quinta-feira, 8 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula trai memória da 2ª Guerra ao celebrar vitória com Putin

O Globo

Brasil não deveria endossar a versão mentirosa do conflito usada pelo russo para justificar agressão contra Ucrânia

É um erro a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de participar, ao lado do russo Vladimir Putin, das celebrações do Dia da Vitória, que marca o 80º ano do triunfo sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra. Além de Lula, assistirão ao desfile militar na Praça Vermelha o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e o cubano, Miguel Díaz-Canel. Nenhum líder de democracia ocidental relevante aceitou dar apoio público ao responsável pela invasão da Ucrânia, maior agressão militar em solo europeu desde justamente o final da Segunda Guerra.

Esquerda de resultados - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Ineficiência dos governos de turno também alimenta a extrema direita

A ascensão da extrema direita na Europa e na América reavivou o debate sobre os impasses enfrentados pelas correntes de centro esquerda ou de esquerda, em declínio eleitoral. Dos dois lados do Atlântico Norte, os progressistas perdem voto entre seus eleitores tradicionais, muitos dos quais têm migrado para partidos situados no extremo oposto do espectro político. Esse deslocamento varia de tamanho conforme o país. Mas tem porte suficiente para alimentar intensas discussões entre socialistas e social-democratas europeus, bem como entre democratas americanos.

Os críticos situam o problema nos programas e no discurso político progressistas. Ao focalizar temas de reconhecimento e de comportamento —as questões "identitárias", combustível das chamadas guerras culturais—, os partidos estariam alienando os trabalhadores menos educados, com níveis de renda também menores, atitudes mais conservadoras e outras preocupações cotidianas.

Lucidez dos extremos no rechaço ao aumento da Câmara - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Psol, de um lado, e PL e Novo, do outro, lideraram oposição à proposta que agride o senso comum

É devastador o vídeo em que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) coloca o escândalo no INSS no colo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado abandonou o tom histriônico com o qual discursava de peruca. A fala comedida, em tom mais grave, é acompanhada por uma música de fundo de dosada dramaticidade enquanto seu cabelo vai ficando grisalho e as feições envelhecem.

Enquanto Nikolas, sem contraponto, entretinha as massas digitais com mais um petardo bem dirigido contra o governo, a Câmara aprontou mais uma. O projeto de lei da deputada Daniela Cunha (União-RJ), que aumenta a Casa de 513 para 531 deputados, passou por 270 votos a 207 e uma abstenção. É uma folga e tanto para um projeto que, em todos os prismas, é indefensável.

Deputados dos dois extremos, Psol, de um lado, e PL e Novo, do outro, foram aqueles que exibiram mais lucidez no ataque a um projeto que consegue, de uma só vez, aumentar o número de parlamentares e agravar a distorção na representação.

O PCC entra na agenda Brasil-EUA - Assis Moreira

Valor Econômico

Classificação da facção criminosa como grupo terrorista traria efeitos colaterais graves para o país

A agenda bilateral do Brasil com os EUA/Trump 2.0 inclui agora outro tema sensível: o Primeiro Comando da Capital (PCC), o mais perigoso grupo criminoso do país e que se expande globalmente.

Donald Trump assinou ordem executiva recentemente incluindo na lista de Organizações Terroristas Estrangeiras (FTOs) do Departamento de Estado seis cartéis de droga do México e as gangues latino-americanas MS-13, originária de El Salvador, a Tren de Aragua, originária da Venezuela, e grupos criminosos do Haiti.

Para a Casa Branca, os cartéis internacionais são “uma ameaça à segurança nacional além daquela representada pelo crime organizado tradicional”, com atividades que abrangem “convergência com atores extra-hemisféricos, desde organizações designadas de terrorismo estrangeiro até governos estrangeiros antagônicos”, por exemplo.

Marasmo político - Merval Pereira

O Globo

Como a crise promete permanecer no centro do debate político, a corrupção, que nas pesquisas de opinião já não aparecia como problema prioritário para a população, voltará a ser tema de campanha

Nada indica que teremos mudanças com a eleição do ano que vem, no sentido de que não existe no horizonte um nome que possa quebrar a polarização entre petistas e bolsonaristas. Apesar dos momentos difíceis por que passa, Lula dá sinais de que se candidatará à reeleição, convencido pelas pesquisas de opinião de que vencerá qualquer adversário, mas, sobretudo, confiante de que Bolsonaro não deixará crescer grama onde um potencial candidato da direita tentar pisar sem seu consentimento.

A incerteza ditou os juros - Míriam Leitão

O Globo

O dilema no Brasil é a inflação alta apesar dos juros altíssimos, o dos Estados Unidos é como enfrentar a instabilidade do governo Trump

Incerteza foi a palavra usada nos comunicados do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve para explicar suas decisões. Aqui, a taxa Selic subiu para 14,75%, nos Estados Unidos os juros não foram reduzidos e permanecem entre 4,25% e 4,5%. E o futuro? Aqui houve alguma indicação de que os juros não devem subir mais, mas nada muito garantido. Nos Estados Unidos, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse não ter pressa em baixá-los. O que significa que a tensão com Donald Trump vai continuar. E a incerteza.

A crise de 2015 dez anos depois, o que aprendemos? - Benito Salomão*

Correio Braziliense

A Grande Crise Brasileira teve uma resposta da política econômica atípica, o que deve ter contribuído muito para a sua deterioração e o seu prolongamento

Em 2025 se completam 10 anos desde a Grande Crise Brasileira (GCB), que produziu cicatrizes profundas no tecido social e consequências macroeconômicas com as quais o país lida até hoje. Embora tenhamos convencionado denominá-la como crise de 2015, ela teve início  no segundo trimestre de 14, segundo o Comitê de Datação de Ciclos da Fundação Getulio Vargas (Codace-FGV).

O Codace também calcula que, ao longo das últimas décadas, o Brasil apresentou 10 ciclos recessivos. Então, por que a GCB merece destaque especial? A resposta é: devido a sua atipicidade. Ao observarmos o padrão das crises econômicas do Plano Real para cá, as recessões observadas tiveram um padrão bem definido, eram curtas e relativamente brandas (à exceção da crise da pandemia, em 2020). A GCB, por sua vez, foi aguda na intensidade, apresentando, segundo o Codace, queda de 8,1% da atividade entre o pico e o vale, além de ser longa na duração — ao todo, 11 trimestres consecutivos entre 2014 e 16.

Moscou não crê em lágrimas, 80 anos após derrota do nazismo - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O encontro de Lula com Putin segue a linha de independência da política externa brasileira, mas acontece num contexto muito diferente de outras ocasiões, por causa da guerra da Ucrânia

O escritor judeu-russo Ilya Ehrenburg Grigoryevich era um veterano jornalista quando acompanhou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a experiência de repórter que cobriu a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Amigo de Jorge Amado e Pablo Neruda, teve várias obras traduzidas no Brasil, entre as quais, A queda de Paris, que descreve a ocupação da França pelos alemães, e Moscou não crê em lágrimas, que narra a resiliência russa. Ehrenburg foi o primeiro escritor a denunciar os números do Holocausto, no Livro negro, com relatos de judeus sobreviventes da Polônia e da antiga União Soviética sobre os campos de concentração.

Com o fim da guerra, porém, foi muito criticado porque tratou todos os alemães como “boches” durante a guerra, não distinguia um agente da Gestapo do adolescente mandado para a frente de batalha como bucha de canhão: “Vamos matar. Se você não tiver matado pelo menos um alemão um dia, você teve desperdiçado aquele dia… Não conte dias; não conte milhas. Conte apenas o número de alemães que você matou…”, chegou a dizer, num artigo intitulado Morte aos alemães. O exército de Hitler foi parado às portas de Moscou e, depois, derrotado na sangrenta batalha de Stalingrado, que marcou o início da derrocada militar do líder nazista. Morreram na guerra 20 milhões de soviéticos.

Lula em Moscou: o lado errado da História - Ricardo Rangel*

O Globo

Lula, alvo de uma tentativa de golpe de Estado, vive elogiando e defendendo a democracia, mas suas ações contrariam suas palavras

Não é novidade que a democracia liberal está ameaçada. Nunca, desde a derrota do nazifascismo em 1945, a extrema direita esteve tão forte, e ela está por toda parte: Trump, Le Pen, Orbán, Bolsonaro etc. Recentemente, o segundo lugar nas eleições alemãs ficou com a extremista Alternativa para a Alemanha (AfD), e o vencedor teve dificuldade para formar um governo (na última vez em que um cenário parecido ocorreu, em 1930, ele abriu caminho à ascensão de Hitler).

A situação internacional tampouco é fácil. Há a ameaça do imperialismo militar russo, os riscos da eventual hegemonia econômica da ditadura chinesa e o fogo amigo. Trump rasga a Constituição como quem troca de roupa, defende extremistas estrangeiros, desorganiza o comércio internacional.

A celebração do aniversário de 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial, nesta semana, é simbólica: serve como alerta contra os riscos do extremismo e faz parte da luta da democracia pela sobrevivência. Lula poderia festejar em qualquer lugar — inclusive no Brasil, de onde se ausenta em demasia —, mas escolheu Moscou. Haverá quem diga que faz sentido, já que a antiga URSS era nossa aliada contra o nazismo. Mas o Brasil entrou na guerra por causa dos Estados Unidos e sempre combateu sob o comando de generais americanos. Nunca tivemos contato com os russos.

Tapa na cara - William Waack

O Estado de S. Paulo

Os gestos são a substância do que Lula faz em Moscou e Pequim

Há certo consenso sobre o que se impõe a potências médias como o Brasil em meio à nova desordem mundial. Na linguagem acadêmica, trata-se de manter uma “neutralidade pragmática” em função de “inteligência estratégica”.

Significa manter-se fora do eixo principal de conflito geopolítico entre EUA e China, evitando aderir a um dos lados. E olhar para oportunidades com um sentido estratégico, para bem além de ganhos comerciais de curto prazo – que são, no fundo, as “migalhas” que caem do tabuleiro no qual brigam os gigantes.

As guerras de autodestruição de Trump - José Serra

O Estado de S. Paulo

Guerrear contra um oponente que não tem poder de fogo poderia ser uma boa estratégia de Trump. Mas não é esse o caso da China

Agora temos pouco mais de 100 dias de governo Trump, e sabemos que jamais poderíamos chamar esse mandatário de monótono. Em verdade, são 100 dias que mais parecem ter durado uns três anos e tornam o governo Biden algo longínquo em nossa percepção do tempo.

Se os 100 dias foram agitados, o futuro parece nos reservar a incerteza. Todos eles parecem alicerçados numa forma de fazer política e buscar poder que norteiam o comportamento de Donald Trump. Esta é a sua maneira de conduzir o governo: ameaçar com a guerra para se posicionar de forma privilegiada.

25 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Falta o compromisso político efetivo em torno da responsabilidade fiscal e da busca pelo equilíbrio permanente das contas públicas

A Lei Complementar n.º 101, mais conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), completou 25 anos no dia 4 de maio. É tempo de retomar o seu espírito original.

O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu melhorar muito a institucionalidade fiscal. Promoveu a renegociação das dívidas estaduais e municipais, por meio da Lei n.º 9.496/1997, estabeleceu metas para o resultado primário (aquele que não inclui os juros da dívida) e aprovou a LRF, a partir do estudo das melhores experiências internacionais.

José Roberto Afonso foi figura central daquele processo, do ponto de vista da concepção técnica e elaboração da proposta. A importância do episódio pode ser comparada ao da aprovação da Lei Geral de Finanças Públicas, a de número 4.320, em 1964, ainda no governo João Goulart.

A abrangência dessas legislações é nacional, incidindo sobre Estados, municípios e União. A LRF estipulou limites para o comportamento dos gastos com pessoal, obrigou a transparência nos atos da administração pública, por meio de relatórios de gestão e de acompanhamento da execução orçamentária, estabeleceu parâmetros e metas para os indicadores fiscais e trouxe as bases para uma política fiscal mais coesa, inclusive do ponto de vista federativo.

Mais riscos, mais juros - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O Comitê de Política Monetária já havia anunciado no comunicado da última reunião que não aumentaria os juros básicos (Selic) na mesma proporção em que aumentou nas duas últimas reuniões, de um ponto porcentual ao ano, por vez. Esta alta seria de magnitude menor. Acabou por optar nesta quarta-feira, por decisão unânime de seus diretores, por um aumento de 0,5 ponto porcentual, para 14,75% ao ano.

Desta vez, não indicou nem mesmo a direção da Selic a ser adotada nas reuniões de 18 de junho e de 30 de julho. Preferiu deixar tudo em aberto porque, no momento, atua na escuridão produzida pelo tarifaço e pelos desdobramentos da guerra comercial decretada pelo presidente Donald Trump.

Juros altos a perder de vista - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Banco Central leva Selic a 14,75%, fala ainda mais de incerteza e de risco para inflação

Nos últimos dois meses, disseminou-se a tese de que o Banco Central poderia deixar a Selic abaixo de 14,75% –no início do ano, se discutia se taxa básica chegaria perto de 16%. Qual a ideia? A economia do mundo perderia ritmo, preços de commodities cairiam, o dólar ficaria bem-comportado, graças em parte a Donald Trump.

"Então". No comunicado em que anunciou a Selic em 14,75%, o BC não deu sinal de que vá encerrar a campanha de alta de juros. Não deu pista do que vai fazer. Disse que a incerteza é maior, assunto a que destinou trechos extensos do texto, que aliás ficou bem parecido com o do Fed, BC dos EUA.

Logo, é possível mais um aumento de 0,25 ponto percentual, com Selic a 15%. O BC vai tatear no escuro sob céu turvo. Houve ligeiro indício de que Selic vá ficar alta por tempo mais prolongado, caindo talvez só passado o primeiro trimestre de 2026.

Jurista público não leiloa opinião jurídica - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Constituição brasileira tem o privilégio de José Afonso da Silva, 100 anos

Jurista público não é produto num livre mercado. Não é vedete nem lobista, não dedica tempo à adulação de autoridade. Não vai a encontros nem subscreve atos disparadores de conflitos de interesse. Não só porque recusa o oba-oba da bajulação gratuita, mas porque entende e respeita a ética da profissão. Sabe que o problema não desaparece quando a promiscuidade se normaliza.

Jurista público não aceita vender opinião jurídica da qual discorda, não oferece consultoria jurídica para o fim da democracia e não se deixa envolver em festivais juspornográficos contra a dignidade da profissão. Não aceita oferta para mudar de lado e não negocia valores políticos ou monetários.

Entende que elaborar argumento jurídico exige tanto fibra intelectual quanto independência moral. Sabe que a profissão jurídica privada precisa enfrentar a tensão incontornável entre o interesse particular em honorários e o compromisso sincero com a democracia constitucional e o interesse público. E que a carreira jurídica estatal obedece a tetos, não só éticos, mas remuneratórios.

Poesia | Nem sempre sou Igual, de Fernando Pessoa

 

Música | Carlos Lyra - E era Copacabana

 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Analfabetismo funcional persistente é vexame nacional

Folha de S. Paulo

Estudo mostra desempenho pífio até entre formados no ensino médio; é preciso valorizar os modelos integral e técnico

É vexatório que quase um terço dos brasileiros entre 15 e 64 anos viva no mundo das letras e dos números praticamente no escuro.

O índice de 29% de analfabetos funcionais nesse estrato em 2024 reflete a ineficiência histórica das três esferas de governo na gestão da educação, que impacta a qualidade de vida dos indivíduos e o desenvolvimento do país.

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), calculado pela ONG Ação Educativa, mostra queda do início da série história, em 2001, quando marcou 39%, até a estagnação em 27% entre 2009 e 2015. Depois houve alta para 30% em 2018 e, agora, uma redução pífia de um ponto percentual.

A categoria engloba desde os que não conseguem ler palavras ou um número de telefone (analfabetismo absoluto), que representam 7% no indicador recente, até os 22% que leem e escrevem, mas não compreendem textos longos nem fazem contas maiores (analfabetismo rudimentar).

Opinião do dia - Montesquieu*

É preciso observar que o que chamo de virtude na república é o amor à pátria, isto é, o amor à igualdade. Não é absolutamente virtude moral, nem virtude cristã, é virtude política; e essa é a mola que faz mover o governo republicano. Chamei, portanto, de virtude política o amor a pátria e à igualdade.”

*Montesquieu (1689-1755), ‘Do espirito das leis’, p.31, Editora Nova Cultura, 2005

Um baluarte de Lula 3.0 - Paulo Celso Pereira*

O Globo

Ao disputar a eleição de 2022 sem apresentar um programa para o país, tendo como única meta o combate ao golpismo e ao desmonte promovidos por Bolsonaro, Lula semeou o marasmo de seu terceiro governo

Era novembro de 2011, e o governo Dilma Rousseff chegava ao fim de seu primeiro ano marcado pela “faxina” contra ministros apanhados em acusações diversas de “malfeitos”. Cinco já haviam caído quando as primeiras reportagens envolvendo um esquema de corrupção no Ministério do Trabalho, comandado à época por Carlos Lupi, vieram à tona. Em vez de sindicatos de aposentados, os protagonistas eram ONGs, e as fraudes que hoje totalizam bilhões de reais ainda se contavam nos milhões.

Reportagens mostraram que assessores de Lupi eram acusados ora de cobrar propina de ONGs que realizavam programas de qualificação profissional financiados pelo governo, ora de fazer vista grossa a outras entidades notoriamente enroladas e alvo dos órgãos de fiscalização.

