terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

É mentira, portanto, dizer que o PSDB "não olhou para o social". Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel para a realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa Toda Criança na Escola trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de 7 a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996 eram apenas 300 mil).Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças.
Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.”


(Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente, no artigo “Sem medo do passado”, publicado em 7/2/2010)

A burocracia petista:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A ascensão de Dilma, imposta por Lula e capitaneada por Marco Aurélio Garcia, seria a afirmação de um fenômeno que vem ocorrendo desde os anos 1990: a substituição da liderança política e eleitoral pela burocracia partidária.

Essa imposição de uma tendência que vinha se desenhando teria sido beneficiada pela crise política que atingiu as principais lideranças partidárias em 2005, com o escândalo do mensalão, e pode fazer com que o partido venha a ter mais poder de pressão do que sempre teve sob o governo de Lula.

O cientista político Nelson Paes Leme considera o fato “significativo e inusitado” e receia que possamos ter em nossa história republicana, aí incluídos os dois grandes períodos autoritários do Estado Novo e do Golpe de 64/84, “pela primeira vez na Presidência da República, uma burocracia partidária, de viés socialista mais à esquerda, norteando os destinos do país. A classe política não está refletindo sobre o inusitado fenômeno”.

O sociólogo Rudá Ricci, do Fórum Brasil do Orçamento, que reúne entidades da sociedade civil na defesa das políticas sociais no Orçamento Público Federal, diz que o PT “foi capturado por um grupo político que reúne exmilitantes de esquerda organizada oriundos do PCB e dirigentes sindicais metalúrgicos e bancários, o setor mais controlador e autoritário do sindicalismo brasileiro”.

Exemplares desse grupo são os recentes presidentes do PT, Ricardo Berzoini e José Roberto Dutra. Berzoini, vindo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, só se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1998.

Já José Eduardo Dutra foi presidente do Sindicato dos Mineiros do Estado de Sergipe (Sindimina) e dirigente nacional da Central Única dos Trabalhadores. Perdeu duas vezes a eleição para o governo de Sergipe, e entre as duas tentativas foi eleito senador. A última derrota, em 2006, levou-o à presidência da Petrobras.

Na análise do sociólogo mineiro, as tendências que ainda hoje compõem o PT poderiam ter dado origem a um partido de quadros, mas isto não ocorreu. “Elas foram absolutamente superadas e alijadas pela opção eleitoral da direção do partido”.

Esta cúpula, segundo Ricci, adotou “práticas estranhas à origem do partido, deixou de lado a utopia que gerava energia à militância e agiu de maneira rebaixada, pragmática, focada na vitória a qualquer custo”.

Ele ressalta que nos anos 1980 era preciso ser líder de massas para ter expressão pública no PT. “A partir de 94 não houve mais esta necessidade e identidade.

Muitos dirigentes passaram a ter sua legitimidade centrada na burocracia partidária e não em movimentos e representação de massas.

Hoje, muitos dirigentes nem reflexo da burocracia partidária o são. Vários são apenas parlamentares de expressão regional”.

O cientista político Nelson Paes Leme, depois de lembrar o fracasso da experiência soviética, diz que o aparelhamento do Estado pelo PT “tenderá a recrudescer com o fenômeno”.

Abro um parênteses no pensamento de Nelson Paes Leme para ressaltar que mais uma vez a ministra Dilma cometeu um ato falho em seu discurso. Em Copenhague, na reunião do clima, já havia dito que o meio ambiente é prejudicial ao desenvolvimento.

Agora, prometeu continuar “o reaparelhamento do Estado”, quando seu discurso defendia a “reconstrução” do Estado.

Para Paes Leme, quando Dilma e Marco Aurélio Garcia, seu principal coordenador de campanha e mentor, “falam no fortalecimento do Estado, estão falando para esse público interno da burocracia partidária onde ambos têm origem”.

Chama a atenção do cientista político que tanto Dilma quanto Marco Aurélio Garcia, “burocratas de partido que nunca se submeteram a voto popular”, poderão estar a partir da eleição deste ano “no poder central como novas lideranças, ditando novas diretrizes de política interna e externa do país”.

Para Nelson Paes Leme, o inusitado historicamente é exatamente a submissão das correntes com mandato à força da burocracia partidária emergente dentro do partido e do poder central da República.

Rudá Ricci, por sua vez, separa a direção partidária em três grupos: a) os que são tipicamente burocratas partidários; b) os indicados por correntes internas; c) os parlamentares.

“Neste último grupo, há casos do que denominamos na ciência política de ‘representantes delegados’ (termo utilizado por Bobbio). São representantes exclusivos de uma categoria social ou territorial”.

No caso, metalúrgicos, bancários, professores e ruralistas formam, para Ricci, um conjunto que ilustra esta situação: foram sindicalistas antes de parlamentares.

Mas ele destaca que “há casos petistas de parlamentares que se fizeram a partir da burocracia partidária, como o de Zé Dirceu”, hoje o mais importante líder petista, de volta ao Diretório Nacional do partido e na coordenação da campanha de Dilma Rousseff.

Rudá Ricci o considera “um típico representante do controle partidário dos anos 1990. Este é o tipo novo de representação que rompe com aquela dos anos 80, lideranças petistas que eram lideranças de movimentos de massa”.

Gestada na burocracia partidária e sem um histórico petista que imponha sua vontade ao partido, a candidatura Dilma estaria em um dilema: ao mesmo tempo em que é a candidata do lulismo para continuar seu governo pragmático e aliancista, Dilma teria que pagar um tributo ao petismo, que seria uma guinada à esquerda que já está se verificando na teoria do programa de governo oferecido pelo partido à candidata.

Fernanda Cunha

Serra tenta tirar palanques do PSB de Dilma

DEU EM O GLOBO

Em silêncio, governador e emissários negociam apoio do partido; Ciro se reúne com Lula para decidir o futuro

Soraya Aggege


SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. Enquanto o PT prioriza a aliança com o PMDB e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não tem a sua situação definida na disputa deste ano, o governador José Serra (PSDB) avança sobre os palanques que o PSB monta para a ministra Dilma Rousseff (PT), principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Apesar de ainda não assumir sua candidatura, Serra teria destacado vários tucanos para negociar com o PSB nos estados.

— A indefinição do Ciro e os acertos do PT com o PMDB nos estados bagunçou nossos palanques.

Tirando Pernambuco e Ceará, não há mais garantia de nada para Dilma. Serra está fazendo boas propostas. Ele é frio, mas muito eficaz na política — diz um dirigente do PSB.

Tucanos procuram acordos em nove estados Serra e seus enviados já teriam procurado acertos em nove estados: Mato Grosso, Piauí, Amazonas, Sergipe, Paraíba, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraná e Espírito Santo.

O secretário-geral do PSB, senador Renato Casagrande, précandidato ao governo do Espírito Santo, disse que tem conversado com o PSDB em seu estado, mas que se trata de “uma relação local”. O deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES), da direção nacional do PSDB e também pré-candidato, disse que vem tentando uma dobradinha com Casagrande.

— Dilma já tem palanque no Espírito Santo com o Ricardo Ferraço (PMDB, vice-governador atual, apoiado pelo PT). E as eleições não são verticalizadas.

Não podemos descartar nada. As chances do Serra com o PSB são pequenas, mas digamos que ele não terá nossa hostilidade — diz Casagrande.

— O fato é que a aliança do PT com o PMDB precipitou muito o processo nos estados.

Acho difícil o PSB apoiar o PSDB, mas em política nada é impossível — disse Lucas.

A decisão sobre a candidatura própria do PSB à Presidência está longe de se definir. Amanhã, Ciro se encontra com os representantes dos nove partidos que formam a base aliada de Dilma em São Paulo. Os dirigentes vão insistir na candidatura de Ciro ao governo de São Paulo. Mas a tendência é que ele só decida após uma conversa com o presidente Lula, prevista para 15 de março. O PT tenta antecipar o encontro, preocupado com o esfacelamento da base no estado.

— Caso Ciro não seja candidato em São Paulo, teremos três candidatos: Paulo Skaf (presidente da Fiesp recém-filiado ao PSB), Celso Russomano (PP) e outro do PT. Separados, nenhum de nós vencerá Geraldo Alckmin (PSDB), e Serra terá pelo menos 6 milhões de votos no estado.

Assim, será muito difícil Dilma vencer nacionalmente — disse outro dirigente da base de Dilma em São Paulo.

Aécio e Serra vão se encontrar nos próximos dias Ao chegar ontem de uma temporada de 11 dias no exterior, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), minimizou o crescimento de Dilma nas pesquisas e sua exposição pública, após o congresso que a lançou pré-candidata do PT. Sob o argumento de que a campanha só começa com a propaganda eleitoral, Aécio disse não se afligir com a presença dela na mídia, enquanto Serra fica em silêncio. Para ele, que ontem inaugurou um hospital em Sabará (MG), o paulista se manifestará na hora certa:

— Cabe a ele encontrar o caminho e o momento adequados dessa manifestação. Continuo tendo grande confiança nas suas possibilidades de vitória — disse Aécio, confirmando que encontrará com Serra nos próximos dias.

Aécio ameniza agenda com Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Conversa não deve se tornar "grande fato político", afirma

Eduardo Kattah, SABARÁ

Após passar 11 dias no exterior, o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), afirmou ontem que cabe ao colega José Serra encontrar o "caminho e o momento adequado" para o anúncio de sua candidatura à Presidência. Aécio tentou amenizar a importância da conversa que deve ter com Serra nos próximos dias e não quis dar detalhes da pauta. Mas disse que não se devem criar muitas expectativas. "Estou à disposição do governador Serra, não marcamos ainda e não pretendemos fazer de mais uma conversa nossa um grande acontecimento, um grande fato político", desconversou.

Ele afirmou que tem conversado com o governador de São Paulo. "Conversamos sempre e vamos continuar conversando. E no momento certo o governador vai se manifestar", afirmou, referindo-se ao anúncio da candidatura.

Aécio tem reiterado publicamente que vai mesmo disputar uma cadeira no Senado e descartado a possibilidade de ser vice numa chapa encabeçada por Serra. Ontem voltou a dizer que estará à disposição da candidatura tucana no segundo colégio eleitoral do País. E ressaltou que na sua opinião o PSDB não deve seguir a lógica estabelecida pelo governo federal na eleição presidencial.

"Não me aflige neste instante a exposição deste ou daquele candidato, porque a campanha, efetivamente, aquela que vai levar os eleitores a uma decisão, começa na propaganda eleitoral. É ali que nós vamos ter o embate das ideias, a disputa entre os candidatos", destacou, em referência ao avanço da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), nas pesquisas.

ESTABILIDADE

Aécio insistiu na tese do pós-Lula e disse que o debate que o PSDB tentará levar para a disputa será sobre qual candidato tem melhores credenciais para dar continuidade aos avanços conquistados nos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. E aproveitou para ironizar a defesa da estabilidade econômica feita por Dilma em seu discurso durante o 4º Congresso Nacional do PT, que a aclamou como pré-candidata do partido. "Li com atenção o discurso da ministra Dilma e fico muito feliz ao ver que ela assume o compromisso de manter a condução macroeconômica do País, com metas de inflação, com câmbio flutuante, com superávit primário, construídas e concebidas no governo do PSDB."

Ao afirmar que não há hoje uma "diferença muito profunda" na política econômica dos governos Lula e FHC, Aécio também cutucou o PT, observando que foi o presidente que precisou romper com seu partido.

"Não houve ruptura na construção macroeconômica quando o presidente Lula assumiu. Ele não rompeu com aquilo que vinha sendo conduzido pelo governo do presidente Fernando Henrique. Ao contrário, ele rompeu com muitas das ideias que o PT defendia anteriormente para aderir às novas e boas ideias do PSDB, do ponto de vista da responsabilidade fiscal."

Um jogo especial num ano especial:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Numa de suas esporádicas visitas à sala de troféus do Palmeiras, paixão do menino migrante das Alagoas, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) encontrou uma preciosidade: uma escultura da deusa da Vitória, na mitologia romana, com a inscrição "Homenagem do Movimento Unificador dos Trabalhadores - MUT". O comunista disciplinado tomou o lugar do torcedor apaixonado, e a memória de Aldo o remeteu à criação do braço sindical do Partido Comunista do Brasil nos anos em meados dos 40.

O resultado desse encontro está no livro "Palmeiras x Corinthians, 1945: O Jogo Vermelho", em fase final de impressão pela editora Unesp. Salas de troféus como a do Palmeiras "são verdadeiras bibliotecas repletas de narrativas épicas", diz Aldo. O troféu do MUT é uma delas. Fala de uma partida de futebol entre Palmeiras e Corinthians, realizado em 13 de outubro de 1945, e do ambiente político, no país, nos dias imediatos ao pós-guerra, a Segunda Grande Guerra Mundial, antes de a Guerra Fria tornar-se sua extensão e cindir a sociedade brasileira.

"Outubro de 1945 era a véspera das eleições gerais de dezembro. Todos os partidos estavam em campanha de arrecadação de fundos, e não tive dúvidas em concluir que Palmeiras e Corinthians jogaram para ajudar a campanha do Partido Comunista do Brasil (PCB), o partido amigo da União Soviética, o partido dos operários, o partido do socialismo", escreveu Aldo. "Decidi então que a história e os bastidores daquela partida não podiam repousar eternamente no anonimato da galeria de troféus e das estatísticas dos dois clubes".

Os jogadores de Palmeiras e Corinthians, à época, localizados pelo deputado, pouco ou quase nada se lembram dessa partida específica. Apenas um deles, ao que parece, tinha simpatia pelos comunistas. Mas Aldo jogou a bateia, garimpou simpatizantes na federação de futebol, entre profissionais liberais, artistas e montou o painel de uma época que permitia ao PCB organizar um jogo de futebol entre os dois times mais populares de São Paulo para financiar uma campanha do partido.

Uma história que Aldo retira do anonimato com os olhos daqueles que perderam em 1964, com o golpe militar, mas que retrata um mundo político quase esquecido nos anos longos da Guerra Fria.

Ao final da Segunda Grande Guerra era grande o prestígio da então União Soviética. O exército vermelho, "destroçara dois terços das divisões de Hitler ao custo de 20 milhões de vidas entre militares e civis, contra 400 mil baixas americanas em toda a guerra". Havia uma espécie de "gratidão" - Carlos Drummond de Andrade escrevera seu célebre poema dedicado a Stalingrado.

"Esse ambiente acentuou a influência do PCdoB entre os trabalhadores e a opinião antifascista das camadas médias da sociedade e os intelectuais", concluiu Aldo de pesquisas a registros da época.

O ditador Getúlio Vargas tentava se equilibrar no redemoinhos da história. Em fevereiro de 1945 anunciou a realização de eleições gerais; logo depois restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética; mais tarde decretou a anistia aos presos e perseguidos políticos. Nesse ambiente, o MUT reunia em sua sede profissionais liberais para promover o "jogo vermelho" - do jornalista militante ao casal judeu que integrava o grupo de intelectuais ligados ao partido e abria os salões de suas casas para dirigentes como Luiz Carlos Prestes, Joaquim Câmara Ferreira, Maurício Grabois e João Amazonas.

Aldo visitou o filho de Iracema Rosemberg, que integrava um grupo de mulheres do partido que incluía a escritora Zélia Gattai. "O médico Sérgio Rosemberg lembra-se que a mãe visitava com frequência os jornais para levar notícias da legenda", contou. Quando se despedia de Sérgio, o deputado viu na sala do apartamento um retrato da mãe pintado por Di Cavalcanti. Iracema habitualmente posava como modelo para o pintor, mais um simpatizante de uma galeria que tinha Jorge Amado, Monteiro Lobato, Cândido Portinari, Caio Prado Jr., Zélia Gattai, Oscar Niemeyer, Pancetti, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos.

O PCB fixara a meta de arrecadação de Cr$ 750 mil para financiar seus candidatos, em 1945. Só o jogo Palmeira e Corínthias entrou com Cr$ 114,464 mil, nessa bolada.

O livro conta a história do jogo. Deu Palmeiras, 3 a 1.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Dilma redesenhada:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Lula aproveitou o congresso do PT para desenhar, linha por linha, o perfil da candidata Dilma Rousseff. Potencializou suas qualidades, transformou eventuais desvantagens em virtudes e voltou para o Alvorada sabendo que a militância iria decorar a lição para a campanha.

Se a direita, principalmente a direita militar, não cansa de chamar Dilma pela internet de "guerrilheira", Lula foi carinhoso ao falar da "menina que arriscou a própria vida" em defesa da democracia.

Se prevalece a percepção de que Dilma não foi uma opção, mas escolhida por exclusão (depois da queda da cúpula e dos presidenciáveis naturais do PT), Lula tratou de dizer que estava de olho nela havia muito tempo, desde quando discutia a questão energética e via aquela mulher ali, aplicada, competente, agarrada ao seu laptop.

Se a oposição, tucanos e democratas à frente, não cansam de bater na tecla de que ela mente, citando os casos da ex-secretária da Receita, do dossiê contra FHC e do diploma inflado, Lula tratou de corrigir: ela é um poço de sinceridade.

E se os próprios governistas consideram, por baixo e às vezes por cima dos panos, que Dilma é arrogante e mandona, a ponto de gritar com ministros, presidentes de estatais e assessores em reuniões, Lula transformou esse, digamos, probleminha, numa grande qualidade: é que ela é perfeccionista em tudo o que faz, aprende tudo em uma semana e exige dos outros o que exige dela mesma para bons resultados.

Desenhada a candidata, Lula pôs-se a ditar também a política de alianças. Com ele ali, do alto de sua imensa liderança e popularidade, quem iria vaiar o PMDB, representado por Michel Temer, Edison Lobão e Hélio Costa?

Sarney e Henrique Meirelles, porém, não foram. É que a turma petista digeriu bem a nova Dilma e tinha de engolir o PMDB, mas pedir para não vaiar Sarney e o BC seria um pouco demais, não é?

Aécio reassume governo e confirma encontro com Serra

DEU NO VALOR ECONÔMICO

César Felício, de Belo Horizonte

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), sinalizou ontem que o partido não deverá antecipar a decisão de lançar o governador paulista José Serra como candidato a presidente. Aécio e Serra devem se encontrar ainda nesta semana, mas o mineiro disse que a conversa não deverá ser conclusiva. "Não pretendemos fazer de mais uma conversa nossa, um grande acontecimento, um grande fato político", disse ontem Aécio, que retomou a agenda no governo estadual depois de 11 dias de licença para viagem ao exterior.

A pressão por uma antecipação da candidatura de Serra aumentou nas últimas semanas, com o crescimento nas pesquisas da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que teve a sua pré-candidatura lançada em encontro do PT no sábado. O governador minimizou a ofensiva governista, afirmando que a campanha presidencial só ganhará intensidade com o início da propaganda eleitoral em rádio e televisão, em agosto. "O PT está fazendo o que deve fazer e a lógica do governo não deve ditar a nossa lógica."

Mesmo com a resistência de Aécio em aceitar ser vice na chapa de Serra, o desempenho eleitoral em Minas Gerais ainda não é motivo de alarme dentro do PSDB. Em pesquisa divulgada ontem pelo jornal "O Tempo", de Belo Horizonte, do empresário Vittorio Medioli, um ex-deputado tucano, Serra teve 38,4% das intenções de voto e Dilma, 23,5%, em um cenário com Ciro Gomes (PPS) e Marina Silva (PV) entre os candidatos. É uma diferença percentual maior do que a apurada nas últimas pesquisas nacionais do Ibope (nove pontos), Vox Populi (sete pontos) e Sensus (seis pontos).

A mesma pesquisa do jornal de Belo Horizonte mostrou um cenário regional que fomenta a divisão entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado. Tanto o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), quanto o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT), e o vice-presidente José Alencar (PRB) aparecem à frente do candidato de Aécio, o vice-governador Antonio Anastasia (PSDB), nas intenções de voto para governador.

Ontem, Hélio Costa e Pimentel, separadamente, afirmaram que não buscarão uma saída imediata para a formação de um palanque governista único. O petista sugeriu uma definição apenas em junho. O prefeito de Uberaba, Anderson Adauto (PMDB), um dos articuladores de Costa, apostou em uma definição em maio. Aécio minimizou a dianteira dos adversários. "O desempenho de Anastasia está além das nossas expectativas, que projetavam o patamar atual para daqui a um mês", disse. Anastasia oscila entre 12% e 19%, conforme a lista dos candidatos.

PSDB opta pela candidatura Beto Richa no Paraná

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Marli Lima, de Curitiba

O diretório regional do PSDB no Paraná indicou ontem o nome do prefeito de Curitiba, Beto Richa, como pré-candidato ao governo do Paraná nas eleições de 2010. Em encontro que lotou uma sala de um hotel de luxo no centro da cidade, o tucano recebeu 41 dos 42 votos da reunião.
O senador Alvaro Dias, que disputou a preferência pela vaga, não compareceu ao local e criticou a decisão em seu blog na internet e também no twitter.

Na opinião de Alvaro, foi uma "reunião ilegal". O senador reclamou da antecipação da decisão e também disse que "o PSDB do Paraná está armando o palanque adversário". E explicou: "A Prefeitura de Curitiba passa para as mãos do PSB [partido do vice-prefeito, Luciano Ducci], do candidato à Presidência Ciro Gomes", e "o palanque de Dilma Rousseff passa a existir com a força da candidatura de Osmar Dias [do PDT, irmão de Alvaro]".

Empolgado, Richa disse que vai trabalhar na criação de uma grande aliança em torno de sua candidatura. "Temos várias conversas com partidos que estiveram conosco na última eleição", disse ele, que admitiu que o mais difícil é atrair o PDT, que "tem um candidato viável" no Estado. O tucano adiantou que outras siglas podem engrossar sua campanha e que "o PMDB é um deles". Representantes do DEM também estiveram no encontro.

A formalização da candidatura só ocorrerá em junho, na convenção do partido. Até lá, resta saber se o racha interno será mantido ou não. "Nosso projeto é trazer o Alvaro. Espero que ele acate o indicativo do partido, que em sua quase totalidade manifestou seu desejo", comentou Richa. O nome dele foi indicado mais de um mês depois do previsto, após reuniões nos últimos dias dos dois pré-candidatos com representantes do partido em Brasília e em São Paulo.

Alvaro argumentava que seu nome era mais viável para o projeto nacional de eleger o governador José Serra para presidente. Segundo ele, caso seu nome fosse escolhido, seu irmão poderia desistir da disputa, o que enfraqueceria a campanha de Dilma no Estado. Nos últimos meses, os irmãos Dias trabalharam em favor de suas próprias candidaturas e, embora afirmassem que um não iria concorrer com o outro, nenhum nunca deu garantia de que desistiria do pleito.

Em 2002, quando disputou o cargo, Serra perdeu no Paraná no primeiro e no segundo turno para Lula. "Tenho certeza de que todos os companheiros e os partidos coligados vão trabalhar intensamente para garantir uma grande votação para o Serra no Estado", adiantou Richa.

Estado da Dilma:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A candidata Dilma Rousseff disse à “Época” que a “perversidade monstruosa” do Estado mínimo é que ele “não investe em saneamento”. Faltou explicar dois pontos: quem entre seus adversários defende o Estado mínimo e por que, ao final do governo Lula, pelo último dado disponível, apenas 52% dos domicílios têm esgoto; quatro pontos percentuais a mais do que no começo do mandato.

Dilma disse, citando Lula, que “para quem é rico não interessa ter Estado”. Interessa, sim, basta ver a fila do BNDES e a concentração dos empréstimos nos grandes grupos econômicos, no governo Lula. Vamos lembrar um caso recente. O JBS Friboi comprou o frigorífico americano Pilgrim’s Pride e logo depois foi fazer a peregrinação ao banco. Lançou debêntures e, apesar de a operação não criar emprego algum no Brasil, o BNDES comprou 65% delas por R$ 2,2 bilhões. Pobres ricos brasileiros! O que seria deles sem o Estado?

Compare-se o dinheiro do JBS Friboi com o gasto com saneamento. No Orçamento da União de 2009, de acordo com o Contas Abertas, a dotação para saneamento foi de R$ 3,1 bilhões. Mas foram pagos apenas R$ 1,6 bilhão, contando restos a pagar. O desembolso do BNDES para saneamento foi de R$ 1,3 bilhão no mesmo ano.

Ninguém defende ou defendeu até hoje Estado mínimo no Brasil. As privatizações apenas reduziram excessos inconcebíveis como o da siderurgia, toda estatal com prejuízos cobertos pelo dinheiro dos impostos, ou de um monopólio estatal de telefone que não conseguia entregar o produto a mais de 30% dos domicílios. A telefonia privada levou o serviço para 82% dos domicílios, mas o PSDB não capitaliza o resultado, e o governo Lula quer recriar a Telebrás.

Saneamento sempre foi entregue ao Estado, sempre dependeu do investimento dos governos e sempre foi uma vergonha. Não foi diferente nos dois períodos do presidente Lula. No primeiro ano do governo de Fernando Henrique, o percentual de domicílios ligados à rede de esgoto era de 39%.

No último, tinha subido para 46%. Em 2003, no primeiro ano de Lula, a Pnad registra 48% de domicílios com esgoto, e no último dado disponível divulgado pela pesquisa, do ano passado e que se refere a 2007, é de 52%.

Nos dois houve avanços, nenhum dos dois produziu um número do qual se vangloriar.

A ministra pegou o exemplo errado. Para se ter uma ideia, em 2007 houve queda dos domicílios com saneamento básico no Norte do país, onde apenas 9% das casas estão ligadas à rede de esgoto.

A ministra Dilma já estava em campanha há muito tempo, mas neste fim de semana é que foi oficializada pelo PT, fez discurso, deu entrevistas, o presidente Lula deu entrevista. Agora é oficial. E ela começa a testar suas respostas, discursos e propostas para a campanha eleitoral.

Há respostas boas, falsas, óbvias e fracas. É falso que o governo anterior tenha tentado privatizar a Petrobras; é fraco o argumento de que “o pessoal se mobilizou” e impediu a privatização de Furnas. Defendida pelo corporativismo e pelos políticos, não por bons motivos, Furnas passou a ser feudo do PMDB. É fraco defender o estatismo com o argumento de que nos Estados Unidos o Pentágono organiza a demanda privada. Ora, em que país do mundo as compras governamentais não são uma grande fonte de demanda da economia? Dilma deu algumas boas respostas na sua entrevista à “Época”. Sobre aborto, ela disse que todas as mulheres que viu fazer “entraram chorando e saíram chorando”, mas que é uma questão de saúde pública porque as mulheres pobres, que não podem ir à clínica privada, se submetem a métodos que colocam suas vidas em risco.

Entrou no delicado assunto com sobriedade. Sobre o julgamento de acusados de tortura e terrorismo, ela fez a distinção que cabe. Lembrou que um lado sofreu processo, prisão, tortura e perda dos direitos políticos. “Não há similaridade com a condição daqueles que torturaram.” A candidata disse nas entrevistas, e no discurso, que quer fazer um governo de coalizão. Isso é óbvio, já que nenhum partido no Brasil conseguiu maioria para governar sozinho. É inevitável que ela faça uma coalizão caso seja eleita.

Dilma deu uma resposta que parece boa, mas é pura criação de marketing, sobre o fato de ter menos intenção de votos entre mulheres. Disse que elas demoram mais a tomar decisão, mas quando tomam nada as demove. “Como vocês devem saber por experiência própria”, disse aos entrevistadores da revista, todos homens. Ficou engraçado, mas faltou explicar por que no Ibope de fevereiro José Serra tem 36% de intenção de voto de homens e mulheres, Ciro Gomes, 11% de ambos os sexos, e Marina Silva, os mesmos 8%. Já Dilma tem 29% dos homens e 22% das mulheres.

Lula disse na entrevista do “Estadão” que “a grande obra de um governo é fazer seu sucessor”. Se fosse assim, o que seria do pilar democrático da alternância no poder? A grande obra de um governo é governar bem. Fazer o sucessor pode ser decorrência.

A propósito, o jingle da Dilma se refere seis vezes ao presidente: “Lula”, “ele”, “dele”, “ele”, “Lula”, “cabra valente”. E havia quem na Convenção do PT exibisse camisa defendendo Lula “outra vez”. Ela não quer ser chamada de poste, mas a campanha não a ajuda.

Com Alvaro Gribel

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'Nova' Telebrás beneficia cliente de Dirceu

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) recebeu ao menos R$ 620 mil do principal grupo empresarial que será beneficiado caso a Telebrás seja reativada, como promete o governo.

O dinheiro foi pago entre 2007 e 2009 pelo empresário Nelson dos Santos, dono da Star Overseas, companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Em 2005, Santos comprara pelo valor simbólico de R$ 1 participação na empresa Eletronet.

Praticamente falida, a Eletronet era dona de 16.000 Ian de cabos de fibra óptica ligando 18 Estados, o que não cobria suas dividas, estimadas em R$ 800 milhões.

Após Santos contratar Dirceu, o governo decidiu usar as fibras ópticas da Eletronet para reativar a Telebrás e arcar sozinho com a caução judicial necessária para resgatar a rede, hoje em poder dos credores. Estimase que o negócio renda ao empresário R$ 200 milhões.

Segundo Santos, o dinheiro pago a Dirceu não se destinou a lobby. O ex-ministro não quis comentar.

Dirceu recebe de empresa por trás da Telebrás

Petista foi contratado por ao menos R$ 620 mil por empresa beneficiada com reativação da estatal de telecomunicações

Empresa nas Ilhas Virgens Britânicas comprou por R$ 1 rede de fibras ópticas que será usada por Telebrás e pode ficar com R$ 200 mi


Marcio Aith e Julio Wiziack
O ex-ministro José Dirceu recebeu pelo menos R$ 620 mil do principal grupo empresarial privado que será beneficiado caso a Telebrás seja reativada, como promete o governo.O dinheiro foi pago entre 2007 e 2009 por Nelson dos Santos, dono da Star Overseas Ventures, companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal no Caribe. Dirceu não quis comentar, e Santos declarou que o dinheiro pago não foi para "lobby".Tanto a trajetória da Star Overseas quanto a decisão de Santos de contratar Dirceu, deputado cassado e réu no processo que investiga o mensalão, expõem a atuação de uma rede de interesses privados junto ao governo paralelamente ao discurso oficial do fortalecimento estatal do setor.

De sucata a ouro

Em 2005, a "offshore" de Santos comprou, por R$ 1, participação em uma empresa brasileira praticamente falida chamada Eletronet. Com a reativação da Telebrás, Santos poderá sair do negócio com cerca de R$ 200 milhões.

Constituída como estatal, no início da decada de 90, a Eletronet ganhou sócio privado em março de 1999, quando 51% de seu capital passou para a americana AES. Os 49% restantes ficaram nas mãos do governo. Em 2003, a Eletronet pediu autofalência porque seu modelo de negócio não resistiu à competição das teles privatizadas.

Resultado: o valor de seu principal ativo, uma rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica interligando 18 Estados, não cobria as dívidas, estimadas em R$ 800 milhões.

Diante da falência, a AES vendeu sua participação para uma empresa canadense, a Contem Canada, que, por sua vez, revendeu metade desse ativo para Nelson dos Santos, da Star Overseas, transformando-o em sócio do Estado dentro da empresa falida.

A princípio, o negócio de Santos não fez sentido aos integrantes do setor. Afinal, ele pagou R$ 1 para supostamente assumir, ao lado do Estado, R$ 800 milhões em dívidas.

Em novembro de 2007, oito meses depois da contratação de Dirceu por Santos, o governo passou a fazer anúncios e a tomar decisões que transformaram a sucata falimentar da Eletronet em ouro. Isso porque, pelo plano do governo, a reativação da Telebrás deverá ser feita justamente por meio da estrutura de fibras ópticas da Eletronet.

Outro ponto que espanta os observadores desse processo é que o governo decidiu arcar sozinho, sem nenhuma contrapartida de Santos, com a caução judicial necessária para resgatar a rede de fibras ópticas, hoje em poder dos credores.

Até o momento, Santos entrou com R$ 1 na companhia e pretende sair dela com a parte boa, sem as dívidas. Advogados envolvidos nesse processo estimam que, com a recuperação da Telebrás, ele ganhe cerca de R$ 200 milhões.

Um sinal disso aparece no blog de José Dirceu: "Do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet, uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas, joint venture entre a norte-americana AES e a Lightpar, uma associação de empresas elétricas da Eletrobrás".

O ex-ministro não mencionou o nome de seu cliente nem sua ligação comercial com o caso. O primeiro post de Dirceu no blog se deu no mês de sua contratação por Santos, março de 2007. O texto mais recente do ex-ministro sobre o assunto saiu no jornal "Brasil Econômico", do qual é colunista, em 4 de fevereiro passado.

O presidente Lula manifestou-se publicamente sobre o caso em discurso no Rio de Janeiro, em julho de 2009: "Nós estamos brigando há cinco anos para tomar conta da Eletronet, que é uma empresa pública que foi privatizada, que faliu, e que estamos querendo pegar de volta", disse na ocasião.

Lula não mencionou que, para isso, terá de entrar em acordo com as sócias privadas da Eletronet, entre elas a Star Overseas, de Nelson dos Santos, que contratou os serviços de Dirceu.

Enquanto o governo não define de que forma a Eletronet será utilizada pela Telebrás, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) conduz uma investigação para apurar se investidores tiveram acesso a informações privilegiadas.

Como a Folha revelou, entre 31 de dezembro de 2002 e 8 de fevereiro de 2010, as ações da Telebrás foram as que mais subiram, 35.000%, contando juros e dividendos, segundo a consultoria Economática.

Por Maia, DEM ameaça deixar Gabeira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pedro Venceslau
O DEM do Rio de Janeiro decidiu dar um ultimato ao PV de Fernando Gabeira. Se Cesar Maia não for candidato ao Senado pela coligação - que inclui PSDB e PPS -, o partido lançará candidato próprio ao governo. O nome para o "sacrifício" já foi escolhido: o vereador carioca Eider Dantas, líder do DEM na Câmara Municipal. "Defendemos uma coligação ampla em torno de Fernando Gabeira, mas o Cesar Maia é um nome inquestionável no Rio de Janeiro.

Não existe apoio do DEM sem ele na chapa, como candidato ao Senado". Sem o DEM, a aliança de oposição a Sergio Cabral perderia valiosos 4,5 minutos de TV. O principal foco de resistência a Cesar Maia no PV é o vereador Alfredo Sirkis, coordenador da pré-campanha de Marina Silva e adversário histórico do ex -prefeito. Partiu dele a articulação para que os verdes lancem a vereadora Aspásia Camargo (PV) ao Senado. "Esse é um jogo de braço, mas em algum momento vamos ter que nos acertar", afirma Marco Mroz, da Executiva Nacional do PV.

"A candidatura da Aspásia é importante para ajudar na campanha de Marina Silva, já que os outros partidos da coligação apoiam o Serra. A aliança com o DEM é para o governo. O Senado é outra disputa", diz Alfredo Sirkis.

Fernando Gabeira, que não se opõe a Cesar Maia, afirma que não existe crise com o DEM.

"Eles devem estar encontrando dificuldades para encontrar parceiros para formar uma aliança para as eleições proporcionais. De qualquer forma, a coligação definiu que uma vaga ao Senado é do DEM e a outra do PPS".

O PV fez uma consulta ao TRE para saber se é possível lançar três candidatos ao Senado na mesma coligação. O resultado deve sair dia 5.

PT recua e retira apoio a novo tribunal

DEU EM O GLOBO

O deputado Gilberto Palmares (PT) recuou e decidiu retirar a sua assinatura da emenda constitucional que cria um novo tribunal para analisar as contas de 91 municípios do Estado do Rio de Janeiro.

Criação de novo tribunal de contas divide Alerj

Deputados do PT e do DEM decidem votar contra proposta; parlamentares da CPI do TCE defendem o projeto

Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno

A polêmica emenda constitucional (PEC 60) da Alerj que cria um novo tribunal de contas para analisar as contas de 91 prefeituras sofreu ontem sua primeira baixa. O deputado Gilberto Palmares (PT), um dos autores da proposta, decidiu retirar a sua assinatura para atender a uma orientação da bancada do partido.

Os cinco parlamentares do PT resolveram votar contra o projeto, formulado pela CPI criada para investigar denúncias de corrupção contra três conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em nota, a bancada do PT afirmou que um novo tribunal acarretará gastos de R$ 80 milhões e não vai resolver as denúncias que pesam contra integrantes do TCE.

“Não vamos superar a crise, os problemas e desvios de uma instituição (TCE) mantendo-a intacta e criando outra.

Teremos o dobro de problemas”, diz o PT.

Se aprovado o texto original, a emenda 60 extingue a obrigação de prefeitos e vereadores informarem os seus salários ao futuro tribunal antes do fechamento das contas anuais. Sem essa exigência, o tribunal só poderá cobrar os ganhos indevidos quase um ano e meio após o fechamento das contas municipais.

A Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) informou que, com o passar do tempo, é menor a probabilidade de o estado receber o que foi ganho indevidamente por agentes públicos.

Outra proposta da PEC é acabar com a exigência de diploma superior para os conselheiros com cargo vitalício que assumirão o tribunal. Caso o projeto passe na Alerj, o Estado do Rio passará a ser o único no país com três tribunais de contas: da capital, do estado e dos municípios.

No total, serão 28 conselheiros.

A presidente da CPI do TCE, deputada Cidinha Campos (PDT), também autora da proposta, defendeu a PEC. Para ela, as duas alterações foram feitas para adequar a legislação estadual à Constituição Federal, que já prevê essas mudanças.

Para Cidinha, a PEC tem como objetivo melhorar a fiscalização: — Nosso propósito em criar um novo tribunal não é proteger maus gestores, mas desconcentrar o enorme poder que hoje tem o TCE.

Integrante da CPI, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) tem opinião diferente. Ele apresentou emendas que mantêm a obrigação de prefeitos e vereadores informarem seus salários, bem como de os futuros conselheiros terem diploma superior. Para o deputado, essas são medidas que ajudam na transparência e na qualidade do futuro órgão.

— Realmente é um texto com limitações (o da PEC 60). Mas a minha intenção ao assinar o projeto é enfrentar a corrupção no TCE. Hoje temos uma situação de impunidade que precisa ser enfrentada. Tenho certeza de que vamos aprovar um substitutivo para um tribunal mais transparente. Apresentei 12 emendas — disse Freixo.

Apesar da posição da presidente da CPI, não há consenso dentro da comissão sobre a PEC. O deputado João Pedro (DEM), que é o relator da comissão, recusou-se a assinar a proposta. Ele informou que os três deputados do DEM votarão contra a PEC 60. A bancada do PSDB, por sua vez, aguarda a análise das emendas para saber como votará.

O presidente do TCE, José Maurício Nolasco, afirmou que há desconhecimento por parte dos deputados ao proporem a PEC. De acordo com Nolasco, a Constituição Federal obriga o tribunal a acompanhar convênios assinados com prefeituras e, portanto, não teria como impedir a participação do órgão.

— Não se pode também excluir a obrigação de prefeitos e vereadores informarem seus ganhos.

Isso nada tem a ver com controle prévio, como defende a CPI — disse Nolasco.

Somos a "massa atrasada" do programa do PT: Arnaldo Jabor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO /Caderno 2

Raia no horizonte a revolução dos pelegos

Lula deu um show de bola na entrevista ao “Estadão”. Show de bola e com duas frases sinceras e corajosas: “Se eu tivesse ganho a eleição em 89, com a cabeça que eu tinha na época, ou teria de fazer uma revolução ou caía no dia seguinte...” A outra frase foi sobre o programa do PT que estava saindo do forno: “No congresso do PT aparecem mais de 20 teses.

É como uma feira de produtos ideológicos — as pessoas compram e vendem o que querem”. Brilhante entrevista... (Muitos idiotas acham que minha missão na vida é criticar o Lula. Mas eu sou livre para elogiar também) Claro que a entrevista serve para amenizar o chorrilho de burrices e alucinações que o programa do PT nos jogou em cima. Mas prova que, além de ter mantido a política econômica de FH (Lula aprendeu muito com seu ídolo intelectual...), seu outro mérito foi impedir a loucura dos bolchevistas e jacobinos de plantão.

Mas, se Dilma for eleita, teremos saudades de Lula. Quem vai mandar no país será o Zé Dirceu (sempre esse homem fatal...). O programa do PT não é apenas assustador como futuro para um Brasil moderno: é prova de que cabeça de comuna não muda. Nada do que se passou nos últimos 20 anos foi assimilado por essa gente. Estão ali todos os erros passados que cismam em instalar.

Sei do que falo. Conheci pessoalmente muitos comunas de hoje.Eu devo ter assistido a umas mil horas de reuniões de esquerda em minha vida. Fui comunista de carteirinha no PCB, de onde saí para um grupo “independente”, mais moderno, cognominado, claro, pelos velhos “pecebões” de pequeno-burguês e “revisionista”.

E confesso que tenho até saudades das noites de meus vinte anos românticos. Fumávamos muito, sérios, malvestidos, “duros”, planejando instalar o socialismo no país, sem armas, sem apoio sindical ou militar, tudo na base do desejo.

Ninguém precisava estudar, pois a verdade estava do nosso lado. A ideologia mecânica justifica a ignorância. Para nós, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada Jacques, supervisor de nossa “base”: “O marxismo supera a morte, pois, uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa.

Ele só existe como espécie. E não morre!”. E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...

Eu olhava meus companheiros e pensava: “Como vamos conquistar o poder fumando mata-ratos, reunidos neste quarto e sala imundo? Como vamos dominar o Brasil sem uma reles Beretta?” Mas ficava quieto, com medo de ser chamado de “vacilante”.

Era delicioso sentir-se importante, era bom conspirar contra tudo, desde o papai reaça até a expulsão do imperialismo ianque. Tudo nos parecia claro, os oradores “surfavam” em ondas ideológicas com meia dúzia de palavras-chave sobre a tal “realidade brasileira”: burguesia nacional, imperialismo, latifúndio, proletariado, campesinato etc. Nossa tarefa de comunistas era nos infiltrar em todos os “nichos da sociedade” para, de dentro, conquistar o poder socialista.

Tínhamos de nos infiltrar em sindicatos, academias, universidades e — coisa que me deprimia especialmente — em “associações de bairro”, onde eu me via doutrinando donas de casa da Tijuca sobre as virtudes do marxismo.

Exatamente como este híbrido governo Lula/ PT está fazendo hoje — empregando (infiltrando) milhares de companheiros aguerridos e “puros” no aparelho do Estado.Parecia-nos perfeito o diagnóstico sobre o Brasil — os argumentos iam se organizando “dialeticamente” enquanto a madrugada embranquecia.

Até que chegava a hora fatal: “O que fazer?” E aí... ninguém sabia nada. Discutíamos infinitamente para chegar a uma certeza da qual partíamos. Esse é o drama das ideologias: chegar a uma conclusão que já existe desde o início.

E aí pintava o desespero. As acusações mútuas cresciam, com os xingamentos previstos na cartilha marxista: hesitantes ou radicais, ou sectários ou alienados ou provocadores ou obreiristas ou liberais ou o diabo a quatro. E eu, do meu canto neurótico, pensava: “Não ocorre a ninguém que há invejosos, ignorantes, mentirosos, ciumentos, paranoicos, babacas e, simplesmente, os “FDPs”? Por que ninguém via o óbvio? E hoje, com este programa do PT, vemos que a tribo dos “puros”, a plêiade dos “iluminados” de Lenin, aqueles que se sentem “acima” de todos nós (nós — os burgueses neoliberais de direita), está com chance de finalmente fazer o que Lula conseguiu adiar.

Não se trata mais da revolução da “justiça”, como eles achavam que pensavam durante a Guerra Fria. Agora eles partiram para uma outra fria guerra, uma guerra calculista e esperta, oculta pelos chavões dos anos 50. Vamos traduzir o que nos dita o programa do PT, recém-aprovado pelos mentores do “mensalão”, que eles chamam de “tentativa de golpe da direita”.

Quando o programa do PT diz “combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento”, leia-se, como o velho Marco Aurélio Garcia deixou escapar: “eliminar o esterco da cultura internacional e controlar a mídia”. Eles têm o sonho de uma grande TV Brasil dominando tudo. Quando falam em “atualizar índices de produtividade no campo”, leia-se “dar força e impunidade ao MST nas invasões e ferrar a agroindústria”.

Quando falam em “apoio incondicional ao Programa Nacional de Direitos Humanos”, leia-se “fazer caber nas abstratas generalizações do texto todas as formas de controle social pelo Estado”.

Claro que os malandros mais pragmáticos do PT divulgam que o programa é apenas para dar pasto para a ala mais radical do partido...

Mentira...

Estão esperando a revolução. Só que é uma revolução para eles mesmos, que se consideram o povo. Dentro do Estado já há 200 mil contratados desde que o Lula tomou posse. O gasto com folha de pagamentos dobrou, de 2002 até hoje. O programa do PT não é para atemorizar tucanos. É um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os “sujeitos”, os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles chamam, a “massa atrasada”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – José Serra

“Não obstante tais obstáculos, a Nova República conseguiu completar com normalidade uma conquista que permaneceu fora do alcance dos regimes do passado. A alternância tranquila no poder de forças político-partidárias antagônicas provocava sempre a polarização e a radicalização da sociedade brasileira. São exemplos os períodos de 1954-1955 e, com consequências mais graves, entre 1961 e 1964. Neste quarto de século, a alternância passou a fazer parte das conquistas adquiridas: já ninguém mais contesta a legitimidade das vitórias eleitorais, do processo democrático e do natural desejo dos adversários vitoriosos de governar sem perturbações.
O resultado é ainda mais impressionante quando se observa que uma dessas alternâncias aparentemente mais contrastantes foi a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores, encarado, a princípio, se não como força desestabilizadora, ao menos de comportamento radical e deliberadamente à margem na política nacional. Basta lembrar, como exemplo, a decisão do PT de punir seus deputados que votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, e sua recusa em homologar a Constituição de 1988.”


(José Serra, governador de S. Paulo, no artigo “Vida longa à Nova República”, publicado na revista VEJA)

Mais pressão sobre Serra

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Lançamento da pré-candidatura da ministra Dilma aumenta a irritação de oposicionistas com a demora do governador paulista para entrar no páreo. Impasse prejudica a formação de palanques regionais do PSDB

Daniela Lima

O PT já tem um nome: Dilma Rousseff. Também tem um líder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, aprovou uma proposta de programa de governo que prevê, por exemplo, um estado forte e o compromisso com a estabilidade econômica. Até uma polêmica a campanha da ministra-chefe da Casa Civil já tem: a participação de José Dirceu, antecessor da petista no ministério, líder influente no PT, mas que monopoliza os holofotes devido ao escândalo do mensalão. Enquanto isso, no reino dos tucanos, o governador de São Paulo, José Serra, ainda se esquiva do lançamento oficial de seu nome como pré-candidato à Presidência da República.

A demora — que já irritou o maior aliado do PSDB, o DEM, e as bases do tucanato — agora enerva integrantes da cúpula do partido. “Enquanto a Dilma ocupou lugar de destaque em todos os jornais no fim de semana, nós ficamos assistindo”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). A fala de Dias ilustra o dilema que o PSDB vive. A aparente paralisia de José Serra, deixada um pouco de lado durante o carnaval, provoca inquietude. Aparente porque, nas palavras do presidente da legenda, senador Sérgio Guerra (PE), o governador paulista tem se movimentado nos bastidores.
“Posso listar para você pelo menos 10 estados em que o Serra está atuando para auxiliar na montagem dos palanques.” Citou seis: Paraná, Pará, Alagoas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.

Essa mobilização de bastidor não está satisfazendo alguns tucanos. Há entre os integrantes do partido um sentimento de que, enquanto o PSDB ainda toca a sucessão presidencial em compasso de espera, Dilma cresce nas pesquisas (1)e divulga a candidatura governista. “Todo mundo tem a sua hora. Nós temos uma estratégia e vamos segui-la. Não podemos olhar para o lado, ver o que o adversário está fazendo e tentar copiar. Isso não funciona. Temos de confiar no partido nesse momento”, declarou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA).

Turbulência

Entre as unidades da Federação citadas por Sérgio Guerra como alvo da movimentação de Serra, estão aquelas em que um imbróglio político incomoda tanto a petistas quanto a tucanos. No Rio de Janeiro, no Pará e no Paraná, o PSDB tem centrado esforços mais para embaralhar do que ajeitar o jogo eleitoral. A estratégia atrapalha pretensões pessoais que afloram no tucanato. Ainda assim, Guerra garante que a sigla não está em crise. Para reforçar o discurso, ele passou a repetir como um mantra que ter pressa é bobagem. Para o senador, a movimentação de Serra só deve ganhar corpo após o fim do prazo de desincompatibilização, em 4 de abril.

“Depois disso, Dilma terá que deixar o cargo de ministra e descer para a planície onde estão todos os outros pré-candidatos. Não adianta começar agora (a campanha) enquanto ela anda com Lula para cima e para baixo, usando a máquina pública para divulgar a candidatura”, disse Guerra. Mas a demora de Serra em assumir sua posição acaba colocando o partido em situações sensíveis. Essa postura e o crescimento dos índices alcançados por Dilma nas pesquisas de intenção de voto inflam os ânimos daqueles que acreditam na possibilidade de Serra desistir da sucessão presidencial.

“Sempre que ela cresce, as pessoas começam a falar disso. Mas é uma besteira”, rechaçou Guerra. “Ele tem um compromisso partidário e tem um compromisso com a biografia também. Essa possibilidade não existe”, endossou João Almeida. Como que para afastar a crise, Guerra continuará repetindo a cantilena da paciência tucana, a fim de acalmar os ânimos dos aliados. “Eu já estive matriculado no bloco dos afoitos. Depois, me convenci do contrário. Mesmo que ele (Serra) se apresente como candidato, não poderá barrar o caminho da outra (Dilma)”, afirmou João Almeida. “Por enquanto, estamos no ‘deixa como está para ver como é que fica’. Mas isso depois pode se tornar irreversível”, alertou o senador Álvaro Dias.

Disputa acirrada

Divulgada no último dia 18, a mais recente pesquisa Ibope sobre a corrida presidencial trouxe o governador José Serra (PSDB) na liderança, com 36% das intenções de voto, seguido da ministra Dilma Rousseff (PT), com 25%, e de Ciro Gomes (PSB), com 11%. A primeira sondagem realizada pelo instituto sobre a sucessão, em julho do ano passado, trazia Serra com 38% da preferência do eleitorado, e a candidata do presidente Lula com 18%. Em oito meses, Dilma cresceu sete pontos percentuais, e Serra perdeu dois.

"Eu já estive matriculado no bloco dos afoitos. Depois, me convenci do contrário. Mesmo que Serra se apresente como candidato, não poderá barrar o caminho da outra”

João Almeida, líder do PSDB na Câmara

Indefinição nos estados

O PSDB espera que, a partir de abril, a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à Presidência perca velocidade. Para a cúpula do partido, sem a possibilidade de percorrer o país inaugurando obras ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a petista ficará em igualdade de condições com os outros pré-candidatos. “A Dilma começou a fazer campanha há mais de um ano. Essa declaração oficial da pré-candidatura é uma mera formalidade. O PSDB não está fazendo esse jogo. Está seguindo a lei e sendo ético, mas sofre um prejuízo por isso”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Dias representa a ala dos que têm pressa, porque têm pretensões eleitorais em seu estado. Quer ser candidato ao governo e critica a posição de seu partido. Segundo ele, líderes locais começaram a agir por conta própria diante da falta de direcionamento do comando nacional da legenda. “Em alguns estados, estão agindo de forma provinciana, sem pensar no projeto maior, que é a candidatura do Serra. Evidente que, se candidato, ele assume a liderança desse processo e toma frente nas negociações.”

No Paraná, o prefeito de Curitiba, Beto Richa, disputa com Dias a preferência do partido pela candidatura ao governo. Richa aparece melhor nas pesquisas de intenção de voto, mas Dias alega ser capaz de agregar mais apoio. Isso porque o senador Osmar Dias (PDT-PR), irmão de Álvaro, está na lista de concorrentes ao Executivo paranaense. “A minha candidatura contaria com o apoio do Osmar e de parte do PMDB”, declara Álvaro Dias.

Xadrez

Osmar Dias aparece em segundo lugar nas intenções de voto. Quer que Gleisi Hoffmann, presidente do PT no Paraná, esteja ao seu lado na campanha, como vice da chapa. Para o Senado, teria a companhia do governador Roberto Requião (PMDB). Os petistas, no entanto, sonham com Gleisi no Senado, não como vice de Osmar Dias. Os outros dois estados da Região Sul também estão com o jogo indefinido. No Rio Grande do Sul, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, do PT, enfrentará o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB). Ambas as siglas integram a base aliada governista. Segundo Tarso, Dilma terá dois palanques no estado.

“O PMDB sempre foi contra o PT no Rio Grande do Sul. Ela terá dois palanques, e não vejo problemas nisso”, defendeu o ex-ministro no último sábado. Fustigada por uma crise política e por denúncias de corrupção, a governadora gaúcha, Yeda Crusius, é pressionada, mas resiste a desistir da tentativa de reeleição. Em Santa Catarina, a senadora Ideli Salvatti (PT) e a deputada Ângela Amin (PP) devem disputar o governo. Os tucanos aguardam os desdobramentos da crise que se abateu sobre o vice-governador catarinense, Leonel Pavam (PSDB), para fechar uma estratégia. O DEM, partido aliado do PSDB, também tem um nome: o senador Raimundo Colombo. (DL)

Serra quer votar ''pacote'' antes de sair

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Prioridades incluem criação de 1,6 mil cargos, reforço do sistema previdenciário e melhorias para Olimpíada

Silvia Amorim

O governador José Serra (PSDB) definiu com a sua liderança no Legislativo os projetos de lei que quer ver aprovados antes de deixar o governo caso dispute a Presidência. São seis propostas que, em resumo, preveem criação de cargos, reforma no sistema previdenciário, regras para organização dos jogos olímpicos de 2016, troca do nome da Polícia Militar e reajuste do salário mínimo paulista.

Todos os textos são de iniciativa do Executivo. Os dois últimos chegaram à Assembleia Legislativa neste ano. Os demais estão lá desde 2009. Segundo o líder do governo, Vaz de Lima (PSDB), os projetos começam a ser preparados para votação a partir desta semana. "A previsão é de que sejam aprovados até o fim de março", reforçou o presidente da Casa, Barros Munhoz (PSDB). Ou seja, antes de Serra deixar o governo - prazo final é 2 de abril.

Neste início de ano eleitoral, a base governista pretende aprovar a criação de 1.618 cargos públicos. As vagas são para órgãos da administração indireta, Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) e Instituto de Pagamentos Especiais de São Paulo (Ipesp).

A maioria dos novos postos é de provimento efetivo, ou seja, só pode ser preenchida por concurso público. Os cargos de confiança são apenas 107. Por conta das restrições em ano de eleição, o governo prevê a contratação desse contingente somente em 2010. Os projetos não trazem estimativa de gastos com o reforço de pessoal.

Mais da metade (66%) dos cargos propostos é para o Ipem, uma espécie de Inmetro estadual. Isso é mais do que o atual quadro de pessoal da autarquia, cerca de 700. Segundo o instituto, essas vagas serão preenchidas aos poucos. O governador pediu este mês que a proposta tramite em regime de urgência.

No projeto que trata do Ipesp, além de criar um quadro de pessoal, o governo também declara em regime de extinção a carteira previdenciária dos serventuários do Estado, a exemplo do que fez no ano passado com a carteira dos advogados administrada pelo Ipesp. É mais um passo para ajustar a previdência paulista à nova legislação federal.

SEGURANÇA

O projeto relacionado à realização dos jogos olímpicos de 2016 deve ser o primeiro a ser votado.

A previsão é do líder Vaz de Lima. "Após o carnaval, deverá ser um dos primeiros a ser deliberado. Já está bem adiantado", disse.

A proposta estabelece normas para o organização do evento. Prevê reforço da segurança pública nos locais com grande movimentação de turistas e melhoria no transito de pessoas e veículos, entre outros. Mas o ponto mais polêmico é o que suspende a concessão da meia-entrada nos eventos olímpicos. O anúncio da medida, diz o projeto, deve ser feito a 180 dias da realização do evento.

"Vamos colocar os projetos que a gente julga ser possível uma discussão mais rápida. Há outros à espera de votação, mas que devem demandar mais discussão, então deixaremos para outro momento", explicou Vaz de Lima.

O líder não acredita que encontrará resistência para aprovar a criação de cargos em ano eleitoral. "São cargos de provimento efetivo. Não tem porque ter problema." A oposição ainda não se manifestou sobre as propostas.

PAUTA DE VOTAÇÃO

PLC 45/2009 - Chegou ao Legislativo em outubro passado e propõe a criação de 1.062 cargos efetivos e 15 de confiança no Ipem

PLC 35/2009 - Foi enviado aos deputados também em outubro e cria 449 cargos efetivos e 59 de confiança na Artesp

PL 1.322/2009 - Começou a tramitar em dezembro e institui regime de extinção para a carteira de previdência dos funcionários de cartórios extrajudiciais e cria 33 cargos de confiança para o Ipesp

PL 306/2009 - Chegou ao Legislativo em maio e estabelece normas para a realização dos jogos olímpicos de 2016

PEC 1/2010- Foi enviada em fevereiro à Casa e propõe a mudança do nome da Polícia Militar

PL 135/2010 - Encaminhado em fevereiro, projeto reajusta o valor do salário mínimo paulista

Para oposição, fala de Dilma sugere governo autoritário

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

DEM e PSDB atacam discurso de lançamento da pré-candidata e apontam omissões e falta de clareza

Rosa Costa e Denise Madueño

O PSDB e o DEM, principais adversários do PT na disputa pela Presidência, criticaram ontem o discurso feito pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, no dia anterior, no lançamento de sua pré-candidatura. O Estado forte, defendido por ela no 4º Congresso do PT, foi considerado sinônimo de governo autoritário e as referências às privatizações, como tentativa de repetir "clichê" usado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A oposição criticou não apenas o que foi dito pela ministra, mas também o que considerou como omissões. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que a pré-candidata deixou em suspense a posição dela e do PT quanto ao direcionamento da economia. "Não há nada claro, nem no que a ministra disse, nem nos documentos do partido", disse.

O tucano acusou ainda Dilma e o PT de ignorarem a questão dos marcos regulatórios e das agências reguladoras. "As agências estão contaminadas pela influência política, por pressões de grupos econômicos, e não têm condições de defender o interesse da população e de balizar o interesse público e o da iniciativa privada", apontou.

Guerra relacionou o "Estado forte" defendido por Dilma a um discurso ideológico aliado "à sua notória capacidade de desenvolver ações autoritárias".

Na mesma linha de discussão sobre a participação do Estado, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), considerou que a pré-candidata do PT reproduz o que o presidente fez em campanhas anteriores. "Ela repete o clichê de tentar colar na oposição a pecha de que íamos privatizar a qualquer preço. Isso não é verdade", disse Maia. "O discurso de Estado forte cabe em qualquer linha política e não significa governo estatizante, como prega a ministra Dilma. Nós queremos um Estado que cumpra o seu papel, que tenha força na regulação e na fiscalização do setor privado", argumentou.

No mesmo tom do aliado, Guerra criticou o modelo adotado pelo governo Lula, classificando-o de sem objetividade nem racionalidade. "Nenhum de nós quer um Estado fraco, mas o que faz um Estado verdadeiramente forte é a capacidade de intervir, colaborar, construir, não o autoritarismo", alegou. "O fundamento básico de um Estado equilibrado é a organização, o planejamento e o respeito a atribuições legais."

O presidente do PSDB resumiu o congresso petista como "um aceno aos movimentos sociais" sem "estabelecer compromissos". Já Dilma, continuou ele, "reafirmou velhas teses numa perspectiva conciliadora".

"JURÁSSICO"

O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) afirmou que o discurso da ministra mostrou quem é Dilma. "Ela defende a estatização e tem total aversão da participação da iniciativa privada no processo necessário para o País crescer".

Para o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), futuramente ficará claro que a intenção da ministra foi a de agradar aos radicais do PT. "Embora ela seja cristã nova no partido, seu discurso foi jurássico, incapaz de se adequar à possibilidade de o Brasil crescer nos próximos 15 anos."

Oposição classifica de "mentirosa" fala de Dilma para petistas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Líderes oposicionistas reagem a trecho sugerindo que FHC só não privatizou Petrobras e Caixa por que não conseguiu

Arthur Virgílio, líder dos tucanos no Senado, afirma que o governo anterior não cogitou privatizar empresas citadas pela pré-candidata

Da Sucursal de Brasília

Líderes do PSDB e do DEM classificaram de "mentiroso" trecho do discurso da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no lançamento de sua pré-candidatura a presidente, anteontem em Brasília.

Ao defender uma participação forte do Estado na economia, ela deu a entender que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso só não privatizou Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal por que não conseguiu. "Aqui, o desastre [econômico] só não foi maior, como em outros país, porque os brasileiros resistiram a esse desmonte", afirmou ela.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que em nenhum momento o governo FHC cogitou privatizar essas empresas.

"O que ela revela com isso é a cabeça de alguém que não teria privatizado a Telebrás se fosse presidenta, e nós ainda estaríamos colocando linha de telefone no IR", afirmou.

"Como boa aluna do mestre Lula, ela usa a mentira como arma essencial para a busca de popularidade. Ignorar os efeitos anteriores é desonestidade intelectual", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Para, o senador José Agripino (DEM-RN), Dilma confunde um Estado que promova o bem-estar social com o Estado empreendedor.

"O que ela está querendo é passar para a sociedade que o Estado forte é saída para o país fazer a distribuição de renda. Para isso, o Estado não precisa ser empregador", disse, em referência ao crescimento de cargos públicos criados pelo governo federal.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirmou que o seu partido, desde 2004, reconhece a importância da atuação do Estado "na saúde, educação e segurança e na fiscalização e regulação da economia". "O que não acontece agora, em que o governo desmonta o papel das agências reguladoras", completou.

Outro ponto atacado pelos oposicionistas foi a troca de uma palavra no discurso da ministra. No texto original estava escrito "reconstituindo o Estado", mas ela disse "reaparelhando o Estado".

Para Arthur Virgílio, foi um ato falho, que revela a preocupação do PT em inchar ainda mais a máquina pública. "Eu tenho que agradecer esse alerta do seu subconsciente. Eu espero que ela nem reconstrua o Estado velho nem aparelhe mais do que [o governo Lula] está aparelhando. Se não vão ter que aparelhar até as crianças", afirmou o tucano.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) também não poupou críticas ao discurso da petista.

"A Dilma vai derrotar o lulismo no Brasil. O povo brasileiro não admite essa tese do Estado fiscalizante, intervencionista, autoritário. O presidente Lula, vendo que não tinha espaço para aplicar essas teses, absorveu o ideia do modelo de mercado", disse.

Teresa Cristina - Doce Amor/Se Tu Fores na Portela/Portela

Mensalão, raça, catarse:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A expressão é um tabu. Com raríssimas exceções, ninguém ousa chamar a coisa pelo nome. Mas a verdade é que o "mensalão" esteve muito presente na cabeça e nas intervenções públicas dos petistas durante o 4º congresso nacional do partido.

Este foi, num certo sentido, o congresso da desforra. O petismo se valeu da popularidade do governo e da força política de Lula para propagar a versão dos vitoriosos -no caso, eles próprios- de que tudo não passou de golpismo frustrado.

Novo presidente do PT, José Eduardo Dutra fez seu discurso inflamado, aos berros, usando como referência a profecia infeliz feita no auge do escândalo por Jorge Bornhausen -"estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos".

"Não conseguiram acabar com nossa raça" por causa disso, "não conseguiram acabar com nossa raça" por causa daquilo, urrava Dutra, lembrando um pastor em transe diante do auditório de fiéis. Depois dele veio Lula, irônico, soberano: "Nos chamavam de raça. E aqueles que queriam acabar com o PT estão quase acabando". Os delegados petistas vão à loucura ao ver seu líder transformar a corrupção em invenção da "elite" decrépita.

Se a frase de Bornhausen revela a alma profunda e autoritária do PFL, a resposta, irônica ou raivosa, expõe as vísceras do petismo. O partido faz a sua catarse e expia a sua culpa, mas deixa o mal-estar recalcado porque não é capaz de assumir sua vergonha.

Maria da Conceição Tavares comentava sobre sua tristeza de ver uma liderança política com as qualidades de José Genoino diminuída por um processo no qual entrou de gaiato. De fato, o deputado parece ainda estar preso a um luto que o partido na realidade nunca viveu.

O mensalão não está mais entalado na garganta dos petistas. Mas ele segue como ferida aberta, ou um cachorro morto na beira da estrada, do qual a gente logo desvia o olhar para não sentir engulhos ou vontade de chorar.

Sina de formiga:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Dizer que Dilma Rousseff está à esquerda de Lula é uma grande besteira". (Paulo Bernardo, ministro do Planejamento.)

Era um inferno. Sempre que passava por ali, o elefante esmagava a entrada do formigueiro. Então, as formigas decidiram reagir. Um dia, aos milhares, saltaram sobre o elefante e começaram a picá-lo. Com um abanão das orelhas, o elefante livrou-se delas. Restou uma agarrada ao seu pescoço. “Esgana o bicho, esgana”, gritavam as outras em coro.

O elefante da história está mais para Lula, aprovado por oito entre 10 brasileiros, assim como as formigas estão mais para a oposição – PSDB, PPS, DEM em fase terminal e uma fatia do PMDB. Quem será a formiga que insiste inutilmente em esganar o elefante? Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado?

Ora, Arthur anda sumido desde que perdeu a batalha pelo afastamento de José Sarney da presidência do Senado. Há duas semanas, voou para um café da manhã com Barack Obama, em Washington. Imaginava trocar ideias com ele. Havia dois mil convidados. O Amazonas de Arthur é fortaleza do lulismo. Ele pretende se reeleger. Sabe como é...

A formiguinha suicida seria José Agripino Maia, líder do DEM no Senado? Agripino anda muito ocupado com o escândalo que engoliu o único governador do seu partido, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, preso numa cela da Polícia Federal, em Brasília. O escândalo ainda ameaça engolir o vice Paulo Octávio, do DEM.

E Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB? Poupemos Guerra. O coração dele bate acelerado diante da demora do governador José Serra, de São Paulo, em se declarar candidato à vaga de Lula. E bate aflito diante do risco do próprio Guerra não se reeleger senador por Pernambuco. É uma carga dupla e bastante pesada.

De Aécio Neves, outra estrela do infausto formigueiro, diga-se que jamais aprovaria o plano de um ataque em massa ao elefante. Se dependesse dele, o formigueiro simplesmente teria mudado de endereço para escapar de eventuais danos. Como não o levaram em conta, mergulhou terra a dentro e foi cuidar de sua vida.

Tudo deu certo para Lula desde que se elegeu presidente em 2002. Seu governo sobreviveu ao explosivo escândalo do mensalão. A economia cresceu. Milhões de brasileiros ascenderam à classe C. A maioria dos partidos se rendeu aos seus encantos. E o PT à candidata que ele sacou do bolso.

Dizem que a próxima será a primeira eleição em 21 anos onde os brasileiros estarão impedidos de votar em Lula. De fato, é verdade. Mas na prática, não. Dilma só existe como candidata porque Lula a inventou. Nada mais direto, pois, do que o apelo que orientará sua campanha: votar em Dilma significa votar em Lula.

Caberá à oposição separar os dois – fácil, não? A ela caberá também a difícil tarefa de vender Serra como o melhor candidato pós-Lula. Melhor até mesmo do que Dilma, a quem Lula escolheu. E logo quem? E logo Serra que concorreu contra Lula em 2002. Se Serra tivesse vencido não haveria Lula presidente por duas vezes. Oh, céus!

O ex-metalúrgico que chegou ao lugar antes privativo dos verdadeiros donos do poder deixou de pertencer à categoria dos homens comuns – embora daí extraia sua força. Foi promovido nos últimos oito anos à condição de mito. E como tal deverá ser encarado pelas futuras gerações. É improvável que alguém como ele reprise sua trajetória.

A oposição se propõe a derrotar um mito. E tentará fazê-lo sem reunir sua força máxima. Serra está pronto para conversar com Aécio sobre a vaga de vice em sua chapa. Quanto a isso, há duas coisas mais ou menos certas. Serra oferecerá a vaga a Aécio. E Aécio a recusará.

Descarte-se a hipótese de Serra sugerir: “Bem, nesse caso, você sai para presidente com meu apoio e eu irei disputar um novo mandato de governador”. Aécio tem a resposta na ponta da língua: “Agora é tarde. Quis ser candidato. Sugeri a realização de prévias dentro do partido. Não fui ouvido. Serei candidato ao Senado”.

E aí, José? Aí José só vencerá a eleição se Dilma acabar perdendo para ela mesma.

A política e a rolha de Dawkins:: Fábio Wanderley Reis

DEU NO VALOR ECONÔMICO

No belíssimo livro publicado ano passado em tradução brasileira sob o título de "A Grande História da Evolução", Richard Dawkins, lidando lá pelas tantas com a contraposição, no processo evolucionário, entre movimentos de prazo comparativamente curto e tendências de mais longo prazo, recorre à imagem de uma rolha flutuando pela costa atlântica dos Estados Unidos. A ideia destacada é a de que, num minuto qualquer, haverá oscilações no movimento da rolha produzidas pelo jogo das ondas e contracorrentes, mas a Corrente do Golfo impõe uma deriva geral para o leste, e ela acabará sendo empurrada para alguma costa europeia.

Naturalmente, o problema que preocupa a Dawkins é um problema de ciência e de conhecimento adequado, que os dois tipos de movimento dificultam. Na área humana e social, a política incluída, o mesmo problema costuma surgir em termos do contraste entre a apreensão do "estrutural" e das tendências que lhe correspondem, por um lado, e das flutuações da "conjuntura", por outro. E as confusões são grandes. Assim, há os leninianos das "análises concretas de situações concretas", atribuindo status metodológico especial ao estudo da conjuntura e desatentos para o fato de que não é possível fazer sentido dela a menos que se recupere a "lógica do processo" que a engendra, o que nos leva à análise teórica, ou teoricamente orientada, das "situações concretas". E encontramos, às vezes, o equívoco oposto, em certo sentido, de restringir a possibilidade de conhecimento aos aspectos que de alguma forma se estabilizam e escapam ao dinamismo das mudanças: não seria possível teorizar sobre mudanças, apreendendo justamente as regularidades e tendências (a lógica) da mudança como tal.

Mas há, no campo humano, e em particular no especificamente político, outro aspecto de grande importância: o de que o problema intelectual de entender a complexidade de um processo dinâmico e a articulação de seus momentos diversos se liga com o problema da ação e de sua motivação, ou da multiplicidade de interesses e objetivos em jogo em qualquer momento dado e da possibilidade de eventualmente agregá-los em projetos coletivos de alguma amplitude ou abrangência. Em termos da analogia de Dawkins, a questão seria aqui a de apreender a conexão dos movimentos conjunturais com a "Corrente do Golfo" subjacente, como condição de que os projetos tenham sua viabilidade assegurada pela correção do diagnóstico das tendências. Mas, tratando-se de ação, tem de haver espaço para a consideração do fato de que as tendências podem ser ruins do ponto de vista dos interesses, quem sabe dos valores, e da necessidade eventual de agir contra elas, ainda que o êxito dessa ação seja ele próprio condicionado pelo entendimento tão lúcido quanto possível do processo geral.

Cabe um par de reservas. Por um lado, há as dificuldades ligadas à ideia de qualquer "projeto" coletivo de maior amplitude (projeto "nacional"?), que supõe não apenas o compartilhamento de traços culturais ou de identidade, mas na verdade a existência, sob a diversidade de interesses, de uma vontade comum e convergente em torno de objetivos de grande alcance - e há os perigos autoritários da problemática pretensão de uma elite real ou suposta de apreender e dar expressão a essa vontade. Por outro lado, isso se desdobra nas dificuldades acarretadas para o aspecto de diagnóstico intelectual do processo geral e das condições da ação: se tínhamos até há pouco, à esquerda, o vigor com que se brandia a ideia do determinismo histórico (a "Corrente do Golfo") a conduzir "automaticamente" ao socialismo, vimos em seguida a afirmação do neoliberalismo associada com a visão em que a afirmação irrestrita do mercado e o empobrecimento de um ideal ambicioso e socialdemocrático de cidadania seriam imposições inelutáveis de uma "Corrente do Golfo" de rumo novo, as "tendências objetivas" da realidade econômico-tecnológica dos dias atuais - até que as crises várias acabassem por empolgar o centro mesmo do sistema mundial, trazendo o que ameaçava (ameaça?) tornar-se a mãe de todas as crises. Em síntese: a lucidez no diagnóstico das tendências tende a ser comprometida por ideologias, em que a apreciação dos fatos é fortemente contaminada por interesses estreitos e de conexão problemática com um interesse abrangente ou "nacional".

Se se trata de governar países (que dizer de alguma forma efetiva de governo mundial, cuja necessidade a crise sugere com força...), tudo isso indica, naturalmente, grandes dificuldades. É talvez revelador que um Barack Obama, intelectualmente tão sofisticado e correspondendo com tanta nitidez a avanços democráticos profundos da sociedade estadunidense, se veja embaraçado e confundido nos vaivéns e contracorrentes da conjuntura. Quanto ao Brasil, além de também revelador, é talvez mesmo afortunado o fato de que, numa disputa como a que se esboça em torno da eleição presidencial de 2010, o tema central acabe sendo um pouco mais de Estado para cá, um pouco menos de Estado para lá - regulador, indutor, talvez ocasionalmente até executor. De todo modo, modernamente se vai tornando cada vez mais claro algo que provavelmente é certo a respeito da história política universal: que a "Corrente do Golfo" correspondeu sempre, de fato, aos embates em torno da democracia e seus avanços e recuos no plano político-institucional, em correspondência com o substrato do caráter mais ou menos democrático da sociedade como tal.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

Eleitores sem memória, política sem partidos :: Gláucio Ary Dillon Soares

DEU EM O GLOBO

A mídia descobriu, pela enésima vez, a “amnésia eleitoral”.

O Instituto Data Rio divulgou dados que mostram que somente 4% dos votantes sabiam em quem votaram para deputado federal e, em igual percentagem, para deputado estadual. Embora exista uma clara correlação entre nível educacional e lembrança, um comentarista dos dados, Pedro Fernandes, nos lembra de que 53% dos que possuem educação superior não se lembravam em quem votaram — segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Fernandes lembra a responsabilidade dos políticos, que contribuiriam para o esquecimento.

Sem dúvida; porém, outros fatores pesam. A experiência dos estudos policiais e criminológicos mostra que, nos alinhamentos para identificação de testemunhas, o número de pessoas colocadas no alinhamento influencia o resultado.

O número conta: quanto maior, mais erros. Experimentos desse tipo minaram a fé na prova testemunhal. Fica pior: brancos identificando negros erram mais do que brancos identificando brancos, provando que há um aspecto relacional que afeta a qualidade do testemunho. A identificação funciona melhor entre semelhantes.

O esquecimento eleitoral não opera num vácuo de instituições. As instituições e as legislações eleitoral e partidárias podem facilitar ou dificultar o esquecimento.

No Brasil, facilitam.

