O Estado de S. Paulo
A oposição bolsonarista – a que sequestrou as
Mesas Diretoras do Parlamento – vem com muita energia, cheia de vontade, para
esta nova semana no Congresso. O líder do PL deu o tom da disposição nas redes
sociais: “Ninguém pode parar quem carrega a verdade debaixo do braço”.
O cronista, embora jamais a levasse no sovaco, não sabe quem carrega a verdade. Sabe que “quem carrega a verdade” – quem acredita carregar a verdade – abre várias oportunidades. Oportunistas amadores – os da anistia para Bolsonaro – oferecendo oportunidades a oportunistas profissionais. O cronista sabe que “ninguém pode parar” a turma de Arthur Lira quando fareja uma chance.
Vem aí, com muita energia, inclusive a do
líder do PL, a blitz pela aprovação do pacote da impunidade parlamentar. A isto
serviu a onda revolucionária bolsonarista levantada contra o sistema
corporativista: a que o sistema a surfasse “corporativistamente”.
O bolsonarismo bucha servindo, mais uma vez,
de escada, agora para que a turma barbarizadora das emendas parlamentares
escape – não de Alexandre de Moraes – de Flávio Dino; sobretudo de Dino. Essa
é, como se diz, a agenda, que o bolsonarismo valente besuntou com o verniz
antiestablishment.
Nisto consiste o acordo firmado entre o
consórcio PL-Novo e a galera liderada por Lira: não apenas pela mudança no foro
por prerrogativa de função, tirando o STF da frente; também pela exigência de
que investigações contra deputados e senadores dependam da autorização deles
mesmos, deputados e senadores.
Esse foi o acordo pactuado em troca da
devolução do Congresso – acordo em que a pauta da anistia, a pauta dos
carregadores da verdade, entrou como discussão a ser retomada. Papear não
custa.
O tema estava parado; doravante será
enrolado.
A JUSTIÇA PARALELA DEMORAES. Merece atenção a
denúncia de que Alexandre de Moraes teria montado e supervisionado um sistema
de justiça paralelo – instância com trânsito entre STF e TSE – destinado a
decidir quais presos no 8 de Janeiro permaneceriam na cadeia.
O critério arbitrário gerador da certidão
informal seria aquilo que as pessoas detidas tivessem publicado ou republicado
nas redes, algo de escopo amplo, que contemplaria críticas-questionamentos ao
resultado da eleição de 2022 e manifestações contrárias a Lula ou a favor de
Bolsonaro. Classificações – organizadas sem mandato legal – jamais
compartilhadas com as defesas ou analisadas pelo Ministério Público.
A reportagem – com base em novo vazamento de
diálogos entre assessores do ministro – é de David Ágape e Eli Vieira e foi
publicada no Public, de Michael Shellenberger.
Retirada a espuma dos vieses políticos, o que se denuncia na matéria é gravíssimo. Que, sob tribunais superiores, se teria constituído, com fundamento em varreduras de opinião, uma espécie de lista negra a ser fiel oculto na balança para que, em audiência de custódia, um indivíduo ficasse na prisão.
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