Apagão geral na crise do INSS - Vera Magalhães

O Globo

Nem Lula nem sete ministros têm saída para ressarcir lesados por golpe e ninguém sabe de onde sairá o dinheiro

À medida que as semanas passam e novos detalhes são revelados no escândalo dos descontos ilegais de aposentados e pensionistas do INSS, vê-se um governo completamente perdido em todas as frentes: na contenção política dos estragos e, sobretudo, no caminho para indenizar quem foi roubado na mão grande naquilo que é

Desde que o caso veio à tona, do presidente aos técnicos do órgão, todo mundo tenta apenas ganhar tempo, sem entender que, para quem vai olhar o contracheque e descobre que há meses ou anos vem havendo desconto de seus vencimentos sem ter autorizado, o que bate é desespero.

A velha ordem econômica está morta - Martin Wolf

Valor Econômico

Era em que os EUA podiam agir como captador e consumidor de última instância, testada nos anos 1980 por Japão e Alemanha, se tornou impraticável política e economicamente

Como quem está de fora da guerra comercial entre Estados Unidos e China quer que ela acabe? Eles gostariam que ambos saíssem derrotados.

Sem dúvida, a abordagem de Donald Trump é muito pior do que apenas sua incoerência intelectual: ela é letal para qualquer ordem global cooperativa. Algumas pessoas gostam de achar que um desmoronamento desse “globalismo” seria até desejável. Do meu ponto de vista, é tolice imaginar que um mundo comandado por “grandes potências” predatórias seria superior ao que temos agora. Ainda assim, embora o protecionismo de Trump tenha que sair derrotado, o mercantilismo chinês não pode sair vencedor, pois ele também criaria grandes dificuldades mundiais.

A mensagem da China para a comitiva de Lula a Pequim - Fernando Exman

Valor Econômico

Deve-se esperar um intenso trabalho nos bastidores dos chineses junto às autoridades brasileiras, em meio à guerra tarifária iniciada pelos EUA

Para os aficionados em registrar momentos históricos marcados por ironia e simbolismo, não passará batido que o chefe do departamento de sanções dos Estados Unidos desembarcou em Brasília nestes dias, justamente enquanto o governo brasileiro finalizava os detalhes da visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China.

Pode-se dizer oficialmente que ele está no Brasil para discutir questões de segurança. E que, ademais, a recente reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário de Tesouro dos EUA, Scott Bessent, é um marco positivo na construção de pontes de alto nível nas relações bilaterais. Mas, não passaram batidas a comemoração de parlamentares da oposição e a sua torcida para que dessa visita do americano pudesse surgir algum desconforto para o governo e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

É com esse pano de fundo que Lula viaja a Pequim na semana que vem, colocando o Brasil como interlocutor estratégico do presidente chinês, Xi Jinping, na América Latina. No mês passado, por exemplo, Lula chegou a oferecer ajuda para agendar uma reunião entre o presidente do Chile, Gabriel Boric, e o líder do país asiático. Citou que a fluidez no diálogo Brasil-China seria um facilitador para tentar a intermediação.

Guerra comercial, empregos no Brasil - Tiago Cavalcanti

Valor Econômico

Regiões especializadas em indústrias afetadas pela política comercial da China em relação aos EUA apresentaram crescimento relativo do emprego formal e da massa salarial entre 2016 e 2021

No dia 2 de abril, o presidente americano Donald Trump promoveu o chamado “Dia da Libertação” nos Estados Unidos, quando anunciou um tarifaço sobre produtos importados.

As tarifas adicionais foram definidas com base em uma fórmula linear bisonha, vinculada ao percentual do déficit comercial dos Estados Unidos com cada país. Para nações com as quais os EUA registram superávit, como o Brasil, ou déficit inferior a 10%, foi estabelecida uma tarifa mínima de 10%. O objetivo declarado era incentivar a reindustrialização e estimular o emprego no país.

Segundo Trump, os EUA vinham sendo “enganados” por países que aplicam tarifas elevadas sobre produtos americanos ou com os quais o país mantém déficits comerciais, como se o comércio internacional não trouxesse benefícios para os americanos.

O fim dos padres ‘da libertação’? - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Cada vez mais idosos, os padres ‘dos anos 1970’ dão lugar aos ‘novos padres’, mais jovens e tradicionais

Frei Betto completou 80 anos. Em 2024, foi homenageado em Havana. Vestia um boné do MST e posou para foto ao lado de estudantes de Medicina. Meses depois do dominicano, padre Julio Lancellotti, o carmelita da Pastoral dos Povos de Rua de São Paulo, completou 76 anos. E, na semana passada, encontrou um jovem sacerdote, o frei Gilson, de 38 anos, assim como ele um fenômeno na internet – Lancellotti tem 2,2 milhões de seguidores no X e Gilson, 9,3 milhões.

