- O Globo
Brasil chega à oitava eleição presidencial desde o fim da ditadura. Nenhuma foi marcada por tantas incertezas e dúvidas sobre o futuro da democracia
O Brasil chega à oitava eleição presidencial desde o fim da ditadura militar. Nenhuma foi marcada por tanta incerteza. Nenhuma projetou tanta dúvida sobre o futuro da democracia no país. É difícil traçar paralelos com qualquer disputa anterior. O candidato que começou na frente foi preso e impedido de concorrer. O candidato que o substituiu na liderança levou uma facada na barriga.
A campanha sumiu das ruas. Passou a ser comandada da cadeia e do hospital. A polarização entre PT e PSDB, que deu o tom das últimas seis eleições, ficou pelo caminho. Depois de quatro derrotas seguidas, os tucanos perderam o controle sobre o voto conservador. Foram trocados por um outsider de extrema direita, que se filiou a uma legenda de aluguel no limite do prazo legal.
O horário eleitoral na TV, que inflacionava as negociações entre os partidos, virou mercadoria obsoleta. Quem conseguiu mais de cinco minutos de propaganda empacou nas pesquisas. Quem ficou com apenas oito segundos disparou na frente. A discussão política migrou para a tela do celular. Notícias e boatos passaram a se confundir na terra sem lei do WhatsApp. O TSE anunciou uma força-tarefa para combater as fake news. Ficou só na promessa.
Às vésperas da eleição, a boataria se espalhava à vontade pelas redes. A máquina do governo também deixou de importar. O candidato oficial do Planalto teve desempenho de nanico. O presidente mais impopular da História foi esquecido por candidatos e eleitores. Não serviu nem como saco de pancadas, como José Sarney em 1989. O país chegou à eleição na bancarrota. Pelas contas do IBGE, 27 milhões de trabalhadores estão desempregados ou subutilizados. Mesmo assim, a economia não foi o principal tema da campanha. O debate se deslocou para o campo moral e para os costumes.
O capitão soube surfar a onda conservadora. Com discurso moralista, prometeu combater a corrupção, reprimir o crime e restaurar a ordem. Aliou-se às igrejas evangélicas, aos ruralistas e à bancada da bala. Herdou o comando da tropa de Eduardo Cunha, que chefiou o impeachment e acabou na cadeia.
A imprensa internacional tenta entender como um candidato com ideias autoritárias, que exalta a tortura e já defendeu o fuzilamento de adversários, foi capaz de chegar tão longe.
Por aqui, o fenômeno é retratado como mera reação ao PT, que foi varrido do poder depois de vencer as últimas quatro eleições. O petismo paga o preço pelo fiasco do governo Dilma. Turbinada pela recessão e pelos escândalos, a rejeição ao partido se tornou uma muralha. Com Lula preso em Curitiba, a sigla esperou até a última hora para lançar o substituto Fernando Haddad.
Foi uma escolha arriscada, que pode apresentar uma conta alta hoje à noite. Blindado pela facada e sem comparecer a debates, Jair Bolsonaro chega ao dia da eleição com chance de vencer no primeiro turno. Não é o desfecho mais provável, mas a previsibilidade tem passado longe em 2018.
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