domingo, 18 de março de 2012

Aos 70 anos, Serra busca o recomeço

Com sonho presidencial "adormecido" até 2016, tucano disputa votos de filiados do PSDB para concorrer novamente à prefeitura de São Paulo

Silvia Amorim

SÃO PAULO. Sem festa nem contagem regressiva. O ex-governador José Serra vai completar amanhã 70 anos com as atenções voltadas para um projeto de recomeço político. Arredio a comemorações, o único assunto que tirou o bom humor do tucano em público nos últimos dias nada teve a ver com política. Foi uma pergunta sobre como comemoraria o seu aniversário.

- Não vou comemorar. Não quero falar de aniversário. Não gosto, nunca gostei de aniversário. Deixa para lá. Vai ser um dia normal. Não comemoro meu aniversário. Comemoro o dos meus netos, meus filhos. Aniversário você comemora até um certo momento da vida. Depois você esquece, não quer que ninguém fale - disse, sem direito a réplicas, durante entrevista na quarta-feira passada.

Para celebrar a data, Serra costuma fazer, no máximo, um jantar com a família e amigos. É o mais provável que aconteça nesta segunda-feira. Até sexta-feira passada, a equipe de coordenação da pré-campanha do tucano não sabia se ele teria alguma atividade pública. Se depender do aniversariante, terá.

- Vou trabalhar normalmente - disse na sexta-feira.

Aos 70 anos, Serra diz estar em ótima forma. Praticante de exercícios físicos, ele descobriu recentemente um novo equipamento aeróbico, chamado elíptico, que tem recomendado a conhecidos.

- Eu não vou dizer aqui a idade que tenho, mas certamente vocês me dão uma idade menor. Eu tenho muito tempo pela frente. Estou no auge da minha energia - comentou ele, no lançamento da sua pré-candidatura no início do mês, deixando a porta aberta para outras disputas eleitorais.

Depois de 50 anos de militância política, a candidatura a prefeito de São Paulo neste ano se apresenta a Serra com um paradoxo. Ao mesmo tempo em que dá sobrevida ao sonho de disputar a Presidência da República no futuro, ela o obriga a encarar uma volta às origens.

Dono de 45 milhões de votos em 2010, o alvo do ex-governador hoje é um eleitorado de não mais de 6 mil pessoas - o total de filiados do PSDB que deverá participar das prévias partidárias no próximo domingo. Em vez de discursos em palanques como presidenciável, ele se dedica agora a conversas com militantes tucanos em reuniões pela periferia da cidade. Foi em um desses encontros, dias atrás, que o passado se colocou diante de Serra.

- Eu lembro de você da Turma da Touca. Vocês ajudaram a me eleger deputado em 86 e em 90 - lembrou o ex-governador ao reconhecer uma filiada.

- E você eu carreguei no colo - completou ele, apontando para outra militante no mesmo encontro.

Longe de ter sido espontânea, a decisão de Serra de se apresentar como pré-candidato para a eleição deste ano foi resultado de muita pressão política. Foram diversos os apelos do governador Geraldo Alckmin e até mesmo de aliados próximos ao ex-governador para que ele entrasse na disputa. Serra sempre deixou claro, após a derrota em 2010, que suas ambições políticas eram nacionais. Mas o risco de isolamento político e a ameaça do prefeito Gilberto Kassab e do seu PSD de cair no colo da campanha do pré-candidato do PT, Fernando Haddad, levaram o tucano a encarar as urnas.

O processo foi turbulento. Quando Serra decidiu entrar na disputa, o prazo para se inscrever nas prévias do partido havia se esgotado. Uma exceção foi aberta a ele, mas sob muita resistência interna. Até hoje, dois dos quatro pré-candidatos que o PSDB tinha continuam na disputa contra ele (o deputado Ricardo Trípoli e o secretário de Energia, José Aníbal).

Em público, o ex-governador tem se mostrado de muito bom humor e com certo entusiasmo. Não esconde em seus pronunciamentos que assumiu a missão de ser candidato a prefeito por "necessidade política", mas pondera que também por "gosto". Nem mesmo o assédio de jornalistas para que fale sobre declarações de seus adversários, o que Serra detesta e raramente faz, tem tirado-o do sério.

O novo recomeço também impõe sacrifícios. Como chefe do Executivo, Serra sempre delegou a tarefa rotineira da articulação política - contato com vereador, deputado e prefeito. Como pré-candidato a uma prévia partidária, o tucano tem como uma de suas principais tarefas fazer pessoalmente o contato com militantes tucanos para pedir voto. Ele recebeu uma lista de cerca de 300 nomes e telefones da sua equipe para ajudar nessa empreitada.

Serra quer uma vitória expressiva no próximo domingo. Aliados dele iniciarão essa semana fazendo uma sondagem sobre os votos já garantidos.

Vencida as prévias, outros desafios estarão postos. Serra terá que trabalhar para unir o partido, neutralizar uma rejeição alta com o eleitorado por ter abandonado a prefeitura após um ano e meio de mandato, e enfrentar a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição. Desta vez, ele diz que fará diferente e que cumprirá seu mandato na prefeitura. Segundo ele, o sonho presidencial ficará "adormecido" até 2016.

- Não é a primeira vez na vida que eu tomo um outro rumo - resume o tucano.

FONTE: O GLOBO

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