terça-feira, 12 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Crime em aeroporto expõe urgência de política de segurança

O Globo

Assassinato de delator do PCC mostra poderio das facções. Sem unir estados e governo federal, é impossível combatê-las

O assassinato, na área de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, de um empresário que delatara crimes do Primeiro Comando da Capital (PCC) é a imagem sem filtros do poder crescente e letal das facções criminosas. Em plena tarde de sexta-feira, no terminal mais movimentado do país, ele foi executado com dez tiros, disparados por dois homens encapuzados que saltaram de um carro. As balas atingiram também um motorista de aplicativo que morreu no sábado e outros dois inocentes.

O empresário, acusado de lavar dinheiro para o PCC e de ter mandado matar dois integrantes da facção em 2021, fechara em março acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo. Suas informações levaram à prisão de dois policiais civis lotados no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). “Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá para a gente fazer o caminho inverso”, disse ele ao MP, segundo reportagem do Jornal Nacional. Costumava ter escolta particular, mas no dia da execução ela não chegou. A alegação é que o carro quebrou. Os PMs que integravam essa escolta foram afastados.

Desafio inócuo - Merval Pereira

O Globo

Lula erra ao transformar o mercado em vilão, quando deveria entender que ele é, essencialmente, um instrumento democrático 

O presidente Lula desafiar “o mercado” para uma luta em campo aberto justamente quando se discute o corte de gastos para equilibrar as finanças do país não é apenas demonstrar desconhecimento do que seja esse tal de mercado, mas informar que não está disposto a ceder às exigências de cortes porque entende que ele tem “gana especulativa” e age com “uma certa hipocrisia”.

O presidente pode até ter razão ao criticar a ganância de alguns investidores, mas erra ao transformar o mercado em vilão, quando deveria entender que ele é, essencialmente, um instrumento democrático ao difundir informações e exprimir uma tendência da opinião pública. O economista austríaco liberal Friedrich Hayek defendia o mercado como transmissor de informação e estimulador da criatividade, levando à análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado.

Patrimonialismo americano – Pedro Doria

O Globo

No final da semana passada, o senador republicano Mike Lee publicou na plataforma X um post curto. Argumentou que o Federal Reserve, o banco central americano, deveria ser controlado pelo presidente da República. Imediatamente Elon Musk retuitou a mensagem de Lee. Entrou na campanha pelo fim do banco central independente. Enquanto isso, as criptomoedas todas disparavam como não se via há anos. Bitcoins voltaram a valer muito.

Para quem é atento, não há surpresa. Donald Trump é iliberal. Não quer banco central independente, deseja tarifas comerciais altas, despreza organismos multilaterais na gerência do globo. Tudo que o pensamento liberal criou nos últimos cem anos, Trump abomina. Por isso, tampouco deveria ser surpresa ver patrimonialismo, igualzinho ao nosso, brasileiríssimo, surgindo por lá. Neste exato momento, Musk e uma dúzia de bilionários do Vale do Silício já começaram a aumentar suas fortunas inflando o valor das criptomoedas.

Pedras no caminho de Baku a Belém - Míriam Leitão

O Globo

Entre a COP no Azerbaijão e a do Brasil, o mundo vai enfrentar muitos desafios, como a nova presidência dos Estados Unidos

Era para Baku ser uma preparação para Belém. Na capital do Pará, o Brasil quer consolidar um patamar mais alto de combate à mudança climática. A primeira pedra nesse caminho é Donald Trump que ontem mesmo, ao anunciar a nova administração da Agência de Proteção Ambiental, disse que a função será “desregulamentar”. A outra pedra é o próprio petróleo. Se em Dubai foi comemorado o discreto compromisso de redução do uso do petróleo, agora no Azerbaijão há pouca esperança de que esse assunto avance, até pelo fato de o país ser produtor petrolífero e depender dele. Além disso, Trump avisou que vai acelerar a produção de combustível fóssil.

Deportação ameaça brasileiros nos EUA – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Antes, a esmagadora maioria procurava ganhar a vida à própria sorte, mas hoje é um público mais diversificado: investidores, aposentados, profissionais de alta qualificação

Ao anunciar que Tom Homan será o diretor da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou grande insegurança na comunidade brasileira residente nos Estados Unidos, que chega a 1,9 milhão de pessoas, centenas de milhares em situação ilegal. “Eu conheço Tom há muito tempo e não há ninguém melhor para policiar e controlar nossas fronteiras”, afirmou Trump em sua rede social, a Truth Social.

Thomas Douglas Homan, esse é o nome completo, foi diretor interino da agência de Imigração de janeiro de 2017 a junho de 2018, durante o governo Trump. Grandalhão, louro de olhos azuis, notório “supremacista” branco, defende “tolerância zero” com imigrantes sem documentação em dia e a construção de barreiras físicas na fronteira com o México, principalmente o muro, uma das principais bandeiras de campanha de Trump. Agora, ficará encarregado de todas as deportações de imigrantes ilegais de volta ao seu país de origem.

Congresso não larga o osso das emendas - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os parlamentares têm em Flávio Dino antagonista difícil de ser ludibriado

De poder conquistado não se abre mão, a menos que um grave e intransponível impedimento obrigue a isso. É uma constatação baseada em fatos semelhantes ao fato de que o Legislativo resistirá o quanto puder a largar o osso do uso avançado das emendas parlamentares sobre o Orçamento da União.

Os congressistas têm pela frente um daqueles duros de roer na figura do ministro Flávio Dino, cujos atributos para além da atividade jurídica o tornam um antagonista difícil de ser ludibriado. Próximo ao Planalto, experiente no Executivo e traquejado no ofício de parlamentar, Dino sabe por onde as pedras rolas e as cobras andam.

Precisamos falar sobre os ‘bros’ - Juliano Spyer

Folha de S. Paulo  

Quem é Dana White, o promotor de lutas celebrado por Trump no discurso da vitória

Logo antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, a revista The Economist questionou: será que os "bros" (homens jovens) de Donald Trump comparecerão para votar? Poucos dias depois, descobrimos que sim, eles votaram.

Esta foi uma eleição surpreendente por pelo menos dois motivos: primeiro, nenhum instituto de pesquisa se arriscava a prever o vencedor; mas a contagem de votos revelou um apoio desproporcional ao candidato republicano.

Os motivos para esse resultado estão sendo analisados agora. Eleitores —não apenas brancos— optaram por Trump ao sentirem a perda de poder de compra. Mas há um aspecto subestimado: o da masculinidade. Ou, como descreveu a Economist, os "bros".

Durante a campanha, o nome mais mencionado pela imprensa, além do próprio candidato republicano, foi o do bilionário Elon Musk. No entanto ele não estava presente no palco durante os discursos de vitória de Trump e seu vice. A única pessoa fora do círculo familiar dos eleitos era Dana White, presidente do UFC.

Trump vence, Bolsonaro escreve - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

O texto do ex-presidente serve como registro de uma forma de ver o momento

Tem gente indignada por Jair Bolsonaro ter publicado um artigo na Folha. Não entenderam nada. Sonham com um mundo no qual a imprensa determina quem tem voz. Na realidade atual, o papel que melhor cabe a um jornal de relevo é justamente ser palco para as diferentes vozes, permitindo que todos possamos melhor ouvi-las e julgá-las.

No caso, o artigo triunfalista de Bolsonaro pouco nos informa sobre seu apreço pela democracia que diz defender. Suas ações quando perdeu em 2022 falam mais alto. Serve, no entanto, como registro de uma forma de encarar este momento: finalmente a política ouve o cidadão comum, que é de direita, contrariando décadas de discurso da mídia e das elites culturais.

Insensatez: pode vir mais um ‘voo de galinha’ - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Pressão fiscalista interna, exagerada e quase histérica, eleva o risco de se estancar o crescimento, aumentar o desemprego

A semana passada foi angustiante. Nos EUA, contrariando as pesquisas, Donald Trump elegeu-se presidente com larga margem de votos e ganhou maioria no Parlamento. Aqui no Brasil, o Banco Central aumentou a taxa de juros enquanto o governo Lula preparava o anúncio de cortes nos gastos públicos.

Trump fez várias promessas na campanha, algumas preocupantes na área econômica. Prometeu sobretaxar as importações americanas, com óbvias repercussões no comércio global: criar imposto de 10% a 20% para produtos provenientes de todos os países e de 60% para os da China. Prometeu aplicar sanções a países que não usarem o dólar em suas transações internacionais, uma ameaça ao bloco do Brics. E, para não estender mais a lista, prometeu fechar as fronteiras do país e deportar milhões de imigrantes ilegais.

Escala 6x1 evita que pauta seja dominada pelos cortes - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Proposta do Psol tem pouca viabilidade, mas evita que a pauta do campo progressista seja dominada pela repercussão negativa dos cortes

Depois de perder a única prefeitura que comandava, Belém (PA), onde o prefeito e candidato à reeleição, Edmilson Rodrigues, não chegou a 10% dos votos, ver sua bancada de vereadores se reduzir para aquém de partidos como o PRTB, e registrar, em São Paulo, o mesmo percentual de votos a despeito de ter gasto 16 vezes mais, o Psol resolveu bombar a proposta que acaba com a semana de seis dias trabalhados por um de folga.