A “amnésia eleitoral” não começa depois das eleições: começa antes. Há dois anos, Jairo Nicolau (Iuperj) alertava para pesquisas feitas pelo Ibope e pelo Datafolha, em grandes capitais, próxima das eleições: “o percentual de eleitores que disseram não saber em quem votar na pergunta espontânea, em algumas das capitais... é muito alto, oscilando entre cerca de 30% e 80%.” Os dados permitiam concluir que o problema era nacional e não do nosso Rio. Com 66%, estávamos próximos do Recife (58%); de Porto Alegre (61%) e abaixo de Belo Horizonte (79%). Não sabiam em quem votariam, deixando ver que não havia uma relação forte com candidato ou com partido.

O sistema eleitoral se impõe como variável invisível, mas de muito peso, sobre a memória do votante. O sistema partidário também pesa sobre os resultados.

Além da amnésia individual, há uma amnésia partidária.

A permanência dos políticos num só partido favorece a identificação, por parte da população. Porém, os políticos mudam muito de partido. Como exemplo, o ex-governador Garotinho, se bem me lembro, já esteve no PDT, no PT, no PSB, PMDB e atualmente milita no PR. A pouca significação dos partidos não é um fenômeno obrigatório, da natureza, mas consequência da pouca significação atribuída a eles por parte significativa dos políticos.

O alto número de partidos e de candidatos por vaga conspira contra o voto responsável e contra a memória. Ari Ferreira de Queiroz, em interessante artigo, comenta que, em Goiânia, em 2004, concorreram às eleições para vereador nada menos do que 27 partidos, coligados ou não. É o esfarelamento partidário. Desses, 13 não elegeram ninguém. Quantos desses 27 comandam uma parcela significativa das identificações e preferências do eleitorado? Não são partidos políticos; são legendas de aluguel. Havia vinte candidatos para cada vaga de vereador, mas somente quatro candidatos a prefeito. Fica pior: o artigo 10 da Lei das Eleições estabelece que cada partido pode registrar até 150% do número de cadeiras disponíveis na Câmara Municipal. É uma aberração aritmética que permite a um hipotético partido receber todos os votos e deixar de eleger um terço dos candidatos que apresentou.

No segundo turno das eleições majoritárias há somente dois candidatos e a memória é superior.

O olhar institucional não termina aí: ainda é fácil trocar de partido. Nosso sistema pensou os mandatos como propriedade do eleito e não do partido que o elegeu. Houve mudança legislativa para reduzir a migração que, eleição trás eleição, se observa na direção do Executivo. Porém, acordos internos esvaziaram essa legislação benéfica.

Esses acordos anulam a oposição, enfraquecem o Legislativo, e fortalecem o Executivo.

Fica ainda pior: mesmo sem migrar de partido, os votos e o apoio dentro da Casa migram na direção do Executivo e os partidos dispõem de poucos instrumentos para manter um mínimo de fidelidade partidária. Essa prática também enfraquece o Legislativo.

Podemos ir além: nossas leis e cultura política concedem supremacia ao Executivo, tornando o Legislativo pouco relevante. No Brasil, o Executivo pode legislar diretamente, através de medidas provisórias, ou propor legislação que raramente é rejeitada. O contraste é grande, por exemplo, com os Estados Unidos, que levam o equilíbrio entre os poderes a sério. O Executivo não pode apresentar projetos de lei diretamente; só pode fazê-lo através de seus legisladores.

Comparativamente, os legisladores brasileiros quase não legislam.

Assim, olhar para a amnésia eleitoral como um problema do eleitor ou mesmo da pobre ou inexistente relação entre o eleitor e o eleito, conduz à condenação dos dois. É injusto, porque a amnésia varia com a legislação e as instituições políticas, eleitorais e partidárias.

Não podemos julgar e apedrejar eleitores se o sistema dificulta a identificação partidária e reduz o Legislativo à condição de coadjuvante político.

Tem jeito! Mas o jeito passa pela reforma política.

Nada de novo no front petista :: Lucia Hippolito

DEU NO BLOG DA LUCIA HIPPOLITO

A grande novidade no Congresso do PT que marca os 30 anos de fundação do partido é que... não houve novidades.

Esperava-se que a militância comparecesse, animada. Pois compareceu, e em grande animação.

Sabia-se que, como sempre, a primeira-dama Marisa Letícia iria vestida de vermelho. Pois lá estava ela, ao lado do presidente Lula, também de camisa vermelha e de DIlma Rousseff, igualmente de vermelho.

Temia-se que o presidente Lula roubasse a festa, ofuscando a candidata que deveria ser aclamada. Pois Lula roubou a festa, discursando de improviso (é quando ele é melhor), levantando a massa. Empurrando a candidatura de Dilma.

Esperava-se que José Dirceu circulasse com desenvoltura pelo Congresso, nem de longe deixando transparecer sua condição de deputado cassado por corrupção e réu no STF como chefe da quadrilha do mensalão.

Pois foi o que aconteceu. O comissário circulou livre, leve e solto, se achando. Foi o mais aplaudido depois de Lula. Tudo dentro do script.

Temia-se que a candidata Dilma fizesse um discurso longo, maçante e enfadonho, que não despertaria o entusiasmo da militância petista.

Pois Dilma fez um discurso longo, maçante e enfadonho. Não levantou a militância, segundo relato de petistas de alto coturno ali presentes.

Temia-se que Dilma cometesse alguma gafe, do tipo confundir nomes de cidades, como fez em Minas.

Não chegou a tanto, mas disse que "vamos continuar reaparelhando o Estado", em vez de "reconstruindo", como estava no discurso escrito para ela. Ato falho? Pode ser.

Esperava-se que alguns peemedebistas comparecessem, como a lembrar ao PT que, se quiser a aliança, o casamento tem que ser às claras, à vista de todos.

Pois lá estavam eles, liderados pelo deputado e candidato a vice Michel Temer, com ar ligeiramente perdido, feito cachorro que caiu do caminhão de mudança.

E assim se passou o Congresso do PT.

Novidade, novidade mesmo, só aquele casaco de lã boliviana que o presidente Lula usava por cima da camisa vermelha.

Convenhamos que, com aquele calor infernal, a gente transpirava só de olhar.

Petistas da Saúde temem confronto entre Dilma e Serra

DEU NO ESTADAO.COM.BR

Estadao.com.br acompanhou reunião que teve partipação do ex-ministro Humberto Costa

Grupo mostrou preocupação pela fragilidade com que Dilma discute a Saúde

Rodrigo Alvares

BRASÍLIA - A portas fechadas, longe dos holofotes e do discurso eleitoral, os petistas que tratam dos problemas da Saúde temem o confronto entre a candidata Dilma Rousseff e o tucano José Serra, governador de São Paulo. Menos de uma hora depois de o 4º Congresso Nacional do PT aprovar o projeto de governo para a candidata à Presidência, na última sexta-feira, 19, a reportagem do estadao.com.br flagrou uma reunião em que um grupo de petistas revelou temor pela fragilidade com que Dilma discute a Saúde e pela "vulnerabilidade" como estão entrando no debate eleitoral. O programa aprovado, afirmaram, "não vale quase nada".

Reunidos numa sala do segundo andar do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, membros do grupo setorial de Saúde do partido queixaram-se da gestão da área no governo Lula e fizeram uma série de comentários críticos à ministra-chefe da Casa Civil. "Quem é a Dilma para nós, do ponto de vista da militância? Não podemos entrar na campanha vulneráveis como a gente está na Saúde", questionou uma das militantes.

Participaram do encontro - que foi gravado pela reportagem -, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE), o secretário de Gestão Estratégica e Participava da atual equipe do ministério, Antônio Alves de Souza, e dirigentes de todo o País.

Uma dirigente disse que ficou espantada com a falta de habilidade da pré-candidata durante um debate: "Ela entrou recuada para discutir política social na saúde. Foi um horror. Se o nosso presidente era muito verde quando entrou (para o Planalto), imagina a Dilma! Ela vai ser questionada e vai ter de falar sobre o assunto a partir de abril", acrescentou um dos participantes do encontro de sexta-feira.

"Precisamos nos organizar para influenciar nesse processo. Temos de ganhar a nossa candidata, que não tem o que o nosso presidente tem", afirmou Humberto Costa, que dirigiu a pasta da Saúde entre 2003 e 2005, na primeiro mandato do governo Lula. Parte da preocupação dos petistas deve-se a três fatos: a falta de intimidade da candidata com o setor, o fato de José Serra ter sido ministro da Saúde entre 1998-2002, e porque até hoje a gestão do tucano é uma das mais bem avaliadas.

A capacidade administrativa da ministra na área foi muito questionada durante o encontro. "O José Temporão (ministro da Saúde) já ficou quatro horas conversando sobre saúde com a Dilma", disse um dos participantes. Nem o plano de governo foi poupado: "Acho que não preciso dizer para todo mundo aqui que isso que aprovaram há pouco não vale nada. Esse programa só vai ficar pronto mesmo lá por agosto. Esse encontro é para agradar a militância", avaliou outro dos participantes da reunião.

A distância entre o ministério e o partido é outro motivo de preocupação: "Precisamos marcar encontro com ela e com Lula. O presidente vai sair com essa dívida conosco? Como vamos fazer a discussão do setor da saúde com quem não é do PT se não reconhecemos nossos méritos?". "É essa discussão que temos de fazer, porque o Lula tá pouco se lixando para a gente (petistas)", disse uma filiada. "Acho que a Dilma não representa, nem de perto, o governo Lula."

Para o grupo, o PT não pode entrar na campanha vulnerável como está na Saúde. "É contraditório. Vamos ter de apresentar à população que esses oito anos não significam o que a gente quer de saúde para o Brasil". O histórico de Serra à frente da pasta também foi mencionado. "Serra tem discurso real, (diz) que foi o responsável pela aprovação da Emenda 29 e que não conseguimos regulamentar. Todo mundo acha que ele é o papa da Saúde e tem companheiros que até concordam com isso. Bobagem. Fizemos muito mais, não dá para comparar".

Alguns admitiram que o governo deveria ter aceitado a participação das Organizações Sociais (OS) na gestão de hospitais - o PT costuma dizer que isso é "terceirizar a Saúde". "Eu não quero uma UPA na minha cidade. De que adianta se não consigo pagar os médicos?", disse um secretário. As UPAs, Unidades de Pronto Atendimento, são uma forma de o governo do Rio agilizar o atendimento nas comunidades carentes, longe dos grandes centros hospitalares.

O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) também foi criticado: "Essa história de a receita que vem do governo ser a mesma para todos é uma furada. Tem uma cidade ao lado da minha que tem ambulância, estrutura. Eu não tenho dinheiro para nada e ainda vejo prefeito desviando a verba."

Questionado sobre a insatisfação em relação à falta de propostas específicas do programa e condução do assunto pelo partido, o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, negou problemas. "Isso não procede. É comum que alguns termos não sejam especificados e fiquem de fora. Tivemos reclamações de todos os setoriais".