Em relação à ata de
junho, a de agosto é muito mais inclinada a doses adicionais de estímulo. A
probabilidade de os programas de apoio ao crédito e auxílios emergenciais
sustentarem uma demanda em nível acima do previsto, e “potencialmente” causarem
inflação maior que o projetado ainda consta do balanço de riscos da ata - mais
como um hedge, se comparado a outras premissas.
As enormes incertezas sobre a recuperação da economia se deslocaram do segundo
semestre, na ata de junho, para o próximo ano, depois que se encerrarem os
efeitos dos ajustes emergenciais. O BC constatou que, depois de quedas
horríveis no segundo trimestre, a economia reagiu com considerável vigor no
consumo (especialmente de bens duráveis) e até mesmo nos investimentos. Mas a
retomada é desigual, e seguem deprimidos vastos segmentos da área de serviços
(dois terços do PIB) que mais sofrem os efeitos do distanciamento social.
As chances de que os
serviços acertem o passo com os demais são incertas porque, entre outras
coisas, dependem da evolução da pandemia. Uma definição importante da ata é que
o cenário doméstico poderá ser “caracterizado por uma retomada ainda mais
gradual da economia”.
As expectativas de inflação, tanto as dos investidores, inscritas no boletim
Focus, quanto as do BC quase não variam para este ano e o próximo, tanto com
Selic de 2,25% (hipótese anterior à decisão de reduzi-la a 2%) quanto na de
juro a 3%, previsto para o fim de 2021 no Focus. O IPCA encerraria 2020 em
1,6%, bem abaixo do piso da meta (2,5%) e chegaria a 3% no ano seguinte.
Na ata anterior se
mencionavam reajustes do petróleo, preços administrados e alimentos como
fatores de impulso da inflação. Julho passou e o BC aponta que a inflação
arrefeceu e no curto prazo deve se manter estável. Tanto a desvalorização do
real como a alta das commodities “foram compensadas por revisões em alguns
componentes da inflação de serviços”.
Disto decorre outra
definição fundamental da ata, a de que, pela natureza da crise provocada pela
covid-19, “pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem
ter duração maior do que em recessões anteriores”. Após essa constatação, resta
saber como a ameaça da deterioração fiscal interferirá na condução da política
monetária no cenário relevante - 2021 e, em parte, 2022. Pela ata, a rota
fiscal deixou de considerar apenas a não continuidade das reformas mas, com
ênfase crescente, “políticas fiscais em resposta à pandemia que piorem a
trajetória fiscal de forma prolongada”.
O BC decidiu que, com
a inflação abaixo da meta, enorme ociosidade na economia e “em linha com seu
mandado de metas”, não seria apropriado reduzir agora o grau de estímulo.
No
futuro será diferente. Cortes nos estímulos levarão em consideração, como
sempre, expectativas e projeções de inflação do cenário básico e a meta de
inflação no horizonte relevante. Aí então, duas mudanças: “ Essa intenção é
condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas
de inflação de longo prazo”, registra a ata. A desancoragem, segundo o Copom,
“indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo
a seus benefícios”.
Cautela e gradualismo adicionais, aponta o Copom, são necessários porque o
ambiente de juros baixos “sem precedentes” pode trazer volatilidade aos ativos
e afetar o “bom funcionamento do sistema financeiro e do mercado de capitais”.
Não está explícito o que o BC teme - uma “bolha” de ações (situação em que os
BCs não interferem), ou distorções advindas da migração de aplicações que
passaram a ter juro negativo para outras mais arriscadas ou para ativos reais.
A ata, porém, deixa espaço para nova queda da Selic, de baixa magnitude e
possivelmente não na próxima reunião do Copom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário