quinta-feira, 15 de maio de 2025

A Petrobras manda cartas - Míriam Leitão

O Globo

Magda Chambriard afirma que já enviou quatro cartas para o Ibama, mas nega que seja para pressionar

Petrobras enviou já quatro cartas para o Ibama pedindo para ser fiscalizada na Foz do Amazonas. A empresa diz que cumpriu as exigências do órgão fiscalizador, e pede para ser inspecionada, afirmando que está pronta para perfurar. A Petrobras está voltando à distribuição, fornecendo combustível diretamente a grandes empresas, no mercado B2B. Informações da presidente Magda Chambriard em entrevista que me concedeu na GloboNews. Perguntei por que ela disse “Let's drill baby”, repetindo uma expressão trumpista. “Foi para chamar a atenção”, respondeu.

Magda Chambriard negou que as cartas ao Ibama sejam para pressionar.

— São uma resposta. No ano passado, nos comprometemos a entregar as últimas exigências do Ibama. A última foi mais um centro de despetrolização da fauna, agora no Oiapoque. Num primeiro momento colocamos barcos de alta velocidade para o centro de Belém (que o Ibama avalia que é muito longe do local da possível exploração), e reduzimos bastante o tempo. Construímos um novo e foi entregue no final de março, que foi autorizado pelo instituto amapaense ambiental. Então, nós temos licença. Avisamos ao Ibama que estamos prontos para a fiscalização dessa área. E o Ibama tem que nos fiscalizar enquanto autorizador. Em Oiapoque, foi instalado o maior plano de emergência individual feito no mundo.

A sonda foi limpa e está pronta para ser levada ao local da perfuração. Segundo Magda, ainda falta a autorização da licença pré-operacional — um grande exercício feito para provar se todos os equipamentos estão funcionando corretamente e nos locais adequados.

— Como entregamos tudo logo no início de abril e estamos em maio, toda semana avisamos ao Ibama: ‘olha, está tudo pronto aqui’. Esta é a quarta carta informando que estamos prontos para ser fiscalizados.

O barril do petróleo teve quedas fortes no mercado internacional, e o câmbio também, as duas variáveis que formam o preço interno do combustível. Perguntei se os preços seriam reduzidos para o consumidor. Ela disse que desde janeiro de 2023, os preços da Petrobras para as distribuidoras caíram. O QAV (combustível de aviação) está, segundo ela, 36% mais barato; o diesel, 26%; e a gasolina, 11%.

— A questão é que perdemos a ponta, não vendemos mais diretamente para o consumidor. E isso nos incomoda, principalmente naquele distribuidor que tem o nosso logo — disse ela, referindo-se ao fato de que a BR foi privatizada.

Ela afirmou que a Petrobras continua com a prerrogativa de vender diretamente a grandes consumidores no mercado B2B. Em São Paulo, a estatal realiza um grande teste nesse formato e, no Matopiba — região que abrange Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia —, fará vendas diretas a grandes produtores do agronegócio. Perguntei se a empresa cogita voltar a ter uma distribuidora.

— O que a gente vê é que, apesar de a gente baixar muito o preço, esse preço mais em conta não chega ao consumidor. Essa distribuição para o consumidor final não está sobre a mesa.

Ela contou que a empresa está aumentando a produção, e isso em função de investimentos feitos no ano passado. O campo de Búzios vai passar o de Tupi, atualmente o maior do país. Hoje, produz 800 mil barris/dia, mas a presidente fala em crescimento sucessivo, para um milhão, podendo chegar a dois milhões de barris em um único campo, mais do que a produção de muitos países. Além disso, está fazendo novas descobertas na Bacia de Santos. E no futuro, como ficará a Petrobras em um mundo que terá que consumir menos petróleo por causa da mudança climática?

—Quando eu assumi, a primeira pergunta que eu fiz foi essa: seremos uma empresa de combustível fóssil, produtora de pré-sal, e acabou? Ou a empresa vai ser longeva, forte e relevante por bastante tempo? Colocamos em números. Hoje, fornecemos 31% da energia primária do Brasil. O Brasil vai crescer 60% até 2050. Temos que fazer uma reposição das reservas, mas ao mesmo tempo vamos fazer grandes investimentos em renováveis. Vamos voltar ao etanol, reforçar nossa participação em biodiesel, investir em eólica, fazer hidrogênio verde, replantar floresta.

Enquanto esse futuro não chega, ela contou que tenta atrair investidores para o mar em torno da Amazônia. Por isso, ao lado do governador do Amapá, disse “Let's drill, baby”, numa reunião do mundo do petróleo nos EUA. A expressão trumpista agradou à plateia. Mas causa estranheza. Por isso, ela admite que é sempre perguntada sobre o uso dessa expressão.

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