O programa
econômico desmontou antes da debandada da equipe. O governo faria privatizações
e nada fez, e isso antes da pandemia. A reforma administrativa foi preparada,
levada ao presidente Bolsonaro, que exigiu mudanças, elas foram feitas e ele
então engavetou. As reformas se limitaram à mudança nos parâmetros da
previdência dos servidores civis e dos trabalhadores do setor privado. A dos
militares, a equipe econômica não teve espaço para opinar. Teve que bater
continência e aceitar.
Ontem saíram Salim Mattar, que privatizaria, e Paulo Uebel, que faria a reforma
administrativa. Assim, no futuro do pretérito. O espanto é que tenham ficado
tanto tempo, porque desde o engavetamento da reforma e a não privatização no
ano passado, eles já poderiam ter debandado. O ministro Paulo Guedes pelo menos
ontem não tentou tapar o sol com a peneira e falou claramente os motivos.
Mattar fingiu o tempo todo que estava comandando o que não
existia, o programa de privatização. O que foi vendido no ano passado foram
participações de bancos e empresas públicas em outras empresas, ou braços das
estatais. Desde o começo isso estava claro. O presidente foi tirando do
programa empresas que durante a campanha ele disse ou insinuou que poderia
vender.
Petrobras, Banco do Brasil e Petrobras representam 75% dos
ativos das empresas no país e 71% do patrimônio líquido. A Eletrobrás é 4% dos
ativos, e o BNDES 17%, segundo dados do Boletim das estatais que eu mostrei a
Salim Mattar em janeiro, antes, portanto, da pandemia. Eu o entrevistei logo
depois que ele havia dito que iria “acelerar a privatização”.
Ele admitiu que
essas estariam fora das vendas. Portanto, não se podia acelerar carro que nem
fora ligado. Até na equipe econômica se admitia que o programa estava lento.
Nem a venda da Eletrobras, preparada desde o governo Temer, a atual
administração conseguiu aprovar no Congresso. E pior, foi criada uma estatal.
Quando perguntei a Mattar por que a NAV tinha sido criada, ele me disse que era
“por uma questão de segurança nacional”.
Na campanha, Paulo Guedes dizia que privatizaria R$ 1 trilhão,
que venderia imóveis que também chegavam a R$ 1 trilhão. E ele afirmou que
zeraria o déficit no primeiro ano. Ninguém que entende de números acreditava
naquelas cifras voadoras.
Na equipe do Tesouro, houve avanços em redução de gastos, mas
eles foram realistas e em nenhum momento prometeram acabar com o déficit no
primeiro ano. A chegada da pandemia exigiu um aumento do gasto. E no Tesouro
houve a melhor substituição possível, com a saída de Mansueto Almeida e a
entrada de Bruno Funchal. Contudo, o desafio é fazer um ajuste com o presidente
da República já em declarada e prematura campanha. Ele quer usar a expansão dos
gastos como alavanca para 2022.
Ontem estava sendo votada uma MP que o secretário Paulo Uebel
era contra e o líder do governo Vitor Hugo encaminhou a favor. A ideia era
simplificar, desburocratizar. Mas o projeto acabou aumentando a exigência de
compra de assinaturas digitais.
O Brasil já viu várias vezes a briga entre o ministro austero e
os ministros gastadores. Não está sendo reeditada agora essa clivagem. O que há
é que o programa era irreal e desmoronou, e o ministro da Economia tem
concedido mais do que deveria. E claro, os ministros gastadores.
No Fundeb, saiu do Ministério da Economia a proposta que, se
adotada, significaria dar um drible no teto de gastos. Depois, a junta
orçamentária, composta pelo Ministério da Economia e pela Casa Civil, foi
consultar o TCU sobre o uso das sobras orçamentárias. E só sobrou porque houve
a execução errada, com recursos extraordinários pagando despesa do orçamento.
Ontem com a saída de Mattar e Uebel, depois de já terem saído
Caio Megale, Mansueto, entre outros, Paulo Guedes elevou o tom de voz e disse
que quem está aconselhando a furar o teto está empurrando o presidente para o
caminho do impeachment. Mas Guedes, ao longo do tempo, fez todas as concessões
exigidas por Bolsonaro. Aceitou a inclusão de privilégios corporativos na
reforma da Previdência. Não brigou pela reforma administrativa, aceitou que
reforma dos militares incluísse aumento de soldos, fez a capitalização de uma
estatal militar e criou outra estatal militar. A debandada era previsível e até
demorou.
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