Folha de S. Paulo
Só um grande mutirão nacional faria o país deixar de ocupar a vergonhosa posição
A ONU e diversas
organizações internacionais publicam anualmente relatórios que classificam os
países em várias áreas e, em todas elas (social, econômica, ambiental, ética e
regional), os escandinavos invariavelmente ocupam as primeiras colocações.
Lembro que esses países eram no começo do século passado os mais pobres
da Europa.
Há alguns anos fui convidado pelo governo sueco a visitar a Suécia para conhecer o modelo adotado pelo país. Encontrei-me com agentes governamentais, empresários, sindicalistas e líderes da sociedade civil. A explicação que me deram pelo fato de a Suécia atingir o atual grau de desenvolvimento foi esta: "Chegamos a um consenso: qualquer coletivo humano, para ser bem-sucedido, é necessário que a relação entre as pessoas seja harmoniosa. E o que causa a desarmonia é a injustiça. Portanto, precisamos construir uma sociedade com justiça, com menos desigualdades. E aí colocamos em prática uma agenda visando reduzir as desigualdades: educação pública de qualidade para todos, sistema fiscal e tributário progressivo, representação política que seja um espelho da sociedade etc. E isso nos fez chegar à situação atual".
O Brasil é um dos países mais desiguais do
mundo. E as desigualdades são inúmeras, se complementam e se realimentam:
desigualdades econômicas de renda, de patrimônio, sociais, ambientais, de
gênero e de raça. Recomendo consultar o Observatório Brasileiro das Desigualdades, elaborado
pelo Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades para
dimensionar o tamanho e a abrangência das nossas desigualdades. Isso apesar de
o Brasil possuir uma das maiores economias do mundo.
As desigualdades constroem uma sociedade de
conflitos (mata-se mais no Brasil do que nas guerras) e ameaçam e desmoralizam
a democracia quando ela não consegue reduzi-las. Os movimentos e regimes
autoritários se alimentam da sensação de injustiça e das desigualdades.
A nossa Constituição determina que a redução
das desigualdades deveria ser a grande prioridade do Brasil. O governo poderia,
portanto, lançar o PACD (Programa de Aceleração de Combate às Desigualdades)
envolvendo todos os ministérios, empresas estatais, empresas privadas,
sindicatos, sociedade civil, Congresso
Nacional, Judiciário, estados e municípios. Cada um dos integrantes deveria
apresentar seus planos e metas para a redução das desigualdades, usando, por
exemplo, os indicadores do Observatório Brasileiro das Desigualdades como
referência e instrumento de acompanhamento e avaliação.
Pela importância do tema, a coordenação
ficaria a cargo da Presidência da República e a gestão operacional poderia
estar sob a responsabilidade do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e
Sustentável, que já reúne ministros, dirigentes de estatais, empresários,
sindicalistas e líderes da sociedade civil. Cada prefeito(a) e cada
governador(a) poderia instituir um processo semelhante no seu município e
estado.
O Brasil, há muitos anos, é um dos campeões
mundiais das desigualdades, da injustiça. Só um grande mutirão nacional faria o
país deixar de ocupar essa triste e vergonhosa posição.
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