quinta-feira, 15 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

São lamentáveis manobras para livrar deputados

O Globo

Depois de Ramagem, plano é sustar outras ações no STF — mas Corte cumpre dever ao manter julgamentos

Causa consternação o comportamento dos deputados que ameaçam retaliar o Supremo Tribunal Federal (STF) depois de a Corte ter julgado inconstitucional a manobra para interromper uma ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na terça-feira, a Câmara apresentou recurso ao STF contra a decisão. Entre os planos desses deputados está a possibilidade de voltar à carga com medida semelhante nos casos dos deputados Carla Zambelli (PL-SP) e Juscelino Filho (União-MA).

Ramagem é acusado de tentativa de golpe de Estado num processo em que também é réu o ex-presidente Jair Bolsonaro. Por 315 votos a 143, a Câmara aprovou na semana passada a suspensão da ação penal, alegando imunidade parlamentar. Por uma omissão oportunista, que beneficia os demais réus, o texto não especificou que a decisão se referia apenas a Ramagem. No recurso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfatizou que o pedido trata exclusivamente dele e pediu cisão do processo. E disse esperar que os votos dos 315 deputados sejam “respeitados”.

Ajuda inconveniente - Merval Pereira

O Globo

Ao contrário do que parece pensar o governo brasileiro, o Ocidente democrático ainda tem bons exemplos e conselhos a dar

Vamos deixar de lado o debate sobre se foi gafe da primeira-dama Janja ter cobrado do líder chinês Xi Jinping uma atuação oficial para controlar as ações do TikTok no Brasil. Ou se foi o presidente Lula quem começou o debate, e Janja apenas fez adendos, talvez enfáticos em excesso. Nesse ponto, não há misoginia nem machismo nas críticas. Foi um erro diplomático, pois Janja, ao contrário de ser uma “cidadã de segunda classe”, é uma primeira-dama que tem de saber quando e onde deve falar. É questão de cerimonial, não de machismo.

Fiquemos apenas no fato em si: o governo brasileiro está disposto a pedir intervenção da ditadura chinesa numa plataforma digital que atua no Brasil. Mais ainda: como que para realçar a importância da notícia, o presidente brasileiro encheu o peito para dizer que “o companheiro Xi Jinping” mandará ao Brasil um homem “de sua inteira confiança” para debater com os brasileiros a melhor maneira de controlar o TikTok e, por extensão, as redes sociais.

A Petrobras manda cartas - Míriam Leitão

O Globo

Magda Chambriard afirma que já enviou quatro cartas para o Ibama, mas nega que seja para pressionar

Petrobras enviou já quatro cartas para o Ibama pedindo para ser fiscalizada na Foz do Amazonas. A empresa diz que cumpriu as exigências do órgão fiscalizador, e pede para ser inspecionada, afirmando que está pronta para perfurar. A Petrobras está voltando à distribuição, fornecendo combustível diretamente a grandes empresas, no mercado B2B. Informações da presidente Magda Chambriard em entrevista que me concedeu na GloboNews. Perguntei por que ela disse “Let's drill baby”, repetindo uma expressão trumpista. “Foi para chamar a atenção”, respondeu.

Magda Chambriard negou que as cartas ao Ibama sejam para pressionar.

‘Eu vou ficar em São Paulo’, diz Tarcísio sobre 2026

Tatiana Schnoar, Cristiane Agostine, Joelmir Tavares e Gabriel Guido/ Valor Econômico

A uma plateia de empresários e investidores, Eduardo Leite reforça sua eventual candidatura presidencial no próximo ano

Cotado como possível candidato à Presidência em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reafirmou na quarta-feira (14) que deve concorrer à reeleição no Estado.

Depois de falar a uma plateia de investidores e empresários na 2ª edição do Summit Brazil-USA, realizado pelo Valor em Nova York, Tarcísio foi questionado se a decisão sobre candidatura ficará para abril de 2026, mês em que teria que renunciar ao governo de São Paulo se decidir disputar o Planalto. “Não tem [decisão]. Eu vou ficar em São Paulo.”

O desmanche da Cracolândia contado por quem o iniciou - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Esvaziamento do fluxo do centro de São Paulo, que se transformará em vitrine eleitoral, teve inicio no MPSP com o enfrentamento de milícias formadas por guardas civis e PMs

O centro de São Paulo está a caminho de virar uma vitrine eleitoral em 2026 seja para a reeleição do governador Tarcísio de Freitas seja para sua postulação presidencial. O primeiro resultado mais concreto nesse sentido apareceu nesta terça-feira quando a rua dos Protestantes, reduto da Cracolândia, amanheceu vazia.

Na véspera, Tarcísio, em entrevista a uma rádio, tinha cravado: “A Cracolândia vai acabar. Contamos todos os dias. Quando iniciamos o governo eram 2 mil. Hoje pela manhã havia 53”. Explicou as etapas da revitalização que se seguirão até que a sede do governo volte a se instalar no Centro: “É o nosso grande legado”.

Lições da China para o Brasil - Jorge Arbache

Valor Econômico

Vantagens naturais, se combinadas a estratégias, podem ser convertidas em poder produtivo, comercial e até geopolítico

A elevada dependência da China por importação de energia para tocar o seu crescimento se converteu em um dos seus principais pontos de vulnerabilidade estratégica. No entanto, em vez de tratar essa limitação apenas como um problema a mitigar, a China transformou a sua insegurança energética em um dos motores de industrialização, inovação tecnológica e até liderança global.

O que poucos anteciparam foi que aquela transição, movida por uma necessidade defensiva, se tornaria uma ofensiva econômica de longo porte e alcance. E é justamente aí que reside uma lição essencial para o Brasil: a de que vantagens naturais, se combinadas a estratégias, podem ser convertidas em poder produtivo, comercial e até geopolítico.

O enigma Trump e as teses do fim do mundo - Nelson Niero

Valor Econômico

Mais que uma guerra de tarifas, há quem veja um colapso do modelo de comércio entre países que prevalece desde o fim da Segunda Guerra Mundial e que exportou a produção para países do então Terceiro Mundo

A guerra das tarifas, além do rebuliço espetacular no mercado financeiro, foi responsável por alguns efeitos colaterais curiosos, como a reabilitação do termo “livre-comércio”, que até há pouco tempo só podia ser usado em contextos pejorativos entre os bem-pensantes.

Nestas poucas semanas desde o “Dia da Libertação”, quando Donald Trump, qual um Moisés da avenida Pensilvânia, apresentou as tábuas dos novos mandamentos do comércio mundial, keynesianos radicais foram buscar argumentos com Milton Friedman e a Escola de Chicago tomou o lugar da sua congênere de Frankfurt nos debates de progressistas que anunciam o fim do mundo como conhecemos.

O senso do ridículo - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula parece ter desenvolvido certa intimidade com os homens fortes que mais corteja no momento, Vladimir Putin e Xi Jinping. Aos quais passou a dar conselhos e pedir ajuda pessoal.

O conselho foi dado por telefone para Vladimir Putin, sobre como deveria se comportar em negociações de paz nas quais o homem forte de Moscou demonstra pouco interesse.

A ajuda foi solicitada a Xi Jinping: mandar alguém da confiança do imperador chinês ao Brasil para tratar da regulação de uma plataforma, o TikTok, à qual a mulher de Lula atribui importante atuação em favor de direitistas. Não há dúvidas de que, em matéria de controle de redes sociais, os chineses têm enorme expertise.

Prendam os automóveis de sempre - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

Corruptos são viciados nesse tipo de consumo. Nunca se ouviu dizer de um que investisse o butim para arrematar um livro raro ou para ouvir uma sinfonia em Viena

No rescaldo da fraude do INSS, as personagens mais interessantes não são os abutres que desviaram R$ 6,3 bilhões da Previdência, não é o ministro que caiu fazendo poses macambúzias, não é tampouco o ministro que entrou, adornado por um sorriso lívido. Todos esses aí são tipos inócuos; do respeitável público só merecem a indiferença.

Dentro da mais nova cloaca de corrupção, as únicas figuras com algum carisma não vestem paletó e gravata, não pigarreiam, não caminham sobre duas pernas e nem sequer respiram. Os verdadeiros astros do imbróglio, dignos da curiosidade popular, são os veículos automotivos apreendidos. Naquelas fuselagens constrangidas e lustrosas, ainda mora um resquício de dramaticidade. Sobre aqueles pneus ociosos, pulsa uma nesga de sentimento trágico.

