quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Hélio Schwartsman - Estelionato deposicional

- Folha de S. Paulo

Nunca se deve desprezar o poder da caneta presidencial, mas, pelo menos por ora, o governo passa a sensação de ter acabado. Ele apenas reage –e em geral mal– às situações que lhe são impostas pelas investigações da Lava Jato, pelos estripulias de parlamentares da base aliada, pelas trapalhadas internas. No momento, é difícil imaginar que possa vir do Planalto uma iniciativa capaz de desanuviar o cenário político e começar a reaprumar a economia.

Isso significa que a bola está com a oposição. Ela precisa definir o quanto antes se vai tentar aprovar o impeachment da presidente ou se vai apostar no desgaste contínuo do PT. A segunda alternativa exige uma competência que não sei se os tucanos e seus aliados possuem.

Eles precisariam dar ao governo oxigênio suficiente não apenas para que Dilma Rousseff se equilibre na Presidência ao longo dos próximos três anos e meio –o que a essa altura parece uma eternidade–, como também para que a economia não se deteriore ainda mais, hipótese em que tornariam muito mais difícil a situação de quem assumir o poder em 2018. Dado que, pela lógica, os oposicionistas devem achar que vencerão o próximo pleito, não fazer nada agora para aliviar o nó fiscal do Estado equivaleria a dar um tiro no pé.

Apesar das incertezas embutidas na manutenção de Dilma, esse ainda me parece o melhor caminho. Não que o impeachment seja ilegítimo. Ele, afinal, está previsto na Constituição. É que, na linha do que defendia o filósofo Karl Popper, penso que a democracia avança mais quando a sociedade tem a chance de identificar ideias erradas e eliminá-las pelo voto. Afastar Dilma agora introduziria enorme confusão nesse processo. Permitiria ao PT não só tentar furtar-se à responsabilidade por seus erros como ainda daria ao partido o discurso antiausteridade no qual ele se sente tão confortável. Aí estaríamos autorizando o estelionato deposicional.

Rosângela Bittar - Fim do faz de conta

• Delação e domínio do fato são avanços no processo penal

- Valor Econômico

O juiz Sergio Moro falará hoje, em Brasília, à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em audiência pública na qual desponta com o notável reconhecimento pela condução do processo que apura crimes cometidos na administração da Petrobras e outras estatais, a Operação Lava-Jato. Moro comparecerá como apoiador de um projeto que autoriza prisão para crimes graves logo após a condenação em segunda instância ou pelo tribunal do júri. Passaram pelo seu crivo e também o da Associação de Juízes Federais (Ajufe) regras da proposta que prevê, nos casos de crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura, terrorismo, corrupção e lavagem de dinheiro, manter preso o condenado até quando existirem os motivos da decretação da prisão.

Ao falar sobre prisão o juiz, que na percepção da sociedade vem se tornando símbolo da Justiça, como apontam pesquisas, poderá construir um discurso que esclareça para senadores e deputados, preparados para lhe apresentar questões sobre o assunto, as prisões como instrumento da investigação. Parlamentares citados ou não na Operação Lava-Jato, com processos em tramitação no STF, denunciados em geral, inquiridos em particular, presos em minoria, discutem, hoje, o instrumento da delação premiada como aceleração das investigações da mesma forma que os réus e advogados no mensalão discutiam a novidade da época, a aplicação da teoria do domínio do fato, ambos instrumentos de modernização dos processos.

Investigados e seus advogados, contrários ao instituto da delação premiada, vêm aumentando o tom das críticas ao juiz Sergio Moro pelas prisões que consideram arbitrárias e que seriam feitas apenas para forçar a delação. Toda a força-tarefa dessa operação nega a intenção, mas poderia o juiz Moro aproveitar a presença no Congresso para esclarecer as dúvidas dos seus críticos, que já discutem mudanças no instrumento, há apenas dois anos em vigor.

Transformaram-se em debate recorrente nos meios acadêmicos e jurídicos os avanços que a aplicação da delação possibilitou aos processos, ao combate à impunidade e à agilidade da Justiça.

Tem-se feito um paralelo entre a delação premiada no atual caso didaticamente denominado petrolão, para retratar o saque que agentes públicos e privados fizeram contra a Petrobras e outras estatais, e o que representou a teoria do domínio do fato, aplicada nos processos do mensalão. Ambos são considerados um avanço inegável na apuração e punição de crimes de corrupção do poder público.

O presidente da Associação dos Juízes Federais, Antônio César Bochenek, considera que houve mais progressos nos processos com o recurso à delação premiada. Para ele, no mensalão, o novo foi a condenação de pessoas de alto escalão, pessoas importantes do cenário político. "Isso foi um avanço e não tínhamos experiência nesse sentido. Com relação à delação premiada, houve um avanço estrutural, da forma de conduzir o processo penal brasileiro, uma mudança cultural dentro do sistema processual".

Bochenek guarda distância entre as duas questões mesmo que ambas representem a superação da hipocrisia e busquem a eficácia dos processos. No domínio do fato não há uma regra, uma homogeneidade quanto há na aceitação da delação premiada. "A teoria do domínio do fato é direito penal puro. A delação premiada é questão processual, instrumento para obtenção de provas".

Mesmo guardando as diferenças na sua importância para o aperfeiçoamento dos processos, afirma o juiz que os dois são paradigmáticos no rompimento do sistema anterior.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Ayres Britto, sob cuja direção foi votada a maior parte do processo do mensalão, assinala que essas questões fazem parte de uma evolução histórica que corresponde a uma dialética entre os direitos e garantias individuais e a necessidade de tornar o direito penal mais eficaz. E aqui entra outro motivo de críticas dos advogados, o de que a Justiça está trabalhando para a plateia, o eleitorado. Para Ayres Britto, as garantias constitucionais do contraditório e ampla defesa têm que ser preservadas. "Mas, de outro lado, há a exigência do corpo social, de ver o direito penal dotado de eficácia. Porque senão os aplicadores do direito vão ficar fazendo uma interpretação leniente, para não dizer cúmplice dos fatos praticados por pessoas acusadas de delinquência".

O ministro vê nos dois instrumentos um avanço. Para ter um direito penal eficaz, o domínio do fato. Como contribuição para a investigação penal, a "colaboração premiada", termo que prefere à delação. "O que está acontecendo no campo do direito penal é uma espécie de processo dialético. É necessário fortalecer os direitos e garantias individuais, mas é preciso que o direito penal não seja um faz de conta".

Não dá para desconhecer: em organizações criminosas sofisticadas, há quem planeje, conceba, arquitete um esquema e mantem os executores sob controle, diz Britto. Esses arquitetos de esquemas criminosos têm o domínio dos fatos, uma liderança, até intelectual. Se eles quiserem que a trama criminosa cesse têm essa possibilidade, tal a importância da sua liderança. Essas pessoas não praticam os fatos empíricos, mas estão por trás na perpetração.

Isso veio à tona no julgamento da Ação Penal 470 (o mensalão), diz Britto, embora ele próprio, e alguns outros ministros, não tenham recorrido à teoria para votar com o relator na condenação dos réus. Só os fatos eram suficientes. "Mas se fosse necessário, teria usado". Era realmente um inegável avanço.

Agora, vem o novo instituto jurídico penal da delação premiada, que, a seu ver, a lei adequadamente chama de colaboração premiada. Ninguém está obrigado a colaborar, a colaboração é voluntária, espontânea. Se não colaborar, não tem sua situação agravada. Se colaborar, voluntariamente, pode receber um prêmio.

Alguns escritórios de advocacia reagem à delação e abandonam seus clientes se forem delatar. Da mesma maneira que reagiram à aplicação do domínio do fato.

"Eles acham que está havendo indução, coação, que estão prendendo para forçar o preso a delatar. A colaboração é um elemento auxiliar da investigação. Não pode roubar a cena. Não se pode condenar ninguém com base em colaboração premiada. Apenas há um colaborador que se oferece para ajudar a justiça".

O juiz Sergio Moro poderá mostrar o que a delação premiada representou para a Lava-Jato, e se há necessidade ou não de mudanças neste momento, como propõem alguns parlamentares.

José Nêumanne - Dilma é o bode: ruim sem ela, pior com ela

- O Estado de S. Paulo

Adaptada aos primórdios da União Soviética, a fábula do bode na sala tem tudo que ver com nossa atualidade: incomodados com o excesso de pessoas num apartamento coletivo, seus moradores se queixaram a um comissário do povo, que os aconselhou a pôr um bode em casa. Uma semana depois voltou ao local e, ao retirar o bode, melhorou a situação, que, é claro, tinha piorado muito.

Esta terra do samba, do frevo e do futebol tornou-se pátria do incômodo de 1 milhão de desempregados, previsto para 2015. E, talvez, ainda viverá funestas consequências nos próximos “meses” (apud Joaquim Levy), com mais empresas falindo e menos serviços funcionando, sob a égide de uma destrambelhada que assiste, aparentemente impávida, à degeneração econômica, política, social e, sobretudo, moral deste “país do pixuleco”. Neste, bandidos são bajulados como heróis que empregam trabalhadores e guerreiam pelo povo e vilões são apenas seus ex-sócios que colaboram com a Justiça ao denunciá-los.

