- Folha de S. Paulo
Não se trata de ignorar alertas, mas cuidado com os discursos mais exaltados
Em tempos mais normais, uma coluna a ser publicada no dia de eleições gerais exaltaria a festa democrática. Como não vivemos tempos normais, vejo-me compelido a escrever sobre riscos institucionais.
A crer nos discursos mais exaltados, depois de hoje estaremos reduzidos a escolher se enterraremos a democracia elegendo Bolsonaro ou nos tornaremos uma Venezuela optando por Haddad. Cuidado com os discursos mais exaltados.
Não se trata, é claro, de ignorar os alertas. Bolsonaro já deu inúmeras declarações que escancaram seu descompromisso para com a democracia e os direitos humanos. Não é absurdo, portanto, imaginar que, uma vez alçado ao poder, ele dê início a uma escalada autoritária. Seu plano econômico é pouco consistente e ele parece completamente despreparado para o cargo. Por mais que alguém odeie o PT, é preciso uma coragem meio suicida para apertar o número 17 na urna.
Só que não podemos tomar o que é uma possibilidade —a erosão da democracia sob seu governo— como uma certeza. Apesar do discurso radical e irresponsável, concretamente Bolsonaro nada fez que possa ser descrito como uma violação às regras democráticas. E, enquanto não fizer, precisa ser aceito como um participante legítimo do jogo.
Quanto a Haddad e o PT, se o passado vale alguma coisa, eles já foram aprovados no teste da democracia. O partido teve uma presidente destituída e seu líder máximo preso e em nenhum momento deixou de acatar as regras, ainda que fazendo uso liberal do “jus sperneandi”, o direito de espernear.
O problema com o PT é que ele parece invulnerável ao aprendizado econômico. Seu programa insiste em algumas das teses que, sob Dilma, produziram a megarrecessão. Nossa melhor esperança é que o programa não seja para valer. Haddad já deu alguns sinais de que, no poder, caminharia mais para o centro. É duro que tenhamos de torcer por mais um estelionato eleitoral.
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