- O Globo
Na ausência de um mordomo, Bolsonaro tentou culpar o motorista. Agora o rolo cresceu, com depósitos na conta do filho mais velho
Na segunda-feira, Jair Bolsonaro recebeu três modelos enfeitadas com coroas de princesa e faixas de miss. As moças foram a Brasília divulgar a Festa da Uva, o tradicional evento de Caxias do Sul. O capitão sorriu para fotos e ganhou um caixote de uvas colhidas na cidade gaúcha. Mas foi o cheiro de outra fruta, a laranja, que passou a impregnar o gabinete presidencial.
Com menos de um mês de governo, Bolsonaro está emparedado pelos rolos de Fabrício Queiroz. Na quarta-feira, seu filho mais velho apelou ao foro privilegiado para suspender a investigação e esconder as contas do ex-assessor. Conseguiu a liminar, mas deu bandeira. Ficou claro que o laranjal era bem maior do que se pensava.
Na noite de sexta-feira, o Jornal Nacional deu uma amostra do que parece vir por aí. Em apenas um mês, a conta bancária de Flávio Bolsonaro recebeu R$ 96 mil em dinheiro vivo. A grana foi fracionada em 48 depósitos de R$ 2 mil. O senador eleito virou suco antes de tomar posse.
O relatório do Coaf foi sutil. Apontou uma “suspeita” de “artifício” para impedir o rastreamento dos depósitos. Em outra passagem, citou uma circular do Banco Central para explicar que esse tipo de operação pode “configurar indícios” de lavagem de dinheiro. Não seria o único crime na cena.
Os depósitos em série reforçam a suspeita de que Flávio embolsava parte dos salários dos assessores. O esquema é comum no baixo clero da política, habitat natural da família do presidente. Se confirmado, caracteriza crime de peculato, o desvio de dinheiro público para uso pessoal.
Uma das curiosidades do caso é a data dos depósitos. O Coaf detectou as operações atípicas entre junho e julho de 2017. Na época, a Lava-Jato fazia três anos e o pai de Flávio já rodava o país como pré-candidato ao Planalto. Outro descuido foi o uso de um caixa eletrônico na Assembleia Legislativa do Rio, onde há controle de entrada e câmeras de segurança.
A revelação joga no liquidificador tudo o que os Bolsonaro já disseram sobre o escândalo. Na ausência de um mordomo, o presidente tentou jogar a culpa no motorista. Agora ficou difícil separar os saques do funcionário dos depósitos na conta de Flávio. O Planalto alega que o rolo do primeiro-filho não seria problema do governo. O discurso poderia colar se Queiroz não fosse tão próximo do presidente e não tivesse assinado um cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro.
Hoje o colunista Lauro Jardim revela que a movimentação bancária do motorista foi muito superior ao que se sabia. A notícia enfraquece ainda mais a versão do presidente para o cheque em nome da primeira-dama. Com tanto dinheiro circulando em sua conta, Queiroz não teria nenhum motivo para pedir um empréstimo. Bolsonaro vai para Davos, mas o cheiro de laranja continuará no ar.
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