Lula deve evitar populismo da tarifa zero
Por O Globo
Medida demonstra pouca eficácia, e
responsabilidade por transporte urbano cabe a prefeitos e governadores
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva cometerá um enorme equívoco se embarcar no populismo da tarifa zero para
o transporte público. O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, afirmou que, a pedido de Lula, a equipe econômica realiza
uma “radiografia” do setor para avaliar o modelo. No dia seguinte, o ministro
da Casa Civil, Rui Costa,
veio a público dizer que o governo federal não planeja implementá-lo “neste ou no
próximo ano”. Mas, se não flertasse com a ideia, Lula não pediria estudos a
respeito.
O governo federal não deveria se meter com tarifas de ônibus. Apesar do apelo eleitoreiro, a tarifa zero se mostra pouco viável na prática. Dos 5.570 municípios brasileiros, pouco mais de cem — em geral de pequeno e médio portes — a adotam em situações muito específicas. É o caso de Maricá, cidade de 212 mil habitantes na Região Metropolitana do Rio, campeã de arrecadação de royalties do petróleo no Brasil (R$ 2,7 bilhões em 2024). Em São Paulo, maior metrópole do país, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) até cogitou adotar tarifa zero nos ônibus municipais, mas o modelo ficou restrito a domingos e datas festivas. Em Belo Horizonte, a Câmara de Vereadores rejeitou na semana passada, por 30 votos a 10, um projeto que previa implantar gratuidade nos ônibus da cidade de 2,4 milhões de habitantes. Prevaleceu a sensatez.