A diminuição temporária de tarifas por EUA e China - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

Outra notícia boa desta semana foi que o Brasil acertou com a China a vinda de R$ 27 bilhões para investimentos no País, a serem realizados por empresas chinesas


Hoje voltamos a falar de Trump e suas tarifas. A guerra comercial entre os EUA e o mundo teve grande retrocesso na segunda-feira passada diante do anúncio de que o país reduzirá de 145% para 30% as tarifas de importação sobre produtos chineses, enquanto a China reduzirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%. O problema é que a redução é temporária e vigorará por 90 dias, deixando no ar alguma incerteza quanto ao retorno de tarifas mais altas. Trump deve ter percebido que a encrenca do seu tarifaço estava causando problemas para o seu próprio país e sua própria popularidade. Mas, ainda assim, deu nova mostra de sua instabilidade.

Crise dos Correios revela oportunidade perdida para privatização - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A empresa também vai prorrogar o programa de demissão voluntária até 18 de maio, para economizar R$ 1,5 bilhão em 2025 e evitar o megaprejuízo de R$ 3 bilhões

Os Correios pedem a colaboração dos funcionários no plano de recuperação da empresa, diante de um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024. A nova crise da estatal é um bumerangue corporativista: foi a resistência dos próprios funcionários à privatização da empresa que levou ao quadro atual. Houve uma mudança de paradigma no setor postal, que a empresa não soube acompanhar, quando ainda não tinha grande concorrência no que seria sua vocação natural, após as mudanças tecnológicas que a levaram à substituição de cartas e telegramas por e-mails e mensagens de WhatsApp: a logística, sobretudo a entrega de encomendas e compras on-line.

PIB deve começar bem em 2025 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Crescimento da economia no início deste 2025 deve ser o melhor de Lula 3, mas mistério do mal-estar continua

A economia deve ter crescido pelo menos 1,5% no primeiro trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior, o final de 2024, dizem estimativas melhores do PIB (Produto Interno Bruto). Recorde-se que o crescimento do primeiro trimestre de 2023, forte, foi de 1,4%. Desde fins de março, as estimativas vêm sendo revisadas levemente para cima.

Sim, o resultado deve ser engordado por um bom desempenho da agropecuária. Ainda assim. No crescimento anual (primeiro trimestre de 2025 ante início de 2024), o agro contribuiria com um quinto do total do avanço. Serviços e indústria ainda teriam resultados positivos.

Sim, há expectativa de que o segundo semestre seja de encolhimento do PIB. O Índice de Confiança Empresarial do Ibre da FGV desceu a níveis de 2023, influenciado por expectativas. A avaliação da situação atual continua razoável, pois a economia se reanimou depois de uma virada de ano mais fraca.

O mau passo de Lula em Moscou - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

A diplomacia presidencial bem-feita fortalece a ação externa de um país

Imagine se, em 2022, o presidente chileno Gabriel Boric tivesse vindo ao Brasil para participar dos festejos do 7 de Setembro, organizados por Jair Bolsonaro com o propósito de mobilizar seus apoiadores contra a democracia e as instituições que a garantem. O visitante poderia argumentar que sua presença se justificaria pelos valiosos acordos de cooperação entre os dois países, a serem firmados na visita.

Ocorre que, eleito por uma coalizão da esquerda democrática, lhe seria para lá de difícil explicar o que fazia no meio da extrema direita disposta a degradar as costumeiras comemorações da data nacional brasileira em um pré-carnaval golpista.

Dois apitos de cachorro do Brasil Colônia - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

'Modernização' e 'pacificação' enfeitam nossa retórica da empulhação

Há frequências sonoras que só animais ouvem. Não temos aparelho auditivo tão potente quanto cachorros, por exemplo. Adestradores criaram apitos para treiná-los.

A comunicação política sacou essa boa metáfora para nomear técnica ilusionista: "apitos de cachorro" são códigos verbais, gestuais ou gráficos só entendidos por iniciados. Uma espécie de piscadela marota para a sua turma. Movimentos racistas e nazistas têm todo um repertório de apitos. Durante o governo de Jair Bolsonaro, aprendemos um pouco como funcionam.

