Folha de S. Paulo
EUA ameaçam sanções contra países que regulam
ou tributam plataformas sociais
Donald Trump atropela
as instituições
americanas, públicas ou privadas, como universidades e escritórios de
advocacia; ameaça empresas por meio de extorsão, faz o diabo. Pode
estar mais perto de mandar no banco central, no Fed.
Seja lá o que se pense a respeito de bancos
centrais, o BC americano é um dos motivos principais do crédito, da confiança,
no mercado dos títulos da dívida do governo dos Estados
Unidos (isto é, dos empréstimos para o governo federal americano).
O Fed é mais do que isso, mas o exemplo é relevante, aqui e agora. Trata-se de um mercado, de uma dívida, de US$ 30 trilhões, o equivalente ao valor de 14 PIBs do Brasil. No limite, um Fed bananeiro pode afetar o crédito do governo e da economia americana.
Pois bem. Trump não está nem aí. Se não tem
receio de balançar as estruturas financeiras do país, por que teria problemas
em dar mais tiros em países como o Brasil?
Nesta mesma semana em que tenta decapitar uma
diretora do Fed, Trump anunciou que vai aumentar
o imposto de importação ("tarifas") de produtos de países que regulem
ou também tributem as "big techs".
Isto é, Trump ameaça mais encrenca com União Europeia, Canadá, Coreia do Sul e
países como o Brasil, que já está sob investigação americana, o que pode
redundar em novas sanções.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está
para enviar ao Congresso um ou dois projetos de regulação de "big
techs", plataformas sociais, essas coisas. Afora novas turumbambas no
Congresso, deve fazê-lo no setembro do julgamento de Jair Bolsonaro, outro
motivo possível de mais tiros no Brasil.
No que interessa a ele, Trump teve sucesso no
"tarifaço". Dobrou ou ignorou todos os países, com exceção da China,
que respondeu com chumbo na mesma medida, porque pode. Ameaça intervenções
variadas em semicondutores, produtos farmacêuticos, móveis, jujuba, quem sabe.
Até agora, não tem contestação jurídica ou
oposição política relevantes nos Estados Unidos. Não teve de se preocupar nem
mesmo com os povos dos mercados, que
pelo menos nesta terça-feira não deram a mínima para o plano de
decapitar Lisa Cook, a diretora do Fed.
Juros e
preços de ações se moveram como em um dia tedioso de fim de férias de verão
—nada. Em abril, na semana das "tarifas da libertação", o tamanho da
maluquice ao menos levou Trump a recuar.
Trump demitiu ou acredita ter demitido Cook —pode
vir a ser um caso enrolado e comprido na Justiça. O presidente dos Estados
Unidos indica os sete diretores do conselho do Fed, que sempre votam no que
fazer da taxa básica de juros (Trump já tem dois nomeados, vai indicar um
terceiro, seu ideólogo econômico, Stephen Miran, e pode ter mais uma vaga na
mão, se tiver a cabeça de Cook).
Os sete do conselho são acompanhados de mais
cinco votantes: o presidente regional do Fed de Nova York e outros quatro dos
doze chefes dos Feds regionais (em rodízio). O conselho pode encrencar a
nomeação dos presidentes regionais, a cada cinco anos, como será o caso em
2026.
Em resumo, Trump pode ter uma diretoria para
chamar de sua no ano que vem. Pode não nomear gente tão lunática e despreparada
como é aquela que ocupa mais da metade de seu secretariado (ministério). Mas é
grande o risco de o BC dos EUA fazer também parte do admirável mundo novo de
Trump.
Se Trump faz o que faz com um pilar do centro
do capital, acha mesmo que é o imperador do mundo, como diz Lula. O que vamos
fazer para fugir dos tiros?
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