segunda-feira, 19 de março de 2012

O debate sobre a crise na indústria:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

Volto hoje ao tema da crise na indústria brasileira. O retorno a um assunto de que já tratei neste espaço não se faz por falta de alternativa, mas pela relevância desta questão no debate atual. Nos últimos dias vários analistas também refletiram sobre as causas estruturais da incrível perda de energia que assistimos nos últimos tempos na indústria manufatureira do Brasil.

A divulgação de um desastroso índice de produção industrial no ultimo mês de janeiro - queda de mais de 2% em relação ao mês de dezembro - provocou um choque na opinião pública. O governo entrou em pânico e reagiu com medidas pontuais de grande intensidade, como a aceleração dos cortes de juros por parte do Banco Central (BC) e novas ações para tentar brecar a entrada de capitais financeiros. A presidente ameaçou o mercado com uma medida provisória a cada dia para estancar a especulação cambial que ainda é vista em Brasília como a causa última e mais importante da paralisia que parece tomar contas das fábricas brasileiras.

Felizmente este choque negativo de expectativas também provocou um aprofundamento das reflexões de analistas fora do governo. A excitação da mídia em relação a este tema fez com que questões centrais, que vinham sendo deixadas de lado, passassem à primeira linha de preocupações, dando outra dimensão ao debate. Dou um exemplo que me parece exemplar: vários órgãos da imprensa trouxeram à luz do dia a questão da absurda carga de tributos - federais e estaduais - que onera o custo da energia elétrica para a indústria. Isto em um país que tem a felicidade de ter na barata e limpa energia de origem hidráulica a parte mais importante de sua matriz energética.

Mais uma vez insisto na minha tese de que são causas estruturais que estão por trás da crise atual. Com o fortalecimento do real e a abertura de nossa economia às importações, uma série de aleijões, que se escondiam por trás de uma economia fechada por um longo período, começaram a atingir a competitividade da indústria brasileira. Costumo dizer que o fortalecimento de nossas contas externas representou a queda do Muro de Berlim que limitava a entrada das importações na matriz de oferta de produtos industriais nos mercados brasileiros. Da mesma forma como aconteceu na Alemanha, sem este divisor artificial entre mercado interno e externo, uma verdadeira revolução ocorreu em vários mercados nos últimos anos no Brasil.

Para enfrentar este choque de competição o governo - e algumas das lideranças empresariais - preferiram o caminho mais fácil de eleger inimigos externos como responsáveis pelas dificuldades criadas para as empresas nacionais. Sem entender - e aceitar - o caráter racional destas mudanças preferiram buscar medidas pontuais que restrinjam a competição das importações. Afinal reformas estruturais sempre atingem padrões de comportamento firmemente estabelecidos na sociedade e implicam em perdas para alguns setores.

O governo não entende que em uma economia de mercado organizada - e este é o caso do Brasil hoje - existe uma integração racional entre seus vários setores. Em outras palavras, a economia responde naturalmente a mudanças estruturais causadas por novas condições externas e internas. E qualquer tentativa artificial - principalmente por parte de intervenções pontuais do governo - de impedir que esta acomodação ocorra vai gerar tensões e, no longo prazo, distorções perigosas em vários mercados.

Vivemos nestes últimos tempos um destes momentos em que, para tentar proteger o setor industrial de reflexos negativos criados pela nova situação externa da economia brasileira, o governo prejudica setores que se beneficiam de condições extraordinárias de eficiência e de produtividade, como é o caso da agricultura e do setor mineral.

Dou um exemplo dramático e que ainda não foi devidamente percebido. Durante décadas a agricultura brasileira viveu à míngua por conta da escassez de recursos para financiar suas atividades de custeio e investimento. Os empresários do setor dependiam quase integralmente do crédito do Banco do Brasil que, como os cometas, aparecia e desaparecia em função das crises fiscais do governo federal. Pois, mais recentemente, em função da confiança externa no setor e em nossa moeda, uma modalidade de crédito criada pelo mercado passou a irrigar o campo: antecipação de pagamentos por conta de exportações futuras de seus produtos. Como as commodities têm seus preços denominados em dólares, há um casamento perfeito entre o endividamento dos produtores e suas receitas de exportação.

Nesta situação os juros baixos dos mercados internacionais de crédito passaram a beneficiar diretamente os produtores brasileiros. Pois uma das medidas mais recentes tomadas pelo governo na sua cruzada contra a valorização especulativa do real - a imposição de um IOF de 6% na entrada destes recursos - tornou muito mais caro e difícil a obtenção destes recursos por parte dos exportadores brasileiros e entre eles, nossos agricultores. Será que o governo avaliou corretamente esta medida? Parece-me que não.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Manifesto de militares critica colegas que atacaram ministras

Documento, que tem entre signatários herói da Segunda Guerra, se solidariza às vítimas de torturas na ditadura

Marcelo Godoy

Um grupo de militares da reserva lançou um manifesto em resposta ao documento feito pelos colegas que criticava as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Mulheres), ambas favoráveis à revogação da Lei da Anistia.

Articulado pelos capitães de mar e guerra Luiz Carlos de Souza e Fernando Santa Rosa, o documento obteve apoio de militares como o brigadeiro Rui Moreira Lima, que, aos 93 anos, tem uma história incomum. Herói da Segunda Guerra, é um dos dois únicos pilotos sobreviventes que participaram do 1.º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira (FAB). Na Itália, cumpriu 94 missões de combate e recebeu a Cruz de Combate (Brasil), a Croix de Guerre avec Palmes (França) e a Distinguished Flying Cross (EUA) por heroísmo.

Lima evita críticas ao presidente de seu clube - o da Aeronáutica -, o brigadeiro Carlos Almeida Batista. "Ele é um companheiro nobre e só deve ter assinado em solidariedade aos demais." Mas diz apoiar a Comissão da Verdade. "Ela é necessária não para punir, mas para dar satisfação ao mundo e aos brasileiros sobre atos de pessoas que, pela prática da tortura, descumpriram normas e os mais altos valores militares", diz Lima.

Intervenção. Lima e outros militares não concordam com a intervenção do governo nos Clubes Militares - o ministro Celso Amorim (Defesa) tentou enquadrar as entidades pelas críticas feitas à presidente Dilma Rousseff. Dizem que a reserva tem direito de se manifestar, mas nenhum deles se sente à vontade em assinar um manifesto na companhia de torturadores. "Eles citam o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra", diz o professor da Unesp Paulo Cunha, pesquisador da caserna.

Segundo o professor, muitos oficiais da reserva - e, entre eles, generais - consideram que o governo foi inábil para resolver o caso dos textos dos Clubes Militares. "Esse novo manifesto mostra que o Clube Militar não é uma entidade monolítica, que há vozes discordantes."

No novo manifesto, os capitães dizem que seus colegas da reserva não falam pelos da ativa nem mesmo por muitos dos militares que estão na reserva. Para Santa Rosa, quem está por trás do documento são "os fascistas, os saudosos da ditadura".

"Os torturadores (militares e civis), que não responderam a nenhum processo, encontram-se "anistiados", permaneceram em suas carreiras, e nunca precisaram requerer, administrativa ou judicialmente, o reconhecimento dessa condição, diferentemente de suas vítimas, que até hoje estão demandando junto aos tribunais para terem os seus direitos reconhecidos", afirma o documento. E acrescenta: "Onde estão os corpos dos que foram mortos pelas agressões sofridas?"

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Intelectuais pedem, em manifestos, saída de Ana de Hollanda do MinC

Um dos documentos sugere Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo, para o Ministério da Cultura; outro aponta "despreparo" de responsáveis por pasta

Jotabê Medeiros

Este é o início de uma semana crucial para a atual ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Desde o final da semana passada, manifestos de artistas e intelectuais começaram a circular pedindo abertamente sua substituição à presidência Dilma Rousseff. São assinados por gente à direita e à esquerda, moderados e radicais, notáveis e anônimos militantes da cultura digital.

O Caderno 2 publica abaixo uma das manifestações. Outro documento, uma carta de intelectuais e artistas que será entregue à Casa Civil (cujo primeiro nome assinado é o da atriz Fernanda Montenegro) diz que, "na hipótese de haver a decisão de substituição do titular da pasta da Cultura – tema veiculado na mídia, mas não necessariamente verdadeiro – a classe cultural, aqui representada em suas diversas linguagens e regiões, vem dar sua contribuição cívica, politico-participativa, e apresentar um nome que, certamente, faria a diferença na história do Ministério da Cultura, e aglutinaria os mais diversos segmentos ao seu redor: Danilo Santos de Miranda."

