 2021. A ideia de Resultado Fiscal Estrutural, segundo seus orgulhosos desenvolvedores, é a seguinte: “…eliminar efeitos alheios ao comportamento da autoridade fiscal e que possam turvar as análises sobre o resultado primário convencional. Assim, o RPE viabiliza obter análise mais acurada a respeito do grau de expansionismo da política fiscal ao longo do tempo”.

Marcus Pestana - Orçamento público x Orçamento Familiar

A economia tem múltiplas consequências na vida social, no processo político e no cotidiano das famílias.

Nos últimos artigos procurei discutir a dinâmica da economia brasileira através de conceitos simples. Qualquer um sabe o que são receitas, despesas, poupança, déficits, dívida e juros. 

Como vimos, o governo federal brasileiro tem acumulado déficits primários (onde se excluem as despesas de juros) desde 2014, com a exceção do pequeno e artificial superávit de 2022. Ou seja, o governo gasta mais do que arrecada. Se somarmos os juros da dívida, o quadro fica ainda pior. A dívida pública brasileira é alta para um país emergente. 

Poesia | Deixa-me seguir para o mar, de Mário Quintana

 

Música | Teresa Cristina - Coração Leviano (Paulinho da Viola)

 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Geração "nem-nem" e o mercado de trabalho

Correio Braziliense

Fatores como abandono escolar, baixo rendimento acadêmico e ausência de competências básicas contribuem de maneira significativa para esse problema

O Brasil passa por um momento desafiador com a crescente ascensão dos "nem-nem", jovens que não estudam nem trabalham. Segundo dados do IBGE, aproximadamente um em cada cinco jovens brasileiros, com idades entre 15 e 29 anos, se encontram nessa situação, totalizando quase 11 milhões de pessoas. Esse quadro se torna mais preocupante entre os jovens de 18 a 24 anos, faixa em que a porcentagem de "nem-nem" chega a 24,4%. Os dados são de 2022 e especialistas acreditam que esses números são ainda maiores dois anos depois.

Uma das principais consequências dessa tendência é a escassez de mão de obra qualificada no Brasil. Fatores como abandono escolar, baixo rendimento acadêmico e ausência de competências básicas contribuem de maneira significativa para esse problema. Além disso, aspectos econômicos e sociais, como a realidade familiar e a condição de pobreza, exercem um papel crucial na perpetuação do fenômeno "nem-nem".

Vera Magalhães - Supremo age como garantidor do governo

O Globo

Se ir ao STF como forma de reabrir negociações políticas virar prática recorrente, a palavra da Corte ficará desmoralizada

Dois episódios desta semana reforçam a ideia, bastante disseminada no Congresso e em setores da sociedade, igualmente deletéria para a harmonia entre os Poderes, de que o governo Lula enxerga o Supremo Tribunal Federal (STF) como uma instância para dirimir conflitos e garantir a implementação de sua agenda.

Numa decisão para lá de acochambrada, a Corte determinou, pelo maiúsculo placar de 8 votos a 3, que a Lei das Estatais, de 2016, não só é constitucional como representou um avanço importante na governança de empresas públicas e de economia mista e de suas subsidiárias.

Um após outro, os oito ministros que votaram pela manutenção do dispositivo da lei que vedou a indicação de dirigentes partidários e de quem participou ativamente de campanhas políticas para a diretoria e para os conselhos dessas empresas foram pródigos em elogios quanto aos aspectos republicanos da legislação.

César Felício - Redes sociais turvam a visão de horror no RS

Valor Econômico

Há quase 19 anos, na última semana de agosto de 2005, um furacão classe 5 se formou próximo ao litoral das Bahamas, dirigiu-se para o norte da Flórida e desviou-se à esquerda para atingir a costa da Louisiana com ventos acima de 200 quilômetros por hora. As ondas levantadas pelo Katrina venceram sem dificuldades os diques que protegiam a cidade de Nova Orleans do avanço das águas e 80% da malha urbana ficou submersa.

Perderiam a vida 1.836 pessoas. Os Estados Unidos estavam diante do desastre climático mais mortal da história do País em 77 anos e o que mais danos econômicos provocou, estimados em US$ 146 bilhões em valores da época. Provocou a maior diáspora até então registrada, com 1 milhão de migrantes. Furacões são fenômeno típico do Caribe desde sempre, mas aquele elevou a um outro patamar a discussão na opinião pública sobre a vulnerabilidade em relação a eventos extremos e a capacidade governamental de administrar seus efeitos.

Flávia Oliveira - O Estado emerge

O Globo

A mão invisível do mercado não soluciona calamidade pública

Mais uma vez, em quatro anos, a relevância do Estado emerge da catástrofe. A pandemia de Covid-19 deveria ter sido suficiente para demonstrar que a mão invisível do mercado não soluciona calamidade pública. Lá atrás, precisamos de auxílio emergencial para garantir a renda de quem ficou sem condições de trabalhar. Necessitamos de leitos hospitalares, respiradores, medicamentos, vacina; e o Sistema Único de Saúde se fez presente. Viva!

Rio Grande do Sul colapsou com a tempestade bíblica combinada a décadas de desprezo ambiental. Projetos de desenvolvimento movidos por pura ganância devastaram biomas em todo o país, do Cerrado à Amazônia, da Mata Atlântica ao Pampa. Ante o desequilíbrio evidente, sofremos todos — sobretudo, os vulneráveis, crianças e idosos; pretos, pobres e mulheres; indígenas e quilombolas. Agora, até quem se catapultou politicamente demonizando o Estado dele se socorre.

Luiz Carlos Azedo - Caso Marielle nas mãos de Moraes pode ter efeito dominó

Correio Braziliense

Testemunhas e triangulação de sinais de celular, entre outros elementos, comprovam o envolvimento dos irmãos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa na morte da vereadora carioca

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), ontem, como mandantes dos assassinatos da ex-vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, no Centro do Rio de Janeiro. A denúncia foi encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e pode ter um efeito dominó para o crime organizado no Rio de Janeiro.

Tanto que também foram presos, ontem, Robson Calixto da Fonseca, o “Peixe”, ex-assessor de Domingos Brazão, e o policial militar Ronald Paulo Alves Pereira, o Major RonaldO militar é apontado como ex-chefe da milícia da Muzema, na Zona Oeste do Rio. É o fio da meada para desvendar as ligações de políticos cariocas com milicianos e policiais corruptos, principalmente se Rivaldo fizer delação premiada.

Para a PGR, a delação do ex-PM Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, revelou a participação dos irmãos Brazão, que encomendaram o crime, mediante pagamento. Segundo a denúncia, os assassinatos ocorreram por questões fundiárias de áreas dominadas pela milícia.

Bernardo Mello Franco - O dilema de Nunes

O Globo

Prefeito de SP tenta malabarismo para atrair votos do ex-presidente sem herdar sua rejeição

Ser ou não ser bolsonarista? O dilema parece assombrar o prefeito Ricardo Nunes, que concorre à reeleição em São Paulo. O emedebista precisa dos votos de Jair Bolsonaro, mas não quer se contaminar com a rejeição ao ex-presidente. Isso resulta num discurso escorregadio, como se viu na entrevista de ontem ao GLOBO.

Nunes afirmou que não pretende nacionalizar a campanha paulistana. Ao mesmo tempo, disse que o apoio do ex-presidente é “muito importante” e que a realização de agendas em conjunto só depende da vontade dele. Como o capitão mal conhece a cidade, presume-se que ele não será escalado para debater temas municipais, como a poda de árvores ou o trânsito nas marginais.

José de Souza Martins - O significado do Dia do Trabalho

Valor Econômico

O trabalho já não tem a força política, social e simbólica que tinha quando o atual presidente da República se tornou proeminente figura sindical

Os indícios de declínio do Primeiro de Maio suscitam interpretações que mostram o quanto o evento anual esconde significados que nem sempre vêm à tona na própria comemoração. O aparente declínio dos comparecimentos ao ato é declínio do que e, sobretudo, de quem?

De imagem associada à classe trabalhadora, o comparecimento do presidente da República foi interpretado como seu declínio pessoal. Mas a atribuição ao evento de sentido estranho ao que é o trabalho sugere que ele, na concepção brasileira de hoje, já não é o trabalho de outros tempos.

Janaína Figueiredo - Lula quer agenda positiva com Boric

O Globo

Presidentes de esquerda convergem em pontos como defesa dos direitos humanos, pautas econômicas e ambientais, mas diferenças sobre a Venezuela ainda pairam no ar

Na viagem que fará ao Chile no fim da semana que vem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer concentrar a agenda positiva bilateral em temas como ampliação do comércio e investimentos. Como aconteceu quando foi a Bogotá, em abril, Lula chegará a Santiago com uma ampla delegação ministerial e interessado em discutir como aprofundar a relação com o Chile de Gabriel Boric. O brasileiro sabe que não terá como fugir do tema Venezuela — sobre o qual manteve divergências com Boric na cúpula de chefes de Estado da América do Sul, em maio de 2023, em Brasília — mas seu interesse está muito longe de Caracas.

Marcos Augusto Gonçalves - Guerras só aumentam estresse global

Folha de S. Paulo

Crise da ordem liberal, apontada pela revista 'The Economist', pode se aprofundar e expandir conflitos militares

A ordem global das últimas décadas está sob estresse. A grande máquina do mundo, que parecia ter engatado uma nova marcha no arranjo liberal que se desenhou após a queda da União Soviética, vê-se ameaçada por fricções que podem levá-la até mesmo ao colapso.

O termo é forte, mas quem o utiliza como uma possibilidade no horizonte é a revista The Economist, em seu assunto de capa desta semana. A publicação britânica enfatiza uma progressiva deterioração do sistema econômico ocidental, mas não esquece as conexões políticas e institucionais, num quadro de inoperância de organismos como o Conselho de Segurança da ONU ou o FMI, e eclosão de conflitos que levantam o fantasma da guerra.

Bruno Boghossian - A negação do Estado

Folha de S. Paulo

Revolta contra a noção de Estado pega atalho em distorções e justa insatisfação para alimentar uma ilusão

Outro dia, um deputado do Partido Novo foi ao plenário e disse que o Estado não fazia nada pelo Rio Grande do Sul. Para ele, os gaúchos deveriam ser deixados em paz para resolver o problema. Depois, citou uma frase falsamente atribuída a Thomas Jefferson, flertou com um slogan separatista e voltou para o gabinete.

O garoto-propaganda do anarcocapitalismo levou para a tribuna um papo que ganhou tração nas redes durante a tragédia. A despeito do enorme aparato oficial empregado na região, quem estaria socorrendo a população seriam só voluntários, empresários e influenciadores.

André Roncaglia - A busca de Campos Neto por um almoço grátis

Folha de S. Paulo

BC deve conquistar mais legitimidade social antes de obter autonomia financeira e orçamentária

A lei complementar 179/2021, que conferiu autonomia operacional ao Banco Central, estipulou mandato de duração fixa para a diretoria e a presidência. Todavia não previu instrumentos de controle social sobre o banco.

Aprofundando esse insulamento institucional do BC, tramita na Comissão de Constituição e Justiça do Senado a proposta de emenda à Constituição nº 65, de 2023, que concede autonomia financeira e orçamentária ao Banco Central do Brasil, transformando-o em empresa pública desvinculada do Tesouro Nacional. Com relatoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM), o amplo apoio do PL e do União Brasil deixa nítido seu viés conservador.

Campos Neto articula nos bastidores do Congresso a aprovação da PEC até junho deste ano. Alega dificuldades orçamentárias que podem ameaçar a operação do Pix. Porém, no governo Lula, a queda real acumulada do orçamento do BC não chega a 2%. Ao longo da gestão Bolsonaro, entre 2019 e 2022, a perda real foi de 20%. Campos Neto patrocinou o desmonte do BC e agora usa a legítima greve dos funcionários do banco –que não apoiam o projeto— para concluir o serviço.

Fernando Gabeira - A lição e a dor que vêm do Sul

O Estado de S. Paulo

O País tem uma chance agora de se adaptar às mudanças climáticas, de trabalhar a resiliência de suas cidades e de considerar que o perigo não vem apenas do céu

Cada vez que enfrentamos eventos extremos como os que atingem o Rio Grande do Sul, sempre nos perguntamos se a mudança não virá agora, se não vamos aprender as lições que as mudanças climáticas nos oferecem ou se não vamos romper os diques do negacionismo que impedem a ação transformadora.

Ninguém pode ter a pretensão de saber todas as respostas para o novo tempo. Mas é preciso começar humildemente por reconhecer que é loucura continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Eliane Cantanhêde - O chacoalhão

O Estado de S. Paulo

Lula combinou ação rápida no RS e empatia por obrigação e cálculo político. Sai ajuste fiscal, entra gasto

Além de um freio de arrumação na relação entre os Poderes e um chacoalhão na divisão insana da sociedade, a tragédia no Rio Grande do Sul alivia a pressão sobre o governo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por equilíbrio fiscal. Agora, Haddad está livre, leve e solto para gastar, como o presidente Lula sempre gostou.

Lula uniu a obrigação de agir com um cálculo político. Provocou uma comparação positiva para ele com o antecessor, ao ir já no dia seguinte para o Estado, enquanto Jair Bolsonaro se esbaldou de jet-ski em Santa Catarina durante inundações na Bahia. E evitou uma comparação negativa com a liberação de montanhas de verbas emergenciais na pandemia de covid-19.

