quinta-feira, 15 de maio de 2025

A diminuição temporária de tarifas por EUA e China - Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

Outra notícia boa desta semana foi que o Brasil acertou com a China a vinda de R$ 27 bilhões para investimentos no País, a serem realizados por empresas chinesas


Hoje voltamos a falar de Trump e suas tarifas. A guerra comercial entre os EUA e o mundo teve grande retrocesso na segunda-feira passada diante do anúncio de que o país reduzirá de 145% para 30% as tarifas de importação sobre produtos chineses, enquanto a China reduzirá suas tarifas sobre produtos americanos de 125% para 10%. O problema é que a redução é temporária e vigorará por 90 dias, deixando no ar alguma incerteza quanto ao retorno de tarifas mais altas. Trump deve ter percebido que a encrenca do seu tarifaço estava causando problemas para o seu próprio país e sua própria popularidade. Mas, ainda assim, deu nova mostra de sua instabilidade.

Segundo mostrou o jornalista Assis Moreira, no jornal Valor (13/5), “(...) Trump falava em diminuir as alíquotas para algo como 80%, na sexta-feira”.

Esse assunto do tarifaço de Trump alcançou as manchetes recentes, mas são escassas as referências à origem da encrenca. A raiz dessa briga entre EUA e China está nos resultados do comércio entre os dois países.

Segundo reportagem do Estadão da mesma data ( EUA e China anunciam acordo de suspensão parcial de tarifas comerciais por 90 dias, B1), “(...) o comércio entre as duas potências somou cerca de US$ 585 bilhões no ano passado. Os EUA importaram uma fatia bem maior, por volta de US$ 440 bilhões, enquanto os americanos venderam US$ 145 bilhões para Pequim. O déficit comercial dos EUA hoje em relação à China – de US$ 295 bilhões – equivale a 1% do PIB americano”, o que não é pouca coisa. Há tempos o desequilíbrio é alto, esse déficit incomoda muito o governo dos EUA e acabou gerando a reação inicialmente agressiva de Trump. A propósito, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, assim se manifestou: “Queremos comércio. Queremos um comércio mais equilibrado”. Segundo a Folha de S.Paulo, na mesma data, a disputa tarifária paralisou quase US$ 600 bilhões em comércio bilateral, interrompendo cadeias de suprimentos, despertando temores de estagflação e provocando algumas demissões.

A reunião que levou às novas tarifas recíprocas entre os dois países ocorreu em Genebra no fim de semana passado, e causou impressão a rapidez com que se chegou às novas tarifas. Reuniões desse tipo devem continuar, pois ainda há vários problemas a resolver no contexto do comércio entre os dois países. Bessent também disse que o “(...) acordo é apenas o começo de uma negociação entre as potências e que, nas próximas semanas, os países voltarão a se encontrar para firmar um acordo comercial mais amplo”. Também é bom saber que há essa disposição de discutir, o que foi assinalado por várias autoridades e analistas. O mesmo Scott Bessent afirmou: “O consenso de ambas as delegações neste fim de semana é que nenhum dos lados quer uma dissociação. (...) E o que estava ocorrendo com essas tarifas muito altas era o equivalente a um embargo”. Do lado chinês, um comunicado instou os EUA a “(...) retificar completamente o erro das tarifas unilaterais e trabalhar em conjunto para injetar mais certeza e estabilidade na economia global”. Logo após o anúncio, na segundafeira, os mercados de ações dos países mais importantes, em particular os dos dois países mais envolvidos, reagiram positivamente, o que é um sinal de que o recuo foi bem recebido. O Ibovespa só reagiu na terça-feira, também influenciado pela boa notícia.

Vendo a coisa aqui do Brasil, a redução das tarifas, evidentemente, leva a uma redução das tensões de que estavam tomados os agentes econômicos afetados por esta questão. Mas permanecem outras que lhes causam problemas. Para as empresas importarem ou exportar mais, ou menos, é preciso definir o quê, o quanto e a que preço, a logística e os investimentos necessários, bem como seus riscos, que incluem mudanças tarifárias. Assim, esses 90 dias de prazo continuarão mantendo incertezas que prejudicarão o processo decisório. Portanto, é preciso alcançar logo decisões aceitas pelas partes envolvidas e afirmar que o processo foi concluído. Governantes costumam decidir sem se preocupar com o impacto de suas decisões sobre quem vai atuar sob o impacto delas, o que pode prejudicar a sua eficácia.

Portanto, mais 90 dias de incertezas menores, mas ainda prejudiciais.

Outra notícia boa desta semana foi que, segundo o noticiário, em sua recente viagem à China, o presidente Lula acertou a vinda de R$ 27 bilhões para investimentos no Brasil, a serem realizados por empresas chinesas, entre elas a GWM, uma das maiores montadoras chinesas, a Meituan, plataforma de delivery que anunciou um grande desembolso para atuar no mercado de entrega por meio do aplicativo Keeta.

O noticiário mencionou outras empresas chinesas nos setores de energia e tecnologia verde. Sei de acordos entre governos que não se materializaram na prática, encalhando por uma razão ou outra, como por falta de gestão e de recursos. Neste caso, entretanto, as promessas foram feitas por empresas chinesas e em público, o que me parece reduzir a probabilidade de fracassos.

 

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