O Globo
Quem será o ungido que
levará a tocha do bolsonarismo nas eleições de 2026?
Hermeticamente fechado em casa até segunda ordem, e sem perspectiva de sair desta para melhor com o julgamento de setembro, muito antes pelo contrário, Jair Bolsonaro está prestes a virar uma “ideia”. A afirmação de que fulano “não é mais uma pessoa, mas uma ideia” foi usada por integralistas nos anos 1930 para se referir ao líder do movimento de extrema direita e inspiração fascista Plínio Salgado. Lula copiou a frase em 2018, no discurso que fez antes de se entregar à Polícia Federal. Ironicamente, ela pode agora ser adaptada a seu adversário Bolsonaro — o quarto ex-presidente brasileiro a amargar a prisão, fato que leva qualquer um a se perguntar o que há de errado com este país.
De imediato, a controversa e
muito criticada prisão de Bolsonaro ordenada por Alexandre
de Moraes aumenta a pressão para que o ex-presidente indique seu
Zero Dois, o ungido que levará a tocha do bolsonarismo nas eleições de 2026.
Tarcísio de Freitas segue dizendo que não quer, mas a pressão para que mude de
ideia crescerá diante de um eventual aceno do ex-presidente. Ratinho Junior
permanece no páreo, como nome do PSD ou
numa composição com partidos do Centrão — também a depender do dedaço de
Bolsonaro.
Dentro do clã, Michelle
Bolsonaro conta com o entusiasmo de Valdemar
Costa Neto, presidente do PL.
Viaja e se comporta como candidata. Há 15 dias, aliados dela procuraram amigos
de um político fora da órbita bolsonarista para discutir a ampliação de seu
arco eleitoral. Não por coincidência, o político é o mesmo que havia sido
sondado, sem sucesso, para ser vice do hoje praticamente inviável Eduardo
Bolsonaro.
Flávio, o primogênito,
agrada mais dentro da política que fora. Sempre na lanterninha das pesquisas, é
tido por líderes da centro-direita no Congresso como o mais palatável entre os
nomes da franquia Bolsonaro.
Virá desses líderes boa
parte da pressão que o ex-presidente, preso, sofrerá a partir de agora. Para
eles, quanto mais Bolsonaro demorar a indicar seu candidato, mais ajudará Lula,
cujo plano de reeleição passa pela aprovação de um pacote de benefícios sociais
no Congresso. No entender desses políticos, parlamentares de partidos com
ministérios no governo — como MDB,
União Progressista e Republicanos —
hesitarão em arcar com o ônus de votar contra propostas como a ampliação do
vale-gás se não souberem qual é o projeto de poder no campo oposto e que
contrapartidas ele oferece. Sacrifício, só com recibo.
O Centrão, porém, terá de
conviver por mais tempo com sua angústia. Bolsonaro e seu círculo íntimo ainda
têm a esperança de que ele saia do modo inelegível para o de candidato antes de
31 de março de 2026, prazo para que ocupantes de cargos públicos, como os
governadores Tarcísio e Ratinho Junior, renunciem a seus postos.
Nas palavras de um
conselheiro da família, embalam a esperança de que “tudo pode acontecer”. Desde
uma hipotética preferência de Lula por ter Bolsonaro como adversário em 2026
até uma esperada, e eloquente, retaliação de Donald
Trump à prisão do ex-presidente. Eduardo Bolsonaro acrescenta a
essa lista os efeitos do tarifaço no médio prazo. Crê o deputado, segundo diz a
aliados, que o sofrimento econômico imposto ao país por Trump poderá fazer as
“elites brasileiras”, até agora inertes diante de arbitrariedades cometidas por
Moraes, “finalmente se mexer” e pressionar Legislativo e Judiciário em prol de
causas como a anistia ao seu pai.
Quanto aos termos da
esperada ajuda de Washington a
Bolsonaro, o conselheiro do clã afirma apenas ter certeza de que “Trump não
perde” e, portanto, não engolirá uma “derrota” para Moraes. A dúvida é o lugar
na escala de prioridades de Trump ocupado por Bolsonaro. A cada novo episódio
de radicalismo protagonizado por seus discípulos, como o triste motim no
Congresso, ele lembra ao país que, preso ou solto, continua a ser má ideia.
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