Por Thais Carrança | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em encontro com mulheres no Capão Redondo, bairro periférico da capital paulista, a candidata à Presidência Marina Silva (Rede) disse ontem que, se eleita, terá compromisso de manter o poder de compra do salário mínimo, mas que não se pode ser demagógico neste tema, diante da crise vivida pelo país. Questionada pelo Valor após o evento, a candidata evitou dizer diretamente que pretende reajustar o salário básico apenas pela inflação, sem ganho real, como dito na semana passada pelo economista Eduardo Giannetti, assessor econômico de sua campanha, em entrevista à Globo News.
Pequeno, o evento contou com a participação de cerca de 20 pessoas, 15 delas mulheres, em sua maioria negras e empreendedoras, além dos assessores de Marina e jornalistas. Foi realizado na sala da casa de uma eleitora, a dona de lanchonete Cecilia de Souza, de 57 anos. A realização do encontro foi intermediada pelo ativista social carioca Anderson França, fundador da Universidade da Correria, projeto de promoção do empreendedorismo em comunidades periféricas, a pedido da campanha de Marina. Entre os presentes, a maioria se dizia ainda indecisa com relação ao voto, mas declarava maior simpatia aos candidatos de partidos de esquerda.
A pergunta mais dura do encontro foi feita pela pastora Irma do Carmo de Freitas Souza, de 59 anos. "O que a senhora pode fazer a respeito do salário mínimo? Ele pode chegar a um ponto em que a gente tenha dinheiro para não precisar comer salsicha e ovo todo dia?", perguntou a pastora.
"Hoje, o nosso compromisso é, diante da crise, manter o poder aquisitivo do salário mínimo, que não pode ser corroído pela inflação", disse Marina. "Queremos que o salário seja justo, mas não podemos fazer demagogia num país que está crescendo 1% e ficou três anos sem crescer", completou.
Na sexta-feira, em entrevista à Globo News, o economista da Rede Eduardo Giannetti foi questionado sobre o tema e deu uma resposta mais direta. "Infelizmente, no curto prazo, dada a dramaticidade da situação fiscal no Brasil, não vamos poder continuar naquela toada de aumento muito expressivo do salário mínimo real, vamos ter que dar uma pausa, mantendo o poder de compra", afirmou Gianetti.
Presente ao encontro e filha da dona da casa, Evelin Daisy de Carvalho de Souza, de 35 anos, disse que ainda não sabe em quem vai votar. A modelo e cabeleireira especializada em tranças escolheu Dilma na última eleição e diz que vê Marina com simpatia por ser uma candidata mulher, mas também gosta de Fernando Haddad (PT). "Vejo ele com bons olhos, inclusive melhor que o Lula", disse, acrescentando que o ex-prefeito fez melhorias importantes no bairro.
Outro participante e morador do Capão Redondo, Luis Coelho, fundador do projeto Empreende Aí, disse ao Valor que a violência no bairro diminuiu muito nos últimos dez anos. "Foi o crime organizado que mandou parar a matança", afirmou, mostrando descrença com relação às políticas de segurança pública. O empreendedor social também disse ainda não ter candidato.
"Geralmente voto no PT e Psol, a Marina não estava no meu radar, porque tem posturas que não gosto, como sua proximidade com a bancada evangélica" afirmou.
Já a pastora Irma pretende votar em Marina e disse que tem aconselhado seus fiéis a não votarem em Jair Bolsonaro (PSL). "Marina, meu voto é seu e eu sou anti-Bolsonaro", disse em sua fala no evento. Ao que os demais presentes responderam "Glória a Deus!", entre risos.
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