Danilo Miranda, diretor do Sesc São Paulo, é um nome sempre recorrente em época de crise no MinC. Anteriormente, ele se mostrava reticente, mas agora diz a interlocutores que, se convidado, aceitaria. Quarta-feira, em São Paulo, na festa dos 25 anos do Itaú Cultural, o ator Dan Stulbach disse que "se ministro da Cultura fosse eleito pelo voto direto, Danilo Miranda teria o meu voto". Mas outros nomes também estão sendo lançados por diversos grupos, entre eles o da atriz Carla Camurati (diretora do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) e o da historiadora Rosa Maria Araújo, do MIS carioca (irmã do novelista Gilberto Braga e parceira de Sergio Cabral no musical Sassaricando).

São manifestações desinibidas, calcadas no fato de que Ana de Hollanda desfruta hoje de uma rara unanimidade negativa. A gota d"água, na semana passada, foi a revelação (pelo blog Farofafá) de que o MinC advogou em favor do Escritório de Arrecadação e Distribuição de Direitos (Ecad) em um processo no qual a instituição autoral é acusada de cartelização e gestão fraudulenta. O processo está em julgamento no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O Ministério da Cultura recusou-se a comentar o caso.

Por causa da denúncia, baseada em documento enviado pelo MinC ao Ministério Público Federal, a ministra foi convidada a se explicar no Senado. Ainda não disse se vai aceitar o convite. Caso aceite, dificilmente terá argumentos para convencer os senadores, já que está demonstrada sua defesa do Ecad (denunciado pelo próprio governo, por meio do Ministério da Justiça). Caso não aceite, poderá municiar ainda mais a oposição à sua gestão, corroborando acusações.

É uma associação desconfortável para o governo. A revista IstoÉ revelou essa semana que a CPI do Senado que investiga o Ecad deverá propor, em seu relatório final, daqui a um mês, o indiciamento de quatro dos seus diretores por formação de quadrilha, cartel e apropriação indébita.

Há rumores também que o isolamento da ministra causa uma caça às bruxas dentro da própria estrutura do ministério. Desde que assumiu, há 14 meses, Ana de Hollanda já demitiu dois chefes de Comunicação de sua assessoria, creditando aos subordinados os problemas de suas relações com a imprensa. Também se diz que ela e o homem que viabilizou seu nome para o MinC, Antonio Grassi (atual presidente da Funarte), só se falam agora de forma protocolar – na sexta, a ministra desautorizou nota oficial da Funarte informando que ela e seu secretário executivo, Vitor Ortiz, participariam de encontro da Funarte no Rio.

A ministra procura se afirmar tocando uma agenda "positiva". Antecipou editais do Fundo Nacional de Cultura de R$ 133 milhões – mas sem revelar o fato de que os editais não são um investimento extraordinário, apenas o adiantamento de uma agenda, já que, em julho, por conta da legislação eleitoral, será proibido destinar recursos a Estados e municípios (pode caracterizar favorecimento político). Entretanto, nem uma palavra sobre o corte de R$ 440 milhões do orçamento de 2012 (R$ 105 milhões da verba direta e R$ 335 milhões em emendas parlamentares).

A situação, como se vê, é tensa, mas dois dos mais lidos colunistas das Organizações Globo (Jorge Bastos Moreno e Ricardo Noblat) garantiram sábado, sem meias palavras, que "Dilma já decidiu: Ana de Hollanda fica na Cultura". Mais lenha na fogueira.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Despreparo é dolorosamente evidente', dizem intelectuais sobre gestão do MinC

Carta assinada por Marilena Chauí e Gabriel Cohn, entre outros, diz esperar que Dilma indique ministro "à altura do cargo"

Leia íntegra:

Na última década, o Ministério da Cultura transformou-se em uma área especialmente dinâmica do governo federal. Ao reconhecer a importância primária das práticas de sentido para a vida social, o Estado deu-se finalmente conta de que tem responsabilidades incontornáveis no que toca ao estímulo, apoio e defesa das manifestações criativas que emergem do povo, ou melhor, dos povos brasileiros como expressão de sua vitalidade e de sua personalidade.

À medida que o país foi ganhando projeção internacional, maior foi se tornando a necessidade de definirmos e consolidarmos a contribuição distintiva que o Brasil espera estar em condições de dar à civilização mundial. Com este objetivo, a abertura da esfera pública a uma multiplicidade de agentes e ações, oriundos de todas as regiões do Brasil, ligados à criação de cultura, isto é, de valor existencial - artistas, ativistas digitais, produtores culturais, editoras independentes, coletivos experimentais, criadores da moda e do design, intelectuais, povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, movimentos contra a discriminação de gênero e de orientação sexual, ambientalistas, grupos culturais dos mais variados matizes e propósitos - constituiu-se em uma das experiências institucionais mais inovadoras que o Estado brasileiro jamais promoveu.

Sob a liderança das gestões da cultura durante os 8 anos do governo Lula, o acolhimento entusiástico de uma vasta gama de manifestações antropológicas, tradicionais como modernas, regionais como nacionais, locais como globais, deu direito de cidadania e densidade politica a vários conceitos novos, doravante parte de nosso vocabulário de política pública: "cultura digital", "pontos de cultura", "cultura viva", "patrimônio imaterial", "cidades criativas", "economia da cultura", "diversidade cultural", "creative commons", "compartilhamento", "cultura e pensamento", "cidadania colaborativa", "participação setorial" e tantos outros. Um Plano Nacional de Cultura foi redigido pelo MinC com ampla participação dos setores interessados, e foi aprovado pelo Congresso Nacional. Tratou-se de um esforço consistentemente democrático de transformação da agitação social em meio de conquista de uma voz pública, de expressão da força viva dos povos de nosso país nos termos de um discurso de dimensões propriamente políticas, no sentido mais nobre da palavra.

Como herdeiro legítimo deste legado, o governo Dilma tem um grande desafio pela frente. É enorme a expectativa dos inúmeros grupos envolvidos no processo de emancipação cultural iniciado nas gestões passadas. Os que acompanham, como cidadãos, essa histórica reviravolta inquietam-se sobre a orientação que irá prevalecer uma vez encerrado o primeiro ano de uma gestão federal de cultura marcado por hesitações, conflitos e por mudanças de rumo que nos têm parecido infelizes.

É inevitável constatar que houve inúmeras perdas de visibilidade e de nitidez no horizonte da política cultural, comprometendo a imagem de um país que avança para o futuro sem perder a relação com seu passado, e que se moderniza sem destruir suas tradições. Depois de inúmeras notícias desalentadoras ao longo do ano que passou, a opinião pública constata que a presente gestão de nossa política cultural vem se mostrando descomprometida com o legado das conquistas recentes neste âmbito, como o atestam as inúmeras iniciativas de grande impacto dentro e fora do País. É digno de nota, em particular, o que parece ser o total desconhecimento, por parte da atual gestão do MinC, do debate internacional sobre os desafios que o novo regime capitalista globalizado coloca para os criadores em todos os âmbitos da cultura, nesta época em que a criação de valores existenciais se viu capturada e sujeitada pela produção de valor econômico.

O despreparo para a prática do diálogo e do embate crítico por parte dos atuais responsáveis pelo MinC é dolorosamente evidente. É assustador, por exemplo, que em recente entrevista a ministra afirme que tem vivido uma "guerra de nervos" e que todo o seu universo de preocupação esteja reduzido à sensação de que os que discordam de sua gestão estejam apenas querendo derrubá-la de seu posto, deixando de lado o sentido maior da vida democrática que é a possibilidade do diálogo e da reconciliação em benefício de algo público e de grandeza comum.

A criação cultural é indissociável da construção inovadora de horizontes para o País, é a cultura que forma as realidades que nos condicionam e projetam os destinos da vida em comum. Não faz mais sentido pensar nos quadros anacrônicos que tinham a chamada "infraestrutura", ou economia, como elemento primacial da vida humana, ao passo que a cultura, ou "superestrutura", era vista como artigo de luxo. Pois não é possível, justamente, entrarmos em pleno século 21 equipados com uma "superestrutura" mental que data do século 19. É um engano gravíssimo um Estado contemporâneo não dar a devida importância à agenda das políticas culturais, pois a economia sem a cultura não pode mais do que propagar a desvalorização de uma sociedade, colocando-a a mercê de interesses estritamente econômicos.

Desde que a crise global se abateu sobre o ocidente capitalista em 2008, a agenda cultural se tornou um tema ainda mais importante para nós e as disputas de sentido vão direcionando os possíveis caminhos a seguir. Ora, foi precisamente neste momento crítico que passamos a constatar a decadência do protagonismo do governo federal na área da política cultural, com a trágica perda de capacidade para gerar consensos mínimos e coordenar o desenho de horizontes para os inúmeros segmentos que estavam sendo reconhecidos pelo governo Lula. Esse perigoso isolamento do MinC pode nos fazer retroceder mais e mais nos próximos anos, ainda que a prosperidade econômica se mantenha. A mera celebração de uma "cultura" concebida como excedente simbólico entregue a profissionais consagrados da indústria de entretenimento certamente não pode substituir a consciência ativa do papel central que a força de trabalho criativa passou a desempenhar no cenário do novo regime capitalista. O MinC de hoje desconhece os sistemas de acumulação financeira, de ganho unilateral de corporações com os direitos autorais e de imagens. Ao tornar-se refém de um modelo institucional arcaico, o governo federal vai aceitando que as forças mais reativas do modelo neoliberal passem a conduzir as subjetividades, tornando-se um instrumento para sustentar apenas desejos sociais compulsivos de consumo, como se estes fossem o meio de produção de sociabilidade.

Neste sentido, a escolha do(a) ministro(a) que a Presidenta tem em suas mãos é um dos trunfos fundamentais na consolidação do projeto de país que se começou a implantar desde o fim da ditadura militar. Esta é uma responsabilidade crucial do governo federal e da sociedade civil, não podendo ser deixada ao sabor da Realpolitik e seus jogos de acomodação partidária. Esperamos que Dilma Rousseff, que tem mostrado grande competência na condução do País em outros setores, confirmada pelos altos índices de aceitação popular, tenha sensibilidade e coragem para indicar um ministro da cultura à altura do que requer este cargo, em vista da importância do Brasil no cenário mundial contemporâneo. Um(a) ministro(a) que alie uma escuta fina para a diversidade cultural, no acompanhamento das complexas demandas culturais internas e na articulação ousada com o cenário internacional, sobretudo em torno dos problemas deste novo estatuto da cultura.

A experiência acumulada por este nome escolhido é algo essencial neste momento. Quer em termos profissionais, quer em familiaridade com a política da criação contemporânea e a rica variedade a de suas manifestações, uma liderança suprapartidária e democrática é o que pode garantir um pulso firme e uma capacidade de gestão dinâmica, de verdadeira liderança nesta direção que o presente nos aponta. Nós signatários, como todos os produtores de cultura neste País, temos nossa parcela de responsabilidade nesta tarefa: cabe a nós o apoio ao futuro portador desta inteligência de qualidade cultural e a exigência de uma escolha acertada para os próximos anos da atual gestão federal neste importante âmbito da vida nacional.

Por Marilena Chauí, Eduardo Viveiros de Castro, Suely Rolnik, Laymert Garcia dos Santos, Gabriel Cohn, Manuela Carneiro da Cunha, Moacir dos Anjos

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Morre Jorge Goulart - (18/1/1926-17/3/2012) - Eu sou o samba - 1955

Este é o prólogo :: Garcia Lorca

Deixaria neste livro
toda a minha alma.
este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam !

Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta !

Ver passar os espectros
de vida que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,

ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se olham e se abraçam.

Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chamas.

Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !

Deixaria neste livro
toda a minha alma...

( tradução: William Agel de Melo)

domingo, 18 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – José Murilo de Carvalho: o jeitinho brasileiro

“Não sou partidário da demonização de nossas elites intelectuais. Desde a independência, se houve esforços para justificar o existente, houve-os também para o reformar. E boa parte do recurso a teorias estrangeiras era recurso de retórica. A retórica exigia o uso do argumento de autoridade (um autor estrangeiro). A adesão às ideias desse autor era outra história. Havia muita adaptação e inversão. O liberalismo econômico era considerado a doutrina correta, mas na prática se fazia protecionismo. O liberal Tavares Bastos defendia a intervenção do Estado em políticas sociais. O positivismo comtista, conservador na França, foi usado aqui para defender a abolição, a república, a legislação trabalhista. Juntava-se o positivismo com o marxismo, como fez Leônidas de Rezende. Tudo isso podia ser jeitinho, mas era um esforço autêntico para entender nosso país e nossa inserção no mundo. Não era comédia.”

MURILO DE CARVALHO, José. Entrevista: Esforço para entender o Brasil. Sabático/O Estado de S. Paulo, 17/3/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Mais de 80% das cidades do país não se sustentam
No Rio, reciclagem é um lixo
Brasil, um dos últimos em trabalho produtivo
Vazamentos: fundo deve ser 10 vezes maior

FOLHA DE S. PAULO
Brasil cresce menos que todos os países vizinhos
Setor têxtil exibe os extremos da indústria nacional
Aeronáutica quer sigilo em apuração de acidentes aéreos

O ESTADO DE S. PAULO
Custo de produção industrial é maior no Brasil que nos EUA
No País, só 1,8% das cidades tem contas em ordem
Com a crise, governo já não sabe qual o tamanho real de sua base
O Brasil pós-Teixeira

CORREIO BRAZILIENSE
IR sobre salários triplica em 10 anos
Mais mulheres no comando
Mordomia está perto do fim

ESTADO DE MINAS
Melhor idade, pior vício
Emancipar pra quê? Municípios "de fachada" à míngua

ZERO HORA (RS)
Onde o dinheiro do cidadão é bem usado
Hora de dizer adeus

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Nova pesquisa aponta reação de João da Costa
Áreas verdes ainda resistem no Recife

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Brasil cresce menos que todos os países vizinhos

Para analistas, baixo investimento e ações de combate à inflação frearam economia

O Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul no ano passado. Isso não acontecia desde 2006.

Com a alta do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2,7%, o país ficou atrás do desempenho de, por exemplo, Argentina (8,8%), Chile (6,0%) e Venezuela (4,2%), segundo estimativas de governos e analistas.

Brasil é o que menos cresce na América do Sul

Pela primeira vez desde 2006, desempenho econômico do país é inferior ao obtido por todos os seus vizinhos

Para analistas, governo exagerou nas ações anti-inflação, contribuindo para a expansão de apenas 2,7% em 2011

Érica de Fraga, Mariana Carneiro

SÃO PAULO - O Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul em 2011.

As taxas de expansão da economia brasileira perdem para as de outras nações emergentes, como China e Índia, de forma recorrente. Mas, desde 2006, o desempenho do país não ficava aquém do resultado de todos os vizinhos sul-americanos, segundo estimativas recentes.

O fraco desempenho do Brasil, que cresceu apenas 2,7% no ano passado, deve fazer ainda com que o país fique abaixo da média de expansão da América Latina como um todo (próxima a 4%). Isso também não ocorria há cinco anos.

"Estimamos que, de todos os países latino-americanos, só Guatemala e El Salvador cresceram menos que o Brasil", diz Richard Hamilton, da consultoria Business Monitor International (BMI).

A desaceleração brasileira em 2011 é, em parte, explicada pela forte expansão de 7,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010, que levou à alta da inflação. Isso forçou o governo a tomar medidas para esfriar a economia.

Mas outros países da região (como Peru e Uruguai) também passaram pelo mesmo processo e registraram desacelerações menos acentuadas no ano passado.

Isso leva alguns analistas a acreditarem que o governo brasileiro exagerou na dose:

"O que derrubou o Brasil em 2011 é que exageraram nas medidas tomadas para conter a inflação", diz o economista André Biancarelli, professor da Unicamp.

O tombo sofrido pela indústria brasileira também ajuda a explicar o mau desempenho do país, segundo economistas.

O setor-que tem maior relevância para a economia do Brasil do que para a maioria dos vizinhos da região-vem sendo afetado pela valorização do real, que favorece os produtos importados.

Outro fator citado como freio ao crescimento brasileiro é o baixo nível de investimento na economia.

O economista da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), Carlos Mussi, observa que alguns países vizinhos têm alocado mais recursos em investimentos, o que lhes permite obter um crescimento maior:

"A principal decisão de um país para garantir expansão alta é o quanto ele investe".

Em 2011, os investimentos no Brasil alcançaram 19,3% do PIB, contra uma média estimada de 23% na região, segundo dados da Cepal.

Por outro lado, a baixa integração comercial da América Latina limita os benefícios que o Brasil poderia colher com a expansão mais forte dos vizinhos.

O economista Renato Baumann, do Ipea, diz que as exportações dos países latino-americanos para a própria região representam menos de 20% das vendas totais. Na Ásia, essa média chega a quase 50%.

"O grau de vinculação comercial e produtiva da América Latina é baixo", afirma Baumann.

Risco

O baixo crescimento do Brasil em 2011 em relação à expansão dos vizinhos sul-americanos representa um risco para o país, na opinião de Hamilton, da BMI:

"Isso é relevante porque pode levar investidores a questionarem a sustentabilidade do modelo de crescimento brasileiro".

Outros economistas acreditam, no entanto, que 2011 foi um ponto fora da curva:

"O Brasil tem um grande potencial, importantes eventos internacionais pela frente. O resultado de 2011 não altera essa perspectiva", afirma Biancarelli, da Unicamp

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Com a crise, governo já não sabe qual o tamanho real de sua base

Quinze meses depois de formar base de apoio de 17 partidos no Congresso, o governo enfrentará terça-feira votação de medida provisória no Senado sem saber com quem pode contar. "Vamos ter de trocar o pneu com o carro em movimento", diz o líder do PT, Walter Pinheiro (BA).

Em crise com base aliada, governo desconhece tamanho real da coalizão

Christiane Samarco, João Domingos

BRASÍLIA - Quinze meses depois de formar uma gigantesca base de apoio dentro do Congresso, com 17 partidos aliados, a presidente Dilma Rousseff viu esse amplo arco de alianças se desmantelar na semana passada e terá de enfrentar o painel de votação do Senado na terça-feira sem saber com quantos parlamentares pode contar.

Vence na quarta-feira a medida provisória que trata do sistema de defesa civil, o que obrigará os governistas a tentar aprová-la na véspera para não deixá-la morrer - mesmo sem o apoio do PR, que rompeu com o governo há quatro dias. "Como não dá para pôr na geladeira nem o PR nem a MP, não tem como adiar a votação. Vamos ter de trocar o pneu com o carro em movimento", diz o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA).

O petista e o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), reuniram-se na noite de quinta-feira com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para avaliar o conturbado cenário da semana, e acertar a agenda que terá de ser enfrentada nos próximos dias.

Hoje, praticamente todos os partidos da base têm queixas contra o governo ou contra o estilo linha dura na condução do relacionamento com o Congresso por parte da presidente e de seus principais articuladores.

Bancadas organizadas e bem articuladas, como as dos ruralistas, do Nordeste e dos evangélicos, não escondem as restrições ao governo federal por se sentirem discriminadas em assuntos de seu interesse, como o Código Florestal e a Lei Geral da Copa.

Os parlamentares também estão incomodados com políticas como a do Banco do Nordeste, que está executando dívidas de 200 mil produtores rurais. "Não falamos mais nem com a direção do banco nem com o ministro Guido Mantega (Fazenda) sobre esse assunto, porque são insensíveis. Queremos interlocução direta com a presidente Dilma Rousseff", diz o deputado petista José Airton (CE).

Carta. Em nome dos parlamentares do Nordeste, o coordenador da bancada, Gonzaga Patriota (PSB-PE), está fazendo uma carta a Dilma. O documento deverá ser entregue por dez líderes aliados e representantes da bancada do Nordeste.

PMDB e PT, os dois partidos que formam a espinha dorsal do governo, também têm reclamações sobre a interlocução com o governo e não escondem a insatisfação com estilo duro implementado na articulação, principalmente por Ideli.

A ministra quase sempre perde a paciência em reuniões, chega a gritar. A ela é atribuído o afastamento do PR da base. Ideli também foi responsabilizada por uma crise de hipertensão do ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP) após uma tensa e improdutiva reunião com a bancada ruralista, quando a rispidez da ministra fez com que parlamentares da base se retirassem.

Nesse cenário, o governo teme que até o PMDB e o PT, os dois maiores partidos do Congresso, com 161 deputados e 32 senadores, possam registrar dissidências numerosas nas votações. Exemplos existem. Na votação do projeto que cria o Fundo de Previdência do Servidor Público (Funpresp), por pouco o Planalto não foi derrotado pelos aliados. O PT registrou oito votos contrários; o PSB, 17 entre os 29 votantes; o PDT, 22 em 24. Por conta desse resultado, o PDT ainda não conseguiu voltar ao Ministério do Trabalho.

Troco. O governo pode ameaçar com retaliações como perda de cargos ou congelamento de liberação de recursos. Mas nem assim tem poder de fogo para garantir a aprovação de propostas de seu interesse, porque a base pode fazer "corpo mole", dificultando a tramitação dos projetos.

Um dos exemplos mais lembrados no governo são os seguidos adiamentos da votação da Lei Geral da Copa. Esse projeto uniu os 68 deputados evangélicos na luta contra a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante o Mundial de 2014. O governo assinou em 2007 um documento no qual se comprometia a liberar a venda de álcool durante os jogos para facilitar a escolha do Brasil como sede.

Repactuação. Na semana passada, com as insatisfações já públicas, a base aliada avisou que queria repactuar a relação com Dilma. Mas a situação se agravou com a demissão dos líderes governistas na Câmara e no Senado, respectivamente Vaccarezza e Romero Jucá (PMDB-RR). A tensão cresceu com o discurso do novo líder Eduardo Braga, de que "era hora de mudar as práticas políticas" no Brasil. A base entendeu que, agora, terá mais dificuldades para fazer nomeações políticas.

A liberação de emendas ao Orçamento, que sempre preocupa em ano eleitoral, também promete acirrar a crise. Na semana passada, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) enviou ofício a Ideli com cópia da carta da prefeita Élia Jaques (PMDB), do município de Peixe Boi. De uma emenda de 2009, de R$ 296 mil, só chegaram à cidade R$ 6 mil. "A empresa foi embora por falta de pagamento. Deixou lá os buracos."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Com Lula e Palocci, valia mais a deferência que o atendimento

Desde que Antonio Palocci deixou a Casa Civil em junho, na esteira de um escândalo sobre enriquecimento suspeito, no Palácio do Planalto o exercício da política tornou-se mínimo. Os contatos com os parlamentares foram mantidos pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), mas o resultado tem sido insatisfatório, segundo relatos dos parlamentares. E a ministra coleciona vários desafetos por ter resolvido adotar uma linha dura nos contatos com os parlamentares.

À exceção de dois casos, o governo venceu todas as votações, mais pela quase inexistência da oposição do que por um empenho sério do Palácio do Planalto em aprovar seus projetos. Uma das derrotas foi a da emenda ao Código Florestal que anistiava desmatadores; a outra, a rejeição de Bernardo Figueiredo para a direção da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), uma indicação pessoal da presidente Dilma Rousseff.

As informações de líderes aliados e de auxiliares da presidente dão conta de que Dilma se reúne durante horas com seus ministros para tratar de detalhes técnicos de projetos - muitos dos quais ela manda que sejam refeitos integralmente. Mas não fala de política.

A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), que substituiu Palocci, não tem tempo para tratar das negociações com o Congresso. Faz até 15 reuniões setoriais por dia. Volta para casa frouxa de tanto trabalhar, lá pelas 22 horas. No dia seguinte, está no Planalto antes das 9 horas. E a todo momento é chamada pela presidente, tendo de interromper o que está fazendo.

Palocci recebia os dirigentes dos partidos, anotava o que pediam, guardava listas de indicados para cargos nas estatais e no segundo escalão e pedia paciência. Toda vez que era cobrado por algum aliado, dizia com muita calma: "Espera. A presidente Dilma não é o Lula. Quando apresento um nome, uma lista, ela quer saber detalhes disto, por que o partido quer tal cargo. Com a Dilma é preciso conversar duas, três vezes, até convencê-la de que dá para sair a nomeação".

Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o tratamento aos políticos aliados era de primeira classe. Muitos iam a Lula reclamar de nomeações. Conversavam, conversavam e saíam de mão abanando. Mas deixavam o gabinete presidencial contentes. Valia mais a deferência do que o atendimento ao pleito.

Dilma, pelo contrário, não recebe ninguém. O máximo que concede é um almoço ou jantar com a bancada de um partido, quando fala com todos e não com pessoas isoladas ou pequenos grupos. Os políticos se sentem desprestigiados por parte dela. Dizem entre si que gostariam de ser melhor tratados.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma age para dobrar Congresso e manter Ideli

Presidente quer se valer de sua alta aprovação para reunificar base, retomar votações e estancar movimento contra ministra

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Mesmo diante da constatação de que a crise que tomou conta da base aliada semana passada não é artificial, o núcleo do governo pretende se valer da elevada popularidade da presidente Dilma Rousseff para que as novas regras estabelecidas por ela na articulação política prevaleçam. O desafio da presidente e seus operadores políticos esta semana é tranquilizar o ambiente e retomar as votações no Congresso, sem ceder à prática do toma lá dá cá. Outra preocupação é esvaziar o movimento para enfraquecer a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Só então serão retomadas as negociações sobre cargos na Esplanada com os partidos aliados.

Até entre os aliados mais fiéis, há o reconhecimento de que é estratégia é ousada. Por isso, Dilma corre risco de ter novas surpresas no Congresso. Numa sinalização de que deseja o fim do clima de beligerância, Dilma mandou dois recados aos aliados na sexta-feira: não quer briga, mas não aceita a articulação para desestabilizar Ideli.

- A presidente tem um grande trunfo: aprovação recorde de sua gestão. Por isso, a estratégia é trabalhar com o tempo a nosso favor. A base governista decidiu testar a capacidade do governo de resistir ao enfrentamento. Vamos inverter esse jogo. Nós é que vamos testar a capacidade da base de insistir na tática da faca no pescoço - ressaltou um ministro petista com trânsito no Palácio do Planalto.