Poesia | E agora Jose, de Carlos Drummond de Andrade (voz do autor)

 

Música | RTVE Chorus - Rosa Amarela •(Heitor Villa-Lobos)

 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Homicídios caem em um país ainda muito violento

Folha de S. Paulo

Número se reduz 20,3% em dez anos, mas taxa segue entre maiores do mundo; autoridades têm muito a avançar em políticas

Não é todo dia que se podem celebrar dados de segurança pública em um país acostumado a conviver dolorosamente com a violênciaA recém-divulgada redução de 20,3% dos homicídios entre os anos de 2013 e 2023 precisa ser valorizada, no devido contexto.

De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nesse período o número anual de vítimas caiu de 60.474 para 45.747, e a taxa por 100 mil habitantes, de 28,8 para 21,2 —com pico de 31,8 em 2017.

É notável que, a despeito da melhora, nos últimos anos a criminalidade passou a figurar entre as principais preocupações mencionadas por brasileiros em pesquisas de opinião. Talvez o fenômeno deva algo ao acirramento da polarização política, mas é fato que o país se mantém entre os mas violentos do mundo, só superado por outros 14.

Opinião do dia - Pepe Mujica*

 

A vida é linda. Com todos os seus altos e baixos, eu amo a vida. E estou perdendo-a porque é minha hora de ir embora. Que sentido podemos dar à vida? O homem, comparado a outros animais, tem a capacidade de encontrar um propósito. Se você encontrar [um propósito], você terá algo pelo qual viver. Aqueles que investigam, aqueles que tocam música, aqueles que amam esportes, qualquer coisa. Algo que preencha sua vida.

Espero que a vida humana seja prolongada, mas estou preocupado. Há muitas pessoas loucas com armas atômicas. Muito fanatismo. Deveríamos estar construindo moinhos de vento. No entanto gastamos em armas. Que animal complicado é o homem. Ele é inteligente e estúpido."

*Pepe Mujica,(1935-2025), ex-presidente do Uruguai.

Já é 2026 em Nova York - Vera Magalhães

O Globo

Governadores alardeiam tese do fim da reeleição como caminho para quebrar a polarização entre lulismo e bolsonarismo

Não só boa parte do poder e do dinheiro brasileiros se mudou para Nova York nesta semana, como já vive em 2026. Os prognósticos correntes nas conversas nos muitos eventos simultâneos na cidade não são nada animadores para Lula e o governo.

O presidente brasileiro escolheu exatamente as mesmas datas da Brazilian Week, efeméride anual que reúne políticos e empresários nos Estados Unidos, para visitar Rússia e China. Estabeleceu-se, assim, uma espécie de polarização também nas agendas internacionais.

Em Nova York, o governo federal está com contingente modesto, representado pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, e pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan. A maioria dos ministros acompanha Lula. Um dos resultados é a presença em bem maior número de governadores, muitos assumidamente pré-candidatos a presidente no ano que vem (e já a pleno vapor).

O acerto de Lula e Haddad sobre as eleições de 2026 - Malu Gaspar

O Globo

Fernando Haddad nunca confirmará em público, mas já acertou nos bastidores com o presidente Lula: vai se desincompatibilizar do Ministério da Fazenda em abril de 2026 para disputar as eleições. A qual cargo ele vai concorrer ainda não se sabe. Conforme informou Andréia Sadi em seu blog na última terça-feira (13), a preferência do presidente é que Haddad concorra para uma das duas vagas que serão abertas para o Senado Federal, para fazer frente ao bolsonarismo na Casa.

A Câmara em modo 18+ - Miguel Caballero*

O Globo

Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...)

Na semana passada, os jornais informavam que, depois de presidir a Câmara, Arthur Lira fazia sua “reestreia na planície” na comissão sobre a reforma do Imposto de Renda. Poderia (deveria) ser uma notícia de fevereiro ou março, mas já estamos em maio. Nesta semana, com o sucessor de Lira, Hugo Motta, em Nova York, os parlamentares ganharam um “recesso informal”. Com um ritmo de projetos aprovados similar ao do ápice da pandemia, a atual legislatura tem sido marcada pela ausência de votações importantes.

