• Ao oscilar de posição entre compromisso de superávit com Levy e declarações contra e a favor de cortes, a presidente não consegue recuperar força política
A Lava-Jato, iniciada em março do ano passado, nunca se afastou das proximidades de Dilma, por investigar malfeitos praticados na Petrobras quando ela era presidente do Conselho de Administração, nos tempos de ministra de Minas e Energia e, depois, da Casa Civil. Mesmo ao chegar ao Planalto, Dilma acumulou aquele cargo, deixando na companhia uma pessoa de confiança, Graça Foster.
Agora, as investigações acabam de chegar ao Palácio, com o envio ao ministro do Supremo Teori Zavascki, por meio do MP, dos nomes dos donos de dois gabinetes importantes no Planalto, Aloizio Mercadante, titular da Casa Civil, e Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicações, porta-voz da presidente. Petistas de alta patente, foram atingidos por incandescentes testemunhos prestados pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, sob acordo de colaboração premiada.
Pessoa, gerente-geral do cartel de empreiteiras que, num esquema lulopetista, saqueou a Petrobras, disse, em juízo, ter feito doações a campanhas de Mercadante (2010) e de Dilma (2014), estas via Edinho, então tesoureiro. Um senador tucano, Aloysio Nunes (SP), segundo Pessoa, recebeu dinheiro pelo caixa dois.
Vulnerabiliza ainda mais Dilma ter dois ministros da “casa” sob investigação. Sendo que o fato de o dinheiro transferido a Edinho ter saído do petrolão, segundo o empreiteiro, reforça as denúncias de uso de propina na campanha de 2014, lavada por meio de doações legais.
É neste momento que a presidente se torna especialmente errática na abordagem da crise econômica. Antes do feriado, procurou manter no governo o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometendo-lhe perseguir um superávit primário de 0,7% do PIB em 2016, contra a opinião do próprio Mercadante e, está claro, do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Levy, fiador da busca por uma real estabilidade econômica, embarcou para a reunião do G-20 na Turquia, no cargo.
Logo depois, porém, Dilma, em entrevista a rádios paraibanas, decretou que nada há mais para cortar no Orçamento, recuando no que dissera a Levy. E na segunda, para marcar o Dia da Independência, em vídeo divulgado pela internet — não foi usada rede nacional, para evitar panelaços —, admitiu cortes até mesmo em sacrossantos programas sociais — depois, desmentidos por Edinho —, e reconheceu que o remédio para debelar a crise será “amargo”. Fez ainda um dissimulado e tortuoso reconhecimento de erro no primeiro governo, típico de personalidades desacostumadas a ter dúvidas sobre si mesmas.
Qual a Dilma verdadeira? A pergunta é posta em momento crucial, em que a crise política cresce, impulsionada pelas investigações derivadas da Lava-Jato que chegam ao Planalto.
Para se contrapor à fragilização crescente de sua posição, a presidente precisa afinal optar por enfrentar de fato a enorme desestabilização das contas públicas, com cortes efetivos de despesas, e deixar de lado a alternativa fácil e equivocada de elevar a já absurda carga tributária. Governos às vezes se defrontam com impasses cruciais. O atual é um deles, para o futuro da própria Dilma.
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