Para amenizar a crise, interlocutores da presidente contam com a volta do ex-presidente Lula às articulações políticas. Segundo aliados, ele tem influência e jeito para diminuir o atrito entre a base aliada e o Planalto. Nos poucos contatos políticos que teve nos últimos dias, Lula manifestou preocupação com os relatos que recebeu do enfrentamento. Para muitos, Lula é o único político com influência real nas decisões de Dilma.

- A presidente Dilma só costuma ouvir quatro pessoas para tomar decisões políticas: o seu Luiz, o seu Inácio, o seu Lula, e o seu Da Silva - resumiu um interlocutor assíduo da presidente.

Após a desastrada negociação em torno da Lei Geral da Copa, Ideli entrou em campo para tentar diminuir as arestas e salvar a própria pele. Tomou a iniciativa de buscar a reaproximação, em especial, com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que não gostou da troca de Romero Jucá (PMDB-RR) por Eduardo Braga (PMDB-AM) na liderança do governo na Casa.

Além de Renan, Ideli procurou Arlindo Chinaglia (PT-SP) que substituiu Cândido Vaccarezza (PT-SP) na liderança do governo na Câmara, causando descontentamento numa grande ala do PT. Chinaglia quis dar ares de normalidade ao encontro:

- Não há (clima de) afastamento. O encontro com a ministra Ideli foi para discutir os temas para frente. Afinal, sou líder, não posso perder prazos.

Mas o clima ainda é de muita desconfiança e insatisfação na base, principalmente no Senado, onde o grupo de Renan é forte. Para os mais experientes, isso não será superado tão cedo. No caso do PR, Dilma estaria determinada a não aceitar a exigência do partido e lhe devolver o comando da pasta dos Transportes. Os fatos desta semana poderão deixar claro quem caminha para ganhar essa queda de braço. Dilma, com a popularidade e a caneta, ou os parlamentares, com seus votos e demandas.

FONTE: O GLOBO

Jaques Wagner cobra Bahia de volta ao Ministério

Governador lembra apoio nas eleições e reclama

Patrícia França*

SALVADOR. O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), não está nada satisfeito com a perda de espaço de seu Estado no Ministério da presidente Dilma Rousseff, e diz que o PT Nacional é que deve explicar por que a Bahia - que deu uma das maiores votações a Lula no segundo turno (78,08% dos votos válidos) e 2,7 milhões de votos a Dilma -, não está sendo contemplada com cargos.

Nos últimos 30 dias, a Bahia perdeu três importantes posições no governo federal: Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras; Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades; e Afonso Florence, ex-ministro do Desenvolvimento Agrário. E Jaques Wagner, conhecido pelo semblante sempre "zen", já demonstra certa tensão no rosto e um ar circunspecto.

Em entrevista, o governador foi enfático ao dizer que a Direção Nacional do PT, ao contrário dos demais aliados, tem privilegiado estados do Sul e Sudeste:

- O PMDB do Sarney tem dois ministros do Nordeste. O PSB de Eduardo Campos tem dois ministros do Nordeste. O PT tem dois governadores no Nordeste (Bahia e Sergipe) e não tem nada - queixou-se, acrescentando que esse quadro deve servir de "reflexão" para seu partido.

Jaques Wagner contou ter dito para a presidente Dilma que não faz questão de indicar ministros. E lembrou que nenhuma das representações baianas que chegaram à Esplanada foi indicação dele:

- Negromonte foi para lá pelo PP; Afonso Florence foi pelo alinhamento dele dentro do PT; e Luiza Bairros (Promoção da Igualdade) foi uma escolha da presidente. Até Sérgio Gabrielli, ex-dirigente da Petrobras, foi um nome indicado diretamente pelo ex-presidente Lula.

O governador deixou claro que ainda não digeriu as perdas que o Estado sofreu:

- É evidente que não gostei.

A senadora Lídice da Mata (PSB), da base de Jaques Wagner, também não esconde a sua insatisfação:

- A presidente precisa demonstrar o respeito e a consideração que a Bahia tem com ela. É preciso que a Bahia e o Nordeste estejam representados no Ministério.

Em resposta à perda de espaço da Bahia, a Direção Nacional do PT convocou uma reunião com o Fórum dos Presidentes do PT Nordeste para o dia 29. Quer ouvir os pleitos para ampliar a representatividade da região.

Segundo o presidente do partido na Bahia e coordenador do fórum, Jonas Paulo, além de ministérios, entram na pauta cargos em órgãos vitais para o Nordeste, como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

* Da Agência A Tarde

FONTE: O GLOBO

PR quer nacionalizar postura anti-PT

Partido marca reunião para decidir se autoriza a abertura de negociações com a oposição em todas as capitais do País na eleição deste ano

Fernando Gallo

O PR marcou para terça-feira uma reunião em Brasília com presidentes regionais da sigla para discutir a abertura de conversas em todo o País com partidos que estão fora do arco de alianças do PT. Em São Paulo, as executivas estadual e municipal do partido aprovaram anteontem a abertura de negociações com as pré-candidaturas de José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB).

O presidente nacional da sigla, senador Alfredo Nascimento (AM), não aceita a posição do Planalto, que se recusa a devolver o Ministério dos Transportes ao PR. Por isso, ele queria decidir anteontem mesmo pelo abandono do barco petista em bases nacionais, mas a ausência de alguns líderes em uma reunião o fizeram adiar a decisão para a semana que vem.

Um dirigente do PR afirmou ao Estado que a tendência da sigla é estender o rompimento com o PT para todo o País, e não apenas na base federal. Porém, as peculiaridades regionais serão levadas em conta na eleição.

A direção nacional do partido prega a saída da base aliada ao governo federal e o rompimento com o petismo, posição mais contundente entre os senadores, que anunciaram na semana passada que não votarão mais com o governo no Congresso.

Os dirigentes, no entanto, convocaram os presidentes estaduais da legenda para avaliar as consequências que o movimento traria para o PR no âmbito regional, e, eventualmente, criar exceções para a medida nos casos em que os prejuízos da ruptura forem muito grandes.

Membros do partido fustigam o governo nos bastidores e afirmam que receberam tratamento inferior a outras siglas nas substituições que a presidente Dilma Rousseff fez no ministério. Segundo os dirigentes do PR, o PMDB foi atendido quando houve substituição na Agricultura, e o PP quando a troca ocorreu na pasta das Cidades.

São Paulo. As executivas estadual e municipal do PR em São Paulo, que acertavam detalhes para ingressar na campanha de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura, decidiram anteontem abrir negociações para apoiar outros partidos na eleição paulistana de 2012. A decisão é consequência direta do racha entre a direção nacional e o governo federal, e dificulta ainda mais a vida de Haddad na busca por alianças.

Entre os apoios que o PT esperava ter das siglas que integram a base de Dilma, o do PR era aquele que os integrantes da pré-campanha de Haddad mais davam como certo até o recrudescimento da crise que culminou nas ameaças de dirigentes nacionais da legenda de migrar para a oposição.

Conforme os líderes do PR em São Paulo, o embarque da sigla na candidatura de Haddad estava "99% fechado", mas houve um retrocesso nas conversas. Há semanas petistas da capital comentam que, embora seus próprios interlocutores no PR não admitissem, eles sabiam que o anúncio de um apoio estava condicionado ao atendimento dos pedidos ministeriais da sigla por parte de Dilma.

O partido não considera a hipótese de candidatura própria a prefeito de São Paulo, embora tenha trazido à tona a possibilidade de lançar o deputado Tiririca, o mais votado do País nas eleições de 2010.

Em privado, admitem que a ideia surgiu apenas para pressionar o governo federal a atender às demandas da legenda.

Assim, o PR é a terceira sigla tradicionalmente aliada ao PT em São Paulo a cogitar abraçar outras candidaturas. Parte do PSB que ir com Serra, e o PC do B avalia caminhar com Chalita.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mais dois focos de rebelião ameaçam Dilma na Câmara

Deputados do PTB e PSC reavaliam apoio ao governo e falam em se unir ao PR

Partidos cobiçavam o Ministério do Trabalho, mas presidente decidiu manter o controle da pasta nas mãos do PDT

Maria Clara Cabral, Natuza Nery e Márcio Falcão

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto terá que administrar na próxima semana a ameaça de um novo foco de rebelião entre os partidos que apoiam o governo na Câmara dos Deputados.

PTB e PSC estão insatisfeitos com o espaço que têm no governo, e suas bancadas se reunirão na terça-feira para avaliar a conveniência de permanecer na base de apoio à presidente Dilma Rousseff.

Os deputados do PR também vão discutir se acompanham a decisão da bancada do partido no Senado, que na semana passada anunciou que irá para a oposição.

O PTB tem 21 deputados e o PSC tem 17. Nenhum dos dois tem representante no primeiro escalão do governo, mas ambos fazem parte da coalizão que apoia Dilma.

Se romperem com o Planalto e se unirem ao PR, que tem 36 deputados, eles terão controle sobre 74 dos 513 integrantes da Câmara, o suficiente para criar embaraços e impor derrotas ao governo.

Dilma tem indicado que não está disposta a fazer concessões aos rebeldes. Na semana passada, ela substituiu os líderes que fazem a interlocução entre o Planalto e as duas casas do Congresso.

A presidente deve indicar nesta semana o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) para o Ministério do Trabalho. O PDT manteve o apoio a Dilma enquanto negociava a nomeação, em vez de fazer ameaças ao governo como os rebeldes.

A movimentação do PTB e do PSC é interpretada por interlocutores do governo como uma resposta à decisão de Dilma de manter com o PDT a pasta, que os outros dois partidos cobiçavam.

Embora não tenha nenhum ministério, o PTB controla a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e a Susep (Superintendência de Seguros Privados).

O estopim da crise entre Dilma e seus aliados foi o veto do Senado à recondução de Bernardo Figueiredo à direção da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), há duas semanas.

A rejeição fez a presidente trocar seus líderes na Câmara e no Senado, o que alimentou o clima de revolta nos partidos e expôs falhas na articulação política do governo.

São duas as preocupações mais imediatas do Planalto. A primeira é apaziguar a ala petista inconformada com a destituição de Cândido Vaccarezza (PT-SP) da liderança do governo na Câmara. São 40 dos 86 deputados do PT.

A segunda é impedir que os rebeldes ajudem a instalar CPIs com potencial para criar constrangimento para o governo, como uma que a oposição quer criar para examinar os empréstimos do BNDES a empresas privadas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A falta que ele lhe faz

Sem o principal conselheiro e aliado político por perto, Dilma enfrentou na semana que passou a maior crise com a base desde a posse, com a troca de líderes no Congresso

Paulo de Tarso Lyra

Brasília – A presidente Dilma Rousseff não hesita sobre quem deve procurar quando tem dúvidas para tomar decisões políticas e administrativas de seu governo: Luiz Inácio Lula da Silva. Se nos debates econômicos os interlocutores são mais numerosos, nesse ramo ele não é o conselheiro preferencial: é o único a quem ela confia seus dissabores, receios e próximos passos. Lula fez falta à presidente nos últimos dias, quando a convalescença para recuperar-se de uma pneumonia coincidiu com o estouro de uma crise sem precendentes com a base aliada desde a posse de Dilma, em janeiro de 2011.

A decisão da presidente de demitir abruptamente os dois líderes do governo no Congresso — Romero Jucá (PMDB-RR) no Senado e Cândido Vaccarezza (PT-SP) na Câmara — diz muito sobre o modo como ela toma decisões. E mostra que, sem o auxílio precioso de seu antecessor, ela ainda tateia no jogo real da política e na convivência com os partidos governistas.

Dilma tem, aos poucos, colocado o seu perfil no governo. Como diz um parlamentar independente, "ela percebeu que pode buscar a reeleição em 2014, já que Lula parece ser, cada vez mais, carta fora do baralho da sucessão presidencial". Mas não se cansa de repetir que isso não significa uma ruptura com o antecessor. Até porque ela sabe que ainda não está segura o suficiente para dar passos sozinhos na seara política.

A última vez que Lula e Dilma conversaram pessoalmente foi há cerca de duas semanas, na véspera da posse de Marcelo Crivella como ministro da Pesca — sugestão de Lula. Mas a crise aumentou, o PMDB rebelou-se, o governo perdeu uma votação secreta no Senado e Dilma abriu guerra com o Congresso. Nesse período de crise, Lula pouco pôde ajudar.

No fim do ano passado, Dilma já havia demonstrado o desejo de substituir Romero Jucá (PMDB-RR) na liderança do governo no Senado. Ela estava irritada com as denúncias envolvendo o irmão do peemedebista, Oscar Jucá Neto, na diretoria da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Lula conseguiu frear o ímpeto presidencial. Dessa vez não deu certo e a presidente indicou Eduardo Braga (PMDB-AM) como novo líder do governo no Senado.

Estratégia

Lula sugeriu a nomeação de Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca como uma maneira de ajudar a candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. A estratégia tinha dois objetivos: atrair o PRB, que tem como candidato próprio o ex-deputado federal Celso Russomano, e diminuir a insatisfação dos evangélicos com o kit gay do Ministério da Educação.

Estilo de Lula era outro

Curiosamente, o próprio Lula, apresentado por aliados e até por adversários como um "animal político", não amparava suas decisões com base nas palavras de um único interlocutor. Durante o primeiro mandato, um dos principais conselheiros foi o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Ele teve uma participação fundamental para diminuir a temperatura, inclusive da oposição, durante a crise do mensalão. No segundo mandato, Lula dava muita atenção às palavras do então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. E durante os oito anos quando as nuvens carregadas trovejavam sobre o Planalto, Lula sempre chamava o atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para um encontro extra-agenda no gabinete presidencial.

Assim que tomou posse, Dilma encerrou outra prática de Lula: as reuniões de coordenação política de governo. Esses encontros reuniam não apenas os ministros palacianos, mas também alguns estratégicos, como os titulares da Fazenda, Planejamento, Justiça e Defesa. A presidente limitou-se à reuniões diárias de briefings com os ministros da Casa, encontros que foram rareando diante dos temores de Dilma de "vazamento de informações".

No debate econômico, ela sente-se mais à vontade para multiplicar os convivas. Dentro do governo, os mais frequentes são o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Fora da máquina, ela debate com o empresário Jorge Gerdau — presidente da Câmara de Gestão e Competitividade —, o ex-ministro Delfim Netto e os economistas Luiz Gonzaga Beluzzo e João Manuel Cardoso de Mello, mentor do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e ligado à petista Maria da Conceição Tavares. A explicação para essa pluralidade é a intimidade com que a presidente lida com esses temas econômicos, baseada em planilhas e números que ela domina.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Divergências internas racham partidos em SP

PMDB, PT e PSDB tentam administrar crises que atrapalham suas pré-candidaturas na reta inicial da disputa eleitoral

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Com a pré-candidatura do partido em São Paulo avalizada pelo vice-presidente Michel Temer, o PMDB exige que nesta semana seus quadros entreguem os cargos que ocupam na prefeitura da capital. O ultimato veio dos que apoiam o pré-candidato da legenda, deputado Gabriel Chalita. Ele se diz constrangido com a situação, já que seu discurso tem como base as críticas à gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD).

Assim como entre os peemedebistas, divergências internas têm tirado o sono também de tucanos e petistas, que administram rachas nessa reta inicial da disputa eleitoral.

No caso do PMDB, o alvo da discórdia é o comando de duas secretarias de Kassab: Esportes e Participação e Parceria. Há cerca de duas semanas, dirigentes do partido em São Paulo decidiram deixar a prefeitura. Foi dado um prazo para que os ocupantes desses postos comunicassem Kassab dessa decisão. Como o prefeito estava em viagem ao exterior até a noite da última sexta-feira, a expectativa no núcleo de apoiadores de Chalita é que o comunicado seja feito ainda esta semana.

Chalita tem feito um discurso duro sobre a gestão do prefeito. Por isso, a presença do PMDB no governo tem criado constrangimentos, sentimento que também tem invadido as campanhas adversárias.

Enquanto no PT o foco da divisão interna está nos cargos da coordenação da candidatura do ex-ministro Fernando Haddad, entre os tucanos a preocupação é com a rivalidade existente hoje entre os grupos do partido na disputa das prévias. Com a pré-candidatura de Haddad patinando nas pesquisas, o PT tenta debelar uma crise agravada com a doença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que o obrigou a se afastar temporariamente da campanha.

Nas últimas semanas, integrantes da corrente Construindo Um Novo Brasil (CNB), majoritária nacionalmente no PT, ainda cobraram de Haddad a nomeação de coordenadores para a campanha. Por enquanto, o posto de coordenador é ocupado pelo presidente do partido na capital paulista, o vereador Antonio Donato (PT), da corrente Novo Rumo. A CNB quer participar das decisões. A ideia é ter um comando compartilhado entre Donato e um deputado federal da corrente.

FONTE: O GLOBO

Aos 70 anos, Serra busca o recomeço

Com sonho presidencial "adormecido" até 2016, tucano disputa votos de filiados do PSDB para concorrer novamente à prefeitura de São Paulo

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Sem festa nem contagem regressiva. O ex-governador José Serra vai completar amanhã 70 anos com as atenções voltadas para um projeto de recomeço político. Arredio a comemorações, o único assunto que tirou o bom humor do tucano em público nos últimos dias nada teve a ver com política. Foi uma pergunta sobre como comemoraria o seu aniversário.

- Não vou comemorar. Não quero falar de aniversário. Não gosto, nunca gostei de aniversário. Deixa para lá. Vai ser um dia normal. Não comemoro meu aniversário. Comemoro o dos meus netos, meus filhos. Aniversário você comemora até um certo momento da vida. Depois você esquece, não quer que ninguém fale - disse, sem direito a réplicas, durante entrevista na quarta-feira passada.

Para celebrar a data, Serra costuma fazer, no máximo, um jantar com a família e amigos. É o mais provável que aconteça nesta segunda-feira. Até sexta-feira passada, a equipe de coordenação da pré-campanha do tucano não sabia se ele teria alguma atividade pública. Se depender do aniversariante, terá.

- Vou trabalhar normalmente - disse na sexta-feira.

Aos 70 anos, Serra diz estar em ótima forma. Praticante de exercícios físicos, ele descobriu recentemente um novo equipamento aeróbico, chamado elíptico, que tem recomendado a conhecidos.

- Eu não vou dizer aqui a idade que tenho, mas certamente vocês me dão uma idade menor. Eu tenho muito tempo pela frente. Estou no auge da minha energia - comentou ele, no lançamento da sua pré-candidatura no início do mês, deixando a porta aberta para outras disputas eleitorais.

Depois de 50 anos de militância política, a candidatura a prefeito de São Paulo neste ano se apresenta a Serra com um paradoxo. Ao mesmo tempo em que dá sobrevida ao sonho de disputar a Presidência da República no futuro, ela o obriga a encarar uma volta às origens.

Dono de 45 milhões de votos em 2010, o alvo do ex-governador hoje é um eleitorado de não mais de 6 mil pessoas - o total de filiados do PSDB que deverá participar das prévias partidárias no próximo domingo. Em vez de discursos em palanques como presidenciável, ele se dedica agora a conversas com militantes tucanos em reuniões pela periferia da cidade. Foi em um desses encontros, dias atrás, que o passado se colocou diante de Serra.

- Eu lembro de você da Turma da Touca. Vocês ajudaram a me eleger deputado em 86 e em 90 - lembrou o ex-governador ao reconhecer uma filiada.

- E você eu carreguei no colo - completou ele, apontando para outra militante no mesmo encontro.

Longe de ter sido espontânea, a decisão de Serra de se apresentar como pré-candidato para a eleição deste ano foi resultado de muita pressão política. Foram diversos os apelos do governador Geraldo Alckmin e até mesmo de aliados próximos ao ex-governador para que ele entrasse na disputa. Serra sempre deixou claro, após a derrota em 2010, que suas ambições políticas eram nacionais. Mas o risco de isolamento político e a ameaça do prefeito Gilberto Kassab e do seu PSD de cair no colo da campanha do pré-candidato do PT, Fernando Haddad, levaram o tucano a encarar as urnas.

O processo foi turbulento. Quando Serra decidiu entrar na disputa, o prazo para se inscrever nas prévias do partido havia se esgotado. Uma exceção foi aberta a ele, mas sob muita resistência interna. Até hoje, dois dos quatro pré-candidatos que o PSDB tinha continuam na disputa contra ele (o deputado Ricardo Trípoli e o secretário de Energia, José Aníbal).

Em público, o ex-governador tem se mostrado de muito bom humor e com certo entusiasmo. Não esconde em seus pronunciamentos que assumiu a missão de ser candidato a prefeito por "necessidade política", mas pondera que também por "gosto". Nem mesmo o assédio de jornalistas para que fale sobre declarações de seus adversários, o que Serra detesta e raramente faz, tem tirado-o do sério.

O novo recomeço também impõe sacrifícios. Como chefe do Executivo, Serra sempre delegou a tarefa rotineira da articulação política - contato com vereador, deputado e prefeito. Como pré-candidato a uma prévia partidária, o tucano tem como uma de suas principais tarefas fazer pessoalmente o contato com militantes tucanos para pedir voto. Ele recebeu uma lista de cerca de 300 nomes e telefones da sua equipe para ajudar nessa empreitada.

Serra quer uma vitória expressiva no próximo domingo. Aliados dele iniciarão essa semana fazendo uma sondagem sobre os votos já garantidos.

Vencida as prévias, outros desafios estarão postos. Serra terá que trabalhar para unir o partido, neutralizar uma rejeição alta com o eleitorado por ter abandonado a prefeitura após um ano e meio de mandato, e enfrentar a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição. Desta vez, ele diz que fará diferente e que cumprirá seu mandato na prefeitura. Segundo ele, o sonho presidencial ficará "adormecido" até 2016.

- Não é a primeira vez na vida que eu tomo um outro rumo - resume o tucano.

FONTE: O GLOBO

Alckmin declara voto a Serra em prévia do PSDB

Tucano afirma apoio "como militante" ao ex-governador um dia após dizer que esperaria resultado do dia 25

Bruno Boghossian, Fausto Macedo, Chico Siqueira e Itaan Arruda

O governador Geraldo Alckmin declarou ontem que vai votar em José Serra na prévia do PSDB para a escolha do candidato a prefeito de São Paulo, no próximo domingo. "Enquanto filiado ao PSDB, militante e liderança do partido, o meu voto vai ser para o José Serra", afirmou Alckmin, em evento em São José do Rio Pardo, a 260 km da capital.

Desde a entrada do ex-governador no processo de escolha do candidato tucano, é a primeira vez que Alckmin assume publicamente a preferência por Serra na disputa contra José Aníbal, que é secretário estadual de Energia, e o deputado Ricardo Tripoli. Na véspera, em São Vicente, o governador havia dado afirmação em sentido oposto: "Eu vou seguir a decisão do partido, que agora está bem próxima e, antes disso, não pretendo me antecipar".

O apoio público de Alckmin era defendido por aliados de Serra como necessário para garantir uma vitória expressiva do ex-governador na prévia, como revelou o Estado. Essa estratégia começou a ser discutida em reunião da coordenação da pré-campanha de Serra, no domingo.

O ex-governador ouviu de um aliado que seria bom Alckmin comparecer a um evento da pré-campanha antes da prévia. O grupo acredita na vitória de Serra, mas diz ser necessário um resultado expressivo, para mostrar força e evitar a imagem de partido dividido. Parte de seus aliados, porém, teme que a ação explícita de Alckmin demonstre fraqueza da pré-candidatura.

Na própria sexta-feira, Alckmin decidiu que poderia declarar voto em Serra de uma forma sutil, tomando precauções para evitar atritos ou a impressão de "golpe" contra o processo interno. Por isso a escolha por uma cidade do interior, a ênfase de que era uma posição de "filiado, militante e liderança do PSDB" e de que o "governo não tem candidato, nem o governador".

Chamada. Apesar do cuidado para evitar ruídos no PSDB, Alckmin recebeu uma chamada telefônica de Aníbal tão logo o pré-candidato soube da declaração. "Ele (Alckmin) disse que o governo não vai se mover nos procedimentos. O governador garantiu", afirmou Aníbal, que passou o sábado em campanha nas zonas sul e leste.

"Talvez não fosse preciso (Alckmin) declarar o voto. O Serra sabe que vai perder", disse Aníbal, confiante na vitória. "A militância tem resistência enorme a ele. Serra não tem nada a ver com o partido. Serra governador apoiou o Kassab em 2008, não o Geraldo." Perguntado se estava decepcionado com a declaração, Aníbal afirmou: "Ele tinha reiterado a mim várias vezes que não se manifestaria. Mas eu não quero falar sobre isso".

Acre. Como Alckmin, Serra estava longe da capital ontem: ele foi a Rio Branco, no Acre, e Porto Acre, cidade onde obteve a maior votação proporcional na eleição para presidente, em 2010, com 81% dos votos.

Serra tratou a declaração de Alckmin com naturalidade. "Na verdade, para que eu saísse candidato a prefeito naquele momento, foi muito importante o apoio tanto do governador Alckmin quanto de muita gente do partido", afirmou. "Eu acho que o que ele está expressando agora mostra o apoio que já vem desde o início."

Procurado pela reportagem, Tripoli estava em campanha no extremo sul da capital paulista e não respondeu ao contato até as 23 horas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Haddad aguarda Lula para definir coordenação

Ex-presidente também ajudará na negociação com PR e PSB

No PT, a expectativa gira em torno da escolha da coordenação de campanha do pré-candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. O ex-ministro definirá nomes após conversar com o ex-presidente Lula, mentor e padrinho de sua candidatura. Lula só deve retomar totalmente às atividades políticas em abril. Haddad afirma que não tem pressa para a decisão.

Apesar da aparente calma de Haddad, o ambiente é tenso no partido. O petista aparece com apenas 3% das intenções de voto nas pesquisas de opinião e sofre para conseguir fechar alianças. O partido sonha, no momento, em fechar o apoio do PSB e o PR com a ajuda de Lula.

Entre os tucanos, a situação também é delicada. Por causa das prévias partidárias, marcadas para o próximo domingo, há grupos de militantes bem definidos e a direção do partido teme que a rivalidade interna não seja superada após a votação, dificultando uma unidade em torno da candidatura de José Serra.

Com apoio do governador Geraldo Alckmin, Serra deverá ser o escolhido. Os aliados do ex-governador trabalham para que ele tenha uma vitória acachapante. A preocupação é tanta que a equipe de Serra começou a fazer um levantamento dos votos dele pelos diretórios na cidade.

FONTE: O GLOBO

BH: Aliança terá hoje o 1º teste

PT escolhe delegados que vão definir no próximo domingo sobre coligação com PSB de Lacerda

Alessandra Mello

O PT de Belo Horizonte escolhe hoje os delegados que definirão a tática e a política de aliança para a disputa muncipal. Os eleitos vão formar o colégio eleitoral que decide no próximo domingo se o partido continua aliado ao prefeito Marcio Lacerda (PSB) ou lança candidatura própria à prefeitura. O número de inscritos aptos a votar bateu recorde e é quase o dobro de 2008, quando aprovaram a coligação com o PSB, que elegeu Lacerda, com Roberto Carvalho (PT) de vice-prefeito. Hoje presidente do PT da capital, Carvalho é um dos principais defensores do rompimento da aliança com o PSB e do lançamento de candidato próprio. São 7.251 filiados inscritos no processo de votação, que vai das 9h às 17h. O resultado deve ser anunciado ainda hoje. Lacerda aguarda apenas o posicionamento do PT para definir sua chapa. O prefeito já conta com o apoio do PSDB e, caso a aliança com o PT seja reeditada, terá de definir qual dos dois partidos vai indicar o candidato a vice.

Dezesseis chapas vão participar da disputa, divididas em três teses. Uma delas é a favor da candidatura própria com a indicação de um vice por um dos partidos que fazem parte da base do governo Dilma Rousseff. Essa proposta conta com o apoio de oito chapas, todas lideradas por Roberto Carvalho. Outra tese, defendida por cinco chapas, prega a aliança com o PSB, mas sem PSDB e DEM . A terceira é pela reedição da dobradinha com Lacerda sem restrição à participação de nenhuma legenda e é defendida por três listas de candidatos a delegados. Serão eleitos 500 delegados, na proporção de um para cada 10 votos recebidos pelas chapas.

As teses a favor do apoio a Lacerda têm como principais articuladores o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o deputado federal e presidente do PT mineiro, Reginaldo Lopes, o deputado federal Miguel Corrêa Jr. e o vereador Tarcísio Caixeta, líder do governo na Câmara Municipal. Apesar de ser um dos maiores defensores da reedição da dobradinha, Pimentel não integra qualquer chapa pró-aliança. A favor da coligação sem a participação do PSDB, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias faz parte da chapa Repactuar.

Caixeta lidera a Responsabilidade para Governar BH, que conta também com o apoio do deputado estadual Paulo Lamac; do secretário de Coordenação da Política Social, Jorge Nahas; do procurador-geral do município, Marco Antônio Teixeira e do secretário municipal de Planejamento, Paulo Bretas. A chapa defende a aliança com Lacerda sem fazer restrição às legendas de oposição a Dilma. A tese também é defendida por Miguel Corrêa Jr., que lidera quatro chapas, todas batizadas de Construindo a Unidade. Já Reginaldo Lopes, da chapa Avançar BH com Unidade e Democracia", quer a aliança sem a presença de tucanos.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Recife: nova pesquisa aponta reação de João da Costa

Levantamento JC/IPMN, dias 12 e 13 deste mês, dá sinais de crescimento do prefeito em sua corrida à reeleição, enquanto principais opositores perderam indicações, mesmo que na margem de erro e com cenários diferentes da pesquisa anterior.

João da Costa dá sinais de avanço e oposições penam

Nova pesquisa JC/IPMN sinaliza avanços do prefeito, embora sua gestão continue tendo alta reprovação

Mesmo com toda a novela que se arrasta no PT, expondo a falta de unidade do partido com o seu projeto de reeleição, e com a sua gestão sendo reprovada por 45% dos eleitores (soma dos que a consideram “ruim” ou “péssima”), o prefeito João da Costa desponta com o maior avanço na segunda rodada da pesquisa do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IMPN) – em parceria com o Jornal do Commercio – sobre o cenário da sucessão no Recife. O levantamento, realizado nos dias 12 e 13 deste mês, dá sinais de crescimento de João da Costa, não apenas no quesito eleitoral, mas em alguns dos itens pesquisados para levantar os Sentimentos dos eleitores – captados em várias tabelas da metodologia utilizada pelo instituto. Alguns dentro da margem de erro (3,5 pontos percentuais para mais ou para menos), outros fora.

A própria avaliação da gestão sinaliza o avanço de João da Costa: se agora 45% dos eleitores a reprovam, na pesquisa anterior, realizada em janeiro, esse índice era de 52%. Outros dados: se antes 20% diziam que ele “merecia ser reeleito”, agora são 25%, se em janeiro 75% diziam que “não merecia ser reeleito”, agora são 73%, se antes 8% consideravam João da Costa o “mais preparado” para governar o Recife, agora são 14%. E por aí vai, embora na pergunta sobre “qual o político que você tem medo” que se eleja, a oscilação foi negativa para o prefeito – subiu de 34% para 42%.

Repetindo o mesmo quadro da pesquisa anterior, de janeiro, o novo levantamento – registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) sob o número 00009/2012 – volta a mostrar um número alto de eleitores (40%) que, hoje, apontam para o voto “em branco” ou “nulo”, nos cenários em que João Paulo não aparece entre os postulantes. E, também mais uma vez, o deputado federal e ex-prefeito é visto como o nome mais forte para a disputa, o que só alimenta o dilema interno do PT, visto que é bastante improvável que ele saia candidato (veja artes e matérias na página 4). Nos quatro cenários com João da Costa sendo o candidato do PT – hipótese mais provável –, o petista lidera todos, em três deles num empate técnico com o deputado Mendonça Filho (DEM), que continua o nome das oposições mais forte, sendo que as oposições – como na pesquisa de janeiro – seguem sem empolgar o eleitor.

Embora os cenários da atual pesquisa sejam diferentes dos adotados na anterior, o que desaconselha comparativos de intenção de votos entre ambos, é cabível – destaca o economista Maurício Romão, um dos coordenadores da pesquisa – verificar a “evolução da média de intenção de votos dos cenários em que duas pré-candidaturas aparecem simultaneamente, concorrendo juntas”. Esse cotejamento feito pelo próprio Romão aponta avanços de João de Costa, que tem aumentado suas intenções de voto (veja quadros).

Considerando todos os aspectos, a nova pesquisa, assim, sinaliza para perdas de intenção de votos dos pré-candidatos das oposições (algumas dentro da margem de erro) – Raul Henry (PMDB), Jungmann (PPS) e Daniel Coelho (PSDB), além de Mendonça.

Nas oposições, Mendonça lidera

Embora a gestão João da Costa tenha alta reprovação e o prefeito enfrente alta rejeição – em um item da pesquisa 71% apontam “não votaria de maneira nenhuma” nele, o levantamento JC/IPMN não sinaliza bom cenário para os pré-candidatos das oposições.

Deles, o de melhor performance continua sendo Mendonça (DEM), que em três cenários da pesquisa estimulada aparece em empate técnico com o petista, mas sempre em posição inferior (13% a 20% no cenário 1, 17% a 21% no 3, e 16% a 21% no 4). Nenhum dos oposicionistas consegue ficar (individualmente) à frente do atual prefeito nas intenções de voto.

Na pergunta sobre em quem “não votaria de maneira nenhuma”, na qual Costa amarga 71%, Mendonça aparece com 62%, Raul Henry (PMDB) com 78% e Raul Jungmann (PPS) e Daniel Coelho (PSDB) com 81%. Os dois últimos com a ressalva de que ainda são pouco conhecidos do eleitor.

“Apesar da rejeição do prefeito João da Costa e da reduzida aprovação do seu governo, o prefeito está confortável. As circunstâncias, no momento, lhe favorecem: existe uma imensidão de eleitores que não optam pela oposição”, diz o cientista político Adriano Oliveira, coordenador da pesquisa do IPMN, com Maurício Romão e o estatístico Carlos Gadelha.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO