terça-feira, 12 de agosto de 2025

Sequestros - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

A oposição bolsonarista – a que sequestrou as Mesas Diretoras do Parlamento – vem com muita energia, cheia de vontade, para esta nova semana no Congresso. O líder do PL deu o tom da disposição nas redes sociais: “Ninguém pode parar quem carrega a verdade debaixo do braço”.

O cronista, embora jamais a levasse no sovaco, não sabe quem carrega a verdade. Sabe que “quem carrega a verdade” – quem acredita carregar a verdade – abre várias oportunidades. Oportunistas amadores – os da anistia para Bolsonaro – oferecendo oportunidades a oportunistas profissionais. O cronista sabe que “ninguém pode parar” a turma de Arthur Lira quando fareja uma chance.

Vem aí, com muita energia, inclusive a do líder do PL, a blitz pela aprovação do pacote da impunidade parlamentar. A isto serviu a onda revolucionária bolsonarista levantada contra o sistema corporativista: a que o sistema a surfasse “corporativistamente”.

O bolsonarismo bucha servindo, mais uma vez, de escada, agora para que a turma barbarizadora das emendas parlamentares escape – não de Alexandre de Moraes – de Flávio Dino; sobretudo de Dino. Essa é, como se diz, a agenda, que o bolsonarismo valente besuntou com o verniz antiestablishment.

Nisto consiste o acordo firmado entre o consórcio PL-Novo e a galera liderada por Lira: não apenas pela mudança no foro por prerrogativa de função, tirando o STF da frente; também pela exigência de que investigações contra deputados e senadores dependam da autorização deles mesmos, deputados e senadores.

Esse foi o acordo pactuado em troca da devolução do Congresso – acordo em que a pauta da anistia, a pauta dos carregadores da verdade, entrou como discussão a ser retomada. Papear não custa.

O tema estava parado; doravante será enrolado.

A JUSTIÇA PARALELA DEMORAES. Merece atenção a denúncia de que Alexandre de Moraes teria montado e supervisionado um sistema de justiça paralelo – instância com trânsito entre STF e TSE – destinado a decidir quais presos no 8 de Janeiro permaneceriam na cadeia.

O critério arbitrário gerador da certidão informal seria aquilo que as pessoas detidas tivessem publicado ou republicado nas redes, algo de escopo amplo, que contemplaria críticas-questionamentos ao resultado da eleição de 2022 e manifestações contrárias a Lula ou a favor de Bolsonaro. Classificações – organizadas sem mandato legal – jamais compartilhadas com as defesas ou analisadas pelo Ministério Público.

A reportagem – com base em novo vazamento de diálogos entre assessores do ministro – é de David Ágape e Eli Vieira e foi publicada no Public, de Michael Shellenberger.

Retirada a espuma dos vieses políticos, o que se denuncia na matéria é gravíssimo. Que, sob tribunais superiores, se teria constituído, com fundamento em varreduras de opinião, uma espécie de lista negra a ser fiel oculto na balança para que, em audiência de custódia, um indivíduo ficasse na prisão. 

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