terça-feira, 14 de outubro de 2025

Lula terá de fazer rir, se quiser rir, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Lula pôs o bloco na rua, a partir da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Já estão postos também os programas de gás e energia elétrica para todos; e lançadas as promessas de tarifa zero no transporte público e de fim da escala de trabalho 6x1. O discurso está armado; os sonhos, vendidos – e não importa que não haja dinheiros para custeá-los. Arranje-se. O governo disputará politicamente a abertura, a fabricação mesmo, de espaço fiscal para realizá-los. O Orçamento de mentira tem a vantagem de sempre poder abrigar mais bondades.

Há um claro realinhamento de postura – para o confronto – ante o Parlamento e os partidos do chamado Centrão. Uma estratégia de constrangimento sobretudo à Câmara; daí a reação – “Congresso inimigo do povo” – quando derrubada a medida provisória de compensação ao IOF. Outra reação derivada da mudança de atitude: partidos com cargos na máquina federal que não votem com o Planalto perderão as boquinhas. Já perderam algumas.

O governo gastador não desistirá de arrecadar, de raspar quaisquer tachos, e o fará doravante sem vergonha, encaixada a projeção do 2026 eleitoral: tomar mais impostos aos mais ricos para descarregar os mais pobres. Esse é o texto – e não importa que não sejam somente os super-ricos a pagar a conta, tampouco importando que petistas também cedam ao lobby da jogatina.

A estratégia para intimidar o Parlamento “lobista de milionário” aposta na constituição de imagem do governo “defensor do povo”. É eficiente. Talvez não seja suficiente. Lula precisará equilibrar o verbo, gerir a tensão na corda, para a aprovar seus projetos. Necessitará dos legisladores para fazer prosperar a agenda forjadora de grana. Conflito não produz – não entrega – bem-estar à população. E – lembremos – este Legislativo deu a PEC da Transição de presente a Lula, ainda antes de o mandato começar, graças à qual pôde levantar o voo de galinha da economia brasileira de que se gaba.

O presidente dependerá da turma. Em 2022, Jair Bolsonaro baixou a bola e compôs com os donos do Congresso para aprovar seu pacotão de bondades, PEC Kamikaze etc., e ter assegurado o financiamento público de sua tentativa de reeleição. Discurso brigão à parte, Lula terá de fazer rir, se quiser rir. As negociações pela LDO de 2026 oferecerão boa oportunidade para apaziguamento. O Planalto ameaça congelar o disparo das emendas para compensar a receita não alcançada. Os parlamentares querem acertar um calendário de pagamento das emendas no ano eleitoral. Tem jogo.

Foi assim em 2024, em função das eleições municipais, explícito que a perversão da emenda parlamentar criou um fundão eleitoral paralelo. Deputados e senadores – que também concorrerão por se reeleger e sustentar o status quo – querem driblar os limites da lei eleitoral e ter emendas baixando em seus quintais até junho. Tem muito jogo.

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