O Estado de S. Paulo
A redução dos juros e o fim do temor de
recessão da economia dos Estados Unidos podem melhorar o ambiente da economia
global
Até mesmo o desempenho da economia brasileira
será fortemente influenciado pela ação do Federal
Reserve (Fed, o banco central americano), que dia 18 deverá dar início ao processo de queda dos juros básicos, como
já prometeu seu presidente, Jerome Powell.
Esses juros estão em seu nível máximo (de 5,25% a 5,50% ao ano) desde julho de 2023. Mas Powell não passou nenhuma dica sobre a dosagem do primeiro corte e de quanto tempo levará esse movimento. E nem podia chegar a tais pormenores. Vão depender de regulagem mais fina em que serão levados em conta a intensidade da inflação, o vigor da atividade e as condições do mercado de trabalho. Há projeções e palpites de toda ordem, alguns por corte mais alentado agora, da ordem de meio ponto porcentual e outros, de que não passará de um quarto de ponto.
Seja como for, já são dados como certos um
fato consumado e duas consequências. O fato é o de que está descartado o risco de forte recessão da principal economia do mundo, que
estava nos radares da maioria dos analistas e esparramava temores. O Fed
promete uma aterrissagem suave (soft landing).
Uma consequência é a de que passou a ser
inevitável certa desvalorização do dólar, posto que o Fed tolerará maior volume
de moeda nos mercados, o que derrubará seus preços, tanto os juros internos
quanto o câmbio em relação às outras moedas.
Outra consequência, derivada da primeira, é a
de que grande parte das dezenas de trilhões de dólares que compõem o mercado
financeiro global tenderá a deixar posições de maior segurança e se deslocar para
aplicações em ativos de maior risco, como ações e créditos ao setor
privado. Se isso estiver correto, pode-se esperar por um maior crescimento da
economia mundial.
Certos analistas acreditam que essa
flexibilização do Fed estará, em boa parte, empenhada em criar o melhor clima
para as eleições dos Estados Unidos, que ocorrerão em novembro. É uma
suposição heterodoxa, que julga existirem outros objetivos do Fed além de
garantir a convergência da inflação para a meta. Se essa é uma das intenções do
Fed, acreditam esses analistas, o alcance e o período de queda dos juros serão
de pequena monta.
De todo modo, é temerária a aposta do uso dos
juros para criação de clima para as eleições. Poderá levar muita gente a perder
dinheiro.
Do ponto de vista da economia brasileira, um
ambiente global em distensão ajudaria a derrubar a inflação interna graças a
dólares e importações mais baratos em reais e, ao mesmo tempo, a reduzir as
pressões pelo aumento dos juros internos.
É perigoso tirar conclusões definitivas.
Coisas podem mudar, as tensões geopolíticas mantêm-se acirradas e o mundo das
finanças continua perigoso.
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