sábado, 9 de agosto de 2025

A disputa pela franquia Bolsonaro - Thaís Oyama

O Globo

Quem será o ungido que levará a tocha do bolsonarismo nas eleições de 2026?

Hermeticamente fechado em casa até segunda ordem, e sem perspectiva de sair desta para melhor com o julgamento de setembro, muito antes pelo contrário, Jair Bolsonaro está prestes a virar uma “ideia”. A afirmação de que fulano “não é mais uma pessoa, mas uma ideia” foi usada por integralistas nos anos 1930 para se referir ao líder do movimento de extrema direita e inspiração fascista Plínio Salgado. Lula copiou a frase em 2018, no discurso que fez antes de se entregar à Polícia Federal. Ironicamente, ela pode agora ser adaptada a seu adversário Bolsonaro — o quarto ex-presidente brasileiro a amargar a prisão, fato que leva qualquer um a se perguntar o que há de errado com este país.

De imediato, a controversa e muito criticada prisão de Bolsonaro ordenada por Alexandre de Moraes aumenta a pressão para que o ex-presidente indique seu Zero Dois, o ungido que levará a tocha do bolsonarismo nas eleições de 2026. Tarcísio de Freitas segue dizendo que não quer, mas a pressão para que mude de ideia crescerá diante de um eventual aceno do ex-presidente. Ratinho Junior permanece no páreo, como nome do PSD ou numa composição com partidos do Centrão — também a depender do dedaço de Bolsonaro.

Dentro do clã, Michelle Bolsonaro conta com o entusiasmo de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Viaja e se comporta como candidata. Há 15 dias, aliados dela procuraram amigos de um político fora da órbita bolsonarista para discutir a ampliação de seu arco eleitoral. Não por coincidência, o político é o mesmo que havia sido sondado, sem sucesso, para ser vice do hoje praticamente inviável Eduardo Bolsonaro.

Flávio, o primogênito, agrada mais dentro da política que fora. Sempre na lanterninha das pesquisas, é tido por líderes da centro-direita no Congresso como o mais palatável entre os nomes da franquia Bolsonaro.

Virá desses líderes boa parte da pressão que o ex-presidente, preso, sofrerá a partir de agora. Para eles, quanto mais Bolsonaro demorar a indicar seu candidato, mais ajudará Lula, cujo plano de reeleição passa pela aprovação de um pacote de benefícios sociais no Congresso. No entender desses políticos, parlamentares de partidos com ministérios no governo — como MDB, União Progressista e Republicanos — hesitarão em arcar com o ônus de votar contra propostas como a ampliação do vale-gás se não souberem qual é o projeto de poder no campo oposto e que contrapartidas ele oferece. Sacrifício, só com recibo.

O Centrão, porém, terá de conviver por mais tempo com sua angústia. Bolsonaro e seu círculo íntimo ainda têm a esperança de que ele saia do modo inelegível para o de candidato antes de 31 de março de 2026, prazo para que ocupantes de cargos públicos, como os governadores Tarcísio e Ratinho Junior, renunciem a seus postos.

Nas palavras de um conselheiro da família, embalam a esperança de que “tudo pode acontecer”. Desde uma hipotética preferência de Lula por ter Bolsonaro como adversário em 2026 até uma esperada, e eloquente, retaliação de Donald Trump à prisão do ex-presidente. Eduardo Bolsonaro acrescenta a essa lista os efeitos do tarifaço no médio prazo. Crê o deputado, segundo diz a aliados, que o sofrimento econômico imposto ao país por Trump poderá fazer as “elites brasileiras”, até agora inertes diante de arbitrariedades cometidas por Moraes, “finalmente se mexer” e pressionar Legislativo e Judiciário em prol de causas como a anistia ao seu pai.

Quanto aos termos da esperada ajuda de Washington a Bolsonaro, o conselheiro do clã afirma apenas ter certeza de que “Trump não perde” e, portanto, não engolirá uma “derrota” para Moraes. A dúvida é o lugar na escala de prioridades de Trump ocupado por Bolsonaro. A cada novo episódio de radicalismo protagonizado por seus discípulos, como o triste motim no Congresso, ele lembra ao país que, preso ou solto, continua a ser má ideia.


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