Foi então que o sacerdote, que ao lado de Betto é um símbolo da Igreja progressista, a da opção preferencial pelos pobres, disse ao Estadão. “Eu que sou mais velho tenho uma teologia mais ligada ao (Concílio) Vaticano 2.º. E os jovens uma teologia mais tradicional. Quando eu tinha a idade dele ( Gilson) essa teologia era dos mais idosos. Agora, são os mais velhos que têm uma teologia mais inter-religiosa, mais aberta para o mundo. Os da minha geração éramos mais afinados com o papa Francisco do que os mais jovens.”

O Copom e o complexo fim do ciclo - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

O desafio do Copom é avaliar quão inflacionário ou recessivo será o tarifaço dos EUA

Parece até simples o dilema que o Copom terá pela frente ao fim da sua reunião de hoje, conforme a maioria dos analistas: será a derradeira alta do atual ciclo de aperto monetário ou ainda haverá um último ajuste em junho? A taxa final da Selic ficará em 14,75% ou 15%?

O desafio com que se depara o Copom é exatamente o mesmo de outras autoridades monetárias do mundo, que é avaliar quão inflacionária ou recessiva será a política de tarifas de importação adotada por Donald Trump. Como não dá para antecipar desde já a decisão final sobre o nível tarifário que será cobrado de cada país, em especial da China, diante das muitas idas e vindas do presidente americano, o que resta, neste momento, são apenas incertezas.

Fraudes do INSS não têm solução fácil para ninguém – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A retaliação, ao governo, de Ciro Gomes e dos deputados do PDT, em solidariedade a Carlos Lupi, não era esperada pelo Palácio do Planalto, que continua na berlinda

O escândalo do INSS ganhou vida própria, e ninguém sabe ainda como nem quando essa tunga no bolso dos aposentados e pensionistas se resolverá. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperava encerrar o desgaste do governo com a demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, e sua substituição pelo secretário-executivo da pasta, o ex-deputado Wolney Queiroz (PDT), mas a crise continua.

Lupi pediu demissão do Ministério da Previdência Social na última sexta-feira, após a operação da PF e da CGU que revelou fraudes no INSS. O então presidente da autarquia, Alessandro Stefanutto, foi afastado sumariamente do cargo. O novo ministro da Previdência, Wolney Queiroz, indicado por Lula, foi alvo das críticas do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), presidenciável da legenda, que faz oposição ferrenha ao presidente Lula e não tem apoio da bancada de deputados do PDT.

A diversidade indecente - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

Pela abolição, brancos e negros tornaram-se iguais perante a lei, mas ricos e pobres continuam a ter direitos diferenciados, graças ao acesso desigual à educação plena e de qualidade

Em excelente artigo publicado no Correio Braziliense, o ex-ministro Raul Jungmann apresenta sua visão sobre a importância moral e a necessidade social de combater preconceitos e promover a diversidade — respeito e aceitação do outro, pela cor da pele, orientação sexual, religião ou gênero. Apesar da qualidade e relevância, o artigo manteve a tradição de ignorar o "rendismo": a discriminação ao acesso a bens e serviços essenciais conforme a renda da pessoa (comida, educação, saúde). Tampouco menciona que, aplicado à educação, esse preconceito é a principal causa dos outros preconceitos.

Governo perdido na crise do INSS - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lula 3 ainda improvisa, quer devolver dinheiro roubado sem saber como e crise aumenta

Parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende devolver de modo antecipado o dinheiro roubado de aposentados e pensionistas do INSScomo noticiou esta Folha. Tentaria recuperar o prejuízo depois, fazendo a quadrilha devolver o fruto da roubança —hum.

Tal providência ajudaria também a colocar um esparadrapo na sangria de imagem provocada pela facada do escândalo. É no que acreditam pessoas próximas de Lula, a turma do Planalto, digamos assim.

Parte do governo Lula acha que isso não chega a ser uma má ideia, pois não é uma ideia. Além de dúvidas sobre os meios legais de implementação da medida, não se sabe qual o tamanho do esbulho, quem tem direito a receber o que foi roubado, como serão definidos os critérios para tomar tal decisão, como será o processo (governo decide? Lesados podem recorrer?), qual período de descontos entrará no cálculo etc. A providência pode resultar em confusão e insatisfações extras. Foi imprudência vazar o plano, diz esta parte do governo.