Simon Schwartzman - Vinculação de recursos e autonomia universitária em SP

O Estado de S. Paulo

Ao lado dos bons resultados, existem outros, preocupantes, que sugerem que o sistema público paulista não pode continuar acomodado

Desde 1989 o Estado de São Paulo vincula 9,57% de sua arrecadação do ICMS para suas três universidades, em uma proporção fixa de 5,02% para a USP, 2,34% para a Unesp e 2,19% para a Unicamp. Neste ano, o governo do Estado tentou incluir outras instituições estaduais nessa conta, mas voltou atrás depois dos protestos dos reitores. Essa vinculação tem sido defendida como garantia da autonomia financeira contra a instabilidade e as interferências de políticos que afetam, por contraste, as universidades federais.

Muitos dados têm sido apresentados como prova de que a autonomia tem funcionado, como o aumento da produção científica, as posições da USP e Unicamp nos rankings internacionais e a qualidade profissional dos formados pelas principais faculdades. Mas é difícil saber se esses bons resultados se devem à vinculação financeira ou a outros fatores, como a disponibilidade de recursos e a maneira pela qual professores e alunos são selecionados entre os mais qualificados do Estado mais rico do País. E, ao lado dos bons resultados, existem outros, preocupantes, que sugerem que o sistema público paulista não pode continuar acomodado.

Poesia | A máquina do mundo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Marisa Monte - Beija Eu

 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

No TSE, Cármen Lúcia terá de enfrentar desinformação e IA

O Globo

Ministra que assume a Corte em junho se mostra atenta aos riscos trazidos pela tecnologia às eleições

Como era previsto, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia foi escolhida para presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por dois anos a partir de junho, em substituição ao ministro Alexandre de Moraes. Ela tem mantido desde já reuniões com empresas de tecnologia, visando à adoção de medidas eficazes para combater a desinformação nas eleições municipais no segundo semestre. Presidente do TSE em 2012 e 2013, Cármen demonstra estar ciente de que hoje os desafios têm outra natureza e dimensão, com o espectro do uso intensivo de inteligência artificial (IA) nas campanhas eleitorais.

“Temos uma situação completamente inédita na história da humanidade, com um grande volume de dados passados nos nossos aparelhos”, afirmou num evento em São Paulo. De acordo com ela, as campanhas de desinformação podem criar uma versão contemporânea dos proverbiais “currais eleitorais” do passado, que ela descreve como “coronelismo digital”.

Merval Pereira – Solidariedade

O Globo

Voltamos a ter um país que se une em torno de uma causa, não importa se o cidadão voluntário é bolsonarista, petista ou anula o voto

Depois da tragédia que atingiu a Região Sul do Brasil, especialmente o Rio Grande do Sul, impossível imaginar que não se torne prioritária uma política de prevenção dos desastres climáticos que nos atingirão com mais e mais frequência nos próximos anos, como alertam os especialistas. Deixar de acreditar que o clima mundial tem sido modificado com uma intensidade que prenuncia graves consequências é ser negacionista radical, com mais razões políticas que científicas. Está na hora de tirar do papel a proposta da ministra do Meio Ambiente de criar uma autoridade nacional de enfrentamento das mudanças climáticas.

As imagens que recebemos das regiões atingidas no Rio Grande do Sul são assustadoras, os danos concretos superam tragédias que já nos afrontaram anteriormente, como Brumadinho e Petrópolis, ou mesmo crises estrangeiras, como o Furacão Katrina em Nova Orleans. Ao mesmo tempo que tragédia tamanha serviu para redescobrirmos a importância da solidariedade, que sempre foi nossa característica, abriu espaço também para a disseminação de fake news, criando uma situação cruel.

Malu Gaspar - A Catástrofe e o despreparo

O Globo

Já faz um tempo que virou moda usar a emergência climática para fazer marketing. Empresas gastam fortunas com relatórios e consultorias que atestem sua responsabilidade ambiental e social, colocando o aposto “verde” em seus produtos sempre que podem — e também quando não podem.

Declarar engajamento na preservação do meio ambiente é obrigatório para quase todos os políticos, inclusive os que trabalham pela destruição. As conferências mundiais sobre o tema se tornaram grandes eventos midiáticos para os quais se enviam caravanas.

Só o Brasil mandou no ano passado a Dubai, para a Conferência do Clima da ONU, 69 deputados, 16 senadores e 12 governadores, que participaram de seminários e painéis de alto nível sobre como salvar a Terra do aquecimento. Tudo fotografado, documentado e disseminado nas redes sociais, como atestado de virtude.

