- O Globo
O crescimento vai minguando a cada indicador, a cada mês, a cada evento. O PIB do primeiro trimestre, divulgado ontem, foi de alta de 0,4%, mas há vários números que mostram um ritmo menor do que se previa. E agora há os temores sobre o estrago que a greve do transporte fez no segundo trimestre. Mesmo as consultorias que tinham uma visão mais otimista acham que o PIB do ano pode ficar abaixo de 2%.
A AMB Associados já considerou que o país cresceria 3,5% este ano, mas depois de analisar os números do PIB do primeiro trimestre acha que “se tudo der certo” o ano termina em 1,9%. O Itaú Unibanco até recentemente estimava uma alta de 4% e baixou para 2%. Mas o relatório enviado pelo banco alerta que ainda não incorporou “um eventual impacto das paralisações”. O maior temor é o de que a confiança dos empresários e dos consumidores caia e isso afete o crescimento do segundo semestre.
Para entender o estágio atual da economia brasileira, é preciso enxergar duas coisas. O PIB de fato parou de cair e está positivo em todas as formas de comparação feitas pelo IBGE. Cresceu 0,4% sobre o quarto trimestre, 1,2% sobre o primeiro trimestre de 2017, e acelerou no acumulado em 4 trimestres, de 1% para 1,3%. Ou seja, a recessão ficou de fato superada. O problema é que 13,4 milhões de brasileiros vivem o drama do desemprego e esse ritmo de recuperação é muito lento. A comparação do trimestre de fevereiro a abril, divulgado esta semana, com o mesmo período do ano anterior, mostra queda do desemprego. Mas essa redução tem sido hesitante para a dimensão do problema.
Olhando os setores em separado, o consumo das famílias cresce há cinco trimestres seguidos, e os investimentos, há quatro. A taxa de investimento em relação ao PIB também voltou a subir, depois de três anos seguidos de queda. A agropecuária foi uma surpresa positiva. Mas os serviços continuam decepcionando e estão praticamente estagnados há dois trimestres. E esse é justamente o setor que mais gera emprego na economia. A indústria de transformação também decepcionou e recuou 0,4% no primeiro trimestre, depois de quatro altas. A construção civil ainda não engrenou e caiu 0,6%.
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, chama atenção para a desaceleração do PIB na taxa trimestral, quando se compara um trimestre com o mesmo período do ano anterior. O número baixou de 2,1% para 1,2% e poderá ficar menor no segundo trimestre.
“Os dados têm mostrado piora adicional em abril, que ao se juntar com a greve dos caminhoneiros pode levar a um dado do segundo trimestre ainda mais baixo do que foi o primeiro trimestre”, escreveu em relatório.
A crise fiscal ainda é o principal entrave para o crescimento da economia. O governo continua no vermelho em R$ 118 bilhões e o presidente Temer preferiu evitar que fosse investigado pela Justiça a votar a reforma da Previdência. Com a greve dos caminhoneiros, se comprometeu a subsidiar o diesel, o que poderá agravar ainda mais a situação das contas públicas. A eleição de outubro não tem um candidato competitivo que defenda a agenda de reformas e a chance de vitória de um candidato populista ameaça as projeções de crescimento do PIB do ano que vem.
A alta recente do dólar deixou os países emergentes mais vulneráveis. O cenário externo, que até então era favorável, está cheio de incertezas. A crise cambial na Argentina pode afetar a exportação brasileira de manufaturados, principalmente da indústria automobilística, que vinha crescendo de forma expressiva.
Nas outras recuperações, após episódios recessivos, a economia brasileira cresceu fortemente. Desta vez, as expectativas e os indicadores estão minguando. Vários fatos explicam isso. O mais forte é o redemoinho em que entrou a política brasileira. Uma quebra de safra pode atingir a agricultura e em seguida ser superada, um choque de custos pode afetar a indústria e em seguida ela ser absorvido. Mas não se faz crescimento sem confiança. E é isso que está faltando diante da extrema incerteza na qual o Brasil vive.
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