O Estado de S. Paulo
As relações de trabalho passam por duas
transformações. A primeira tem a ver com o rápido crescimento do trabalho
autônomo, situação em que as pessoas ativas deixam de ser assalariadas e passam
a operar como freelancers ou por conta própria. Faz parte desse segmento a
chamada gig economy, aquela dos “fazedores de bicos” e dos operadores do Uber e
do ifood.
A outra revolução está na enorme destruição
de funções e, também, na criação de outras. É dessa segunda transformação que
esta Coluna começa a tratar. O desaparecimento rápido de postos de trabalho
acontece por força de dois fatores: pela disseminação da tecnologia digital e
pela inevitável erradicação dos combustíveis fósseis.
A perda de empregos pelo uso de tecnologia digital foi mais bem notada. Há alguns anos, no Brasil, duas das mais importantes categorias profissionais, bancários e comerciários, estão à míngua, como a dos alfaiates e das costureiras depois do aparecimento da indústria de confecção. Os bancos estão fechando agências e demitindo funcionários porque as operações são feitas cada vez mais em canais digitais. Desde 2016, o número de agências caiu 17,1%, segundo dados da Febraban.
No comércio varejista crescem as compras
online. Lojas e shoppings se transformam em simples showrooms e vão dispensando
vendedores. Os que continuam lá passam a trabalhar mais como demonstradores de
produto do que como vendedores.
Mas esses são apenas exemplos. A tecnologia
vai desempregando gente em outras atividades. Os trabalhadores de call centers
vão sendo substituídos por dispositivos automáticos em que o consumidor fica a
digitar um algarismo atrás do outro e só é atendido por algum humano depois de
ter de ouvir insistentes musiquinhas. E sabe-se lá quantos empregos mais
desaparecerão com a conexão 5G e com o avanço da Internet das Coisas.
A transição energética é outra grande
destruidora de empregos. À medida que a frota a diesel e gasolina for sendo
substituída pelo carro elétrico, oficinas mecânicas terão de se transformar em
elétricas, sumirão os frentistas de postos de combustível, como já sumiram em
outros países. O veículo autônomo vai dispensar aos milhares motoristas,
caminhoneiros, ajudantes...
Não se pode olhar apenas pelo lado da perda
de empregos. Essas transformações também criarão novos postos de trabalho. Mas
não na mesma proporção em que serão fechados.
De todo modo, será preciso reciclar a mão
de obra que será dispensada por meio de treinamentos, cursos e estágios.
E é o que veremos na Coluna desta sexta-feira.
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