Neste atual descalabro, uma nobreza nada nobre se protege atrás de um vergonhoso muro da ira da plebe espoliada.

Antigamente a corrupção era um empreendimento pessoal e assim foi até chegarmos a este século 21, quando virou projeto sistêmico partidário de poder para enriquecer uma súcia que se pretende monopolista de todas as virtudes e benesses.

Protegida por placas de metal na festa da Independência, que deveria ser de todos, a capitã da nave à deriva pratica o voo da barata tonta, que não é aleatório, como querem fazer crer sócios e cúmplices, mas método de embromation. A “gerenta”, posta no poder pelo padim, joga contra o bolso esvaziado do pobre, que finge representar, cartadas de um pôquer funesto. No ano passado conseguiu da base genuflexa no Congresso autorização para burlar a lei, ao não cumprir a obrigação precípua e intransferível de produzir saldo nas contas públicas. Ainda assim, recorreu a “pedaladas”, atropelando de novo a mesma lei para fechar balanço mentiroso.

Neste ano recorreu a um providencial ministro neoliberal para tranquilizar seus clientes com banco. Este chegou prometendo a volta do superávit primário para, em seguida, mandar para o Legislativo um Orçamento deficitário. A obrigação de só gastar o que é capaz de arrecadar não é apenas a pedra de toque da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas também a regra fundamental de qualquer gestão que se preze, no lar ou na República. Só que a corrupção sistêmica aparelhou e emparedou Poderes e instituições em postos-chave, capazes de sustentar o insustentável peso de um Estado estroina e de uma casta cujas máculas fazem apodrecer nossa democracia, para gáudio do bando que continua no comando.

Será esta democracia apenas um jogo de poder sem regras do voto conquistado com dinheiro desviado do bolso do próprio cidadão enganado? Voto nem sempre bem contado...

Edinho Silva, tesoureiro da campanha da “presidenta” reeleita, é acusado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, de tê-lo ameaçado de suspender seus contratos privilegiados com sobrepreço em estatais se não doasse para cobrir despesas da reeleição de Dilma. Licitação viciada e lavagem de propina pela Justiça Eleitoral são crimes graves e, no caso, sobrepostos.

“Eu segui as orientações da presidenta Dilma, ou seja, conversei com empresários brasileiros seguindo os princípios éticos e morais”, ele garantiu. Se for verdade, por que ela não o afasta até provar que o colaborador (antes da campanha e agora da Justiça) mentiu ao juiz e é, então, mentalmente incapaz, única condição para explicar atitude de quem agrava a própria pena?

A mesma testemunha privilegiada acusou dois varões do Senado de crimes semelhantes: o chefe da Casa Civil da reeleita, Aloizio Oliva, e o candidato derrotado a vice pelo principal partido da oposição, Aloysio Ferreira. Ambos garantem que as doações foram legais.

Mas o mantra petista não ganha foros de verdade por ser repetido pelo PSDB. A doação somente é legítima se sua origem for limpa. Cabe aos agentes da Operação Lava Jato provar se é ou não. Se não for, Pessoa terá as penas agravadas e Suas Excelências, a reputação recuperada. Até se esclarecer isso, porém, eles teriam de se licenciar de seus cargos para não atrapalharem as investigações – dois usando poder de governo e o terceiro dificultando a oposição a se opor.

Mas os tucanos ficam de bico fechado. E madame “gerenta” permite que seu anspeçada solape o que ainda resta ao próprio governo do mínimo de credibilidade com lances geniais no xadrez político, tais como o que provocou a ida de Eduardo Cunha para as hostes inimigas e o abandono da coordenação política pelo vice, Michel Temer. Isso sem falar nos roques que ela empreendeu ao aceitar o superávit primário; tentar ressuscitar imposto renegado em época de presidente popular (Lula) e maioria de fato; encaminhar Orçamento deficitário e, portanto, irregular para o Congresso; anunciar que mandaria suplemento equilibrando as contas; e cobrar pela “travessia” (sem Moisés).

Com a oposição sem rumo nem projeto, não é de prever bonança para o Brasil, ainda que dona Dilma venha a ser deposta. Mas também não é difícil verificar que, ao apostar na fábula do bode com que o comissário do povo driblou os incomodados, a “presidenta” de Edinho e Oliva não faz o papel que se atribui de malandrinha que indica a solução errada para vender o falso alívio da retirada do bode malcheiroso, barulhento e bagunceiro da sala da “minha casa, minha vida”.

Ela, ao contrário, é o bode propriamente dito. Ou seja: se pode vir a ser ruim sem Dilma, pior será que ela continue protegendo seus suspeitos do peito. E nos dando a certeza, que se confirma a cada dia, de que ou é incapaz de sentir o fedor que lhe entra pelas narinas ou é cúmplice de quem produz todo esse material orgânico que torna insuportável a vida de seus desditados condôminos.
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*José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor

Vinicius Torres Freire - A travessia no abismo

• Mais Cide, mais IR, corte em saúde e educação: pacote fiscal da beira do abismo tem de tudo e de nada

- Folha de S. Paulo

Qualquer aumento de imposto e muito corte de gastos tendem a provocar efeitos colaterais daninhos. Em caso de barbeiragem, podem ter mesmo efeito inverso do planejado. Um pacote completo, organizado, com objetivos de pelo menos médio prazo (uns três anos), no entanto, deve dar alguma previsão de ordem no futuro próximo do país.

Não há, no entanto, plano algum nem mesmo para alinhavar esse pacote, que o governo passou a chamar recentemente de "travessia". Trata-se de uma salada de corte de gastos com aumento de impostos, mas nem mesmo entre os economistas do governo há acordo mínimo sobre quanta cebola e quanto tomate entram nesse prato de mixórdia.

O pacote vem sendo alinhavado em público, mas no pior sentido da palavra, uma espécie de "reality show" de terror macroeconômico misturado a gritaria de feira com bate-boca de rua.

Na algazarra, ouvia-se de tudo.

Que, em breve, o governo vai baixar medida provisória que permite repatriar dinheiros enviados de modo irregular, quiçá criminoso, para o exterior, desde que pagos impostos e multas.

Que o governo vai vender seu direito de receber dívida atrasada e certa com a União. Isto é, vende com desconto ao setor privado o direito de receber débitos, antecipando receita, a qual de resto nem consegue cobrar. Vai "securitizar", versão moderna da concessão de uma "fazenda de tributos", para ser sarcástico.

Que o governo pretende aumentar o Imposto de Renda da Pessoa Física, para o ano que vem, e criar uma alíquota adicional, de 35%.

Que o governo vai mesmo ampliar a Desvinculação de Receitas da União (pode se furtar a cumprir parte das determinações constitucionais de gastos, o que na prática talha gastos de saúde e educação).

Que o governo pretende aumentar o "imposto da gasolina", a Cide (R$ 0,50, pelo menos). A Cide tem o apoio de Michel Temer (PMDB), o vice-presidente, que, no entanto, não quer saber de outros impostos (CPMF e variantes, com duração de dois ou três anos, mais IOF, mais IPI). Cogitava-se ainda, outra vez, de passar um contrabando de aumento de imposto na reforma do PIS/Cofins.

Temer continua afinado com empresários industriais em pé de guerra contra a derrama, afinado, aliás, como tem estado o PMDB inteiro. Ontem, Anfavea, Fiesp, o senador Romero Jucá (PMDB) e Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara, batiam pesado em cada item do impostaço que ia sendo vazado.

Sim, as informações não são publicadas, mas vazadas, por vezes devido a intrigas sabotadoras. A presidente não coordena a discussão interna e move-se feito uma biruta a reagir aos ventos das vociferações contra impostos e cortes.

Noutras vezes, à sua maneira de governar em surtos à beira do abismo, reconhece o inevitável, tardiamente, e aceita abandonar outra parte de seu programa entre doidivanas e fraudulento de 2014. Agora, está subindo no telhado o Minha Casa, Minha Vida.

Mesmo quando seu governo agoniza, não teve a ideia óbvia de promover um debate social organizado, com empresários, movimentos sociais, o que for, se ainda é possível, pois o PMDB desembarca aos poucos. Seu governo é um tumulto, de resto amalucado. Falta apenas aparecer um Rasputin.

Cristiano Romero - A ressurreição da "nova matriz"

• Discurso de Barbosa deixa claro abandono do grau de investimento

- Valor Econômico

O cadáver da malfadada Nova Matriz Econômica (NME) ainda nem esfriou e o governo Dilma já planeja a sua ressurreição. É disso que se trata a inflexão da política econômica pretendida pelo triunvirato - a presidente, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa - que governa o país.

A tese é a seguinte: o ajuste fiscal formulado e liderado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não está dando certo, mesmo "produzindo" uma brutal recessão na economia; as contas públicas só serão reequilibradas se o PIB voltar a crescer; é preciso, portanto, adotar medidas que estimulem o investimento e, portanto, o crescimento.

A ideia de que só se consegue gerar saldos positivos nas contas públicas quando a economia cresce é cara a Nelson Barbosa, um dos ideólogos da NME. Há pouco mais de um mês, em entrevista à Angela Bittencourt, colunista e editora do blog Casa das Caldeiras, do Valor e do Valor PRO, ele declarou que, "sem crescimento, não há como sustentar nem mesmo o equilíbrio fiscal".

Barbosa tentava justificar o abandono da meta de 1,17% do PIB, fixada para este ano, de superávit primário das contas públicas. Segundo ele, a redução do esforço fiscal "ajuda a economia brasileira a crescer mais rapidamente". "O 'rating' [concedido pelas agências de classificação de risco] leva em conta o resultado primário, mas principalmente a trajetória da economia e ela não se limita ao resultado fiscal, considera também as perspectivas de crescimento. De novo, sem crescimento não há sustentação do equilíbrio fiscal", insistiu.

O ministro parte de uma tese falsa para explicar o momento atual: o ajuste fiscal foi o responsável por jogar a economia em recessão. Não é verdade. O Brasil está em recessão desde o segundo trimestre do ano passado, de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) do Ibre-FGV. Em 2014, cresceu 0,1%. Ademais, como o ajuste fiscal pode segurar a atividade se as contas do governo, inclusive pelo conceito primário (que não leva em conta o gasto com juros), estão deficitárias?

Quando afirma que o Brasil precisa crescer para superar o problema fiscal, o ministro do Planejamento quer dizer o seguinte: é preciso abandonar as metas fiscais de curto prazo, aumentar o investimento público, deixar a dívida crescer e, por conseguinte, tolerar taxas de câmbio e inflação mais elevadas, combustíveis necessários para a retomada da expansão do PIB. Nada mais "nova matriz" que isso.

Na semana passada, em entrevista à colunista Cláudia Safatle, do Valor, Barbosa deixou claro que não acredita que o mundo vá acabar se a dívida crescer "temporariamente", desde que o governo tenha um plano de ajuste fiscal de longo prazo. Não se sabe qual é o significado exato desse raciocínio, mas esta coluna tem um palpite: o Brasil já perdeu o grau de investimento e, por isso, não há mais o que fazer; o jeito, então, é estimular o crescimento e assegurar aos transeuntes que, adiante, a questão fiscal será equacionada.

De acordo com Barbosa, uma "política fiscal de longo prazo" proporá a reforma da previdência. Na prática, ele quer convencer o mercado de que o governo está comprometido com o equilíbrio fiscal do futuro (que, todos desconfiam, ficará para as calendas gregas), mas, antes, precisa que a economia cresça já. Quando o PIB avança, problemas como o do desequilíbrio estrutural da previdência perdem importância. Perdem?

Quais foram os pressupostos da NME, a política econômica voluntariosa adotada pela presidente Dilma no primeiro mandato? O de que a taxa de juros era alta no Brasil porque representantes do mercado, instalados na diretoria do Banco Central (BC) e defensores do rentismo, a impediam de cair. Uma tolice: funcionários públicos comandaram a instituição nos últimos quatro anos; no período, a taxa Selic caiu para 7,25%, mas hoje já está em 14,25% ao ano.

Outro preceito era o de que a taxa de câmbio precisava se desvalorizar, também na marra, para dar competitividade à indústria. Desde 2011, o real passou por notável depreciação em relação ao dólar - de R$ 1,70 para R$ 3,81 - e a indústria não saiu do lugar - é evidente que, no atual cenário de correção de preços relativos, haverá efeito sobre a competitividade; isso porque a desvalorização reflete os novos fundamentos da economia brasileira e mudanças nos padrões de crescimento de países como a China e os Estados Unidos e não um desejo de Brasília.

A turma da NME, com algumas exceções, nunca acreditou na tese de que, sem equilíbrio fiscal, todo o resto funciona mal, afinal, juros e câmbio são preços que refletem os fundamentos. Daí, a diminuição contínua das metas de superávit primário, política que, combinada com uma série de outros equívocos (aumento do protecionismo comercial, desorganização do setor elétrico, empréstimo de R$ 504 bilhões do Tesouro ao BNDES, congelamento dos preços dos combustíveis, tabelamento de taxas de retorno etc) levou rapidamente o Brasil ao estado atual de crise.

Como dizia Marco Maciel, "as consequências vêm depois". O que a "nova matriz" fez foi eliminar a confiança que os empresários tinham na política econômica. O seu retorno, em prejuízo da já frágil situação fiscal, não restabelecerá a confiança.

É bom lembrar que Nelson Barbosa deixou o posto de número 2 do Ministério da Fazenda em meados de 2013 não por discordar da NME, mas por se envolver numa renhida disputa de poder com seu então chefe - o ministro Guido Mantega - e o então secretário do Tesouro, Arno Augustin. Suas ideias ganharam tal força nas últimas semanas que representantes dos setores produtivo e financeiro, segundo relatos impressionantes de Cláudia Safatle e do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, decidiram avisar à presidente que, se desistir do ajuste, o governo levará o país a uma crise de consequências muito mais sérias que as observadas até o momento.

Na prática, as ideias de Barbosa inviabilizam a presença de Joaquim Levy no governo. Sem Levy e sem o ajuste, os empresários, os mesmos que há algumas semanas se manifestaram contrários ao impeachment da presidente, retiram o apoio que vinham dando. Seria o fim da concertação que ajudou a classe política a serenar os ânimos em Brasília.

Levy quer taxar LCA com 10% de IR
Enquanto ainda está ministro, Levy estuda formas de aumentar as receitas tributárias. Uma delas é taxar aplicações em LCA com 10% de Imposto de Renda.

Dilma precisa ser coerente – Editorial / O Globo

• Ao oscilar de posição entre compromisso de superávit com Levy e declarações contra e a favor de cortes, a presidente não consegue recuperar força política

A Lava-Jato, iniciada em março do ano passado, nunca se afastou das proximidades de Dilma, por investigar malfeitos praticados na Petrobras quando ela era presidente do Conselho de Administração, nos tempos de ministra de Minas e Energia e, depois, da Casa Civil. Mesmo ao chegar ao Planalto, Dilma acumulou aquele cargo, deixando na companhia uma pessoa de confiança, Graça Foster.

Agora, as investigações acabam de chegar ao Palácio, com o envio ao ministro do Supremo Teori Zavascki, por meio do MP, dos nomes dos donos de dois gabinetes importantes no Planalto, Aloizio Mercadante, titular da Casa Civil, e Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicações, porta-voz da presidente. Petistas de alta patente, foram atingidos por incandescentes testemunhos prestados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, sob acordo de colaboração premiada.

Pessoa, gerente-geral do cartel de empreiteiras que, num esquema lulopetista, saqueou a Petrobras, disse, em juízo, ter feito doações a campanhas de Mercadante (2010) e de Dilma (2014), estas via Edinho, então tesoureiro. Um senador tucano, Aloysio Nunes (SP), segundo Pessoa, recebeu dinheiro pelo caixa dois.

Vulnerabiliza ainda mais Dilma ter dois ministros da “casa” sob investigação. Sendo que o fato de o dinheiro transferido a Edinho ter saído do petrolão, segundo o empreiteiro, reforça as denúncias de uso de propina na campanha de 2014, lavada por meio de doações legais.

É neste momento que a presidente se torna especialmente errática na abordagem da crise econômica. Antes do feriado, procurou manter no governo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometendo-lhe perseguir um superávit primário de 0,7% do PIB em 2016, contra a opinião do próprio Mercadante e, está claro, do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Levy, fiador da busca por uma real estabilidade econômica, embarcou para a reunião do G-20 na Turquia, no cargo.

Logo depois, porém, Dilma, em entrevista a rádios paraibanas, decretou que nada há mais para cortar no Orçamento, recuando no que dissera a Levy. E na segunda, para marcar o Dia da Independência, em vídeo divulgado pela internet — não foi usada rede nacional, para evitar panelaços —, admitiu cortes até mesmo em sacrossantos programas sociais — depois, desmentidos por Edinho —, e reconheceu que o remédio para debelar a crise será “amargo”. Fez ainda um dissimulado e tortuoso reconhecimento de erro no primeiro governo, típico de personalidades desacostumadas a ter dúvidas sobre si mesmas.

Qual a Dilma verdadeira? A pergunta é posta em momento crucial, em que a crise política cresce, impulsionada pelas investigações derivadas da Lava-Jato que chegam ao Planalto.

Para se contrapor à fragilização crescente de sua posição, a presidente precisa afinal optar por enfrentar de fato a enorme desestabilização das contas públicas, com cortes efetivos de despesas, e deixar de lado a alternativa fácil e equivocada de elevar a já absurda carga tributária. Governos às vezes se defrontam com impasses cruciais. O atual é um deles, para o futuro da própria Dilma.