Menos quando são importantes para os próprios deputados. No último dia 6, a letargia virou celeridade na adequação da distribuição dos assentos na Casa à população dos estados medida no último Censo. A mudança havia sido determinada há quase dois anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi deixada de lado e, em poucas horas, a Câmara aprovou a urgência e o mérito da proposta de reconfiguração. Para ninguém perder cadeiras, criam-se 18 novas vagas de deputado (e suas cotas, auxílios e verbas indenizatórias...).

José Mujica foi exemplo de austeridade e ética para a esquerda no poder - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Ex-presidente uruguaio faleceu nesta terça-feira, aos 89 anos, no sítio onde vivia, nos arredores de Montevidéu. Liderou pela palavra e pelo exemplo, com diálogo e sem ressentimentos

A morte do ex-presidente José Mujica, nesta terça-feira, foi anunciada pelo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, em mensagem pelo X (antigo Twitter). A esquerda latino-americana perdeu o líder político mais carismático de sua geração, que talvez só possa ser equiparado ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que liderou a luta contra o apartheid por mais de duas décadas, mesmo estando preso.

José Alberto “Pepe” Mujica Cordano nasceu em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Uruguai. Ex-guerrilheiro, agricultor e político, presidiu o país entre 2010 e 2015, sendo amplamente reconhecido por seu estilo de vida austero, sua retórica humanista e sua atuação firme em defesa da democracia, dos direitos sociais e da soberania popular.

Pepe Mujica deixa um legado de integridade, coerência e compromisso com os valores humanos. Sua trajetória inspira líderes e cidadãos ao redor do mundo a repensarem as prioridades da vida e da política, valorizando a simplicidade, a empatia e a justiça social. Como presidente, manteve a simplicidade e as críticas ao consumismo. Em 2013, fez um discurso marcante na ONU, em que criticou o consumismo e a lógica do crescimento econômico sem limites. “Desenvolvimento não é consumir mais. É ser mais feliz com menos”, afirmou Mujica. O discurso viralizou nas redes sociais.

Um ponto de partida para a CPI Mista do INSS - Fernando Exman

Valor Econômico

Requerimento de informações da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara de abril de 2023 já levantava suspeita de fraude

Cerca de 50 dias atrás, conta um líder da oposição, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) alertou alguns interlocutores no Congresso que um escândalo na Previdência Social estava para eclodir e poderia abalar a República.

Paulinho da Força já havia apresentado reclamações a autoridades do governo, apontando que associações estavam descontando indevidamente recursos dos aposentados. Em resposta, relata, ouviu que o problema já havia sido resolvido. Insatisfeito com o retorno, também procurava integrantes do Tribunal de Contas da União (TCU). Tentava, sem sucesso, que a análise do caso avançasse na Corte de Contas desde 2023.

Problema fiscal tratado com paliativos - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Expectativa é que relatório bimestral não apresente contenção grande de despesas, pois as receitas têm apresentado bom desempenho

É triste, mas não se espera muita coisa do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias (RARDP), também conhecido como “bimestral”, que será divulgado até o dia 22. O documento atualizará as projeções de receitas e despesas para este ano e indicará a contenção de despesas necessária para cumprir a meta fiscal do ano, o déficit zero.

Especialistas ouvidos pela coluna não acreditam que o equilíbrio será alcançado. Tampouco acham que o governo fará agora um aperto mais forte nos gastos para atingir esse objetivo.

“A meu ver, o bimestral deveria trazer um contingenciamento ou bloqueio significativo, algo como R$ 30 bilhões ou R$ 35 bilhões”, disse à coluna o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto.

A inflação ‘Poliana’ do Banco Central - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas são as projeções do BC para o IPCA

Chama a atenção de vários analistas quão otimistas estão as projeções de inflação do Banco Central, em particular a de 2026, que agora é o horizonte relevante para a política monetária. A questão é que praticamente ninguém ainda entendeu direito o porquê de essas estimativas estarem bem abaixo do consenso das projeções do mercado.

Para o ano inteiro de 2026, a projeção de inflação do BC, divulgada no comunicado da última reunião do Copom, é de 3,6%. Esse número é quase 1 ponto porcentual (0,90 ponto) abaixo da mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2026 (de 4,50%) na última pesquisa Focus.

Congresso inventa inimigos imaginários - Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Imunidade parlamentar vem desde a Monarquia, mas Legislativo perde a vergonha em defendê-la

A imunidade parlamentar existe desde a primeira Constituição brasileira. Em 1824, a Monarquia já determinava que deputados e senadores não seriam presos "por autoridade alguma", salvo com aval do próprio Legislativo ou se pegos em flagrante delito de pena capital.

Cada deputado e senador representa milhares de pessoas, e essas vozes não podem ser caladas por enfrentarem outras autoridades, criminosos ou o poderio financeiro. É uma prerrogativa valiosíssima, especialmente em relação à liberdade de opinião e em regimes de exceção, como na ditadura militar.

BC pode aliviar, arrocho segue - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Selic pode subir mais um tico, como insinua ata do BC, mas debate central é alta da dívida pública

Banco Central bem que gostaria de ter encerrado a campanha de alta da Selic, que chegou a 14,75% ao ano na quarta passada. Nesta terça, na exposição de motivos dessa alta extra de meio ponto percentual, reiterou que deixa a porta aberta para mais alguma alta, de 0,25 ponto percentual, como havia feito no comunicado da decisão da semana passada. Foi o que disse na chamada "Ata do Copom". Se tiver qualquer fio de esperança, deixa a coisa em 14,75%.

Ainda assim, afora milagres, a taxa de juros de um ano, no mercado, deve ficar em 8% ao ano ou mais até fins do governo Lula, em termos reais —descontada a inflação. Está ora perto de 9% ao ano (triscou em 10% no pânico de dezembro).

PT repete script que quase o destruiu - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Governo repete protocolo petista de gestão de crise, mesmo sem acusação de corrupção

Diferentemente dos últimos governos —inclusive, mas não só, os do PT—, a administração Lula tem enfrentado vários tipos de crises, mas não acusações de corrupção ou de negligência em episódios de desvio de recursos públicos. Nosso justificado pessimismo com os padrões morais da política não deve nos impedir de reconhecer isso.

Mas agora, com a descoberta de quadrilhas mancomunadas com funcionários públicos desviando parte da aposentadoria de velhinhos há anos, impunemente, o nível da crise mudou. Roubar a bolsa do órfão e da viúva é indignidade que ofende qualquer um com o mínimo de decência.

Saber que o governo não só fracassou em impedir como também demorou a agir, mesmo alertado, é politicamente indesculpável. E, obviamente, é tarde demais para dizer que não sabia ou que não podia ter feito algo para impedir que bilhões fossem desviados em seu turno de guarda.

Morre Pepe Mujica, referência na esquerda latino-americana

O Globo e agências internacionais

Uma das figuras mais populares de seu país, ele lutava contra um câncer no esôfago e no fígado e duas doenças autoimunes

O ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica, uma das figuras mais populares do Uruguai e mais influentes na esquerda na América Latina, morreu nesta terça-feira, aos 89 anos de idade. Diagnosticado com câncer de esôfago em abril de 2024, ele anunciou, em janeiro deste ano, que o tumor havia se espalhado para o fígado e, "por ser um idoso", seu corpo não aguentaria novos tratamentos. Dias antes da morte, sua mulher, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky, disse que Mujica estava recebendo cuidados paliativos para aliviar a dor.

— Não posso fazer nenhum tratamento bioquímico nem cirurgia porque meu corpo não aguenta — disse Mujica em abril, acrescentando: — Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso.

Poesia | Poética, de Manuel Bandeira

 

Música | João Bosco e Orquestra Ouro Preto - O Bêbado e a Equilibrista

 

terça-feira, 13 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trégua tarifária entre EUA e China deveria perdurar

O Globo

Anúncio de negociação para acordo na guerra comercial é um alívio, mas, com Trump, tudo segue imprevisível

Trouxe alívio ao planeta o anúncio de uma trégua na guerra comercial entre Estados Unidos e China. A escalada tarifária iniciada por Donald Trump em fevereiro saiu de controle desde o início de abril, com retaliações em série. Quando negociadores dos dois países deram início a conversas na Suíça no sábado, os produtos chineses pagavam sobretaxa de 145% nos Estados Unidos, e os americanos de 125% na China. Mantido tal patamar, o comércio entre as duas maiores economias do mundo se tornaria inviável. Pelo que foi acertado, os dois lados suspenderão as barreiras por 90 dias enquanto tentam negociar um acordo definitivo. Nesse período, as sobretaxas cairão, respectivamente, a 30% e 10% (na prática, as tarifas serão de 40% e 25%, levando em conta os patamares anteriores à disputa). A redução é bem-vinda — e deveria perdurar.

