- Folha de S. Paulo
Corte de
orçamento proposto pelo MEC é novo capítulo de uma ruína premeditada
Enquanto Jair Bolsonaro e
seus aliados tentam arrumar um dinheirinho para turbinar sua operação
política, o Ministério da Educação preferiu afiar a tesoura.
A pasta anunciou a intenção de cortar 18% de suas despesas não obrigatórias no
ano que vem. A proposta facilita os esforços do Palácio do Planalto para
sucatear o ensino público.
A ruína é premeditada.
Obcecado pelo fantasma de um aparelhamento nas universidades, o presidente faz
de tudo para esvaziar a área. Manteve dois titulares desqualificados para
comandar a pasta e incentivou um estrangulamento de pesquisas e da educação
superior, principais pontos de atuação federal no setor.
O próprio Bolsonaro e seus
assessores nunca esconderam a intenção de usar o orçamento como arma política.
Ao chegar ao MEC, Abraham Weintraub avisou que fecharia os cofres para
instituições que fizessem o que ele chamava de “balbúrdia”. A ideia era
asfixiar aqueles que contrariassem a agenda do governo.
O presidente nunca se
interessou em apresentar projetos para a educação. Ele
preferiu explorar o tema como parte de sua cruzada ideológica e usou o
desempenho do país em exames internacionais para fustigar adversários
políticos.
Quando o Congresso começou a
discutir a ampliação do fundo que financia a educação básica, Bolsonaro decidiu
ignorar o assunto. Depois, trabalhou contra a medida e foi obrigado
a ceder para evitar uma derrota política humilhante.
Agora, o MEC reconheceu o
papel de coadjuvante. Sensibilizada pela crise econômica, a pasta se
antecipou ao arrocho de Paulo Guedes e disse que pretende gastar menos R$ 4,2
bilhões no ano que vem. O Orçamento só será fechado no fim do mês, mas o
ministério jogou a toalha.
Ao explicar o corte, a pasta
disse que a pandemia exige um esforço de “priorização das despesas”. Os filhos
feios de Bolsonaro devem sofrer mais com a tesourada. Já o Ministério da
Defesa, favorito do presidente, pediu um aumento de
37% nos investimentos do ano que vem.
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