Autocrítica encabulada – Editorial / O Estado de S. Paulo

A sólida falta de credibilidade a que Dilma Rousseff fez jus pela teimosia com que sempre defendeu sua catastrófica política econômica e pelo estelionato eleitoral que praticou sem o menor escrúpulo no ano passado torna difícil acreditar na sinceridade da tentativa encabulada de autocrítica que fez no Dia da Pátria: “As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais.

Agora, temos de reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas”. De qualquer modo, é alentador que a chefe do governo tenha finalmente confessado a prática da gastança desenfreada que marcou seu primeiro mandato e acabou arrombando as contas públicas, muito embora tente justificar o erro com a desculpa de que foi cometido com boas intenções – aquelas das quais, como se diz, o inferno está cheio.

A autocrítica do governo já havia sido ensaiada na semana passada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, em entrevista à Folha de S.Paulo: “Fomos além do que podíamos na política anticíclica, na desoneração de impostos, no esforço de manter os investimentos, de manter os gastos”. Mas Mercadante foi além também do que a sensatez recomenda ao criar uma desculpa esfarrapada e transferir a responsabilidade da crise para o mercado internacional:

“Acho que poucos se deram conta da velocidade da queda das commodities no fim de 2014.

Estávamos em intensa campanha, debatendo, viajando e, quando ela chegou ao fim, o mundo era outro. Isso impactou muito as finanças públicas”. Uma cândida confissão de que, preocupado com a eleição presidencial, o governo esqueceu-se de governar.

Dilma e seus ministros estão cientes, portanto, de que a gastança é uma das razões da crise econômica e é preciso agora corrigir os erros fazendo aquilo que se chama de ajuste fiscal, para botar as contas do governo em ordem e criar condições para a retomada do crescimento, condição essencial à manutenção e ampliação dos programas sociais.

Falta, porém, combinar com o PT e com os movimentos sociais filopetistas, que pura e simplesmente se opõem a qualquer ajuste fiscal. “Lutamos contra o ajuste fiscal”, enfatiza o manifesto divulgado no sábado, em Belo Horizonte, no lançamento da Frente Brasil Popular pelos participantes da Conferência Nacional Popular em Defesa da Democracia e por Uma Nova Política Econômica. Subscrevem o manifesto, entre outras entidades, a CUT (o braço sindical do PT), a UNE (o braço estudantil, controlado pelo PC do B, o mais prestativo aliado do lulopetismo) e até o MST, do carbonário João Pedro Stédile. Este marcou presença no encontro com a declaração de que Dilma precisa “mudar as burrices que vem fazendo”, porque “a responsabilidade é dela” e é preciso “que ela mude enquanto é tempo”.

Movimentos filopetistas – e essa é uma das marcas do surrealismo da crise política – não são necessariamente movimentos de apoio ao governo. O próprio PT é o primeiro a defender a demissão do ministro Joaquim Levy e proclamar a necessidade de uma “nova política econômica”. Ora, o que Levy defende até agora são os fundamentos de uma política econômica baseada em princípios de racionalidade financeira que garantam governabilidade ao País. Mas o PT e esses movimentos sociais partidarizados entendem que racionalidade é desculpa da elite perversa para fazer o povo sofrer. Partem do princípio de que um governo “do povo” tudo pode e por isso “deveria gastar o que fosse preciso” em beneficio do povo, persistindo no erro que agora Dilma admite ter cometido – o que não significa que não possa mudar de ideia outra vez.

O PT planeja reunir-se em Belo Horizonte para debater, em especial, os rumos da economia. Os petistas não gostam de Dilma, consideram-na uma arrivista, proclamam o “Fora Levy” e defendem uma “nova” política econômica. Nova não em relação à “nova matriz econômica” que levou o País para o buraco, mas à tentativa de consertar esse desastre.

Deve haver alguém que consiga explicar como isso faz sentido. De qualquer forma, como o PT tem dono, é conveniente esperar até sexta-feira para saber o que vai acontecer na capital mineira.

Sem reversão de expectativas, recessão ainda se aprofunda – Editorial / Valor Econômico

Apesar de o governo esperar a recuperação da economia em "questão de meses", os dados negativos não param de chegar. Na divulgação da queda de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, a indústria de transformação e o investimento registraram encolhimento pelo oitavo trimestre consecutivo. O próprio PIB diminui há cinco trimestres seguidos. Os números mais recentes indicam que o terceiro trimestre não está melhor. A produção industrial de julho voltou ao patamar de seis anos atrás. A fabricação de veículos teve em agosto o pior resultado em uma década.

O agravante da situação atual é a veloz deterioração do mercado de trabalho, que desencadeia a redução do consumo e abate a produção. O consumo das famílias completou quatro trimestres seguidos de queda no fim do primeiro semestre, pela primeira vez em 11 anos. O impacto foi bastante visível nos resultados da indústria em julho, quando a produção tanto de alimentos quanto de bebidas caiu 6,2%. As vendas de produtos de primeira necessidade só declinam em situações de mercado de trabalho deteriorado. Se a tendência se aprofundar pode prejudicar inclusive o setor agropecuário, que vem revelando melhor desempenho.

A produção da indústria como um todo recuou 1,5% em julho sobre junho, quase três vezes mais do que a previsão mais pessimista, acumulando queda de 8,9% sobre julho de 2014 e de 5,3% em 12 meses. No setor de bens de capital, que sinaliza as perspectivas de investimento, a queda foi de 1,9% da no mês e de nada menos do que de 27,8% na comparação com julho de 2014. Só houve aumento da produção de bens de consumo duráveis, de 9,6%, insuficiente para compensar o tombo de 13,7% de junho.

Estoques elevados, demanda interna fraca, perda do poder de compra das famílias e a crise política, que passa pelas investigações da Operação Lava-Jato, são os fatores que afetam a economia. Nem a apreciação cambial garante algum fôlego dada a perda de espaço da indústria brasileira em um mercado internacional cada vez mais competitivo. O maior impacto positivo do câmbio se dá pelo encarecimento do produto importado, que abre espaço ao similar nacional.

Outros dados reforçam o enfraquecimento da indústria. A utilização da capacidade instalada chegou a 78,6% na virada do primeiro para o segundo semestre, o pior nível da série histórica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), iniciada em janeiro de 2003. A produção industrial de agosto medida pela Markit caiu 3% sobre julho. As consultas ao BNDES, sinalizador de investimento, diminuíram 47% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2014. Esses dados embalam constantes revisões para baixo do PIB deste ano. O boletim Focus, do Banco Central, divulgado ontem, registra o oitavo corte consecutivo, que leva a 2,44% a contração esperada para este ano. Essa é a mediana das projeções e há estimativas bem piores na praça.

As previsões mais dolorosas são referentes ao mercado de trabalho. Dados do Caged, do Ministério do Trabalho, mostram que foram cortados 547,4 mil postos formais de janeiro a julho, o pior resultado desde o início da série histórica em 1992, e a previsão é de que o número chegue a 1 milhão no fim do ano. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua (Pnad), que abrange quase 3,5 mil municípios, registrou desemprego de 8,3% no segundo trimestre; já na Pesquisa Mensal do Emprego (PME), também do IBGE mas referente a seis regiões metropolitanas, a taxa chegou a 7,5% em julho.

Nas residências, o consumo de energia teve a maior queda em julho dos últimos dez anos. Em agosto, diminuiu a intenção de compras das famílias medida pela Fecomercio-SP, pelo décimo mês consecutivo; a atividade do varejo medida pela Serasa diminuiu 1,1%; e os indicadores de confiança do comércio e dos serviços apurados pela FGV, que também servem para monitorar o humor das famílias, caíram 4,1% e 4,7%, respectivamente.

A previsão é que as famílias continuarão reduzindo o consumo nos próximos meses diante da expectativa de aumento do desemprego e dos efeitos defasados da desaceleração sobre o mercado de trabalho. Até agora não há sinal seguro de reversão das expectativas negativas, exceto no setor exportador. Há uma crise de confiança que só será debelada com ações claras de política econômica, que estão em falta.

Jorge Aragão - Você Abusou

Mario Quintana - Segunda canção de muito longe

Havia um corredor que fazia cotovelo:
Um mistério encanando com outro mistério, no escuro…
Mas vamos fechar os olhos
E pensar numa outra cousa…

Vamos ouvir o ruído cantado, o ruído arrastado das correntes no algibe,
Puxando a água fresca e profunda.
Havia no arco do algibe trepadeiras trêmulas.
Nós nos debruçávamos à borda, gritando os nomes uns dos outros,
E lá dentro as palavras ressoavam fortes, cavernosas como vozes de leões.