Para sair das cordas, funcionou. A proposta do Psol é a única do campo progressista a pautar o debate público. Enfrentou ainda o estigma de um partido dominado pela pauta identitária ao projetar a deputada trans Erika Hilton (SP), líder do Psol, como autora da PEC. Apresentada em maio, a proposta é uma variação da pauta do movimento “Pela vida além do trabalho”, ambos em torno da redução da jornada de trabalho de 44 horas, lançado na mesma época pelo ex-balconista Rick Azevedo, que acabaria se tornando não apenas o vereador mais votado do Psol como o dono de um mandatos mais baratos do país - R$ 2 por voto (o de Guilherme Boulos custou R$ 38).

Quem tem medo da PF? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A ação federal no caso do delator morto em São Paulo é tão essencial como foi no de Marielle no Rio

O assassinato audacioso de um delator do PCC, à luz do dia, no aeroporto internacional do principal Estado do País, confirma brutalmente o quanto o crime organizado está ganhando a guerra, faz o que quer e está infiltrado nas instâncias de poder e nas polícias. Logo, é fundamental acelerar o pacote antiviolência do Ministério da Justiça e, finalmente, com absurdo atraso, conferir mais poder de atuação da Polícia Federal – obviamente, com os correspondentes recursos financeiros e humanos.

O delator morto, Antônio Vinícius Gritzbach, que vem sendo equivocadamente chamado de “empresário”, era parte do esquema criminoso, foi preso sob acusação de assassinato e, só então, com patrimônio milionário, decidiu fazer delação premiada para amenizar sua pena. Ele estava dentro do esquema, sabia muito, era uma testemunha-chave, um troféu para a investigação.

O impacto da eleição de Trump sobre o Brasil - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Algumas promessas de campanha e declarações do presidente eleito certamente devem estar causando preocupação ao governo brasileiro

A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA terá não só profundas repercussões na política interna norte-americana, como também no cenário internacional, com forte impacto na geopolítica, na economia global e em alguns temas globais, como meio ambiente, mudança do clima, imigração, transição energética e avanço da direita. Ajustes, acomodações e resistências acontecerão em função das mudanças prometidas, a partir de janeiro.

As políticas econômicas e comerciais do governo Trump, se cumpridas as promessas, em função de políticas expansionistas para criar empregos, medidas nacionalistas e protecionistas de política industrial, com o consequente reflexo na inflação, no déficit público e na taxa de juros do Federal Reserve (Fed), poderão impactar o comportamento do dólar, a inflação e a taxa de juros no Brasil.

A fábula como ilustração da casa comum e o legado para os que virão - Marcio Junior*

Voto Positivo 

Pedrinho sonhou. Sonhou que estava sentado numa pedra, com os olhos nos carneiros do rebanho. Súbito, foram se sumindo os carneiros e apareceu uma estrada que ia perder-se nas montanhas azuis. Um vulto vinha vindo pela estrada. Um homem... Um velho de andar trôpego...

O velho chegou e sentou-se na pedra.

− É daqui? – Perguntou Pedrinho.

− Sou de todos os lugares e todos os tempos. Sou a história.

Pedrinho encarou-o, surpreso. O velho não era mais o velho, sim uma deidade semelhante a certa figura feminina que ele vira no Partenão, com a cara de musa.

Monteiro Lobato. O Minotauro. P. 106.

Não é preciso procura exaustiva para percebermos que estamos lendo mal; a Progress in International Reading Literacy Study (Estudo Internacional de Progresso em Leitura) - PIRLS 2021 demonstrou que há uma dificuldade das nossas crianças em ler e interpretar textos, sejam eles informativos ou literários, e que essa dificuldade atinge não só um grande número de crianças, sendo apenas um pequeno número delas as que conseguem ler, no 4° ano do Ensino Fundamental, de forma minimamente satisfatória e que vai proporcionar base para aprender, ao longo do tempo, por meio de textos.

Poesia | O Sonho, de Pablo Neruda

 

Música | Chico Buarque - Futuros amantes

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Dilma gastou mais que Bolsonaro para tentar se reeleger

O Globo

Estudo estima as despesas dela em 3,1% do PIB e as dele em 0,2% — mas ambos recorreram a gastos ocultos

O Brasil tem um longo e problemático histórico de incúria fiscal em anos eleitorais. Tanto Dilma Rousseff quanto Jair Bolsonaro, apesar das diferenças ideológicas, recorreram a gastos eleitoreiros em suas respectivas tentativas de reeleição. Ambos adotaram mecanismos de contabilidade criativa para ocultar despesas. Mas um olhar atento revela diferenças, constata um novo estudo dos economistas Alexandre Manoel, Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Samuel Pessôa, recém-publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Para comparar os gastos, eles estimaram a variação entre os dois primeiros e os dois últimos anos de cada mandato. Constataram que, na tentativa de reeleição de Dilma em 2014, sua administração aumentara as despesas primárias em 1,4% do PIB. A maior extensão da prodigalidade fiscal, porém, ficou oculta. Pelos cálculos dos economistas, Dilma ainda acumulou 1,7% adicional do PIB em “gastos encobertos”, como adiamento de despesas para o próximo governo (restos a pagar) e manipulação da contabilidade das empresas estatais. Ao todo, entre o visível e o oculto, Dilma gastou 3,1% do PIB para se reeleger.

Armadilhas da história – Fernando Gabeira

O Globo

Vejo o momento como muito grave, um túnel escuro em que os democratas precisam se unir

Pobre Francis Fukuyama. Ele escreveu que a democracia liberal era a última e definitiva forma de organização política. Fim da História. Pobres de nós. Pensamos que os regimes autoritários precisavam transitar para a democracia para garantir prosperidade às pessoas. O mundo deu uma volta. As democracias têm dificuldade de crescimento sustentável. Não agradam como antes. Os regimes autoritários adotam os métodos capitalistas e conseguem decolar.

Em 1995, apenas 4% das pessoas com renda de US$ 20 mil ao ano viviam em países de regime autoritário. Eram 35 milhões. Hoje, mais de 350 milhões ganham isso, na Rússia, no Cazaquistão e em países do Golfo Pérsico. Incluindo províncias costeiras da China, o número sobe a 800 milhões. A liberdade de expressão, direitos políticos, tudo isso foi trocado por bem-estar e um certo orgulho nacional.

Morre a política identitária - Demétrio Magnoli

O Globo

America First. O retorno triunfante de Donald Trump assinala a vitória de um neonacionalismo sombrio, da xenofobia extremada e do protecionismo econômico. No campo dos derrotados encontram-se o consenso liberal-democrático, a estabilidade das instituições americanas, a ponte atlântica entre Estados Unidos e Europa, a nação ucraniana. Putin terá erguido um brinde nos salões dourados do Kremlin. Netanyahu celebrou publicamente. Mas nem tudo é tragédia. Jaz, em meio aos destroços, a bíblia identitária dos “progressistas” .

A eleição não foi um plebiscito sobre as políticas de raça, etnia, gênero e orientação sexual. Foi, claro, sobre a herança de Biden: inflação, imigração e guerras. Marcou, porém, a morte do programa identitário que soldou uma aliança elitista entre “progressistas” de centro e de esquerda.

A favela no mapa – parte 1 – Preto Zezé

O Globo

Comunidades serão referenciadas por dados oficiais, que servirão para subsidiar governos e empresas no planejamento

O significado do Censo das Favelas, lançado na sexta-feira passada, traz vários desdobramentos importantes para reflexão. Neste artigo, trago alguns e deixo para um segundo texto a análise de dados, que exige uma abordagem à parte.

O primeiro e mais expressivo desdobramento tem a ver com a adoção do termo “favela” e “comunidades urbanas” pelo IBGE, que anteriormente as chamava de “aglomerados subnormais”.

Nomear um lugar como “aglomerado subnormal” não apenas o identifica negativamente, como reforça e reproduz preconceitos e estigmas aos mais de 16 milhões que vivem em favelas no Brasil. Além disso, a mudança da nomenclatura atende à reivindicação histórica dos movimentos e organizações de favelas pela valorização da identidade desses espaços.

O Censo só foi possível graças à parceria do IBGE com a sociedade civil, por meio da colaboração com o DataFavela e a Cufa, que lançaram em 2023 — com o Ministério do Planejamento e Orçamento e a presença da ministra Simone Tebet — o movimento Favela no Mapa, em Heliópolis. A iniciativa possibilitou a realização da pesquisa e o acesso aos territórios.

Trump e a ciência política - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A eleição americana põe em xeque os conceitos de calcificação política, reação branca e fim do voto econômico

O resultado das eleições americanas abalou consensos entre cientistas políticos. Há pelo menos três questões que merecem destaque. A primeira é o que a política parece ter sofrido uma "descalcificação". Havia certa convergência em torno do argumento que o sistema estava calcificado devido a crescente sobreposição entre raça, religião, gênero, faixa etária e preferências partidárias, como mostrei aqui. Levitsky e Ziblatt argumentaram que a ascensão de Trump era uma reação da população branca de se tornar minoria nas próximas décadas. Estas análises envelheceram surpreendentemente rápido.

Avaliação de Lula pode mascarar insatisfação – Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Apostar apenas em índices econômicos positivos e falar que tudo vai bem não é uma boa estratégia

As últimas pesquisas sobre a popularidade do governo Lula 3 parecem revelar certa estabilidade positiva. Em setembro deste ano, pesquisa realizada pela Quaest registrou que o trabalho de Lula é aprovado por 51% e reprovado por 45%. Em outubro, o desempenho de Lula foi avaliado com 50,7% de aprovação e 45,8% de reprovação em pesquisa da Atlas Intel, praticamente os mesmos números medidos pelo instituto em julho.

A estabilidade é ainda maior tendo em vista um período maior de tempo. De acordo com o Instituto Datafolha, considerando a divisão da avaliação em ótimo/bom, regular e ruim/péssimo, no mês passado, 36% afirmaram que Lula está fazendo um governo ótimo ou bom, 29% avaliaram como regular e 32% como ruim ou péssimo, praticamente os mesmos índices do início do governo, em março de 2023.

Mais inflação, mais juros e menos crescimento - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Uma fonte de alívio mais expressivo para o câmbio terá de vir do cenário doméstico - basicamente de medidas de controle de gastos

O Brasil caminha nos próximos meses para uma combinação de inflação e de juros bem mais elevados do que os economistas projetavam há algumas semanas. Os preços de alimentação no domicílio têm subido com mais força, dado os efeitos dos problemas climáticos e, em menor medida, do dólar caro - fator que começa a pressionar também os bens industriais. Já os serviços mais sensíveis à demanda ganham terreno com o aquecimento do mercado de trabalho.

Nesse quadro, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltam para o intervalo de 4,5% a 5% neste ano e acima de 4% no ano que vem, números próximos ou superiores ao teto da banda de tolerância da meta, de 4,5%. Para a Selic, que aumentou de 10,75% para 11,25% ao ano na semana passada, há quem projete uma taxa superior a 13% no fim do ciclo de aperto monetário. O resultado tende a ser uma desaceleração mais forte da atividade em 2025, após três anos de crescimento na casa de 3%.

A reforma administrativa por vias tortas - Bruno Carazza

Valor Econômico

Decisão do STF de extinguir o regime jurídico único e apoio ao PL dos Supersalários podem gerar efeito contrário ao esperado

Funcionária pública de alto escalão, Maria Candelária tinha uma rotina de trabalho que era uma moleza: entre idas ao dentista, ao café e à modista, só passava na repartição para assinar o ponto e dava no pé. As más línguas diziam que era amante de um político importante, por isso caiu no serviço público de paraquedas, sem concurso.

Também foi sem se submeter a um processo seletivo que Barnabé se tornou servidor. Contratado como temporário (o termo na época era “extranumerário”), não gozava de estabilidade e ainda era mal remunerado, ganhando pouco mais do que o necessário “para o cigarro e o café”.

Emendas estaduais deixam de financiar obras estruturantes

Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro / Valor Econômico

Em 2023, de cada R$ 10 destinados a esse instrumento, apenas R$ 1 foi usado em projetos de infraestrutura e investimentos de vulto

Criadas para viabilizar grandes projetos de infraestrutura e investimentos de vulto nos Estados, as emendas de bancadas estaduais ao Orçamento foram desvirtuadas e se tornaram mais uma forma de deputados e senadores ampliarem a destinação de verbas para aliados, especialmente após o pagamento ter virado obrigatório em 2019. Ano passado, de cada R$ 10 alocados por esse mecanismo, menos de R$ 1 visou grandes obras que promovessem mudanças estruturantes nessas regiões, segundo estudo da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira (Conorf) da própria Câmara.

Foram apenas R$ 692 milhões para obras estruturantes, enquanto R$ 2,9 bilhões acabaram destinados para investimentos mais fragmentados - e passíveis de maior direcionamento político para aliados de cada deputado ou senador- e R$ 4 bilhões para custeio em 2023 - rubrica que também costuma ser usada para esse varejo político. E, pior, sem que o real responsável pela indicação seja divulgado, já que o autor nos sites de transparência é a bancada do Estado por se tratar de uma emenda “coletiva”.

Emendas e estabilidade parlamentar - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Enquanto a taxa média de reeleição de deputados no Brasil é de 63%, nos EUA é de 93%

A porcentagem de prefeitos reeleitos nas eleições municipais de 2024 bateu recorde. Quase 83% dos que concorreram foram reeleitos. As prefeituras governadas por prefeitos reeleitos receberam uma maior fatia de emendas parlamentares do Orçamento da União.

Parece que, finalmente, os eleitores decidiram premiar os prefeitos que conseguiram construir conexões estáveis entre as redes que lideram na esfera local com um representante no Congresso Nacional.

Embora muitos classifiquem as conexões entre o legislador federal e suas redes locais de interesse como derrogatórias, elas são fundamentais para movimentar a economia local e, em muitos casos, gerar inclusão social e melhoria de qualidade de vida. Daí por que parlamentares que conseguem ser mais efetivos na alocação desses recursos também apresentam maiores chances de serem reeleitos.

Deputados ameaçam dar o troco no governo e no STF por indefinição sobre bloqueio de emendas

Levy Teles / O Estado de S. Paulo

Parlamentares cogitam não votar lei que autoriza gastos do Executivo no próximo ano, em um evento que não tem precedente na história do Congresso; especialistas veem estratégia como ‘suicida’

BRASÍLIA – Contrariados com a falta de definição sobre o bloqueio das emendas parlamentares, deputados ameaçam dar o troco e não votar a lei que autoriza os gastos do governo no próximo ano, que depende da aprovação do Congresso Nacional. A estratégia de integrantes da Comissão Mista de Orçamento é vista por especialistas como suicida, já que o Orçamento do Brasil ficaria completamente travado.

Parlamentares veem a medida como a principal moeda de troca para assegurar que o Supremo Tribunal Federal (STF) libere os recursos previstos nas emendas, destinando dinheiro público aos municípios do País.

Entrevista | José Sarney: ‘Sou amigo do Lula, gosto muito dele e devemos apoiá-lo’

Por Monica Gugliano /Estado S. Paulo

Ex-presidente festeja resistência do MDB em meio a mudanças partidárias e faz elogios ao atual governo

O ex-presidente da República José Sarney discorda do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sobre os rumos da sigla em 2026. Se o chefe do Executivo paulistano acredita que seu partido deve marchar ao lado de Jair Bolsonaro e o candidato que ele indicar, como apontou em entrevista ao Estadão, Sarney defende o caminho oposto.

Para ele, a sigla não tem motivos para não apoiar a reeleição de Lula, que comanda um governo com três ministros da legenda. O emedebista se diz amigo pessoal do presidente e, em, conversa com o Estadão, rasga elogios ao aliado que um dia já foi adversário político.

Há alguns dias, em um artigo, o ex-presidente José Sarney escreveu sobre a longevidade do MDB. Em tempos nos quais muitas vezes a sobrevivência dos partidos políticos é efêmera, o Movimento Democrático Brasileiro é uma das mais antigas siglas do país. Foi depois das eleições estaduais de 1965 que, conta Sarney, ainda no governo do presidente Carlos Castelo Branco, após o Ato Institucional nº 2 decidiu-se criar dois partidos para abrigarem de um lado os governistas e de outro a oposição. E assim foi fei

Fundou-se a Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB, conduzido por Ulysses Guimarães, que enfrentou a ditadura militar. “Não teria sido feita a transição democrática, em 1985, (que foi feita no meu governo que culminou com a eleição direta para presidente da República em 1989) e não haveria democracia no Brasil se não fosse o MDB”, diz Sarney, um dos políticos mais longevos do país (94 anos) numa conversa exclusiva por telefone ao Estadão.

Do Maranhão, onde passa parte do tempo, com a esposa dona Marly quando não está em Brasília, o ex-presidente acompanhou as eleições municipais em todo o País. Comemorou o crescimento do MDB que elegeu 864 prefeitos (o primeiro em números de eleitores votantes, 27,9 milhões) e agradeceu ao presidente do partido, o deputado Baleia Rossi(SP), pelo trabalho durante o pleito.

“Ele foi incansável, excepcional”. Comentou a campanha de falta de modos e de desestabilização dos adversários feita pelo coach Pablo Marçal. E criticou o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, que, embora emedebista, tenha se aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao governador Tarcísio de Freiras (Republicanos). Sarney afirmou que irá trabalhar para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito em 2026, caso o petista resolva disputar mais um mandato.

Veja os principais trechos da conversa:

Sob nova direção - Christian Lynch*

Folha de S. Paulo

O domínio do centrão nas eleições deste ano, sustenta o autor, aponta que o sistema político brasileiro, depois de um período de forte instabilidade e polarização extrema, passa por um processo de reequilíbrio, marcado por um presidencialismo de coalizão fraco e níveis menores de radicalidade ideológica

Os resultados das eleições municipais deste ano confirmam que o sistema político brasileiro passa por um processo de reequilíbrio em torno de novas bases ideológicas e de governabilidade. Bases distintas daquelas que definiram o período de estabilização do regime democrático entre os anos 1990 e 2010, assentadas sobre um eixo ideológico de centro-esquerda e do presidencialismo de coalizão forte ou imperial como modelo de governabilidade, que levava a reboque o chamado centrão.

Há cerca de dez anos, o eixo ideológico começou a se deslocar para a centro-direita, sustentado por partidos de centro-direita e direita, que deixaram a periferia do sistema para se tornar seu núcleo de estabilidade e controle. O modelo de governabilidade, perdido ou desarranjado durante aqueles anos de transição, parece agora se estabilizar na forma de um presidencialismo de coalizão fraco ou, conforme seus críticos, um "parlamentarismo bastardo".

Novo valor se alevanta - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

A principal consequência da vitória de Trump no Brasil deverá ter caráter político. A agenda ambiental será modificada de alguma maneira. Mas o principal realinhamento será o reforço dos grupos de direita e centro-direita do Brasil

A impressionante vitória de Donald Trump na eleição norte-americana derrubou as previsões feitas pelos institutos de pesquisa e pelos chamados observadores. Todos previam uma eleição disputada, voto a voto, o que não se revelou afinal. Trump venceu bem e fácil, fez a maioria na Câmara de Representantes e no Senado. Ou seja, vai governar com as mãos livres para tomar as decisões que bem entender. No intervalo entre as duas guerras mundiais, os Estados Unidos assumiram uma posição voltada para seus interesses internos, na tentativa de superar a profunda recessão. Foi a abertura para o mundo, feita por Franklin Roosevelt, que colocou o país na posição de primeira economia do mundo. Trump, agora, quer percorrer o caminho contrário — retornar ao isolacionismo.

Poesia | Dois e dois são quatro, de Ferreira Gullar

 

Música | André Rieu - Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá)

 

domingo, 10 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula deve ao país programa urgente de controle de gastos

O Globo

Ao procrastinar apresentação de medidas sugeridas por Haddad, ele só contribui para semear mais incerteza

Passada uma semana de debates sobre o pacote de controle de gastos prometido pelo governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a demonstrar resistência. Não faltam estudos e simulações feitas pelas equipes dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet. Lula já dispõe faz tempo de todas as informações necessárias para tomar decisões. Infelizmente, continua a procrastinar. Promoveu uma romaria de ministros ao Planalto, sabendo que ninguém abriria mão do próprio orçamento. Com isso, só contribui para semear ainda mais incerteza e corroer o que ainda resta da credibilidade de seu governo diante dos agentes econômicos.

Os ministros se esmeram no festival de lamúrias e populismo. Luiz Marinho, do Trabalho, ameaçou pedir demissão, buscou apoio das centrais sindicais e bateu pé contra mudanças sugeridas para seguro-desemprego e abono salarial. Outro a falar em deixar o governo foi Carlos Lupi, da Previdência. Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, negou mudanças no Bolsa Família— que jamais foram cogitadas — e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado a deficientes e idosos de baixa renda. Os titulares da Saúde (Nísia Trindade) e da Educação (Camilo Santana) também se encarregaram de deixar claro que resistirão a cortes em suas pastas.

Embate de visões - Merval Pereira

O Globo

Disputa no governo sobre a redução de gastos para o equilíbrio fiscal envolve uma visão ultrapassada de certa esquerda petista contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad

O embate que se trava hoje dentro do governo sobre a redução de gastos para o equilíbrio fiscal é o de uma visão ultrapassada de certa esquerda petista contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, sem deixar de ser de esquerda, entendeu que para melhor servir à causa dos mais pobres é preciso que a economia esteja equilibrada e os gastos tenham uma definição clara para que os desperdícios não se voltem justamente contra os menos favorecidos da sociedade.

Não é por acaso que outro ministro da Fazenda petista, Antonio Palocci, foi na mesma direção no primeiro governo Lula, fazendo com que o governo mantivesse as linhas mestras vindas do governo anterior de Fernando Henrique, cuja continuidade só beneficiou o crescimento brasileiro. Foi nesse ritmo que o governo Lula recebeu o grau de investimento, sendo Henrique Meirelles o presidente do Banco Central, quase demitido pela pressão da ala “desenvolvimentista” do PT, que já se preparava para substituir Meirelles pelo economista Luis Gonzaga Belluzzo.

A raiva triunfa nos EUA – Dorrit Harazim

O Globo

A grande maioria dos eleitores de Trump se sentiu ouvida e representada no revanchismo escancarado do candidato

Ao contrário do lamento e da amargura, o sentimento de raiva dá ao ser humano a sensação de ter algum poder, algum comando sobre a vida que julga estar desgraçada, desolada e esquecida no mundo. A raiva derrota o medo, diminui a solidão, compensa a desilusão com o alardeado progresso humano. A raiva, sobretudo, faz votar. E Donald Trump elegeu-se 47º presidente dos Estados Unidos em grande parte por apostar na raiva social, cultural e econômica das dezenas de milhões de cidadãos americanos que, na semana passada, o catapultaram de volta à Casa Branca.

Foi um triunfo brutal, acachapante, com ganhos em todos os cantos do país e junto a quase todos os grupos demográficos. Levou de arrasto a almejada maioria no Senado e deverá manter a maioria na Câmara. Além da indispensável vitória no Colégio Eleitoral, Trump também deverá conquistar o prêmio dos prêmios, aquele que nem sequer sua megalomania considerava atingível: a cobiçada maioria no voto popular. Chamados a escolher entre a candidatura da primeira mulher negra em 248 anos de História americana e um ex-presidente fascistoide que fugiu da Casa Branca pela porta dos fundos em 2021, o povo preferiu Trump. E pela segunda vez. De forma consciente, irretorquível e ostentatória.

Um mundo mais sombrio e incerto - Míriam Leitão

O Globo

Donald Trump eleva o nível de incerteza na economia, o que torna mais urgente o nosso ajuste fiscal que, no entanto, tem sido corroído internamente

A semana passada elevou a exigência sobre a política econômica do Brasil. E também subiu o grau dos desafios políticos e diplomáticos. Tudo ficou mais difícil. A inflação, pela primeira vez, estourou o teto da meta, tornando mais urgente o pacote de ajuste de gastos cujo alcance vem sendo corroído internamente no governo. A eleição americana terá impacto negativo na economia, o que nos atinge. Donald Trump é o pior também na economia por ter um programa inflacionário, expansionista fiscal e protecionista. O Fed vai entrar em conflito com Trump que apontou suas baterias contra a cidadela monetária mais influente do planeta, e isso elevará a incerteza econômica e mexerá nos fluxos de capital. O estrago na agenda ambiental e climática tem repercussão global, mas atinge em cheio o projeto do Brasil.

História incompleta - Bernardo Mello Franco

O Globo

No final do filme “Ainda estou aqui”, que estreou nos cinemas na quinta-feira, o público é informado sobre o desenrolar do caso Rubens Paiva. A Comissão da Verdade desmontou a farsa da ditadura para encobrir o assassinato, mas não conseguiu localizar os restos mortais do ex-deputado. Os militares que participaram do crime foram identificados e denunciados, mas ninguém foi a julgamento.

A história ilustra as lacunas da nossa transição incompleta para a democracia. A pretexto de curar feridas do passado, o Brasil ignorou o exemplo de países vizinhos e ofereceu proteção e impunidade aos torturadores. Os herdeiros dos porões voltaram ao poder pelo voto, tentaram outro golpe e agora pedem uma nova anistia.

Biden vem para a reunião do G-20 – Elio Gaspari

O Globo

O presidente americano Joe Biden virá ao Brasil para a reunião do G-20 e anunciou que esticará a viagem passando por Manaus, numa visita simbólica à Amazônia. Grande ideia para um presidente que nada terá a fazer até janeiro, quando passará o cargo a Donald Trump.

Em quatro anos, Biden não conseguiu avançar um só projeto original nas suas relações com o Brasil, muito menos com a Amazônia. No ocaso, virá ao Rio e passará por Manaus, com direito a fotografias na floresta e na companhia de lideranças indígenas.

Será o segundo presidente americano a se sentir atraído pela Amazônia depois de perder uma eleição. Derrotado em 1912, quando tentou retornar à Casa Branca, Theodore Roosevelt decidiu explorar a floresta e quase morreu durante a expedição. À diferença de Biden, Roosevelt tinha gosto pela natureza e por aventuras.

Como vice-presidente de Barack Obama, Biden esteve no Brasil há dez anos, com uma agenda vazia, típica do cargo que ocupava.

O grande momento de sua passagem por Brasília foi a entrega de 43 documentos do governo americano relativos ao período da ditadura. Deles, 25 eram do domínio público. Os demais documentavam muito mais as lorotas dos porões que a embaixada transmitia do que as relações de Washington com os generais da ocasião.

Doze mil vezes favela, um retrato da crise urbana - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A vida banal nas favelas, como diria o mestre Milton Santos, foi relegada a segundo plano pelas políticas públicas e capturada por grupos criminosos: milicianos

Sessenta e dois anos depois, o filme “Cinco Vezes Favela” hoje parece uma visão ingênua e glamourizada de problemas que somente se agravaram desde então. São histórias de um cotidiano que ficaram para trás, muito longe da própria realidade em que se transformou. Produzido pelo Centro Popular de Cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1962, ao lado dos primeiros filmes de Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha, é obra seminal do Cinema Novo. O filme apresenta cinco histórias separadas, com trilhas sonoras de Carlos Lyra, Hélcio Milito, Mário Rocha e Geraldo Vandré.

Com Flávio Migliaccio, Waldir Fiori, Isabela e Alex Viany, sob direção de Marcos Farias, “Um Favelado” conta a história de João, um morador da favela que é espancado por não ter como pagar o aluguel. Ao pedir ajuda a um amigo, acaba envolvido num assalto. Dirigido por Miguel Borges, “Zé da Cachorra”, com Waldir Onofre, João Ângelo Labanca, Claudio Bueno Rocha e Peggy Aubry, retrata a revolta de um líder da favela contra um grileiro que engana e suborna os favelados, com objetivo de construir um edifício no lugar.