O Estado de S. Paulo
Outra notícia boa desta semana foi que o Brasil acertou com a China a vinda de R$ 27 bilhões para investimentos no País, a serem realizados por empresas chinesas
Hoje voltamos a falar de Trump e suas
tarifas. A guerra comercial entre os EUA e o mundo teve grande retrocesso na
segunda-feira passada diante do anúncio de que o país reduzirá de 145% para 30%
as tarifas de importação sobre produtos chineses, enquanto a China reduzirá
suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%. O problema é que a
redução é temporária e vigorará por 90 dias, deixando no ar alguma incerteza
quanto ao retorno de tarifas mais altas. Trump deve ter percebido que a
encrenca do seu tarifaço estava causando problemas para o seu próprio país e
sua própria popularidade. Mas, ainda assim, deu nova mostra de sua
instabilidade.
Segundo mostrou o jornalista Assis Moreira,
no jornal Valor (13/5), “(...) Trump falava em diminuir as alíquotas para algo
como 80%, na sexta-feira”.
Esse assunto do tarifaço de Trump alcançou as
manchetes recentes, mas são escassas as referências à origem da encrenca. A
raiz dessa briga entre EUA e China está nos resultados do comércio entre os
dois países.
Segundo reportagem do Estadão da mesma data (
EUA e China anunciam acordo de suspensão parcial de tarifas comerciais por 90
dias, B1), “(...) o comércio entre as duas potências somou cerca de US$ 585
bilhões no ano passado. Os EUA importaram uma fatia bem maior, por volta de US$
440 bilhões, enquanto os americanos venderam US$ 145 bilhões para Pequim. O
déficit comercial dos EUA hoje em relação à China – de US$ 295 bilhões –
equivale a 1% do PIB americano”, o que não é pouca coisa. Há tempos o desequilíbrio
é alto, esse déficit incomoda muito o governo dos EUA e acabou gerando a reação
inicialmente agressiva de Trump. A propósito, Scott Bessent, secretário do
Tesouro dos EUA, assim se manifestou: “Queremos comércio. Queremos um comércio
mais equilibrado”. Segundo a Folha de S.Paulo, na mesma data, a disputa
tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo
cadeias de suprimentos, despertando temores de estagflação e provocando algumas
demissões.
A reunião que levou às novas tarifas
recíprocas entre os dois países ocorreu em Genebra no fim de semana passado, e
causou impressão a rapidez com que se chegou às novas tarifas. Reuniões desse
tipo devem continuar, pois ainda há vários problemas a resolver no contexto do
comércio entre os dois países. Bessent também disse que o “(...) acordo é
apenas o começo de uma negociação entre as potências e que, nas próximas
semanas, os países voltarão a se encontrar para firmar um acordo comercial mais
amplo”. Também é bom saber que há essa disposição de discutir, o que foi
assinalado por várias autoridades e analistas. O mesmo Scott Bessent afirmou:
“O consenso de ambas as delegações neste fim de semana é que nenhum dos lados
quer uma dissociação. (...) E o que estava ocorrendo com essas tarifas muito
altas era o equivalente a um embargo”. Do lado chinês, um comunicado instou os
EUA a “(...) retificar completamente o erro das tarifas unilaterais e trabalhar
em conjunto para injetar mais certeza e estabilidade na economia global”. Logo
após o anúncio, na segundafeira, os mercados de ações dos países mais
importantes, em particular os dos dois países mais envolvidos, reagiram
positivamente, o que é um sinal de que o recuo foi bem recebido. O Ibovespa só
reagiu na terça-feira, também influenciado pela boa notícia.
Vendo a coisa aqui do Brasil, a redução das
tarifas, evidentemente, leva a uma redução das tensões de que estavam tomados
os agentes econômicos afetados por esta questão. Mas permanecem outras que lhes
causam problemas. Para as empresas importarem ou exportar mais, ou menos, é
preciso definir o quê, o quanto e a que preço, a logística e os investimentos
necessários, bem como seus riscos, que incluem mudanças tarifárias. Assim,
esses 90 dias de prazo continuarão mantendo incertezas que prejudicarão o processo
decisório. Portanto, é preciso alcançar logo decisões aceitas pelas partes
envolvidas e afirmar que o processo foi concluído. Governantes costumam decidir
sem se preocupar com o impacto de suas decisões sobre quem vai atuar sob o
impacto delas, o que pode prejudicar a sua eficácia.
Portanto, mais 90 dias de incertezas menores,
mas ainda prejudiciais.
Outra notícia boa desta semana foi que,
segundo o noticiário, em sua recente viagem à China, o presidente Lula acertou
a vinda de R$ 27 bilhões para investimentos no Brasil, a serem realizados por
empresas chinesas, entre elas a GWM, uma das maiores montadoras chinesas, a
Meituan, plataforma de delivery que anunciou um grande desembolso para atuar no
mercado de entrega por meio do aplicativo Keeta.
O noticiário mencionou outras empresas
chinesas nos setores de energia e tecnologia verde. Sei de acordos entre
governos que não se materializaram na prática, encalhando por uma razão ou
outra, como por falta de gestão e de recursos. Neste caso, entretanto, as
promessas foram feitas por empresas chinesas e em público, o que me parece
reduzir a probabilidade de fracassos.
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