Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques*
Cristovam Buarque* - Celso Furtado: além do centenário
- Correio Braziliense, 11 de agosto de 2020
Merval Pereira - Pensamento (a)crítico
Luiz Carlos Azedo - A tentação populista
Bernardo Mello Franco - Mentiras amazônicas
Ligia Bahia - Nós e os outros
Ricardo Noblat - No país do presidente capitão a Amazônia está intacta
- Blog do Noblat | Veja
Raul Jungmann* - Internet: regulação ou democracia ameaçada
Vera Magalhães - Só faltam as penas
- O Estado de S.Paulo
Rosângela Bittar - Em busca de novas ruínas
Hélio Schwartsman - De onde vem a moral?
- Folha de S. Paulo
Bruno Boghossian – Ruína premeditada
- Folha de S. Paulo
Ruy Castro - Dinheiro na mão dos Bolsonaros
- Folha de S. Paulo
Fernando Exman - A pandemia como oportunidade eleitoral
- Valor Econômico
Vinicius Torres Freire - Para onde vai o dinheiro no juro zero?
Dadas certas condições, Selic fica zerada em termos reais até meados de 2022
Cristiano Romero - Em defesa do Bolsa Família
Míriam Leitão - Debandada é consequência
Juízo para manter juros baixos – Editorial | O Estado de S. Paulo
Ruído tributário – Editorial | Folha de S. Paulo
Retomada fraca e inflação baixa permitem mais corte de juros – Editorial | Valor Econômico
A urgência da reforma administrativa – Editorial | O Globo
A pandemia expôs o caráter perverso de um Estado transformado em máquina de gerar desigualdade
Poesia | Mario Benedetti - Sou meu hóspede
em doses mínimas
e uso a noite
para despojar-me
da modéstia
e outras vaidades
sem os prejuízos
das boas-vindas
e com as cortesias
do silêncio
nem os sarcasmos
que deixam marca
meu hóspede
e trago uma pomba
que não é sinal de paz
mas sim pomba
estritamente meu
no quadro-negro da noite
traço uma linha
branca
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Merval Pereira - Os onze
- O Globo
Dois temas da maior gravidade foram
enviados esta semana para o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), sem que
seus relatores quisessem decidir monocraticamente. O ministro Edson Fachin
(foto), mesmo mantendo sua decisão de negar acesso à Procuradoria-Geral da
República aos bancos de dados da Operação Lava-Jato, decidiu levar à decisão
colegiada a palavra final.
Também o ministro Gilmar Mendes preferiu enviar para o plenário do STF a
decisão da ação do PTB que pretende impedir interpretações que permitam a
reeleição para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados na mesma
legislatura, proibida pela Constituição.
A atitude dos dois não tem sido a tônica das decisões dos ministros do Supremo,
que não por acaso são chamados de “ilhas”, o que significa que cada ministro é
um Supremo, os “onze supremos”, no título do livro dos especialistas Joaquim
Falcão, Diego Arguelles e Felipe Rocondo.
As decisões monocráticas, quando um dos ministros decide sozinho, têm sido
majoritárias nos últimos anos no Supremo Tribunal Federal (STF), a ponto de ter
atingido em 2017, segundo estudo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a marca
de 89,8% das mais de cem mil decisões daquele ano. A criação das 1ª
e 2ª Turmas, cada uma com cinco ministros, foi uma tentativa bem sucedida de
desobstruir o fluxo de processos, mas não o suficiente.
Essa prática tem uma razão básica, o excesso de processos que chegam ao Supremo
todos os anos, mais de cem mil, para espanto de outros ministros de Cortes
Supremas, como a dos Estados Unidos, que decide por conta própria quais os
casos que vai rever desde que, em 1925, para evitar o congestionamento de
processos, foi editado um ato nesse sentido.
A média de processos aceitos na Suprema Corte americana é de cerca de 200 por
ano, nada além disso. Outra diferença fundamental: a Suprema Corte dos Estados
Unidos só decide em colegiado, e em reuniões secretas.
Também nos Estados Unidos, cujo sistema judicial nos serve como parâmetro, 97%
dos processos criminais são solucionados através de negociação entre promotor
público e advogado de defesa, sem interferência de um juiz (“plea bargaining”).
Aqui, a Câmara dos Deputados rejeitou na Comissão de Constituição e Justiça a
implantação do sistema proposto pelo então ministro da Justiça e Segurança
Pública Sérgio Moro.
Com isso, o Supremo continuará sobrecarregado até mesmo com casos criminais,
que podem chegar à última instância. Ao contrário, a Câmara aprovou proposta do
ministro Alexandre de Moraes que possibilita a negociação e a não persecução
penal em crimes mais leves. No debate sobre o excesso de atribuições do
Supremo, já houve mesmo a proposta de criação de um novo tribunal superior
apenas para tratar de casos criminais, como o mensalão e o petrolão. Mas não
prosperou.
A questão das decisões monocráticas tornou-se também um caso político, com a
crescente crítica, como a de Bolsonaro contra decisões individuais “de certas
pessoas”, referindo-se ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que
autorizara uma ação da Polícia Federal contra apoiadores do presidente acusados
de espalharem notícias fraudulentas pelos meios digitais.
Existe até mesmo em tramitação na Câmara uma proposta de emenda constitucional
(PEC) que define que as decisões liminares em ações diretas de
inconstitucionalidade (ADIs) só podem ocorrer pela maioria absoluta dos membros
do Supremo Tribunal Federal (STF), isto é, seis votos dos 11, proibindo as decisões
monocráticas. Outra proposta tenta limitar o número de decisões monocráticas
que cada ministro poderá tomar durante o ano.
Os dois casos enviados ao plenário tratam de questões delicadas politicamente,
e a decisão colegiada é a melhor solução para o STF assumir como instituição.
Correção
Na coluna de domingo, o terceiro parágrafo continha, por engano meu, uma
informação errada. Como estava escrito imediatamente acima, o Brasil não é o
segundo país com o maior número de mortos por milhão de habitantes, mas o
segundo maior em números absolutos.
Luiz Carlos Azedo - O gosto da governabilidade
- Nas entrelinhas | Correio Braziliense
“A disputa em torno da manutenção
ou não do ‘teto de gastos’, apontada como condição para ‘achatar a curva’ da
dívida pública, está instalada dentro do próprio governo e no Congresso“
Houve
uma mudança na relação do presidente Jair Bolsonaro com a política. É evidente
que o convite, prontamente aceito, ao ex-presidente Michel Temer, para chefiar
a missão de solidariedade ao Líbano, aproxima do seu governo de forma
irreversível uma força política que sempre teve um papel decisivo para a
governabilidade do país: o MDB. Simboliza outra estratégia de governo, que
deixa a rota de colisão com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF),
ainda que as tensões com o Judiciário tendam a se manter ao longo do processo,
por causa do caso Fabrício Queiroz. Onde há política, há salvação para a
democracia representativa.
A
postura humanitária de Bolsonaro em relação ao Líbano é até um contraponto à
espantosa falta de empatia com as mais de 100 mil famílias enlutadas por causa
da covid-19. O luto oficial decretado pelo Congresso e pelo STF não mereceu o
mesmo tratamento do Executivo. “Nos próximos dias partirá do Brasil, rumo ao
Líbano, uma aeronave da Força Aérea Brasileira, com medicamentos e insumos
básicos de saúde, reunidos pela comunidade libanesa radicada no Brasil. Também
estamos preparando o envio, por via marítima, de 4.000 toneladas de arroz para
atenuar as consequências das perdas de estoque de cereais destruídos na
explosão”, anunciou o presidente da República, que até hoje não nomeou um
ministro efetivo para a Saúde. Em algum momento, a pandemia cobrará seu preço.
Mais
uma razão para a avaliação de que o gesto em relação ao Líbano vai além das
motivações humanitárias e mira o futuro da relação do governo com o Congresso,
uma vez que o MDB tem chances reais de liderar tanto a Câmara como o Senado. O
deputado federal Baleia Rossi (SP), atual presidente do MDB, pode vir a ser o
nome apoiado pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à própria sucessão. Além
disso, no Senado, embora o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) tenha a ambição
de se reeleger –– quebrando a tradição —, a bancada do MDB já é a principal
força de sustentação do governo na Casa. O líder do governo, Fernando Bezerra
(PE); o líder da bancada, Eduardo Braga (AM); e a presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Simone Tebet (MT), são nomes capazes de liderar uma
maioria robusta, mais governista ou mais independente, dependendo de quem for
capaz de manter o partido unido e tecer uma aliança ampla.
Novas
bases
Bolsonaro está descobrindo as vantagens da governabilidade, depois de quase pôr
seu governo a perder numa trajetória suicida de confronto com os demais
Poderes, ameaçando as instituições da democracia representativa. Por muito
pouco não pautou o seu próprio afastamento pelo Congresso. Parece que os
militares que ocupam o centro do poder no Palácio do Planalto, finalmente,
conseguiram levar o governo a um ponto de equilíbrio institucional, na medida
em que Bolsonaro colhe os frutos do pacote de medidas de emergência aprovadas
pelo Congresso para combater os efeitos dramáticos da crise. Esse é outro
elemento que explica os novos rumos adotados. Está havendo uma mudança de
composição na base social de apoio ao governo: ao mesmo tempo em que perde
apoio da classe média, cresce o prestígio de Bolsonaro com a população mais
pobre do país, principalmente do Norte e do Nordeste.
De
um lado, o caso Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do senador Flávio
Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho, e amigo do presidente da República,
afasta cada vez mais a bandeira da ética do atual governo e, consequentemente,
uma grande parcela da classe média. Blindado pela Constituição, Bolsonaro não
pode ser investigado, mas a primeira-dama Michelle Bolsonaro pode. Além disso,
o ex-ministro da Justiça Sergio Moro é identificado como o grande protagonista
da Lava-Jato; seus adversários, dentro e fora do governo, não conseguem
desconstruir essa imagem. Em contrapartida, a aliança com o Centrão juntou a
fome com a vontade de comer: o inesperado apoio popular conquistado com a
migração das parcelas mais pobres da população do Bolsa Família para o abono
emergencial e a aliança com os políticos patrimonialistas do Norte e Nordeste,
que sempre souberam manipular as carências populares dessas regiões.
Toda calmaria, porém, precede a tempestade. O cenário da economia para o segundo semestre e 2021 não é nada bom. Com uma dívida interna de R$ 6,1 trilhões, que equivale a 85,5% do PIB, a dívida pública deve saltar de 75,8% para mais de 100% em 2022. A disputa em torno da manutenção ou não do “teto de gastos”, apontada pela maioria dos economistas como condição para “achatar a curva” da dívida, está instalada dentro do próprio governo, entre a equipe econômica e os ministros militares, e no Congresso. A linha que separa um governo conservador do populismo de direita está sob forte pressão, exacerbada ainda mais pela aproximação das eleições municipais. Os dados estão sendo lançados.