Nós éramos quatro, uma prima, dois negrinhos e eu.
Havia os azulejos, o muro do quintal, que limitava o mundo,
Uma paineira enorme e, sempre e cada vez mais, os grilos e as estrelas…
Havia todos os ruídos, todas as vozes daqueles tempos…
As lindas e absurdas cantigas, tia Tula ralhando os cachorros,
O chiar das chaleiras…

Onde andará agora o pince-nez da tia Tula
Que ela não achava nunca?
A pobre não chegou a terminar o Toutinegra do Moinho,
Que saía em folhetim no Correio do Povo!…
A última vez que a vi, ela ia dobrando aquele corredor escuro.
Ia encolhida, pequenininha, humilde. Seus passos não faziam ruído.
E ela nem se voltou para trás!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Há de tudo nessa barafunda em que fomos envolvidos por nossos atuais governantes. Persiste entre eles a influência da social-democracia, embora ninguém a defenda abertamente, assim como a do neoliberalismo – o programa Bolsa Família tem aí sua inspiração – e a do nacional-desenvolvimentismo do regime militar com seu capitalismo politicamente orientado, em certas versões sob maquiagem chinesa.
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*Luiz Werneck Vianna é sociólogo da PUC-Rio – ‘Nó de marinheiro’. O Estado de S. Paulo, 6 de setembro de 2015

Dilma admite reavaliar até mesmo gastos sociais

• ‘ Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los’, diz presidente

• Para evitar panelaços, pronunciamento só foi divulgado na internet, em vez de usar cadeia de rádio e de TV; cortes poderão atingir também investimentos e programas para emprego e renda

Com a popularidade em baixa, a presidente Dilma evitou ontem usar uma cadeia de rádio e televisão para o pronunciamento do Dia da Independência. Lançou mão, como no 1 º de Maio, de discurso em vídeo, divulgado na internet, em que abriu a possibilidade de que programas sociais sejam “reavaliados”. Os projetos para garantir emprego, renda e investimentos também poderão ser reduzidos, segundo ela. “Temos que reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas”, afirmou. Dilma ressaltou ainda que, se cometeu erros (“e isso é possível”, disse ela), vai superálos. Também reconheceu que as soluções necessárias para vencer a crise serão duras. “Alguns remédios para esta situação, é verdade, são amargos, mas são indispensáveis”, disse.

Remédio Amargo

  • Pela internet, em vez do rádio e da TV, Dilma fala em ‘reavaliar’ programas sociais

Geralda Doca, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut - O Globo

- BRASÍLIA- Diante dos índices de popularidade de um dígito, e, para evitar panelaços, a presidente Dilma Rousseff evitou ir à televisão para a tradicional cadeia de rádio e TV. Ainda assim, repetindo o que havia feito no Dia do Trabalho, a presidente gravou um pronunciamento pela internet, no qual tentou explicar os impactos da crise econômica e deixou aberta a possibilidade de programas sociais serem “reavaliados”.

— As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais. Agora, temos de reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas — disse a presidente.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem defendido internamente no governo que o Orçamento do próximo ano sofra corte profundo, incluindo em programas sociais, para que se cubra o déficit de R$ 30,5 bilhões. Apesar da fala de Dilma, o ministro Edinho Silva ( Secretaria de Comunicação Social) negou que ela tenha sinalizado que cortará recursos dos programas sociais. — Não haverá cortes — afirmou. Para o ministro, a presidente se referia a políticas de benefícios fiscais concedidas pelo governo, como as desonerações da folha de pagamentos de vários setores. Segundo um integrante do governo, o discurso foi mais no sentido de pedir desculpas, reconhecer erros do passado e alertar para a necessidade de buscar uma solução conjunta. Durante seu pronunciamento, Dilma reconheceu que o remédio para superar a crise e retomar o crescimento será “amargo”, e chegou a acenar com um reconhecimento de que pode ter cometido equívocos:

— As dificuldades, insisto, são nossas e são superáveis. O que eu quero dizer com toda franqueza é que estamos enfrentando os desafios, essas dificuldades, e que vamos fazer essa travessia. Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superálos e seguir em frente. Quero dizer a vocês: alguns remédios para essa situação, é verdade, são amargos, mas são indispensáveis — explicou.

Recado aos que querem sua saída
Voltando a falar que o país está passando por uma travessia, a presidente afirmou que está ciente da responsabilidade que lhe cabe de apresentar “soluções”. A declaração foi dada após a reação negativa à proposta orçamentária para 2106, enviada ao Congresso com déficit de R$ 30,5 bilhões, que aumentou a chance de o país perder o grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador dado pelas agências internacionais de classificação de risco:

— É verdade que atravessamos uma fase de dificuldades, enfrentamos problemas e desafios. Sei que é minha responsabilidade apresentar caminhos e soluções para fazer a travessia que deve ser feita.

Dilma abriu mão de discursar em rede nacional de rádio e TV — tradição no Dia da Pátria, seguida por ela nos três primeiros anos do seu governo ( com exceção do ano eleitoral, devido a restrições da legislação). A opção foi tomada para evitar protestos como os panelaços registrados nas suas últimas falas na televisão. Ainda assim, as celebrações de ontem foram marcadas por protestos em todo o país. A presidente, no entanto, voltou a pedir a união de todos, independentemente de interesses individuais e partidários e, em referência velada aos que pedem sua saída, disse que o Dia da Independência era o momento de defender a democracia:

— É neste dia que reafirmamos aquilo que uma nação ou um povo tem de melhor, a capacidade de lutar e a capacidade de conviver com a diversidade. Tolerante, em face às diferenças, respeitoso na defesa das ideias, sobretudo, firme na defesa da maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente, a democracia e a adoção do voto popular como método único e legítimo de eleger nossos governantes e representantes.

Ao fim do desfile do 7 de Setembro, o ministro Edinho Silva justificou a opção pelo pronunciamento via redes sociais. Segundo ele, Dilma não tem medo de se comunicar, mas quer privilegiar outros meios de comunicação. O ministro acredita que pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e TV só devem ser convocados quando há um tema fundamental, para não banalizá-los.

— Temos que entender que é importante convocação em rede de televisão, mas isso não pode ser banalizado. Quando é chamado, tem que ser por um motivo fundamental. E nós temos que valorizar outros modais de comunicação. A presidente não tem receio de se comunicar — afirmou.

Dilma admite que ações do 1º mandato levaram à crise

• Em discurso na internet, presidente fala da necessidade de ‘remédios amargos’, mas ‘indispensáveis’

Dilma reconhece erros do primeiro mandato e reavalia gasto social

• Em mensagem divulgada pelo Palácio do Planalto nas redes sociais, presidente fala sobre a crise pela qual o País passa no momento

Ana Fernandes e Gustavo Porto - O Estado de S. Paulo

Em vídeo postado pelas redes sociais, como estratégia para evitar os panelaços, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso de mea-culpa, com reconhecimento da gravidade da crise, e ao mesmo tempo já colocando uma argumentação de união e tolerância para fazer a "travessia".

"Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente", diz a presidente, vestida com um terno azul claro e com um quadro em tons azuis ao fundo. "As dificuldades são nossas e são superáveis. O que eu quero dizer, com toda franqueza, é que estamos enfrentando os desafios, essas dificuldades, e que vamos fazer essa travessia."

A presidente lembra que há dificuldades na economia pelo mundo, mas admite também que a crise é consequência da estratégia do governo brasileiro nos últimos anos. "As dificuldades e desafios resultam de longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais. Agora temos de reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas."

Dilma afirma que a situação exige "remédios amargos", mas "indispensáveis". "As medidas que estamos adotando são necessárias para botar a casa em ordem, reduzir a inflação por exemplo", reforça. E, em diversos momentos, destaca que a saída é a união do povo. "O esforço de todos nós é que vai nos levar a superar esse momento", diz em um trecho do discurso. "Devemos, nessa hora, estar acima das diferenças menores, colocando em segundo plano os interesses individuais ou partidários", complementa em outro.

Em dia de novos protestos contra seu governo, tanto de movimentos pró impeachment, como de movimentos sociais que criticam o ajuste fiscal com cortes a programas de moradias, Dilma aparece em um vídeo que não tem vermelho em nenhum ponto, afastando a associação com o PT.

Em sua fala, Dilma se coloca como a liderança adequada para conduzir o País na saída da crise. "Me sinto preparada para conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento, ampliando as oportunidades para nosso povo subir na vida, com mais e melhores empregos", afirma.

A presidente reitera as conquistas dos últimos 12 anos, sem contudo citar sua legenda. Lembra que milhões foram tirados da miséria e alçados à classe média, mas lembra que ainda há muito a se fazer, por exemplo, na educação, e que isso passa por correções na economia. Mas frisa que não abrirá mão da "alma e caráter" de seu governo, que é gerar oportunidades via programas sociais. "Nenhuma dificuldade me fará abrir mão da alma e do caráter do meu governo. A alma e o caráter do meu governo é assegurar, neste país de grande diversidade, oportunidades iguais para a nossa população. Sem recuos, sem retrocessos."