O GPT vai mudar – Pedro Doria

O Globo

Mudanças em curso na OpenAI fatalmente afetarão os rumos de toda a indústria da IA

Algumas mudanças profundas em curso na OpenAI fatalmente mudarão os rumos de toda a indústria da inteligência artificial. Duas são estritamente de negócios, e a terceira tem a ver com o produto — é o GPT 5, esperado para algum momento do segundo semestre deste ano. Mas, bem antes desse lançamento, a empresa OpenAI se transformará, com a chegada de uma nova executiva. É a francesa Fidji Simo, de 39 anos, que ocupava o cargo de CEO da Instacart, uma companhia de e-commerce voltada para tecnologia de supermercados.

Para entender como as peças se encaixam, é preciso antes sobrevoar um pouco a história de como a OpenAI nasceu e se formou. A companhia vem de uma obsessão de Elon Musk. Em 2015, Musk já considerava que a IA estava a um passo de explodir e temia que, nas mãos do Google, se tornasse um monopólio privado. Foi por isso que passou o chapéu entre investidores do Vale do Silício, com o objetivo de criar uma empresa sem fins lucrativos que desenvolveria modelos abertos de IA para todos.

Credibilidade em jogo – Merval Pereira

O Globo

A intenção sempre foi salvar Bolsonaro, como se com isso conseguissem que ele pudesse se candidatar à eleição presidencial do próximo ano

Como diz um velho ditado, até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Assim também, até um Congresso esclerosado pelo fisiologismo ou patrimonialismo pode estar certo em algum momento. É o caso da proposta negociada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para equilibrar as penas dos indiciados na tentativa de golpe de 2023, reduzindo as dos “bagrinhos” e, quem sabe, aumentando as dos líderes.

Não é razoável que a imensa maioria de meros “inocentes úteis” recebam as mesmas penas e sejam acusados dos mesmos crimes que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, militares ou civis. Mesmo que se entenda que ali não havia inocentes, não eram os financiadores e estrategistas que comandaram a depredação dos prédios públicos, mas uma “massa de manobra” incentivada a tal vandalismo pelos verdadeiros “estrategistas”, muitos deles infiltrados na multidão para facilitar a invasão.

Um bom alívio, mas não o fim da crise - Míriam Leitão

O Globo

Estados Unidos e China decidiram voltar à mesa de negociação, pois o tarifaço estava ferindo a economia de ambos

Quem piscou primeiro? Essa é a pergunta feita por uma reportagem escrita a seis mãos pelos jornalistas do Financial Times em Washington, Beijing e Londres. Falavam sobre o acordo anunciado entre Estados Unidos e China em que ambos os lados suspenderam temporariamente a maior parte das supertarifas que cada país impôs ao outro. No Brasil, fontes que acompanham essa guerra tarifária avaliam que há um alívio, mas não o fim da crise. Mesmo que a trégua seja mantida como solução permanente, o que ficaria de tudo isso é que os Estados Unidos elevaram sua tarifa contra todos os países, criaram barreiras ainda maiores para alguns produtos e quebraram as regras multilaterais de comércio.

Viagem de Lula marca a integração informal do Brasil na Rota da Seda – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Itamaraty evita alianças formais que possam ser interpretadas como alinhamento geopolítico. A adesão formal ao projeto da China seria politicamente disruptiva

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, a convite do presidente chinês, Xi Jinping, compensa em muito o desgaste causado por sua participação nas comemorações do Dia da Vitória em Moscou, como um dos convidados de honra do presidente Vladimir Putin. Enquanto a passagem por Moscou foi marcada por críticas da oposição no Brasil e um inegável desgaste político junto às chancelarias europeias, aliadas do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, o encontro com dirigentes e executivos chineses marcou, informalmente, a integração do Brasil à chamada Nova Rota da Seda, o ambicioso projeto comercial e logístico da China.