Nos braços da maioria silenciosa - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Quem sustenta opiniões que se creem majoritárias alimenta intolerância e incapacidade de lidar com a complexidade

Há uma ilusão curiosa —e muito difundida— segundo a qual a maioria, ainda que silenciosamente, quer as mesmas políticas, valoriza os mesmos princípios, enxerga o país do mesmo jeito que a gente. Essa convicção subjetiva de que nossas ideias são majoritárias, mesmo quando não são, é bem conhecida na psicologia social e atende pelo nome de viés de falso consenso.

É um viés cognitivo, ou seja, uma tendência psicológica automática que faz com que projetemos nossas características e preferências sobre o coletivo. Progressistas tendem a superestimar a adesão da sociedade —ou da melhor parte dela— aos seus valores; conservadores estão convictos de que o Brasil profundo é conservador como eles.

A esquerda tem certeza de que a massa compartilha sua visão de mundo, seu conceito de justiça e sua ideia do papel do Estado; a direita tem certeza de que qualquer pessoa lúcida e bem informada não tem dúvida alguma sobre a superioridade da sua agenda e de suas políticas. Sim, a mente costuma nos pregar esta peça: a de que os outros é que são minoria —as pessoas sensatas pensam como nós.

Direita constrói sua frente ampla – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Enquanto Lula oscila, adversários seguem firmes na montagem do plano de união em 2026

Governantes com direito à reeleição, regra geral, não antecipam a desistência de disputar o segundo mandato porque isso reduz a tão falada expectativa, essencial ao exercício do poder. Promessas de que ficarão só um período são de utilidade restrita às conveniências de campanhas.

Luiz Inácio da Silva (PT) já fez os dois movimentos e, no curso do governo, tem oscilado entre eles. Ora indica que pode não ir, ora assegura que irá como em recente em reunião com parlamentares aos quais se disse "candidatíssimo".

100 dias de estilhaçamentos - Ricardo Marinho*

O 100º dia de Donald Trump no cargo passou. Eles não foram silenciosos, nem foram prudentes e muito menos gentis. Na verdade, nada disso era esperado. Ele chegou ao poder anunciando o som e a fúria tal como viu William Faulkner (1897-1962) na sua fina leitura de Macbeth, de William Shakespeare (1564-1616), não apenas para seu país, mas para o mundo inteiro. Ele ameaçou mudar tudo e acabar com as guerras. A invasão da Ucrânia pela Rússia, pela qual os invadidos foram incompreensivelmente culpados, terminaria em 24 horas, e o massacre em Gaza seria resolvido com a expulsão da população palestina e a construção de um resort no Mediterrâneo.

Nos Estados Unidos da América (EUA), ele governaria sem consultar ninguém, vingando os supostos abusos infligidos à sua nação durante 80 anos pelo resto do mundo com tarifas, deportando os estrangeiros e derrubando os intelectuais que trabalham nas universidades, perigosos berços do pensamento democrático e liberal.

Ney Inclassificável - Vagner Gomes*

Não é possível estabelecer os limites de linhas para definir a carreira de Ney Matogrosso. Portanto, é melhor o denominar como um ser humano universal em tempos das cobranças por uma identidade por vezes censora. Esse é o desafio do roteiro do filme “Homem com H” dirigido e roteirizado por Esmir Filho que apesar de seu premiado “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009) agora ganha um reconhecimento do grande público por uma perfeita escolha de elenco com destaque para Jesuíta Barbosa.

Uma obra sobre o amadurecimento de um artista num contexto das transformações inacabadas de uma sociedade que testemunhou uma modernização conservadora. O centro-oeste brasileiro, que será o novo eldorado da expansão do agronegócio e das forças conservadoras no século XXI, é caracterizado em cada tabefe que um Ney criança recebe no início do filme. Cenas fortes que emocionam o público pela coragem em expor as raízes de nossas contradições históricas.

A sociedade sem classes: o caso da experiência tupi – Ivan Alves Filho*

Ao analisar a desagregação da sociedade tupi, no nosso litoral, no decorrer do século XVI, vali-me de uma leitura do mito da Terra Sem Males, o qual demonstrava que havia um conflito de interesses entre os dois setores que mais gozavam de prestígio no interior das tribos, isto é, os guerreiros e os sacerdotes. Os primeiros tendiam a reforçar o poder central, rechaçado pelos últimos. 

Na verdade, esse conflito revelava que havia uma cobiça em marcha e que ela partia de um setor minoritário dos tupi, uma vez que a tribo já conseguira gerar um excedente considerável, e sobretudo estocar os seus alimentos. 