Independência. Dilma destaca a celebração da Independência do Brasil e, com o gancho, elogia a capacidade do brasileiro de "lutar e conviver com a diversidade, tolerante em face às diferenças e respeitoso na defesa de ideias". A fala funciona como uma vacina contra manifestações de volta à ditadura militar que, apesar de minoritárias pelo País, ganham destaque nos desfiles da data de hoje. Segundo a presidente, a população deve permanecer "firme na defesa da maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente: a democracia e a adoção do voto popular" - referência também à legitimidade de seu mandato, conquistado nas urnas.

Dilma encerra a mensagem dizendo que a independência "acontece todos os dias" e exaltando a autoestima do povo. "Hoje, mais do que nunca, somos todos Brasil."

Refugiados na Europa. A presidente aproveitou o pronunciamento divulgado nas redes para falar da "tragédia humanitária" envolvendo refugiados. Dilma lembrou a imagem do menino sírio Aylan Kurdi, de apenas três anos, cujo corpo foi encontrado em uma praia turca, dizendo que comoveu a todos e deixou um desafio para o mundo. A presidente reiterou disposição do governo brasileiro "de receber aqueles que, expulsos de suas pátrias, para aqui queiram vir, viver, trabalhar e contribuir para a prosperidade e a paz do Brasil".

"Nós, o Brasil somos uma nação que foi formada por povos das mais diversas origens, que aqui vivemos em paz. Mesmo em momentos de dificuldade, de crise, como a que estamos passando, teremos os nossos braços abertos para acolher os refugiados", afirmou, destacando uma posição política do País e também mostrando em paralelo que a situação do Brasil não é tão grave em face a tragédias que acontecem pelo mundo.

Edinho. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva afirmou que a divulgação do pronunciamento de Sete de Setembro da presidente da República Dilma Rousseff ter sido divulgado apenas pela internet em redes sociais é uma forma de valorizar outros modais de comunicação que não seja a televisão. "Eu e a presidente Dilma concordamos que temos de valorizar todos os modais e as redes sociais são importantes".

Edinho evitou comentar que a falta de um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão durante o feriado esteja relacionada aos possíveis protestos e panelaços que pudessem ocorrer. "É importante a convocação de rede de tevê, mas isso não pode ser banalizado. E também não significa que não terão novos pronunciamentos", concluiu

'Remédio amargo' é necessário, diz Dilma

• Presidente ensaia novo 'mea-culpa', dizendo que é preciso superar os erros

Dilma pede união na crise e defende 'remédios amargos'

• Presidente diz que, se houve erro no primeiro mandato, irá 'superá-los' agora

• Forças políticas deveriam pôr de lado 'interesses individuais ou partidários', afirma petista nas redes sociais

Marina Dias, Débora Álvares, Fábio Monteiro e Flávia Foreque – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff ensaiou mais uma vez nesta segunda (7) reconhecer que cometeu erros na condução da economia em seu primeiro mandato e disse que precisou administrar "remédios amargos" para enfrentar a crise que o país atravessa.

Isolada politicamente, e agora com dois ministros palacianos investigados sob suspeita de envolvimento com a corrupção na Petrobras, Dilma pediu que as forças políticas colaborem com a superação da crise pondo em "segundo plano interesses individuais ou partidários".

O pronunciamento da presidente, que substituiu o tradicional discurso de 7 de Setembro na televisão, foi divulgado nas redes sociais da internet, numa tentativa de evitar panelaços como os que ocorreram nas últimas vezes em que ela apareceu em cadeia nacional de rádio e TV.

"Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente", disse Dilma. "Alguns remédios para essa situação, é verdade, são amargos, mas são indispensáveis", acrescentou.

Esta foi a segunda vez que a presidente ensaiou fazer o mea-culpa que a oposição e até aliados reivindicam desde o início do ano, quando ela se afastou do discurso da campanha eleitoral para mudar sua política econômica.

Em entrevista há três semanas, Dilma disse que demorou a perceber a gravidade da crise econômica em 2014. Desta vez, ela afirmou que as políticas adotadas em seu primeiro mandato contribuíram para as dificuldades atuais, mas justificou-se dizendo que seu objetivo era preservar empregos e investimentos.

"As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais", disse a presidente. "Agora, temos que reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas."

A presidente defendeu as medidas de austeridade adotadas pelo governo, que incluíram cortes de despesas e aumento das taxas de juros, como necessárias para conter a inflação e recuperar a economia, que está em recessão.

Na semana passada, o governo enviou ao Congresso sua proposta de Orçamento para 2016 com um inédito deficit primário de R$ 30,5 bilhões, mesmo depois de aumentar impostos e cortar despesas de vários programas.

"As medidas que estamos adotando são necessárias para botar a casa em ordem, reduzir a inflação, por exemplo, nos fortalecer diante do mundo e conduzir o mais breve possível o Brasil à retomada do crescimento", afirmou.

A presidente se disse "preparada" para "conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento", retomando o discurso que adotou na campanha do ano passado, e afirmou que não haverá "recuos" nem "retrocessos".

Em mais um recado indireto para a oposição, que a ameaça com um processo de impeachment, a presidente disse que o país deveria aproveitar o 7 de Setembro para "[lutar] firme na defesa da maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente: a democracia e a adoção do voto popular como método único e legítimo de eleger nossos governantes e representantes".

Pouco antes do vídeo com o pronunciamento entrar no ar, a presidente participou, ao lado do vice-presidente Michel Temer, do desfile cívico-militar de 7 de Setembro em Brasília. Dos seis ministros do PMDB, o partido de Temer, só um compareceu, Helder Barbalho, da Pesca.

Sob forte esquema de segurança, Dilma passou as tropas em revista e ouviu o som das bandas militares abafar vaias de manifestantes que estavam perto da rodoviária de Brasília, a poucos quilômetros dali. Nas arquibancadas em frente ao palanque das autoridades, uma claque simpática ao governo aplaudia e gritava timidamente palavras de ordem.

Dilma fala em 'remédios amargos' para crise

Por Carmen Munari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em pronunciamento veiculado em redes sociais pelo Dia da Independência, comemorado ontem, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o país passa por dificuldades na economia em consequência de gastos para garantir salários e investimentos. Reconheceu, em um momento em que o país passa por inflação e juros em alta e baixo crescimento, que erros foram cometidos pelo governo.

"É verdade que atravessamos uma fase de dificuldades. Sei que é minha responsabilidade apresentar caminhos e soluções para fazer a travessia que deve ser feita", disse Dilma no discurso na internet. Com baixa popularidade, a presidente optou pelas redes ao invés do tradicional pronunciamento em cadeia de TV.

Dilma admitiu um longo período de gastos realizados pelo governo para garantir o emprego, a renda, os investimentos e os programas sociais. "O governo gastou o que foi preciso", afirmou, ao prever que "agora temos que avaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas". Admitiu que "se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente". Disse ainda que "nossos problemas também vieram lá de fora" e previu que os remédios para esta situação "são amargos, mas indispensáveis".

"Me sinto preparada para conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento. Nenhuma dificuldade me fará abrir mão da alma e do caráter do meu governo", previu.

No discurso, ela também se referiu à crise dos refugiados que buscam asilo na Comunidade Europeia e disse que o país tem disposição de receber os imigrantes. "Mesmo em momentos de dificuldade, de crise como estamos passando, teremos nossos braços abertos para acolher os refugiados. Aproveito para reiterar a disposição do governo para receber os que, expulsos de suas pátrias, para aqui queiram vir viver, trabalhar e contribuir para a prosperidade e a paz do Brasil", declarou.

Comentou ainda a foto do menino sírio morto em uma praia da Turquia. "A imagem do menino Aylan Kurdi, de apenas 3 anos, comoveu a todos nós e deixou um grande desafio para o mundo."

Citando o 7 de setembro, Dilma defendeu a democracia e, sem mencionar a crise política e os pedidos de impeachment, disse que o voto popular "é método único e legítimo de eleger nossos governantes". Também pregou a união, defendendo que fiquem em segundo plano os interesses individuais e partidários.

Desemprego é pior no Nordeste

Na região, taxa já supera os 10%. Houve alta em 22 dos 27 estados, e alguns tiveram recorde, mostra Lucianne Carneiro 

Desemprego por todo lado

• Taxa cresce em 22 dos 27 estados em 1 ano e já supera os 10% na Região Nordeste

Lucianne Carneiro - O Globo

Diante de uma economia que não cresce há cinco trimestres, a piora do mercado de trabalho é disseminada por todo o país. O desemprego aumentou em 22 dos 27 estados e unidades da federação no segundo trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2014. No Nordeste, o desemprego cresceu em sete dos nove estados e já ultrapassa os dois dígitos na média da região. No Sudeste e no Sul, todos os estados registraram alta da desocupação. Na Região Norte, isso ocorreu em cinco dos seis estados; no Centro- Oeste, houve alta em três dos quatro estados.

A deterioração dos números fez com que, em muitos casos, o desemprego chegasse ao maior nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ( Pnad Contínua), do IBGE, iniciada em 2012. Na média nacional, a taxa foi de 8,3% entre abril e junho, o maior nível da série. O mesmo fenômeno ocorre em quatro estados: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.

Bahia sofre com cortes na construção civil
No Nordeste, a taxa, que é historicamente mais alta, subiu de 8,8% para 10,3% na comparação entre os segundos trimestres de 2014 e de 2015. O nível é menor que o recorde de 10,9% do primeiro trimestre de 2013, mas é o mais alto desde então.

Três estados da região têm desocupação acima dos 10%: Rio Grande Norte ( 11,6%), Alagoas ( 11,7%) e Bahia ( 12,7%, a mais alta taxa no país). O Amapá, na Região Norte, é o quarto e último estado com taxa de dois dígitos ( 10,1%).

— Apesar dos esforços de investimentos em infraestrutura e educação, que permitiram um crescimento maior do Nordeste, a taxa de desemprego ainda é maior que em outras regiões do país. Agora, em um momento de ajuste, com contingenciamento de recursos, o Nordeste acaba sentindo mais — explica a professora de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ( UFRN) Valdenia Apolinario, estudiosa do mercado de trabalho.

Glacivaldo Correia Lima, de 27 anos, é um dos nordestinos que atualmente estão em busca de trabalho. Morador de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana de Recife, ele foi demitido da fábrica de cerâmicas onde trabalhava em julho, junto com pelo menos mais 40 colegas. Em Pernambuco, a taxa de desemprego já chega a 9,1%, frente aos 8,8% do segundo trimestre do ano passado. A crise da economia, conta Glacivaldo, foi a justificativa para as demissões. Agora, ele busca uma vaga na área de sistemas de informação.

— Estou no quinto período da faculdade e vou aproveitar que fui demitido para procurar algo no que estou estudando. É uma área com mais chances de crescimento, mas está difícil encontrar emprego — lamenta Glacivaldo, que mora com os pais.

Na Bahia, que amarga o maior desemprego do país, os setores de construção civil e serviços têm contribuído para o momento ruim do mercado de trabalho. A construção absorvia 8,9% da população ocupada no segundo trimestre de 2014, mas essa fatia caiu para 8,4% no segundo trimestre deste ano.

— A Bahia é um estado em que a agricultura tem uma presença maior que no resto do país, assim como o setor de serviços. Além disso, a informalidade também aumentou — explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Os únicos estados do país em que não houve aumento do desemprego entre o segundo trimestre do ano passado e o mesmo período de 2015 foram Acre, Tocantins, Rio Grande do Norte, Sergipe e Distrito Federal.

— O mercado de trabalho está piorando em ritmo muito rápido e de forma muito intensa. O que a Pnad Contínua mostra é a generalização dessa piora, que é mais ampla do que vinha sendo registrada pela Pesquisa Mensal do Emprego ( PME), que acompanha apenas as regiões metropolitanas brasileiras — afirma o professor do Instituto de Economia da UFRJ João Saboia.

Falta de vagas além das metrópoles
A avaliação de Saboia é que os dados não chegam a ser uma surpresa diante do que vem sendo observado no mercado de trabalho. Para ele, o mérito da Pnad Contínua é justamente mostrar o cenário em escala nacional, muito além da realidade das grandes cidades.

— A economia está em contração desde meados de 2014, e ainda há muita incerteza sobre sua retomada. O mercado de trabalho, que é a última ponta a sentir o reflexo da crise, agora passa por um ajuste generalizado. A Pnad Contínua é mais abrangente e mostra isso — explica o economista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, que ainda espera uma piora no emprego.

Cimar Azeredo, do IBGE, explica que o aumento do desemprego ocorreu em “praticamente quase todos os estados da federação”, e os dados confirmam que a economia “não está favorável”. Os números apontam uma maior busca por trabalho, segundo ele:

— O mercado de trabalho entrou em um processo de perda do que tinha conquistado nos últimos anos, tanto em termos de patamar da taxa de desocupação quanto no nível da ocupação e na perda dos empregos com carteira de trabalho.

Falta caixa para o Minha Casa 3

• Programa entra em sua terceira fase, mas governo já tem R$ 1 bilhão em desembolsos atrasados e dívida de R$ 8,3 bilhões com FGTS.

Falta de recursos do governo põe em dúvida fase 3 do Minha Casa

• Atraso em desembolsos soma R$ 1 bi. Lançamento está previsto para quinta- feira

Geralda Doca - O Globo

- BRASÍLIA- Diante da necessidade de cortar gastos, a presidente Dilma Rousseff decide hoje, em reunião com os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e das Cidades, Gilberto Kassab, como ficará a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida — uma das principais bandeiras do governo. O lançamento oficial da nova fase do programa, com meta de mais três milhões de moradias, está previsto para quinta- feira, mas falta dinheiro, resumiu uma fonte da equipe econômica. A data do lançamento consta da agenda dos empresários do setor, que têm dúvidas se o evento vai acontecer mesmo nesta semana, diante do agravamento da crise.

O governo não tem recursos nem para colocar em dia os desembolsos às construtoras do atual programa e está virando o mês devendo entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Além disso, tem uma dívida de R$ 8,3 bilhões com o FGTS na parte de concessão de subsídios aos beneficiários do Minha Casa Minha Vida ( dados de junho).

Aperto no orçamento é obstáculo
Para o próximo ano, o Orçamento da União reserva ao programa R$ 15,6 bilhões, mas a peça orçamentária foi enviada ao Congresso Nacional com inédito déficit de R$ 30,5 bilhões e, diante da reação negativa de parlamentares e do mercado, o governo se comprometeu em encontrar alternativa para cobrir o rombo, via corte de gastos e criação de tributos.

— A presidente Dilma terá de decidir se vai cortar o Minha Casa e outros programas sociais, qual será a extensão do corte e em que medida isso vai reduzir o ritmo das execuções — explicou uma fonte da equipe econômica.

O aperto orçamentário é um obstáculo, mesmo que a própria presidente tenha dito na última sexta- feira, em viagem ao Nordeste, que vai se esforçar para contratar as três milhões de unidades até 2018 — o que significa que a conta deverá ser transferida para o próximo governo. Neste ano, o governo já foi obrigado a negociar com as empresas redução no ritmo das obras por falta de recursos em caixa.

O Ministério das Cidades argumenta que há ainda cerca de 1,5 milhão de casas a serem entregues em diversas etapas de construção e que, por isso, o programa não perdeu continuidade — apesar da paralisação de obras em vários estados, devido ao atraso nos repasses da União. Mas, desde o fim do ano passado, não são contratadas novas obras para a faixa 1 ( com renda familiar de até R$ 1,6 mil), em que a casa é praticamente doada, com recursos da União. O programa está funcionando, basicamente, nas faixas 2 e 3 ( entre R$ 1,6 mil e R$ 5 mil), em que os beneficiários ganham subsídios e assumem o financiamento habitacional com a Caixa Econômica Federal.

A tendência é que a terceira etapa do Minha Casa Minha Vida seja instituída via medida provisória, com mudanças nos parâmetros do programa ( renda, valor máximo dos imóveis por regiões e nos subsídios), o que vai exigir recursos adicionais. A ideia é criar uma faixa de renda familiar intermediária ( entre R$ 1,6 mil e R$ 2,2 mil); reajustar o valor máximo dos imóveis, atualmente entre R$ 90 mil e R$ 190 mil, para algo entre R$ 105 mil e R$ 235 mil; e elevar o limite de renda para ser incluído no programa, de R$ 5 mil para R$ 6 mil. Também está em discussão elevar o teto do subsídio ( desconto no contrato, a fundo perdido), atualmente em R$ 25 mil.

O setor privado argumenta que essas alterações são importantes para incluir mais gente no programa, diante do preço dos terrenos e de perdas decorrentes do processo inflacionário. O último reajuste nos parâmetros ocorreu em 2012.

— A definição dos novos parâmetros é importante para que o setor possa se planejar. Vai permitir também a inclusão de mais gente no programa — disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção ( CBIC), José Carlos Martins. Procurado, o Ministério das Cidades informou que trabalha com o lançamento oficial da terceira etapa do programa na quinta- feira. Ao ser indagado sobre a realização do anúncio sem que o governo esteja em dia com as obrigações, a pasta informou que a União já liberou este ano R$ 9,3 bilhões para o Minha Casa Minha Vida e “trabalha no sentido de manter o cronograma negociado com o setor para as liberações futuras”.

“O Ministério das Cidades efetuou a liberação do valor de R$ 730 milhões no dia 01/ 09, referente a setembro. Em agosto foram liberados R$ 920 milhões, e em julho o valor foi de R$ 800 milhões. Todos esses valores referem- se à Faixa 1. Desde 2009, ano do lançamento do MCMV, já foram aplicados cerca de R$ 270 bilhões com a contratação de mais de 4 milhões de unidades. Destas, 2,341 milhões de unidades já foram entregues”, diz a nota do ministério.

