quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Merval Pereira - Luz no caminho

O Globo

O economista Alan Blinder, que foi do Banco Central dos Estados Unidos e debate muito a relação entre economistas e políticos, diz num de seus livros mais conhecidos que as pessoas acham que os economistas têm uma grande influência sobre os políticos. Nada mais afastado da realidade, afirma ele. A relação de políticos com economistas é mais semelhante à do bêbado com o poste de luz. Os bêbados usam os postes de iluminação não para iluminar o caminho, mas para se apoiar.

“O Moro é diferente, ele quer luz para seu caminho”, diz o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, que cita essa definição do economista americano no seu mais recente livro “Erros do passado, soluções para o futuro”, publicado pelo selo Portfolio-Penguin, da Companhia das Letras. Assim Pastore, um dos economistas mais influentes do país, define seu papel como colaborador de uma eventual candidatura do ex-juiz Sergio Moro à Presidência da República: tentar construir uma visão sobre o que seria um país viável, buscar uma forma de crescimento econômico que seja mais inclusiva. Projeto que poderá ser usado por qualquer outro candidato da terceira via.

“O Brasil tem uma pobreza absoluta muito grande, não dá oportunidade a uma camada imensa da população”, ressalta, dando a entender que o combate à miséria, à fome, à desigualdade tem de ser o objetivo central de um projeto econômico para o país. Para ele, o equilíbrio fiscal é necessário para o crescimento econômico, mas não suficiente, “não é um programa de governo por si só”. Ele esclarece que o liberalismo, no seu entender, exige eficiência no setor privado, mas isso não significa que “tenha de sair privatizando tudo”.

Malu Gaspar - Dá para confiar no Enem?

O Globo

Jair Bolsonaro nunca fez segredo de sua intenção de mexer no conteúdo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. O presidente já declarou diversas vezes que gostaria de acabar “com a ideologia de gênero”, o “comunismo” e o “ativismo político e comportamental” nas provas. E faz questão de propagandear o intenso trabalho que o Ministério da Educação faz para cumprir a ordem. Das Arábias, ao comentar a crise que levou ao pedido de demissão de 37 servidores envolvidos na elaboração do Enem, Bolsonaro comemorou: “Começa agora a ter a cara do governo a prova do Enem”

Nesta quarta-feira, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi à Câmara dos Deputados negar a interferência ideológica. Balela. Quem acompanha o ministro sabe que ele sempre deixou claro que pretendia, sim, seguir a “visão educacional” do presidente da República, tanto no instituto responsável pelo exame, o Inep, quanto no ministério. Por mais escandaloso que pareça a pessoas razoáveis, para o bolsonarismo, interferir no Enem não só é legítimo, como necessário. Ribeiro despista os deputados, mas curte a repercussão de suas atitudes entre os seguidores do presidente.

Míriam Leitão - A chuva, a safra e o choque da energia

O Globo

A safra será boa no ano que vem, pode haver um aumento na produção de grãos de 14% a 15%, e isso fará com que a alta dos preços da alimentação no domicílio seja bem menor do que foi nos últimos anos. Mas haverá um choque de preço de energia para o consumidor residencial, por custos que estão sendo elevados agora. Há poucas boas notícias na economia, uma série de previsões ruins e a certeza de muitos ruídos e problemas provocados pelo governo.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, acompanha com atenção o que se passa no campo e é dele a avaliação de que as chuvas até agora garantiram um bom começo para esta safra.

— Não é chuva de encher reservatório, mas é chuva de permitir uma boa instalação da lavoura. Ela veio mais cedo, choveu relativamente bem em outubro e deve continuar — disse ele sobre o clima deste último trimestre do ano.

Mas a chuva e o agro têm uma relação cheia de riscos. Precisa chover bem agora na instalação da lavoura, depois tem que chover janeiro e fevereiro para formar os grãos, encher a espiga de milho, por exemplo. A terceira fase, março a abril, é da colheita, não pode chover demais, nem de menos, explica Mendonça de Barros.

Luiz Carlos Azedo - Para não dizer que não falei da viagem de Lula (ou como aproveitou-se do distanciamento entre Bolsonaro e líderes do Ocidente)

Correio Braziliense

Não será surpresa se a próxima investida do ex-presidente Lula for em direção à China. O paradigma a ser considerado são as excelentes relações com a Argentina, a Venezuela, a Nicarágua e Cuba

A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva à Europa está sendo um sucesso. O petista foi recebido calorosamente em todos os lugares, com destaque para a ovacionada passagem pelo Parlamento Europeu, no qual falou como um player da política mundial e foi aplaudido de pé, e pela pomposa recepção de chefe de Estado que lhe foi oferecida pelo presidente francês Emmanuel Macron, desafeto do presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Eliseu, em Paris. No domingo, em Berlim, Lula havia se reunido com o futuro primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, do SPD (partido social-democrata alemão), que articula o novo governo, como sucessor da chanceler Angela Merkel.

Lula aproveitou-se do enorme distanciamento existente entre o presidente Jair Bolsonaro e a maioria dos líderes do Ocidente. De certa forma, com suas duras críticas ao atual governo brasileiro e o lastro de um veterano na diplomacia presidencial, o petista se recolocou na cena política mundial como vítima de perseguições políticas e grande líder democrata do país, para aprofundar o isolamento internacional de Bolsonaro, cuja eleição, em 2018, se deu num cenário completamente diferente. Àquela época, o presidente norte-americano Donald Trump; o ministro do Interior italiano Matteo Salvini; o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o primeiro-ministro húngaro Victor Orban, o único que permanece no cargo (desde 2010), eram as referências de Bolsonaro na política internacional.

Maria Cristina Fernandes - Polarização impulsiona trunfo externo de Lula

Valor Econômico

Viagem bem-sucedida de Lula é calcada na expectativa de liderança contra a extrema direita mundial

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estava no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, na manhã de ontem, quando o tribunal correcional de Paris deu início ao julgamento de Éric Zemmour. O jornalista de 63 anos foi acusado de insulto e de incitação ao ódio e à violência depois de ter chamado menores imigrantes abandonados de “ladrões, assassinos e estupradores”.

Zemmour e o canal de televisão do qual é comentarista já foram multados quando ele disse que a maior parte dos traficantes são negros e árabes e, por isso, as empresas deveriam ter o direito de não contratá-los. Filho de um casal de judeus argelinos que emigrou para a França nos anos 1950, na guerra da independência, chegou ainda a dizer que o marechal Pétain, colaboracionista que governou a França na Segunda Guerra, “salvou” judeus do holocausto.

Zemmour é hoje a principal ameaça à reeleição de Macron. O jornalista ainda permanece atrás da líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, mas pesquisas indicam ultrapassagem certa. Ao divulgar o encontro com Macron Lula mencionou a preocupação comum a ambos com o “avanço da extrema direita” pelo mundo. O ex-chanceler Celso Amorim, que o acompanha em seu périplo na Europa, faz eco. Atribui a pompa e a circunstância com a qual o ex-presidente foi recebido por Macron, que fez desfilar a guarda de honra, desceu a escadaria para cumprimentá-lo à saída do carro, e esticou para mais de uma hora a audiência prevista para 45 minutos, à preocupação do presidente francês em reforçar um anel de segurança contra a direita mundial.

Se, internamente, a viabilidade eleitoral do presidente Jair Bolsonaro é cada vez mais posta em dúvida, externamente Lula ainda se vale não apenas do cataclisma de seu governo quanto da ameaça de sua reeleição para despertar interesse e apoio. Com Angela Merkel prestes a deixar o governo, Macron é o principal líder da União Europeia. Pode vir a dividir a condição com Olaf Scholz, ministro das Finanças da Alemanha e o primeiro a receber Lula em seu périplo europeu. Sob duas condições: que Macron seja reeleito em abril, pauta da comitiva de prefeitos que o visitou depois de Lula, e que Scholz, na condição de líder da social-democracia alemã, partido vencedor das últimas eleições, consiga formar o governo do qual deve vir a ser o chanceler.

Cristiano Romero - A economia em Eduardo Leite

Valor Econômico

Aod Cunha, assessor de Leite, consultou dezenas de economistas

O momento do país é tão desafiador que, antes de aceitar o convite de Eduardo Leite (PSDB) para cuidar do programa econômico de sua pré-candidatura à Presidência, o economista Aod Cunha disse ao governador do Rio Grande do Sul que precisava de um tempo não para pensar na oferta, mas, sim, nesta confusão a que chamamos de Brasil. Tempo neste caso é freio de arrumação para organizar ideias, refletir sobre novos desafios, acertar um texto-base com o governador e partir para o debate, necessário e raro neste canto do hemisfério Sul, o 7º mais povoado do planeta.

Aod propôs algo inédito ao pré-candidato - ideias todos temos, especialmente, no reino dos economistas, profissionais treinados para encontrar solução para qualquer problema, o que significa, muitas vezes, ignorar seus efeitos negativos para milhares, talvez milhões, de chefes de família. O titular desta coluna pede licença, então, para contar duas histórias - uma engraçada, outra, trágica - sobre economistas.

Num evento da campanha presidencial de Lula (PT) em 2002, o então candidato ao Senado Aloízio Mercadante foi escalado para falar à plateia antes do saudoso escritor Ariano Suassuna. Economista de oratória entusiasmada, do tipo cujo discurso apresenta o problema acompanhado da solução - insofismável, a seu ver -, Mercadante fez grande apanhado sobre as mazelas do país, deixando Ariano impressionado a cada raciocínio concluído.

Chegada a sua vez de falar, o autor de o “Auto da Compadecida” iniciou sua fala da seguinte maneira: “Rapaz, falar depois de Aloízio Mercadante não é fácil não. Pense num cabra sabido...”. No Nordeste, o sinônimo de “sabido” é esperto. Sem desmerecer da cultura de Mercadante, o que Ariano quis dizer ao nobre correligionário foi: “Menos, Mercadante, menos. Ninguém sabe tudo, logo, muito menos a resolução de todos os males”. A plateia veio abaixo.

Pedro Cavalcanti Ferreira / Renato Fragelli Cardoso* - Elites e a permanência da desigualdade

Valor Econômico

A “Constituição Cidadã” assegurou direitos diferentes a servidores e trabalhadores do setor privado

A concentração de renda no Brasil é criticada por todos, mas quando se pretende alterá-la, cada grupo quer jogar a conta para os demais. Ninguém se reconhece como privilegiado -são sempre os outros. Assim, os de fato excluídos e pobres permanecem como sempre estiveram: excluídos e pobres.

A história do Brasil é uma história de desigualdade. Durante a colônia e o império, explorou-se a mão de obra dos escravizados, brutalmente arrancados da África e submetidos a condições desumanas de trabalho e vida. O fim da escravidão não trouxe reparações, nem qualquer política que beneficiasse essa e qualquer outra parcela pobre da população.

No início do século XX, mais de 2/3 da população adulta era analfabeta. Segundo estimativa de Pedro de Souza, em 1930 cerca de 20% da renda nacional era apropriada pelos 1% mais ricos. Se há alguma permanência em nosso país, além da desigualdade, é o conceito de que a lei possa estabelecer brasileiros de dois tipos, o que foi preservado pelos constituintes de 1988. A “Constituição Cidadã” estabeleceu que todos são iguais perante a lei, mas ao tratar de condições de trabalho e aposentadoria, assegurou direitos muito diferentes a servidores e trabalhadores do setor privado.

Maria Hermínia Tavares* - O candidato Sergio Quadros de Mello vem aí

Folha de S. Paulo

A volta de um Moro antibolsonarista é sintoma do desgaste do ex-capitão

Sergio Moro vem aí. Deu o aviso de seu regresso ao Brasil e à política na cerimônia em que assinou a ficha do Podemos e fez praça de discursar para o país, anunciando que está de volta para retomar a cruzada contra a corrupção e combater a "degeneração da vida pública" promovida pelos que colocam "interesses pessoais e partidários" acima de tudo.

Sua fala o situa na mais autêntica tradição da direita populista que, de tanto em tanto, irrompe na cena nacional, de espada em punho contra os partidos e todo o sistema político: Jânio Quadros com sua vassourinha para "varrer a bandalheira"; Fernando Collor de Mello denunciando os "marajás"; e, por último, Jair Bolsonaro esbravejando "contra tudo isso daí".

Variando em torno do mesmo tema, apresentaram-se como não políticos, embora tivessem todos longas carreiras durante as quais pularam de legenda em legenda conforme, aí sim, seus "interesses pessoais e partidários".

Foram sobretudo hábeis em explorar o desamparo dos eleitores e sua descrença em governos e siglas. A corrupção na política —que realmente existiu, existe e desnatura a democracia— tem enorme potência simbólica e apelo eleitoral. Aos olhos das gentes, escancara a imensurável distância entre as oportunidades e formas de vida das elites políticas e as do cidadão comum.

Bruno Boghossian – O presidente aperta o botão

Folha de S. Paulo

Propaganda renova guerra cultural para escapar de notícias ruins em outras áreas

Eduardo Pazuello produziu uma pérola em seu depoimento à CPI da Covid, em maio. Quando senadores perguntaram sobre a ordem de Jair Bolsonaro para cancelar a compra da Coronavac, o ex-ministro disse que aquela tinha sido só uma "posição de internet", sem prejuízos para a vacinação. Nem o presidente deve ter acreditado no papo do general.

Bolsonaro gosta de jogar para a plateia e comanda um governo movido a incompetência pura. Mas também sabe acionar os botões da máquina de destruição operada por seus subordinados –tanto que, horas depois da "posição de internet" sobre a Coronavac, o número dois do Ministério da Saúde anunciou que não havia acordo para adquirir a vacina.

Ruy Castro - Ele sabe quando e para quem mentir

Folha de S. Paulo

Bolsonaro nega que esteja incendiando a floresta. Na verdade, só a sua cara de pau não pega fogo

O show se repete. Em Dubai, nesta segunda-feira (15), Jair Bolsonaro declarou, num evento para empresários e investidores, que são injustas as acusações de que seu governo está desmatando, queimando e destruindo a Amazônia. A floresta é úmida e não pega fogo, ele disse, e mais de 90% dela continuam intactas. As plateias de fora já não têm paciência para com Bolsonaro, mas ele continua achando que pode mentir à vontade. Sua cara de pau, sim, não pega fogo.

Entre nós, ainda há quem acredite que Bolsonaro mente por compulsão e já não sabe o que é mentira ou não. Não caia nessa. Ele não apenas sabe como sabe bem para quem e quando mentir. Ao mentir para os microfones internacionais, apenas finge se esquecer de que a maioria dos países tem gente séria no Brasil trocando informações, dados e projeções e mandando seus relatórios para a matriz.

Vinicius Torres Freire - Comida salgada na eleição 2022

Folha de S. Paulo

Preço dos alimentos deve subir menos, mas perda de renda com a inflação deve durar anos

O preço da comida deve aumentar menos em 2022. A safra de grãos deve crescer uns 14%, na previsão oficial, o que tende a conter a carestia de alimentos industrializados e carnes. Choveu a tempo neste ano, o que também ajudou a evitar o colapso da produção de eletricidade, diga-se de passagem. Não ocorreram, até agora, problemas climáticos, por aqui e pelo mundo, como na safra 2020/2021.

É um resumo de relatório dos economistas do Bradesco, que prevê alta de 4,5% dos preços da comida em 2022. No entanto, comida não é apenas soja e milho; o arroz fica mais barato, mas a safra de trigo aqui e lá fora não foi boa. Etc. O preço dos fertilizantes triplicou neste ano, pode ser ruim no que vem. A taxa de câmbio estacionou em nível alto. As perspectivas melhoraram, mas a vida no campo é incerta.

