sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

7 de Setembro traz oportunidade de paz institucional

O Globo

Oportunismo político nas celebrações previstas para a data agravaria a polarização

O pior recado que os líderes políticos poderiam transmitir nas comemorações do 7 de Setembro previstas para amanhã será o acirramento da polarização que castiga o país. É compreensível que, em ano eleitoral, qualquer manifestação se torne foco de embate político. Mas todo choque de ideias deve se dar dentro das regras democráticas. E a data nacional não deve se prestar a oportunismos partidários. Ao contrário, trata-se de momento propício para recobrar o clima de normalidade no país. A paz institucional é condição necessária para o desenvolvimento do Brasil, e todos os atores políticos deveriam ter a maturidade de compreender isso.

No evento previsto para ocorrer no Eixo Monumental, em Brasília, estarão hasteadas as bandeiras dos países que integram o G20, referência ao encontro de chefes de Estado e governo das maiores economias no Rio em novembro. Instituições como Forças Armadas, SUS e Correios, serão homenageadas, com toda a justiça, pelo desempenho fundamental para reduzir os danos da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul. Estão previstas também a presença de atletas que participaram dos Jogos Olímpicos em Paris e mensagens sobre a retomada da vacinação. Como costuma acontecer todos os anos, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram convidados, além de autoridades do Legislativo e comandantes militares. O evento precisa se ater — como sugere a programação — ao aspecto institucional.

Fernando Abrucio -Antipolítica pode minar a democracia

Valor Econômico

É preciso combater os extremistas antissistema, mas também é fundamental melhorar a política democrática

Já houve época em que votar contra a classe política era uma forma de protesto bem-humorado. Foi assim em 1959, quando o rinoceronte Cacareco obteve quase 100 mil votos para vereador em São Paulo, ou com o Macaco Tião, que recebeu cerca de 400 mil votos na disputa para prefeito do Rio de Janeiro em 1988. Muitos outros tiveram sucesso no Legislativo bradando contra o sistema, como o deputado Tiririca e seu famoso lema: “Pior que tá não fica”. Ainda há excentricidades concorrendo por todo o Brasil em 2024, mas a antipolítica agora mudou de face: seu objetivo maior não é só ridicularizar as instituições democráticas. É destruí-las para instaurar alguma forma de autoritarismo.

A antipolítica ganhou força em boa parte do mundo nos últimos anos, geralmente presente em candidatos e partidos ligados a um extremismo de direita. E na maior parte desses casos, o discurso antissistema tem como propósito principal minar a democracia. Trata-se de uma mudança tanto na oferta das lideranças políticas, como também na demanda de parcela importante da população.

José de Souza Martins - Limitações da inteligência artificial

Valor Econômico

Ela não supre a carência criada pelos descartes de talentos que provoca

A principal limitação do debate sobre inteligência artificial é a praticamente nenhuma referência à superioridade e à necessidade da inteligência tradicional. O desencontro entre a expansão das funções da inteligência artificial e a lentidão de adaptação dos seus descartados à modernidade que ela representa responde por um doloroso processo de exclusão social, que é anticapitalista e inimigo da empresa.

A inteligência artificial nasce e prospera para suprir, e não para substituir a inteligência natural e tradicional, para completá-la e ampliar o domínio do que é inteligente sobre o que é espontâneo. Foi Gramsci, pensador italiano vítima do fascismo, quem sublinhou a importância do bom senso do homem comum na realidade social.

Andrea Jubé - Marçal encontra Dostoiévski: diálogos imaginários

Valor Econômico

Em mais um dia de céu cinza da fumaça de incêndios e ar insalubre, o candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) esbarrou com o escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), autor de “O idiota”, em uma avenida importante da capital. A coluna recuperou trechos do diálogo imaginário.

- Ouvi falar de você, disse Dostoiévski, iniciando a conversa, como era de se esperar de um jornalista e escritor.

- Deve ser das redes sociais, sou “influencer” de alcance internacional, disse Marçal.

- Rede social? Desconheço. Minhas ferramentas de são papel, caneta-tinteiro e a alma humana. Uma vez, contratei uma estenógrafa, e me casei com ela, relembrou o russo.

- Papel?... Ora, temos algo em comum, sou “coach” e também desbravo a alma humana. Meus seguidores e apoiadores fazem quase tudo o que eu recomendar.

César Felício - Pesquisa indica que horário eleitoral fez diferença em SP

Valor Econômico

horário eleitoral gratuito ainda é um fator importante para a definição de voto em São Paulo. A pesquisa Datafolha de intenção de voto para prefeito divulgada nesta quinta-feira (5) resolve a dúvida que havia sobre a relevância dessa propaganda, mencionada na última coluna "Pergunte aos Dados" publicada no Valor. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição e proprietário de 65% do tempo de propaganda na TV, foi o que mais cresceu na pesquisa, passando de 19% para 22%. Pablo Marçal (PRTB), senhor absoluto das redes sociais e sem um segundo sequer no horário eleitoral, cresceu também, mas apenas um ponto percentual, indo de 21% para 22%. A variação é pequena para ambos, mas quando se olha a curva dos últimos levantamentos se nota uma mudança de tendência. É um panorama completamente diferente ao que havia até a semana passada, quando o influencer havia subido sete pontos na rodada anterior e Nunes caído.

Bruno Boghossian - Onda de Marçal ainda não virou tsunami

Folha de S. Paulo

Nova pesquisa indica que três candidatos têm base para manter o jogo aberto até o dia do 1º turno

A onda de Pablo Marçal (PRTB) na eleição da capital paulista se mostrou consistente e volumosa, mas não virou o tsunami projetado pela campanha do ex-coach. A nova pesquisa Datafolha indica que os três líderes da corrida têm uma base sólida o suficiente para manter o jogo aberto por mais algumas semanas.

A freada brusca de Marçal sugere que sua candidatura enfrenta um momento diferente da euforia do início da campanha. Alvo de quase todos os adversários, ele manteve um patamar que o consolida como nome competitivo e cercado de apoiadores convictos: 70% de seus eleitores dizem que não mudam de voto.

A artilharia que destacou o passado e as ligações do ex-coach, porém, parece ter contribuído para interromper sua trajetória de alta. Desde a última pesquisa, Marçal se tornou mais conhecido e viu sua rejeição subir de 34% para 38%. De cada dois eleitores que o conhecem, um diz que não vota nele de jeito nenhum.

Marcos Augusto Gonçalves - Com Marçal, eleição é uma roleta-russa

Folha de S. Paulo

Candidato do PRTB está mais próximo do millennial Nayb Bukele e também de Milei na visão empresarial e no individualismo selvagem

notícia da viagem ao exterior de Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, é mais uma demonstração de que o autodenominado ex-coach não veio para brincadeiras. A ideia de buscar respaldo de marketing em encontros com líderes internacionais no campo do ultraliberalismo ou do populismo de extrema direita não é em si nenhuma novidade. Chama, contudo, a atenção o fato de o planejamento da turnê começar pelo presidente de El Salvador, Nayb Bukele.

Os paralelos entre os dois personagens, em que pese a diferença de estágio em que se encontram em suas carreiras, são reveladores. Embora Marçal possa ser inscrito no mesmo contexto político-ideológico de nomes como Donald Trump, Javier Milei, Bolsonaro e Orbán, há características e nuances que diferenciam essas figuras entre si.

Vinicius Torres Freire - Gasto federal em saúde é recorde

Folha de S. Paulo

Despesa está na mira de Fazenda e Planejamento, que vão tentar contenção fiscal duradoura em 2025

A despesa do governo federal com saúde jamais foi tão alta. Era provável que aumentasse sob Luiz Inácio Lula da Silva, pois, com o novo arcabouço fiscal, voltou a vinculação do gasto com saúde à receita; o governo de resto não diminuiria gastos ditos discricionários. Foi a 1,83% do PIB, nos últimos 12 meses. No início de Lula 3, era de 1,37% do PIB. Na média de 2009 a 2019, de 1,47% do PIB.

Em dinheiro, foi um aumento de quase R$ 60 bilhões desde o início deste governo, para R$ 209 bilhões, excluídos gastos com salários e aposentadorias de servidores (valores corrigidos pela inflação). É mais do que se destina ao Bolsa Família, que levou R$ 171 bilhões nos últimos 12 meses. Nos grandes agregados da despesa federal, o gasto com saúde fica atrás de Previdência (INSS), que leva 8,35% do PIB, e de Pessoal (salários, benefícios, aposentadorias), com 3,48%. A receita total do governo foi de 18,17% do PIB nos últimos 12 meses. A despesa, de 20,21%.

Vera Magalhães - Bolsonaro vai à Paulista esvaziado

O Globo

Ex-presidente não conseguiu unir a direita em São Paulo, vê seu candidato levar uma surra no Rio e não tem chance em sua cruzada contra o Judiciário

Jair Bolsonaro convocou mais um ato de 7 de Setembro na expectativa de reforçar sua liderança política e de novo confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF), mas chega à data com o palanque cindido em São Paulo, com seu principal candidato, Alexandre Ramagem, levando uma surra no Rio de Janeiro e com a possibilidade de reverter sua situação de inelegibilidade bastante reduzida no próprio STF e também no Congresso.

Dificilmente o ex-presidente conseguirá repetir na Avenida Paulista o quórum de outros feriados. Mesmo a decisão do ministro Alexandre de Moraes de proibir o X no Brasil, usada para reunir a tropa, tem alcance limitado às franjas mais sectárias de uma base que parece já olhar para o lado e enxergar outras lideranças para o lugar do capitão. E, pior para ele, essas caras não são necessariamente aquelas que o ex-Mito decidiu ungir.

Bernardo Mello Franco - Jogo bruto na Câmara

O Globo

Arthur Lira puxou o tapete do aliado mais próximo. O chefão da Câmara havia prometido apoiar Elmar Nascimento em sua sucessão. Na terça-feira, rifou o amigo e fechou com Hugo Motta.

A traição muda a ordem de largada na corrida pela presidência da Câmara. Sem o padrinho poderoso, Nascimento perdeu a primeira posição. Motta, que nem figurava no grid, agora desponta na pole.

Como faltam cinco meses para a eleição, ainda há tempo para novas surpresas. Mas a reviravolta desta semana já permite algumas conclusões: o Centrão não é tão unido quanto gostaria; a palavra de Lira está longe de valer o que ele diz; esquerda e direita significam cada vez menos no jogo bruto da Câmara.

Flávia Oliveira - Cidadezinha qualquer

O Globo

Faz poucos dias, o IBGE apresentou ao país as projeções atualizadas da população. Território inteiro, grandes regiões, todas as 27 unidades da Federação, 100% dos 5.570 municípios. São números importantes para diagnósticos socioeconômicos, formulação de políticas públicas, repartição de recurso orçamentários. O Brasil é um país profundamente assimétrico, capaz de comportar, na maior cidade, São Paulo, 11,9 milhões de habitantes; e na menor, Serra da Saudade (MG), 854. Cada uma delas elegerá prefeito e vereadores em um mês.

Um em cada cinco brasileiros vive em metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes. São 15 municípios nessa faixa, 13 deles capitais. No Rio, aglomeram-se 6,7 milhões. Quase um terço da população total de 212,6 milhões, segundo o IBGE, mora em 48 localidades com mais de 500 mil habitantes. São cidades médias, para onde famílias inteiras costumam migrar em busca de vida mais tranquila, sem a hostilidade comum aos centros urbanos.

Paulo Feldmann - Limites às gigantes da tecnologia

O Globo

As empresas precisam respeitar as regras e legislações dos países onde estão localizadas

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem insistido que é necessário taxar as empresas gigantes da tecnologia, as big techs. As principais delas — como MicrosoftGoogle, X, Amazon, AlibabaFacebook/WhatsAppApple — têm valor de mercado hoje próximo a US$ 10 trilhões, muito maior que o PIB de toda a América Latina. Haddad acerta em querer taxá-las, mas seu objetivo é apenas aumentar a arrecadação — isso, segundo ele, representaria R$ 5 bilhões adicionais aos cofres públicos. Trata-se de medida tímida diante da ameaça que elas representam à economia e, principalmente, à democracia. A reação arrogante e desrespeitosa de Elon Musk, dono do X, à decisão do STF (querendo apenas que a legislação brasileira fosse cumprida) e, portanto, a nosso país é bem típica do que está para acontecer com as big techs.

Eliane Cantanhêde - Regulamentação já!

O Estado de S. Paulo

Internet mudou o mundo, para o bem e o mal, e está por trás de jogatina, golpes, crimes e manipulação

A prisão da “influencer” Deolane Bezerra joga luzes sobre as apostas esportivas, ou bets, seus bilhões, aviões, iates e carrões. Quando você puxa o fio, vem um novelo, ficando claro o poder avassalador da internet no mundo, para o bem e para o mal, sob o risco de ficar acima de constituições, leis e instituições, até assumir o controle de estados nacionais e sociedades. Assim como a ministra Marina Silva teme o fim do Pantanal até 2050, pode-se imaginar a destruição do Estado pelo poder paralelo da internet lá adiante?

Organizações criminosas e pessoas inescrupulosas usam intensamente a internet para atrair pessoas fragilizadas para jogos em que acabam se viciando e jogando fora o que têm e o que não têm. Também usam algorítimos para capturar vítimas potenciais de golpes bancários e financeiros e se embolam com esquemas políticos e organizações ideológicas para transformar “outsiders” em candidatos, manipular o eleitor com Fake News, fraudar eleições e, em última instância, articular atentados à democracia.

Flávio Tavares - Nossa independência no abismo?

O Estado de S. Paulo

Dos desvios idiomáticos aos problemas enfrentados nas contas públicas, o Brasil corre o risco de perder sua independência

O mês de agosto terminou há pouco, mas dele fica aquela rima que virou repetido refrão: “Agosto, mês do desgosto”. E há pretextos (ou até motivos) para isso: agosto foi o mês da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Nove anos depois, aqui, no Brasil, o assassinato do major Rubens Vaz desencadeou uma crise política profunda que culminou, em 24 de agosto de 1954, com o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Em 22 de agosto de 1976, vivíamos ainda sob ditadura quando o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu num acidente automobilístico na Via Dutra, nunca esclarecido e que, por isso, até hoje levanta suspeitas.

Mas agosto já passou, agora estamos em setembro e, amanhã, dia 7, festejamos 202 anos da proclamação da Independência do Brasil. É o “Dia da Pátria”, rememorando o histórico “grito do Ipiranga”, atualmente comemorado com desfiles militares e outras demonstrações de que somos independentes.

Vivemos hoje, no entanto, uma invasão estrangeira que pode transformar o estilo de vida e, especialmente, o idioma e as diferentes formas de comunicação. Se isso se consumar, perderemos nossa “independência”.

O poeta Fernando Pessoa já escrevia que “minha pátria é a Língua Portuguesa”, atualmente invadida pelo idioma inglês, tal qual no século 19 fora, em parte, invadida pelo francês. Camões, poeta maior de nossa língua, tem um soneto sobre o idioma português que vai às origens da língua derivada do latim vulgar: “Última flor do Lácio, inculta e bela / és a um tempo esplendor e sepultura / ouro nativo que na ganga impura / a bruta mina entre os cascalhos vela”.

Celso Ming - Pouso suave à vista?

O Estado de S. Paulo

A redução dos juros e o fim do temor de recessão da economia dos Estados Unidos podem melhorar o ambiente da economia global

Até mesmo o desempenho da economia brasileira será fortemente influenciado pela ação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que dia 18 deverá dar início ao processo de queda dos juros básicos, como já prometeu seu presidente, Jerome Powell.

Esses juros estão em seu nível máximo (de 5,25% a 5,50% ao ano) desde julho de 2023. Mas Powell não passou nenhuma dica sobre a dosagem do primeiro corte e de quanto tempo levará esse movimento. E nem podia chegar a tais pormenores. Vão depender de regulagem mais fina em que serão levados em conta a intensidade da inflação, o vigor da atividade e as condições do mercado de trabalho. Há projeções e palpites de toda ordem, alguns por corte mais alentado agora, da ordem de meio ponto porcentual e outros, de que não passará de um quarto de ponto.

Luiz Carlos Azedo - Mineradoras querem distância do garimpo

Correio Braziliense

A Corte de Justiça britânica, os tribunais europeus e dos Estados Unidos estão se considerando competentes para julgar desastres ecológicos em terceiros países

O CB Debate desta quinta-feira (05/09) traz como tema Segurança Jurídica e a Competitividade da Mineração Brasileira. Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), participou do painel Desafios Tributários e Regulatórios que Ameaçam a Competitividade da Mineração Brasileira. - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

"Nós não temos absolutamente nada a ver com o garimpo ilegal e somos radicais nesse sentido. Garimpo ilegal é caso de polícia, é caso de cadeia, quero frisar isso com muita clareza", disse o ex-ministro Raul Jugmann, diretor presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), durante o seminário Segurança Jurídica e Competitividade da Mineração Brasileira, promovido pelo Correio Braziliense, ontem, em parceria com a entidade.

O presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado, ressaltou a importância do evento para discutir o futuro do setor minerador no Brasil: "Só no primeiro semestre (deste ano), o setor de mineração representou 41% dos dados da balança comercial brasileira com faturamento de mais de R$ 120 bilhões", apontou.

Poesia | Soneto do amor total - Vinicius de Moraes

 

Música | Eduardo Gudin com Luciana Alves - Ainda Mai

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Maduro expõe fracasso da estratégia de Lula

O Globo

Ordem de prisão contra oposicionista vencedor da eleição comprova que ditador não quer saber de diálogo

A decisão do ditador Nicolás Maduro de mandar a Justiça prender, sob acusações absurdas, Edmundo González, o oposicionista vencedor das eleições de 28 de julho, expõe de modo eloquente o fracasso da estratégia adotada até aqui pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise venezuelana. Depois da fraude escancarada nas eleições de julho, o Brasil se aliou à Colômbia e apostou no diálogo para encontrar uma saída. Só que, apoiado pelas Forças Armadas, Maduro nunca quis saber de conversa.

Roberto Macedo - Surpreendeu o aumento do PIB no 2º trimestre, mas...

O Estado de S. Paulo

Minha sensação é de que estamos passando por outro ‘voo de galinha’. Perspectivas à frente são de um crescimento menor

Conforme anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2024, à taxa de 1,4%, relativamente ao trimestre imediatamente anterior, surpreendeu os analistas do mercado, que majoritariamente previam 0,9%, uma diferença bastante expressiva. Parte dela é explicada pelo fato de que muitos consideraram o efeito negativo das enchentes no Rio Grande do Sul, mas tudo indica que os fortes gastos de reconstrução atuaram em sentido contrário. O número do primeiro trimestre do ano foi revisado de alta de 0,8% para 1%.

Do lado da oferta, destacam-se o crescimento da indústria, de 1,8%, e do setor de serviços, de 1%, sendo que este setor é o mais importante da economia, respondendo por cerca de 2/3 dela. No caso da demanda, os destaques foram o aumento dos investimentos, ou formação bruta de capital fixo, que foi de 2,1%; e o aumento do consumo das famílias (1,3%) e do governo (1,3%). No setor externo, as exportações cresceram 1,4% e as importações, 7,6%.

Celso Ming - PIB veio forte, mas problemas continuam

O Estado de S. Paulo

Problemas estruturais continuam sinalizando que são necessárias mudanças para que os resultados não sejam negativos mais à frente

Vale a comemoração pelo avanço robusto do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre sobre o anterior, de 1,4%. Essa força deixou um carrego superior a 2,5% para este ano. Mas, atenção, os problemas estruturais persistem e até aumentaram, o que põe em dúvida os bons resultados lá na frente.

Uma das três boas surpresas que explicam em boa parte o bom crescimento do PIB tem a ver com a recuperação mais rápida e mais consistente da economia gaúcha que, em abril e maio, foi assolada pelas enchentes. O Estado pesa cerca de 6% no PIB do Brasil e, graças à transferência de recursos federais e à resiliência de sua gente, setores como de materiais de construção, aparelhos e utensílios domésticos, móveis, veículos e serviços mostraram pronta reação.

Míriam Leitão - Surpresas do PIB e sinais de alerta

O Globo

As notícias positivas previstas por bons economistas no início do ano estão se confirmando: basta ver os dados do PIB e do emprego

A frase mais comum na economia ultimamente é que os dados surpreenderam. O PIB do segundo trimestre foi mais uma surpresa, assim como foram os números do mercado de trabalho. Há um debate global na economia sobre a falta de precisão dos modelos de projeção em alguns indicadores. Mas o mais importante que isso é entender que, até agora, houve uma série de boas notícias. A economia crescerá perto de 3% pelo terceiro ano e o componente do PIB que mais subiu neste segundo trimestre foi o investimento. A atividade econômica está mais disseminada pela indústria e pelos serviços, ao contrário do crescimento impulsionado apenas por um setor, como ocorreu no ano passado com o agro.

Escrevi aqui na coluna que este ano seria de crescimento maior do que o previsto e com uma qualidade maior. Disse isso, por exemplo, no texto publicado em 3 de março, a “Fotografia da economia”. Desde o início do ano, entendi que era preciso preparar-se para as surpresas positivas. Elas estão se confirmando, ainda que haja sombras no horizonte. Um economista que ouvi na ocasião foi Mansueto Almeida, do BTG, e ele previa o que está acontecendo: um crescimento melhor, com recuperação do crédito, dos salários e melhora gradual do investimento.

Joseph Stiglitz - A economia dos EUA se Trump vencer

Valor Econômico

Embora demagogos populistas como Trump não se importem com déficits, investidores nos EUA e no exterior deveriam ficar preocupados

A eleição presidencial dos Estados Unidos em novembro é crucial por muitos motivos. O que está em jogo não é apenas a sobrevivência da democracia americana, mas também a gestão apropriada da economia, com implicações de grande alcance para o resto do mundo.

Os eleitores deparam-se com uma escolha não apenas entre diferentes políticas econômicas, mas entre os diferentes objetivos dessas políticas. Embora a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, ainda não tenha detalhado plenamente sua agenda, ela deverá continuar com os pilares básicos do programa de Joe Biden, entre os quais políticas sólidas para manter a concorrência entre empresas, preservar o ambiente, reduzir o custo de vida, sustentar o crescimento, reforçar a soberania e a resiliência econômica nacional e mitigar a desigualdade social.

Maria Hermínia Tavares - O Brasil e a proposta de expansão do Brics

Folha de S. Paulo

Com a ampliação de 2023, a que o Brasil resistiu, grupo perdeu nitidez de propósitos

Mudanças importantes em curso na cena internacional propõem desafios inéditos para a política externa brasileira e exigem revisão das visões e estratégias que a caracterizaram ao longo de muitas décadas. Um desses desafios é decidir o que fazer com o Brics diante da segunda ampliação do bloco proposta por China e Rússia.

Durante 14 anos, o grupo foi formado pelos quatro países que o fundaram em 2009 e lhe deram o nome —Brasil, Rússia, Índia e China— mais a África do Sul, que a ele se juntou logo depois, daí o S final da sigla.

No ano passado, incorporou cinco novos membros, nenhum conhecido por praticar a democracia.

Luiz Carlos Azedo - Depois das chuvas, a seca assola o Brasil

Correio Braziliense

Muitas cidades registraram clima igual ao do Saara, que varia de 14% aos 20% de umidade. Como Brasília, 10 chegaram a registrar apenas 7%

“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.

— Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.”

Vidas Secas (Editora Record), romance de Graciliano Ramos, publicado em 1938, de 176 páginas, é uma obra-prima da literatura brasileira. Retrata a vida miserável de Fabiano e sua família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar, de tempos em tempos, para áreas menos castigadas pela seca. São cenas que parecem distantes, principalmente depois de o canal do Rio São Francisco irrigar boa parte do semiárido do Nordeste, mas que podem se repetir em regiões inimagináveis, como os igarapés e várzeas da Amazônia, e áreas alagadas do Pantanal, castigadas pela seca e em risco de desertificação.

Maria Cristina Fernandes - Sucessão das mesas será mais longa e arriscada

Valor Econômico

Quanto mais durar a disputa pelo comando do Congresso, mais desgaste os achados de Dino, CGU e TCU provocarão sobre seu colégio eleitoral

A reviravolta na disputa pela presidência da Câmara, com a desistência do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), segundo nome no comando da Mesa, é só um aperitivo. O que está em jogo é o comando daquela que se tornou a maior unidade orçamentária da República. A instabilidade é filha desse gigantismo.

A sucessão das mesas diretoras costuma ter início quando a eleição municipal termina. Os partidos contam os exércitos conquistados para a batalha das eleições legislativas dali a dois anos, olham para o tamanho em que ficou o chefe do Executivo do outro lado da praça, e fazem os acertos que resultam nas mesas diretoras.

A antecipação da sucessão foi antes uma demonstração de fragilidade do que de força do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ao fazê-lo, esperava se valer do poder, que se esvai a cada dia, sobre a pauta de votações. A abdicação de Pereira em favor do correligionário Hugo Motta (PB) está longe de ser hostil a Lira, mas desarranja o jogo.

Bruno Boghossian - Lula e Lira ensaiam renovação de um pacto

Folha de S. Paulo

Reviravolta em sucessão na Câmara abre caminho para preservar arranjo entre os dois lados

No início do mandato, Lula andava por aí dizendo que, para sobreviver no Congresso, precisaria conversar "com quem não gosta da gente". Lá pelas tantas, o presidente chamou o centrão ao Palácio da Alvorada para um desses papos e entregou ao grupo de Arthur Lira um par de ministérios e o comando da Caixa.

Seria exagero dizer que o governo passou a ter vida fácil depois do acerto. Os termos da relação, porém, se tornaram um pouco mais previsíveis. Lula reconhece a bizarra situação em que o presidente da Câmara se recusa a conversar com o ministro responsável pela articulação política, mas procura navegar dentro dos limites do poder do centrão.

Vinicius Torres Freire - A política no mundo de Deolanes e Marçais

Folha de S. Paulo

Ideias e representantes de influenciadores começam a avançar para o centro do poder

Talvez nunca antes tenhamos tido tanta informação a respeito de interesses e vontades mais gerais, do que se sabe agora por causa da voz do povo nas mídias sociais e dos meios de pesquisa de opinião nas redes. Sobre suas preferências quanto a políticas públicas ou programas socioeconômicos, continuamos a saber pouco. Porém, eventos ou ondas de mudanças sensacionais explodem nas nossas fuças e dizem algo de mudanças comportamentais e culturais.

Vide a maré de desgraça que vai sendo provocada por "bets", legais ou com a intenção de legalização: despesa bilionária, expansão do vício, oportunidades para o crime. Nesta quarta-feira (4), foi presa a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra, 36, acusada ainda de modo opaco de associação a uma quadrilha que recorria a "bets" e firmas de publicidade, de câmbio etc. a fim de lavar dinheiro.

Conrado Hübner Mendes - No armazém de secos e molhados

Folha de S. Paulo

Diante de Musk, Bolsonaro ou Marçal, Estado de direito não pode hesitar

Aplicar a lei não é tarefa mecânica. Esse lugar-comum tem ao menos dois sentidos. Primeiro, o jurídico: não é mecânica porque normas precisam de interpretação (não admitem o vale-tudo, mas não se reduzem a um algoritmo). Segundo, o político: aplicar a lei a atores poderosos traz obstáculos para além da hermenêutica.

As garras da lei costumam ser inversamente proporcionais ao poder de indivíduos que a violam. Para Estado de direito digno do nome, ter leis justas importa, mas aplicar a lei de forma coerente e não seletiva importa ainda mais. Esta tarefa só pode ser desempenhada por tribunais e juízes com independência, imparcialidade e coragem.

William Waack – Novo universo

O Estado de S. Paulo

Goste-se ou não, a política acompanha a inversão de valores

prisão da influenciadora Deolane Bezerra e o sucesso eleitoral de Pablo Marçal são dois lados da mesma moeda. Trata-se de decisiva mudança de valores em vastas parcelas da sociedade brasileira – que já transforma a política.

As relações de cada um com a lei não é o tema aqui. Mas, sim, o tipo de “pregação” da prosperidade que fez deles fenômeno no mundo das redes sociais muito antes de se tornarem fenômenos de noticiário.

Esse tipo de “pregação” há mais de vinte anos foi consagrada no Get rich or die tryin’ (fique rico ou morra tentando) do rapper americano 50 Cent. Surgiu da pregação da prosperidade de várias denominações pentecostais.

Eugênio Bucci - Liberdade de expressão?

O Estado de S. Paulo

Você pode – e deve – criticar o STF. Há muito o que questionar na corte. Só o que não dá para dizer é que o que aconteceu com o Twitter foi mordaça

No tempo da ditadura, sinais de emissoras exóticas chegavam livremente aos rincões da pátria armada e fardada. Em ondas curtas, a Rádio Moscou ressoava com seu português escorreito em todo o território nacional, dos igapós amazônicos às roças de Nuporanga. E não era só ela. Junto, vinham também as locuções da Rádio Pequim, da Rádio Tirana e da Rádio Bulgária. Comunismo na carótida, calafrios na caserna. As autoridades se inquietavam: como bloquear a radiofrequência da Cortina de Ferro?

Não havia como. Veteranos da radiodifusão lembram até hoje que os militares tentavam usar engenhocas para atrapalhar o som das invasoras, ao menos nas regiões ditas estratégicas, mas a manobra não dava certo. Vetaram peças de teatro, canções de protesto, revistas de mulheres nuas, filmes sortidos, telenovelas picantes e romances de esquerda, mas fracassaram indigentemente no projeto de emudecer as estações alienígenas. Falta de vontade não foi.

Merval Pereira - Volta à normalidade

O Globo

As reações voluntaristas de Moraes para tentar dobrar seu adversário Musk resultaram em decisões jurídicas questionáveis, que deixaram 22 milhões de brasileiros fora do ar

O convite do presidente Lula para que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes assista ao desfile de 7 de setembro no palanque oficial, em resposta à manifestação bolsonarista contra o magistrado marcada para o mesmo dia na Avenida Paulista, é um erro político. Permite aos adversários ver nele a confirmação de que as ações de Moraes correspondem a um jogo em comum acordo com o Planalto.

O que deveria ser uma disputa jurídica ganhou contornos políticos, para gosto de Elon Musk. As reações voluntaristas de Moraes para tentar dobrar seu adversário Musk resultaram em decisões jurídicas questionáveis, que deixaram 22 milhões de brasileiros fora do ar. Pouca gente ficará a favor de Musk, ou de Moraes, por questões de patriotismo. Trata-se aqui de impedir que uma das redes sociais mais usadas pelo brasileiro em seu dia a dia esteja a nosso alcance, por visões políticas que nada têm a ver com a maioria dos usuários.

Ruy Castro - Marçal, Bolsonaro ao cubo

Folha de S. Paulo

Bolsonaro lhe abriu a porta do inferno. Agora descobre que, comparado a Marçal, ele é um amador

Primeiro, a má notícia: estamos ameaçados de ter Pablo Marçal como presidente. Agora, a boa notícia: ficaremos livres de Bolsonaro para sempre. É dos casos em que uma notícia não compensa a outra. Bolsonaro, por exemplo, não está achando graça em nenhuma das duas. Ao acompanhar atônito a escalada de Marçal rumo à, por enquanto, Prefeitura de São Paulo, consegue identificar e até antecipar cada movimento dele. Sabe muito bem como a história vai terminar —na qual ele, Bolsonaro, morre no final. Na verdade, seu enterro já saiu.

Bolsonaro está ciente de que Marçal, que aprendeu tudo com ele em violência e estupidez, vai esmagar seu opaco candidato Ricardo Nunes. Isso o obrigará a jogar Nunes aos cães, como fez com muitos outros, e, para sobreviver politicamente, juntar-se a Marçal, levando seus filhos hoje reduzidos aos zeros. Marçal talvez aceite o apoio, pela massa de votos bolsonaristas que isso lhe pode trazer. Mas, do jeito que as coisas vão, Marçal poderá ter esses votos jogando parado e ele próprio chutar Bolsonaro aos abutres. O que será bem feito, mas que vantagem levará nisso a democracia?

Malu Gaspar - Marçal e o pior do sistema

O Globo

Pablo Marçal bagunçou o cenário da disputa pela Prefeitura de São Paulo ao se apresentar como candidato antissistema. Na definição que ele mesmo deu numa sabatina do UOL: “O sistema não é a lei. O sistema é o modus operandi pelo qual o político toca a política”. Ser antissistema, segundo ele, não é querer “entrar no sistema”, e sim “colocar [no sistema] pessoas que não se curvem” a ele. O escrutínio das últimas semanas mostrou que não é bem assim.

O ex-coach confessa que se faz de idiota nos debates e entrevistas porque “o público gosta disso”. Finge ser o que não é para enganar o eleitor — típico modus operandi dos políticos tradicionais.

Seu partido, o PRTB, já abrigou figuras como Fernando Collor de Mello e Hamilton Mourão. O fundador, Levy Fidélix, vivia de ser dono de partido. Disputou várias eleições e perdeu, mas sobreviveu mais de 30 anos na política pendurado no fundo partidário, negociando apoios à esquerda e à direita.

O novo presidente, Leonardo Avalanche, é acusado pela viúva de Fidélix e por um grupo de ex-aliados de ter tomado a legenda na mão grande, desrespeitando o estatuto e acordos com eles.