Não que esse tipo de reunião não seja importante. Encontrar soluções para tentar conter os danos das tragédias climáticas e ambientais é urgente e só acontecerá com a troca de experiências e a adoção de uma nova concertação global.

Míriam Leitão - Crise gaúcha e a negação da ciência

O Globo

Quem nega a ciência contrata a morte. Congresso faz sua marcha da destruição, enquanto o Rio Grande do Sul enfrenta um drama

A economia do Rio Grande do Sul deverá sentir os efeitos dessa inundação por muito tempo, mesmo depois de superado o pior da tragédia. É uma economia que enfrentou crises climáticas em três dos últimos cinco anos. Pelo fato de ter acontecido em maio, a perda imediata será menor porque atinge os 20% da safra não colhida, mas a perda de capital é mais difícil de superar. Para a economia do país é uma nova complicação, num quadro já complexo. O Banco Central ontem reduziu o ritmo do corte dos juros, em parte pelo aumento das pressões por mais gasto público, mas deu a impressão de estar dividido politicamente.

Vinicius Torres Freire - O bafafá BC dividido

Folha de S. Paulo

Diretores nomeados pelo governo anterior votam por corte menor da Selic

decisão do Banco Central vai causar algum bafafá político e talvez certo tremelique financeiro. A direção do BC baixou a Selic de 10,75% para 10,5% ao ano, como era esperado na praça do mercado, em vez de 0,5 ponto percentual, toada em que vinha desde agosto do ano passado.

A redução do ritmo de corte da taxa básica de juros causaria os protestos estereotipados e os insultos de sempre —de empresários, PT, governo. O tremelique virá do fato de que a decisão de frear a queda da Selic foi por 5 votos a 4.

Justamente cinco votos dos diretores nomeados por Jair Bolsonaro ante quatro votos dos nomeados por Luiz Inácio Lula da Silva.

Thiago Amparo - No RS, é hora de apontar o dedo

Folha de S. Paulo

Expor responsabilidades não é crueldade, mas honrar as vítimas

É hora de apontar o dedo para a Prefeitura de Porto Alegre, sob a gestão de Sebastião Melo (MDB), que destinou zero real em 2023 para a prevenção contra enchentes e recusou a contratação de 443 funcionários para o DMAE (Departamento Municipal de Águas e Esgotos) —o qual, desde 2013, foi cortado pela metade. Não é surpreendente, portanto, que o sistema de contenção de cheias, datado da década de 1970, não tenha dado conta.

Bruno Boghossian - Questões de popularidade

Folha de S. Paulo

Governo vê sinais de queda estancada, mas tem pontos de atenção pela frente

O governo mal conseguiu um diagnóstico completo sobre a queda da popularidade de Lula, mas agora ensaia um suspiro de alívio. Três pesquisas divulgadas nos últimos dias confirmam que a avaliação piorou mesmo. Sugerem também que a queda pode ter sido estancada.

Os dados indicam a consolidação de um quadro cada vez mais comum em levantamentos sobre popularidade presidencial, com um eleitorado dividido em três partes iguais. A pesquisa Quaest desta quarta (8) mostrou que 33% consideram o governo ótimo ou bom, 31% dizem que ele é regular e 33% classificam a gestão como ruim ou péssima.

Luiz Carlos Azedo - Solidariedade aos gaúchos melhora avaliação de Lula no Sul

Correio Braziliense

A guerra de fake news nas redes sociais, para desgastar o petista, recrudesceu em razão da pesquisa de opinião que mostra aumento da percepção positiva regional em relação ao governo

Enquanto no país inteiro a imagem de Luiz Inácio Lula da Silva e do seu governo continuam em queda, no Sul do país, região onde o ex-presidente Jair Bolsonaro foi vitorioso nas eleições, o presidente da República melhorou sua avaliação, segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem. Lula tinha 25 pontos percentuais de avaliação positiva, subiu para 34 pontos, enquanto a avaliação negativa caiu de 42 para 41 pontos.

No contingente que considerava sua atuação regular, 6% de 31% avaliaram que o governo melhorou. Esse resultado é atribuído à rapidez e intensidade com Lula mobilizou os esforços da União, e não somente do governo, para atender às vítimas das chuvas do Rio Grande do Sul.

Esse resultado mostrou ao governo que a solidariedade como os mais necessitados e a eficiência dos órgãos federais no socorro são capazes de reverter a imagem negativa, não somente no Sul, mas também nos demais estados. E a guerra de fake news nas redes sociais, com intuito de desgastar o governo, ontem, recrudesceu em razão da pesquisa.