A turnê de Lula e a bola de cristal de Bannon - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O ideólogo do trumpismo colocou Lula, Putin e Xi no mesmo balaio num momento em que o presidente brasileiro faz turnê por Rússia e China

Steve Bannon foi taxativo ao “Financial Times”: “Donald Trump vai se recandidatar e vai ganhar”. A capacidade preditiva do ideólogo do trumpismo escalou quando ele apostou, duas semanas antes do conclave, na escolha de Robert Prevost para papa. O recuo na guerra comercial só viria dois dias depois, mas Bannon, mesmo sem tratar dela, também pareceu premonitório.

A guerra comercial foi, até aqui, um dos fatores mais determinantes para que Trump tenha chegado aos 100 dias com a mais baixa popularidade dos últimos 80 anos. Não tende a ser visto internamente como o provocador de muito barulho por nada, mas como um presidente que, frente às evidências, foi capaz de recuar e devolver otimismo aos agentes econômicos.

Bannon colocou Xi Jiping, Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo balaio: “Xi, Lula e Putin são uma aliança ruim. Eles não se cruzam com Trump. Eles não vão ajudar com a Ucrânia. Eles vão fazer o que estiver no interesse deles”. Não é uma visão exclusiva de Bannon. A ideia de que o Brasil seja visto como parte dessa aliança foi o que levou conselheiros deste governo a sugerir que o país voasse baixo para aproveitar oportunidades sem cutucar a onça com a vara curta.

A sorte e o azar de novo na rota de Lula - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Uma coisa é o impacto econômico do fator Trump no Brasil a médio e longo prazos e outra é seu efeito político a curto prazo

Lá atrás, durante o segundo governo Lula, já havia a polarização política no país, entre o PT governista e o PSDB oposicionista. Foi a época em que “The Economist” colocou o Cristo Redentor decolando na capa e um jornalista da revista inglesa escreveu “Já é amanhã no Brasil”.

Tucanos procuravam depreciar o governo que dava certo e ganhava credibilidade internacional. Citavam três razões para o sucesso: herança, juízo e sorte. Herança porque Lula teria recebido a economia arrumada por Fernando Henrique Cardoso, com privatizações, inflação baixa e contas em dia. Juízo porque Lula teria seguido a mesma política neoliberal de FHC. E sorte por pegar um período de crescimento global e boom das commodities.

Há verdades e exageros nessas avaliações. Herança existia, mas incompleta, porque FHC deixara uma vultosa dívida externa a ser paga. Juízo era discutível, porque Lula não seguiu totalmente a política neoliberal. Houve lances de sorte, mas também o azar de enfrentar, em 2008, a maior crise financeira internacional desde 1929.

Governo Lula amplia a busca de aproximação com os EUA - Assis Moreira

Valor Econômico

Uma 'agenda positiva' no atual cenário desafiador tem sido levantada com os americanos

O governo Lula multiplica a busca por maior aproximação econômica com o governo Trump, ao mesmo tempo em que em Pequim o presidente qualifica de “indestrutível” a relação bilateral com a China.

No começo do mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em viagem à Califórnia, destacou a mensagem do interesse brasileiro em aprofundar a cooperação bilateral com os EUA, em meio ao choque tarifário trumpista que causa incertezas no país e globalmente.

Agora foi a vez de a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, com uma delegação do setor privado, sinalizar em Washington a importância que Brasília dá para os dois lados construírem uma agenda positiva nesse ‘cenário desafiador’.

Oposição digital, defesa analógica - Eliane Cantanhêde


O Estado de S. Paulo

Risco de Lula é eleitor trocar a ‘defesa da democracia’ de 2022 pela ‘anticorrupção’ em 2026

O maior risco do presidente Lula, talvez do País, é a troca da bandeira decisiva de 2022, democracia, para uma outra, demolidora, em 2026, corrupção. Lula conquistou o terceiro mandato e impediu o segundo de Jair Bolsonaro na onda da defesa democrática e precisa ser mais ágil e convincente para não chegar à próxima eleição afogado pela narrativa da corrupção, fantasma que o acompanha desde mensalão e Lava Jato.