É um refresco muito parcial. Até outubro deste ano, a inflação anual da comida estava em 13,3%. Ou seja, a velocidade dos aumentos talvez seja menor, mas o preço continuará salgado, ainda mais porque os salários, na média, estão perdendo da inflação.

William Waack - Bolsonaro foi o pior inimigo de Guedes

O Estado de S. Paulo

Jair Bolsonaro acabou sendo o pior inimigo dos planos de Paulo Guedes

Reza a lenda que Jair Bolsonaro não era a primeira escolha de Paulo Guedes para satisfazer a vaidade intelectual de mudar o Brasil. Era Luciano Huck. Mas Guedes achou que só Bolsonaro teria couro duro para aguentar as pancadas vindas do “sistema” que ele, Guedes, se propunha a desmontar: patrimonialismo, Estado balofo, incompetência do funcionalismo público e economia fechada.

Da escola de Chicago, onde estudou, Guedes parece ter absorvido sobretudo o voluntarismo de Milton Friedman – inspirador mesmo para os colegas que abominam suas ideias. Economistas, escreveu Friedman em suas memórias, exercem influência à medida que mantêm opções ao alcance de políticos em época de crise.

Celso Ming - A revolução por trás da destruição dos empregos

O Estado de S. Paulo

As relações de trabalho passam por duas transformações. A primeira tem a ver com o rápido crescimento do trabalho autônomo, situação em que as pessoas ativas deixam de ser assalariadas e passam a operar como freelancers ou por conta própria. Faz parte desse segmento a chamada gig economy, aquela dos “fazedores de bicos” e dos operadores do Uber e do ifood.

A outra revolução está na enorme destruição de funções e, também, na criação de outras. É dessa segunda transformação que esta Coluna começa a tratar. O desaparecimento rápido de postos de trabalho acontece por força de dois fatores: pela disseminação da tecnologia digital e pela inevitável erradicação dos combustíveis fósseis.

A perda de empregos pelo uso de tecnologia digital foi mais bem notada. Há alguns anos, no Brasil, duas das mais importantes categorias profissionais, bancários e comerciários, estão à míngua, como a dos alfaiates e das costureiras depois do aparecimento da indústria de confecção. Os bancos estão fechando agências e demitindo funcionários porque as operações são feitas cada vez mais em canais digitais. Desde 2016, o número de agências caiu 17,1%, segundo dados da Febraban.

Eugênio Bucci* - Sadismo digital

O Estado de S. Paulo

Round 6 é um inventário digital do capitalismo em que sangramos e sangraremos, até a morte.

A série de maior sucesso na Netflix não é falada em inglês, não vem dos Estados Unidos nem da Europa. Round 6 é uma produção da Coreia do Sul e tem quase todos os diálogos em coreano, mesmo. A história gira em torno de uma olimpíada macabra, regida pela pena capital ou, mais propriamente, pela execução sumária. Cerca de 500 competidores disputam jogos diversos, mais ou menos como estes reality shows de televisão. A diferença é que, em Round 6, quem perde a rodada perde também a vida. Ao fim, um único sobrevivente levará o prêmio em dinheiro (algo em torno de R$ 200 milhões).

O grande trunfo de Round 6 está no show room de violência que ela entrega ao público. São cruezas horrendas e, ao mesmo tempo, fúteis. Os personagens se trucidam em close, nas mais variadas posições. Esqueça o que você já viu de esquartejamentos em filmes de mau gosto: Round 6 é pior, não necessariamente pelos ângulos de dissecação dos corpos, mas pelo contexto moral, em que o homicídio se cumpre em rituais frívolos.

Roberto Macedo* - PIB do terceiro trimestre pode vir com recessão

O Estado de S. Paulo

Há uma previsão de taxa positiva e outra, de taxa negativa, ambas de valor absoluto próximo de 0,1%

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará no início de dezembro a variação do produto interno bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano. No primeiro, foi de 1,2%, relativamente ao trimestre anterior, uma ótima taxa trimestral. Mas ficou por aí, e no segundo teve até pequena queda, de 0,1%. As perspectivas para o terceiro trimestre, examinadas mais à frente, são péssimas. Pode vir até outra taxa negativa, o que levaria o PIB a uma “recessão técnica”, marcada por dois trimestres consecutivos de queda. Se vier, será rasa em sua profundidade, mas incomodará, pois será mais um sinal de que a economia brasileira vai mal.

Passando à política econômica do governo Bolsonaro, ela é marcada pelo desgoverno. Desde o início, o presidente só pensa naquilo, ou seja, em ganhar a eleição de 2022. Despreza a questão fiscal, agora com a compra de votos no atacado, ao oferecer R$ 400,00 mensais de Auxílio Brasil para angariar apoio principalmente no Nordeste, onde sua rejeição é maior e Lula atrai a maioria. Mas Lula, também com pouco apego à questão fiscal, na sua campanha poderá prometer R$ 600,00, em lugar dos R$ 400,00 de Bolsonaro, e dizer, ainda, que estes só valerão até dezembro de 2022, e sua proposta seria de algo permanente.

Na economia também há forte inflação, no que a própria política governamental tem parte da culpa, porque a questão fiscal foi agravada com a PEC dos Precatórios, com o maior teto de gastos e com a insistência da Câmara dos Deputados nas chamadas emendas do relator, que acabaram tendo um assim-não-dá do Supremo Tribunal Federal. Mas o governo vai insistir, e tudo isso gera incertezas na economia, refletindo-se na taxa cambial, que aumenta e gera mais inflação, o que, por sua vez, leva a aumentos de juros pelo Banco Central, desestimula consumidores de bens e serviços e desencoraja empresários a fazer investimentos em formação bruta de capital fixo (mais infraestrutura, fábricas, fazendas e outros investimentos), que poderiam expandir o PIB e gerar mais empregos.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Contrastes na Covid

Folha de S. Paulo

Estatísticas mostram Brasil em situação favorável diante da desenvolvida Europa

Já se foi o tempo em que os números do Brasil relativos ao coronavírus —casos, mortes ou vacinação— ficavam entre os piores do mundo. A pandemia parece controlada por aqui, e países como os Estados Unidos e vários da Europa vivem situação muito pior, embora não esteja bem claro por quê.

Hoje algo como 50 a cada 1 milhão de brasileiros recebem confirmação de Covid-19 a cada dia. O país fica abaixo da média mundial, superior a 60 por milhão.

A desenvolvida Europa ultrapassa a casa de 380 novos casos diários por milhão, mais de sete vezes o número do Brasil. O Reino Unido tem 565/milhão, a Alemanha, 468, e os EUA, 253. São espantosas as cifras da Holanda, 847, e ainda mais as de países do Leste Europeu, como a República Tcheca (1.025).

As médias móveis de mortes também falam a favor da saúde pública brasileira, com 16 por milhão de cidadãos falecidos a cada dia. Um pouco acima da média global (12,7) e sul-americana (12,4), verdade. Nada escandaloso, contudo, diante da cifra europeia (68,3) ou da norte-americana (48,9).

O desempenho do programa de vacinação nacional, que destacou o Brasil no panorama mundial desde as últimas décadas do século 20, ajuda a explicar esse estado de coisas. Mesmo com a desídia e a antipropaganda do presidente Jair Bolsonaro, o Estado funciona à sua revelia e já garantiu a primeira dose a mais de três quartos da população em dez meses.

Para comparação, pouco mais da metade das pessoas no mundo receberam a imunização parcial. Estamos à frente da Alemanha (70%) e dos EUA (68%), mas atrás do Chile (87%) e de Portugal (89%), onde a quantidade inferior de habitantes e sua distribuição por territórios menores facilitam a logística.

Poesia | Charles Baudelaire – Os gatos

Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.

Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.

Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais termina;

Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.

Do livro As flores do mal
tradução: Ivan Junqueira

Música | Beraderos - Flor de Laranjeira (Live)

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cristovam Buarque* - Brasília tentou

Correio Braziliense 

A substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil faz lembrar que Brasília serviu de exemplo para um programa com impacto transformador na estrutura social, e faz perceber que a ideia inicial criada no Distrito Federal se transformou em programa assistencial.

Em 1987, no Núcleo de Estudos do Brasil Contemporâneo, da Universidade de Brasília (UnB), foi elaborada e divulgada a ideia de pagar às famílias pobres uma renda vinculada ao trabalho da mãe para assegurar frequência dos filhos à escola. A ideia carregava a criatividade de ao mesmo tempo mitigar a pobreza, graças à renda, e transformar a estrutura social do país ao colocar as crianças na escola. A renda reduzia a pobreza atual e a escola aboliria a pobreza futura quando as crianças crescessem educadas.

Em janeiro de 1995, a ideia surgida na UnB, se transformou em política pública do Governo do Distrito Federal. Brasília inovou ao criar o programa teoricamente na UnB, e levá-lo à prática de forma pioneira pelo Governo do Distrito Federal. Servindo de inspiração à prefeitura de Campinas, em São Paulo, graças ao prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, conhecido como Grama, e à cidade de Recife, graças ao prefeito Roberto Magalhães. Eleitos dois anos antes do governador do DF, eles começaram programas similares, embora sem o compromisso pleno de vinculação à educação: não adotaram a palavra “Escola” nem colocaram a gestão do programa nas Secretarias de Educação.

Vera Magalhães - É a cara do Bolsonaro

O Globo

Jair Bolsonaro se jactou, como parece que vem se esmerando em fazer em viagens ao exterior, de mais um legado de retrocesso: sim, depois de três anos de desmonte do Ministério da Educação, o Enem está deformado, a cara do governo.

Bolsonaro, é claro, falava daquela pasta ideológica que faz as vezes de suas ideias. Segundo seu tortuoso raciocínio, deve ser celebrado o fato de as questões da prova que deveria medir o conhecimento apropriado pelos estudantes do ensino médio e ser um dos passaportes desses alunos para a universidade reproduzirem essa mesma mixórdia pseudoconservadora em que ele acredita.

Sim, desta vez Bolsonaro acertou, mesmo por essas vias tortíssimas. O Enem tem a cara de um governo que destrói todas as políticas públicas e todos os marcos civilizatórios em que resolve tocar.

Bolsonaro implodiu o Bolsa Família. Achou que deveria ter um programa social com a sua cara, já que o anterior, uma política consolidada, com eficácia comprovada por evidências sociais e estatísticas e institucionalizada ao longo de sucessivos governos, teria a cara do Lula. Imaginem o pavor para um presidente inseguro e paranoico ter de pagar todo mês um benefício com a cara do principal adversário.

Bernardo Mello Franco - A viagem de Lula

O Globo

O ministro Onyx Lorenzoni está irritado com a viagem de Lula à Europa. O bolsonarista reclamou da cobertura da imprensa e acusou o ex-presidente de “falar mal do Brasil”. Fingiu confundir o país com o inquilino do Alvorada.

Lula tem usado o giro internacional para bater duro em Jair Bolsonaro. É o que se espera de qualquer candidato de oposição ao governo. Em Bruxelas, o petista citou o aumento da fome e do desemprego. Em Paris, lamentou a devastação da Amazônia e o fim do Bolsa Família.

Em clima de campanha, o ex-presidente temperou as críticas com mensagens de otimismo. “Apesar de tudo, digo com total convicção: o Brasil tem jeito”, afirmou, na segunda-feira. Foi a senha para dizer que ele próprio, Lula, está pronto e disponível para “reconstruir” o país.

O petista organizou uma agenda sob medida para mostrar prestígio internacional. Reuniu-se com o futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e será recebido hoje pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Bolsonaro não cultiva boas relações com a dupla. Ignorou o alemão no G20 e vive às turras com o francês desde que chegou ao poder.

Zeina Latif - PEC dos Precatórios: São muitos os sócios do oportunismo

O Globo

A PEC dos Precatórios – que está mais para PEC dos Pesadelos – abarca muitos “jabutis”, temas alheios ao seu objeto principal. Oportunistas se aproveitam da fraqueza do governo para obter benesses, colocando a culpa na pandemia, como se esta não tivesse exigido sacrifícios da maioria.

É o caso de mais uma ajuda a municípios, que só fazem procrastinar o ajuste de suas finanças. A PEC prevê o parcelamento em até 240 meses da dívida previdenciária, que totaliza R$126,5 bilhões, bem como a redução em R$36,3 bilhões com a redução de juros de mora, multas e outros encargos, segundo a CNM (Confederação Nacional dos Municípios).

Como agravante, abre-se exceção a uma regra constitucional, promulgada há apenas dois anos, que proibiu parcelamentos superiores a 60 meses.

Elio Gaspari - A China jogou pesado

Folha de S. Paulo / O Globo

Pequim aderiu à diplomacia de segunda

A revelação veio do repórter Marcelo Ninio. Depois que a China suspendeu a importação de carne bovina brasileira, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, pediu hora para falar ao telefone com seu equivalente, e Pequim respondeu que ele estava sem espaço na agenda. No pedido, não se havia especificado dia nem hora. A resposta esfarrapada foi grosseria inédita para uma diplomacia experimentada como a do Império do Meio.

De um lado, ela mostra como a China é capaz de jogar bruto quando acha que está numa posição de força. De outro, ensina que o governo do capitão cultiva malcriações delirantes, mas é, acima de tudo, disfuncional.

Fernando Exman - Bolsonaro joga luz sobre prévias do PSDB

Valor Econômico

Partido ganhou o status de adversário prioritário do chefe do Executivo em São Paulo

Embora previsível, o entrevero que resultou na suspensão do evento que formalizaria a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL ocorreu mais cedo do que estimavam aqueles que acompanhavam as negociações de perto. E quem saiu ganhando, desta vez, foi o PSDB.

A poucos dias das eleições internas que definirão o pré-candidato do partido, o PSDB está rachado. Ainda assim, ganhou o status de adversário prioritário do chefe do Executivo no principal colégio eleitoral do país.

Na aproximação entre Bolsonaro e PL, algum atrito era dado como certo. Foi-se o tempo em que ele mudava de partido sem fazer exigências.

Isso ocorreu quando passou pelo PTB (de 2003 a 2005), PFL (2005), PP (entre 2005 e 2016) e PSC (2016, 2017 e 2018). Eram seus tempos de baixo clero. A exceção foi o PSL, onde entrou em 2018 e do qual saiu brigado justamente por querer avançar sobre o domínio dos outros.

Daniel Rittner - Visitas presidenciais e promessas bilionárias

Valor Econômico

Histórico recomenda cautela com declarações e anúncios feitos em encontros de chefes de Estado ou governo

Jair Bolsonaro pede investimentos em Dubai. Paulo Guedes diz que a comitiva no Oriente Médio está atraindo petrodólares. Fábio Faria posa ao lado de Elon Musk e fala sobre uma parceria com a SpaceX para conectar regiões remotas da Amazônia com internet por satélite. Tarcísio Freitas garante que o capital árabe vai chegar em peso nas próximas concessões. Visitas presidenciais costumam ser ótimas ocasiões para promover um país e estabelecer contatos de alto nível. Estreitam relações, frequentemente servem como oportunidade para desatar nós, impulsionam acordos travados por algum impasse técnico. Mas o histórico recomenda cautela, muita cautela, com declarações e anúncios feitos em encontros de chefes de Estado ou governo.

Em outubro de 2019, Bolsonaro e seus ministros anunciavam em Riad um aporte de US$ 10 bilhões da Arábia Saudita em grandes projetos de infraestrutura no Brasil. Entusiasmado, Onyx Lorenzoni já comentava até quais eram as obras preferidas do governo para receber esse dinheiro. Dois anos depois, nenhum tostão chegou aqui.

Luiz Carlos Azedo - Viagem de Bolsonaro ao Oriente Médio agrada eleitores e mira em investidores

Correio Braziliense

O presidente não passou por constrangimentos em Dubai, no Bahrein e no Catar. E aproveitou o périplo para reforçar sua agenda interna e agradar sua base com declarações polêmicas

A viagem das Arábias do presidente Jair Bolsonaro para atrair investidores mirou tanto a sua base eleitoral quanto os petrodólares com os quais o ministro da Economia, Paulo Guedes, imagina financiar a retomada do crescimento da economia no próximo ano, diante de previsões catastróficas dos analistas internacionais, inclusive os da prestigiada revista The Economist, que “erra todas”, segundo o nosso Posto Ipiranga.

No domingo e na segunda-feira, Bolsonaro participou do fórum Invest In Brasil, em Dubai, promovido pela Apex-Brasil, e visitou o pavilhão da Embraer na Dubai Airshow, evento do setor aeroespacial, e o pavilhão do Brasil na Expo 2020, onde a numerosa delegação brasileira festejou a viagem, com a primeira-dama Michele roubando a cena. Dubai é um emirado novo-rico, aberto para o mundo para não depender de uma atividade econômica sem futuro, o petróleo, e criar uma economia baseada no comércio internacional e no turismo, atividades que respondem hoje por 95% da sua economia.

Com o dinheiro do óleo, descoberto na região em 1966, voou do século 18 para o século 21 em apenas uma geração, nas asas da melhor companhia aérea da atualidade. Com um dos mais importantes hubs aeronáuticos do Oriente Médio, tornou-se um centro financeiro e de negócios que atrai executivos e milionários de todo o mundo, devido à segurança e às atrações turísticas de altíssimo luxo. É uma cidade-estado de população global (83% são estrangeiros), com um único dono, Sua Alteza Shaikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, conhecido como Shaikh Mo.

Fábio Alves – A renda se esvai

O Estado de S. Paulo

Quando a inflação ultrapassa os dois dígitos, deixa uma fatura amarga para os mais pobres

A combinação de inflação mais acelerada e reajustes salariais aquém dos índices de preços ao consumidor, como reflexo de um mercado de trabalho ainda muito fraco, está levando os brasileiros a amargar uma perda de renda em velocidade espantosa.

Não à toa, os indicadores de vendas do varejo e de serviços registraram em setembro uma queda mais acentuada do que os analistas esperavam. Essa perda de renda pode afetar a atividade econômica neste quarto trimestre e em 2022.

Segundo o Salariômetro da Fipe, que acompanha os dissídios salariais no mercado de trabalho, o reajuste mediano resultante de acordos e convenções coletivas em setembro – apesar de nominalmente elevado, de 8,5% – ficou 1,9 ponto porcentual abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), maior perda nos últimos 12 meses.

Vinicius Torres Freire - Bolsonaro em fase de destruição fina

Folha de S. Paulo

Governo não tem dinheiro para reajuste de servidor e também alugar o centrão 

Gente que vai deixar de receber auxílio emergencial faz fila para entrar no Cadastro Único, a lista de quem quer receber o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família. A partir de agora, uns 19 milhões vão ficar sem auxílio emergencial e sem Auxílio Brasil.

De modo discreto, essa fila da fome apareceu aqui e ali, em jornais e TVs. Não se dá muita bola para esses "invisíveis" à vista.

De modo espalhafatoso, Jair Bolsonaro disse que quer dar aumento para os servidores federais. Se conseguir, não vai sobrar mais nada daqueles R$ 91,6 bilhões que pretende arrumar com o calote dos precatórios e com o reajuste do teto de despesas do governo.

Não sobraria nada para aumentar o dinheiro de emendas parlamentares: para pagar o aluguel do centrão. Não sobraria nada para aqueles 19 milhões na fila da fome. Já não estava previsto que essas pessoas recebessem ajuda. Agora, Bolsonaro junta insulto ao prejuízo.

Bruno Boghossian - O dilema Biden-Sanders

Folha de S. Paulo

Petistas ainda calculam movimentos para alargar base eleitoral do ex-presidente

Lula e Geraldo Alckmin decidiram trocar gentilezas em público depois que circularam planos para a formação de uma chapa entre os dois no ano que vem. O tucano afirmou na semana passada que o ex-presidente tem apreço pela democracia. O petista retribuiu e disse que tem uma "extraordinária relação de respeito" com o ex-governador paulista.

Famoso por dar declarações ensaboadas quando quer escapar de assuntos espinhosos, Alckmin fez questão de deixar a porta aberta para conversar. Lula, que costuma fazer piada quando surgem especulações sobre candidatos a vice, preferiu dançar em torno do tema e fez um aceno ao dizer que não há nada que não possa "ser reconciliado".

Hélio Schwartsman - Covid-19 ainda é um grande problema

Folha de S. Paulo

Quanto mais o vírus circula, maior a chance de surgirem variantes ameaçadoras

Países que acreditaram ter controlado a Covid-19 por meio da vacinação se veem engolfados em novas ondas de contaminação. Meu propósito aqui não é deprimir o leitor.

As novas ondas são substancialmente menos letais que as anteriores e atingem mais o público que escolheu não imunizar-se. São, ainda assim, um problema. O fato de um indivíduo ser tolo não é razão suficiente para que o poder público perca o interesse em preservar sua vida. Quando a circulação do vírus aumenta, aumenta também a morbimortalidade entre os que fizeram tudo certinho, mas tiveram a infelicidade de não responder tão bem ao biofármaco —em geral idosos e imunossuprimidos.

Mariliz Pereira Jorge - Bolsonaro e o sexo matinal

Folha de S. Paulo

Deu uma aula sobre como qualquer pessoa jamais deveria se comportar

Jair Bolsonaro é o típico conservador que diz preferir um filho morto a um gay, fala em nome da família "tradicional", repudia a educação sexual nas escolas, mas usa um evento oficial do governo para insinuar que transou com sua mulher horas antes. Só faltou dar uma ajeitada nas partes íntimas para coroar o momento constrangedor.

Longe de mim ser pudica. Escrevi durante mais de dez anos sobre sexo em revistas masculinas. Levava àquele público a visão feminina, a minha, sobre a temática na tentativa de diminuir o abismo que há entre homens e mulheres em tópicos como desejo, frequência, filme pornô, consentimento e tudo o mais que deve ser discutido. Ou seja, tudo.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

PEC para toda obra

Folha de S. Paulo

Em sanha eleitoreira, Bolsonaro fala em usar calote para dar benesse a servidor

Faz dois meses que Jair Bolsonaro se dedica a golpear a economia, dilapidando a ordem restante nas contas públicas a fim de diminuir sua rejeição nas urnas. Tal atitude não é rara no país, ao contrário. Mas o comportamento eleitoreiro de Bolsonaro é dos mais vulgares, sem subterfúgios.

Nesta terça-feira (16), o presidente declarou que pretende reajustar aos salários de "todos os servidores federais, sem exceção". Ainda acrescentou, sem pejo ou lógica: ‘Dessa maneira, estamos mostrando responsabilidade".

O dinheiro para a benesse do reajuste viria dos recursos criativamente criados pela PEC dos Precatórios, a proposta de emenda constitucional que prevê um calote em parte dessas dívidas, além de elevar o teto anual de gastos federais.

A matéria ainda depende de aprovação no Senado. Caso permita despesas extras da ordem de R$ 91,6 bilhões em 2022, como prevê o governismo, o dinheiro talvez não seja bastante para satisfazer aos desejos do Palácio do Planalto, do centrão e do Parlamento em geral.

Os servidores federais estão sem reajuste desde o início da epidemia. O Orçamento do próximo ano não prevê correção dos salários.

Poesia | Pablo Neruda - Tenho fome da tua boca

 

Música | Chico Buarque l Todo sentimento

 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Merval Pereira - A mesma linguagem

O Globo

A demonstração exemplar de que o presidente Bolsonaro já não é mais o mesmo está contida na discussão virtual de baixo calão que teve com seu grande líder político Valdemar da Costa Neto, dono de fato e direito do Partido Liberal (PL). Estou falando do ponto de vista de poder, e não de ideologia, pois Bolsonaro, como admitiu recentemente, sempre foi do Centrão, embora figura do baixo clero que nunca teve expressão política nos nove partidos dos quais já fez parte.

Não é mais o mesmo porque não encontra uma legenda que aceite suas condições, e nem conseguiu criar a sua própria, num quadro partidário que tem mais de 35 partidos em ação, e outros tantos pedindo registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com o PSL, seu último  partido, por cuja legenda elegeu-se presidente da República, a briga foi pelo butim partidário. Junto com o PT, o PSL é o partido mais rico com os fundos partidário e eleitoral, graças ao tsunami eleitoral liderado por Bolsonaro em 2018.

Míriam Leitão - Mil e uma mentiras nos países árabes

O Globo

O que leva esse governo a repetir mentiras com tanta frequência, e de tão forma compulsiva? Ontem, em apenas uma apresentação em Dubai, foi uma sucessão de falsidades. A Amazônia não pega fogo porque a floresta é úmida, mais de 90% dela permanece como estava em 1500, os ataques que o governo sofre quando se fala de Amazônia são injustos, disse o presidente Jair Bolsonaro. O Brasil está crescendo acima da média mundial e mesmo na recessão de 2020 criou emprego, disse o ministro Paulo Guedes. Os fatos: o governo Bolsonaro estimulou a grilagem e o desmatamento na Amazônia e, por isso, a destruição da floresta voltou a superar 10 mil km2 por ano e tem tido recorde de focos de incêndio. Na economia, o Brasil terá um PIB positivo este ano, mas abaixo da média mundial. No ano que vem, o mundo crescerá forte e o Brasil ficará estagnado. E não, o país não criou emprego no ano passado. Ao contrário, em 2020 houve destruição de empregos como registram as estatísticas do IBGE.

É cansativo, toma tempo, ficar desmentindo o que dizem os integrantes deste governo em qualquer área. O hábito da mentira que sempre acompanhou Bolsonaro, em sua vida pública, contaminou o governo. Os ministros em geral se comportam à moda Bolsonaro, repetindo afirmações falsas, totalmente descoladas da realidade.