Para analistas, baixo investimento e ações de combate à inflação frearam economia
O Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul no ano passado. Isso não acontecia desde 2006.
Com a alta do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2,7%, o país ficou atrás do desempenho de, por exemplo, Argentina (8,8%), Chile (6,0%) e Venezuela (4,2%), segundo estimativas de governos e analistas.
Brasil é o que menos cresce na América do Sul
Pela primeira vez desde 2006, desempenho econômico do país é inferior ao obtido por todos os seus vizinhos
Para analistas, governo exagerou nas ações anti-inflação, contribuindo para a expansão de apenas 2,7% em 2011
Érica de Fraga, Mariana Carneiro
SÃO PAULO - O Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul em 2011.
As taxas de expansão da economia brasileira perdem para as de outras nações emergentes, como China e Índia, de forma recorrente. Mas, desde 2006, o desempenho do país não ficava aquém do resultado de todos os vizinhos sul-americanos, segundo estimativas recentes.
O fraco desempenho do Brasil, que cresceu apenas 2,7% no ano passado, deve fazer ainda com que o país fique abaixo da média de expansão da América Latina como um todo (próxima a 4%). Isso também não ocorria há cinco anos.
"Estimamos que, de todos os países latino-americanos, só Guatemala e El Salvador cresceram menos que o Brasil", diz Richard Hamilton, da consultoria Business Monitor International (BMI).
A desaceleração brasileira em 2011 é, em parte, explicada pela forte expansão de 7,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010, que levou à alta da inflação. Isso forçou o governo a tomar medidas para esfriar a economia.
Mas outros países da região (como Peru e Uruguai) também passaram pelo mesmo processo e registraram desacelerações menos acentuadas no ano passado.
Isso leva alguns analistas a acreditarem que o governo brasileiro exagerou na dose:
"O que derrubou o Brasil em 2011 é que exageraram nas medidas tomadas para conter a inflação", diz o economista André Biancarelli, professor da Unicamp.
O tombo sofrido pela indústria brasileira também ajuda a explicar o mau desempenho do país, segundo economistas.
O setor-que tem maior relevância para a economia do Brasil do que para a maioria dos vizinhos da região-vem sendo afetado pela valorização do real, que favorece os produtos importados.
Outro fator citado como freio ao crescimento brasileiro é o baixo nível de investimento na economia.
O economista da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), Carlos Mussi, observa que alguns países vizinhos têm alocado mais recursos em investimentos, o que lhes permite obter um crescimento maior:
"A principal decisão de um país para garantir expansão alta é o quanto ele investe".
Em 2011, os investimentos no Brasil alcançaram 19,3% do PIB, contra uma média estimada de 23% na região, segundo dados da Cepal.
Por outro lado, a baixa integração comercial da América Latina limita os benefícios que o Brasil poderia colher com a expansão mais forte dos vizinhos.
O economista Renato Baumann, do Ipea, diz que as exportações dos países latino-americanos para a própria região representam menos de 20% das vendas totais. Na Ásia, essa média chega a quase 50%.
"O grau de vinculação comercial e produtiva da América Latina é baixo", afirma Baumann.
Risco
O baixo crescimento do Brasil em 2011 em relação à expansão dos vizinhos sul-americanos representa um risco para o país, na opinião de Hamilton, da BMI:
"Isso é relevante porque pode levar investidores a questionarem a sustentabilidade do modelo de crescimento brasileiro".
Outros economistas acreditam, no entanto, que 2011 foi um ponto fora da curva:
"O Brasil tem um grande potencial, importantes eventos internacionais pela frente. O resultado de 2011 não altera essa perspectiva", afirma Biancarelli, da Unicamp
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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