Poesia | Parada do velho novo, de Bertolt Brecht

 

Música | Mariana Aydar canta "Zé do Caroço" com Leci Brandão

terça-feira, 6 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reforma homeopática não muda 1º escalão de patamar

Folha de S. Paulo

Troca na pasta das Mulheres é a sexta desde janeiro, sem melhora na relação com partidos aliados ou em política pública

A reforma ministerial promovida em doses homeopáticas há quatro meses somente merece esse nome, até o momento, pelo critério quantitativo —e olhe lá.

De janeiro para cá, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) providenciou a troca do comando de 6 das numerosas 38 pastas do Executivo federal, já incluída na conta a troca de Cida Gonçalves por Márcia Lopes no Ministério das Mulheres, oficializada nesta segunda-feira (5).

Já no aspecto qualitativo, as substituições não ampliam nem tornam mais coesa a coalizão partidária de apoio ao Palácio do Planalto. Tampouco buscam nomes de maior expressão em suas áreas ou visam novas orientações de políticas públicas.

Raízes socioeconômicas do trumpismo - Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

Entusiasmado com favores e poderes da oligarquia, Trump encarregou seus auxiliares de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos em nome da eficiência dos mercados

Avaliado em seus próprios termos e objetivos, o projeto iluminista da Liberdade, Igualdade e Fraternidade está fazendo água diante da alucinante e alucinada competição entre as lideranças contemporâneas e seus asseclas para mergulhar o planeta nos esgotos da barbárie.

O filósofo Fredric Jameson, no livro “A Cultura do Dinheiro”, já advertia no início do milênio: “Os quatro pilares ideológicos, jurídicos e morais do alto capitalismo - constituições, contratos, cidadania e sociedade civil - são, hoje, vadios maltrapilhos, mas sempre lavados, barbeados e vestidos com roupas novas para esconder sua verdadeira situação de penúria”. Não podemos colher outro ensinamento dos embates travados por Donald Trump para tornar a América Grande Outra Vez.

Peço licença aos leitores para retomar considerações a respeito da Grande América, o país que emergiu dos sofrimentos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial.

O problema do centro – Pedro Doria

O Globo

Política se tornou identidade. Ser de esquerda ou de direita exige o ritual de estar na vida on-line reforçando pertencer à tribo ou às subtribos

No início da semana passada, o noticiário político foi revolvido pelos movimentos do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) e do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) querendo intervir na disputa pelo Planalto em 2026. O evento agitou inúmeros grupos de zap centristas voltados para o debate de política. Não é à toa: poucos lugares são mais solitários, no Brasil de hoje, que o centro. Por aqui, consistentemente invertemos a ordem das coisas. Discute-se muito quem pode ser o candidato a representar aquela visão de país que, um dia, Fernando Henrique Cardoso representou. Como se o candidato certo bastasse para conquistar o eleitor. Não faltam políticos capazes de ocupar esse lugar. O que falta, ora, são os eleitores. E nenhuma força política trabalha para atraí-los.

A batalha política nesta década do novo século se trava em duas dimensões. A principal é identidade. Mas o que a molda é uma narrativa. E as duas passam, fundamentalmente, por um único meio de comunicação. São, evidentemente, as redes sociais.

Estagnação social - Merval Pereira

O Globo

Estamos estagnados em políticas sociais fundamentais, como a redução da taxa de pobreza e do analfabetismo funcional

Dois dados de pesquisas nacionais são indicadores de que estamos estagnados em políticas sociais fundamentais, como a redução da taxa de pobreza e do analfabetismo funcional. Apesar de termos avançado nesses dois campos até recentemente, os números mostram que já não temos eficiência para manter o declínio dessas taxas, o que talvez explique parte da dificuldade para reverter a impopularidade de Lula neste seu terceiro governo.

Responsável pela redução da taxa de pobreza com programas sociais do tipo Bolsa Família, reforçando a melhoria que já havia sido determinada pelo Plano Real com o fim da hiperinflação, há registros mostrando que a perda de fôlego dessas políticas começou em 2023, quando a redução da pobreza passou de 5 pontos percentuais para 2, caindo para 0,8 em 2024 e 0,2 esperado para este ano. Mesmo tendo caído de 21,7% para 20,9% no ano passado, o terceiro consecutivo em que o indicador do Banco Mundial mostra redução, a taxa brasileira ainda é muito alta em comparação com países da região, casos de Chile (4,6%), Argentina (13,3%), Bolívia (14,1%) e Paraguai (16,2%).