A primeira versão do Minha Casa Minha Vida tinha como meta entregar um milhão de casas; na segunda fase, a meta subiu para 2,750 milhões, e na terceira, para três milhões de moradias. O programa utiliza recursos do Orçamento da União e do FGTS, na concessão de subsídios diretos ( desconto no valor do contrato) e indiretos ( taxa de juros e seguro em condições mais acessíveis).

Governo encara desafio na relação com PMDB

Por Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A coordenação política do Palácio do Planalto vai enfrentar uma prova de fogo nas próximas semanas. No dia 11, o vice-presidente, Michel Temer, embarca em viagem oficial à Rússia e Polônia, levando com ele os ministros do partido, inclusive dois "bombeiros" frequentes na relação com o Congresso: Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Eduardo Braga (Minas e Energia).

Essas ausências, que se estenderão por oito dias, testarão a capacidade de articulação política do governo, que ficará a cargo do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do assessor especial da presidente, Giles Azevedo.

Ontem, ficou evidente o desconforto do PMDB com o governo, quando apenas um dos sete ministros da sigla - Hélder Barbalho (Pesca e Aquicultura) - assistiu ao desfile do Dia da Independência no palanque oficial, com a presidente Dilma Rousseff.

O Planalto receia um possível desembarque do PMDB do governo, o que será discutido na convenção nacional do partido, em novembro. Hoje, Temer vai comandar uma reunião no Palácio do Jaburu com os governadores do PMDB e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir o papel do partido no combate à crise, bem como eventual apoio a um imposto de transição, como querem Dilma, Mercadante e a equipe econômica.

Viagem de Temer testa peso da ausência do PMDB na relação com o Congresso

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - O PMDB submeterá o Palácio do Planalto a uma prova de fogo nas próximas semanas. No dia 11, o vice-presidente Michel Temer embarca para uma viagem oficial à Rússia e à Polônia, levando com ele os ministros do partido, inclusive dois bombeiros frequentes na relação com o Congresso Nacional: Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Essa saída estratégica, que se estenderá por oito dias, testará a coordenação política de Dilma sem Temer, que tem agora o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o assessor especial Giles Azevedo, na interface direta com os parlamentares.

A viagem ganhou uma simbologia que não tinha meses atrás, quando foi programada: indicará o peso da ausência do PMDB, num momento de máxima fragilidade da presidente. Apesar dos esclarecimentos de Temer em nota oficial sobre as recentes declarações que constrangeram o Planalto - de que o governo não chega até 2018 -, as palavras não correspondem aos gestos.

Ontem ficou evidente o desconforto do PMDB com o governo quando apenas um dos sete ministros da sigla subiu ao palanque com Dilma pelo Dia da Independência: o titular da Pesca e Aquicultura, Hélder Barbalho, que pode sair fortalecido da reforma ministerial depois de ser um dos cotados para a extinção de pastas. Um dos ausentes disse ao Valor que não foi um ato combinado, mas o episódio serviu para mostrar que a maioria dos pemedebistas não estava disposta a sair na foto da presidente.

No comunicado divulgado no domingo para explicar suas declarações, Temer afirma que "trabalha e trabalhará junto à presidente" e que a hora é de "união". Mas um aliado do vice ressalta o trecho que delimita o horizonte do vice: "Seu limite é a lei", ou seja, esbarra no Congresso e no Judiciário, aos quais submetem-se os atos de Dilma, como as pedaladas fiscais.

O Planalto receia o possível desembarque do PMDB do governo, que será discutido na convenção do partido em novembro, e atuou no fim de semana para jogar água fria na fervura. No domingo, Mercadante voltou de São Paulo no avião com Temer para discutir a relação. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, telefonou para o vice.

Hoje Temer comanda uma reunião no Palácio do Jaburu com os governadores do PMDB e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir como o partido pode ajudar o governo a superar a crise, bem como o eventual apoio a um imposto de transição, como quer Dilma e Joaquim Levy.

Mas o PMDB é um pote de mágoas, desde que Dilma desautorizou Temer, determinando que Mercadante e Giles deflagrassem uma articulação política paralela, por meio da qual desfizeram acordos firmados pelo vice. Dilma também atropelou Temer ao abrir um canal direto de interlocução com o lider do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) (ver matéria abaixo).

Aliados de Temer responsabilizam a trinca de ministros palacianos - Mercadante, Edinho e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) - pelos movimentos para indispor o vice e a presidente. Com a Rússia no radar, o trio ganhou de pemedebistas o apelido de "troika palaciana". A "troika" é um trenó russo, conduzido por três cavalos lado a lado.

É nesse contexto que o PMDB quer fazer falta no Congresso, onde Dilma já sentiu que poderá sofrer revezes sem Temer na retaguarda. Na quarta-feira, já sem os pemedebistas na linha de frente, o Planalto agiu para derrubar às pressas a sessão plenária que analisaria o veto ao reajuste dos servidores do Judiciário, que implica rombo bilionário ao orçamento. O Palácio detectou que seria derrotado e ganhou tempo. Nova sessão foi remarcada para 22 de setembro.

Deputados e senadores seguem insatisfeitos com a negociação dos cargos e o congelamento das emendas, além do constrangimento de apoiarem uma presidente impopular às vésperas do pleito municipal, que ainda mais não os reconhece como aliados.

É preciso votar, em sessão conjunta da Câmara e do Senado, um projeto de lei que libera R$ 4,6 bilhões em restos a pagar de anos anteriores, que serão revertidos para o pagamento de emendas. Antes, contudo, é preciso liberar a pauta, trancada por 26 vetos presidenciais, inclusive o aumento do Judiciário e o fim do fator previdenciário. Mas enquanto o palácio não contabilizar os votos necessários à manutenção dos vetos, não será possível liberar os recursos para as emendas, o que fomenta a insatisfação dos aliados.

Em outra frente, a negociação dos cargos segue engessada. Prolongam-se, há meses, duelos emblemáticos, como entre o PP e o PSD pela presidência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), e entre o PMDB e o PSD pelo comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que o governo não consegue arbitrar.

Os pemedebistas estão azedos e deliberarão, em novembro, a possível retirada do apoio a Dilma. Uma liderança nacional da sigla disse ao Valor que não duvida da eventual saída de Dilma do cargo, refletindo a declaração de Temer na quinta-feira de que a presidente, com baixa popularidade, pode não completar o mandato. "O PMDB não fará nada pelo impeachment. Quem derrubará Dilma são as ruas ou a economia", completou. Já um dirigente do PMDB, questionado se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia ajudar na repactuação com o partido, devolveu: "Lula não tem varinha de condão."

Vice reúne cúpula do PMDB em jantar

• Peemedebistas alegam que o encontro tratará de dificuldades fiscais nos Estados; Planalto segue desconfiado de Temer

Carla Araújo, Gustavo Porto e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer reencontrou nesta segunda-feira, 7, em público a presidente Dilma Rousseff pela primeira vez desde quinta-feira, quando afirmou que a petista não permaneceria no cargo até o fim do mandato se mantiver a popularidade em 7%. A declaração provocou tamanho constrangimento que nem a nota em prol da “união” e do “trabalho”, divulgada anteontem pelo peemedebista, amenizou a desconfiança no Planalto. É com esse espírito que o governo vê o jantar que reunirá hoje o vice, governadores e ministros do PMDB, Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL), presidentes da Câmara e do Senado.

No palanque montado para o desfile de Sete de Setembro, Dilma e Temer trocaram beijinhos na chegada e na saída, ficaram lado a lado, mas pouco conversaram. Era visível que ambos não estavam à vontade. Ao fim do desfile, cada um tomou seu rumo. Hoje, presidente e vice e se reencontraram em um compromisso de trabalho: a reunião de coordenação política do governo, no Palácio do Planalto, às 9h.

À noite, Temer receberá no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, os seis ministros e os sete governadores do PMDB, além de Cunha e Temer. Oficialmente, o tema será uma extensão da reunião realizada na quinta-feira pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), para formular uma política de consenso dos governadores peemedebistas sobre a crise econômica e seus efeitos sobre os Executivos estaduais. No entanto, é voz corrente dentro do partido que a crise política e a tensa relação entre PT e PMDB será um dos pratos principais do jantar.

Pedido. Um parlamentar próximo a Temer disse que ele está “tranquilo” e que o jantar foi pedido pelos governadores, e não pelo vice. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), informou que o jantar servirá para retomar uma agenda de reformas – trabalhista, previdenciária e tributária – que está parada.

No Planalto, a avaliação de que Temer havia dado declarações “desastrosas” sobre a permanência de Dilma no cargo persiste, mesmo após o vice negar conspiração contra a presidente. Em público, os petistas tentam arrefecer a tensão. “O vice-presidente Michel Temer é o maior símbolo dessa união do PT com o PMDB, da construção de um governo de coalizão de muitos partidos”, disse o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, após o desfile de Sete de Setembro.