Valor Econômico
Uma fonte de alívio mais expressivo para o
câmbio terá de vir do cenário doméstico - basicamente de medidas de controle de
gastos
O Brasil caminha nos próximos meses para uma
combinação de inflação e de juros bem mais elevados do que os economistas
projetavam há algumas semanas. Os preços de alimentação no domicílio têm subido
com mais força, dado os efeitos dos problemas climáticos e, em menor medida, do
dólar caro - fator que começa a pressionar também os bens industriais. Já os
serviços mais sensíveis à demanda ganham terreno com o aquecimento do mercado
de trabalho.
Nesse quadro, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltam para o intervalo de 4,5% a 5% neste ano e acima de 4% no ano que vem, números próximos ou superiores ao teto da banda de tolerância da meta, de 4,5%. Para a Selic, que aumentou de 10,75% para 11,25% ao ano na semana passada, há quem projete uma taxa superior a 13% no fim do ciclo de aperto monetário. O resultado tende a ser uma desaceleração mais forte da atividade em 2025, após três anos de crescimento na casa de 3%.
A demora e a hesitação do governo em
apresentar medidas para conter a expansão das despesas obrigatórias cobram o
seu preço, num momento em que o cenário externo se torna mais complicado para
países emergentes. A vitória de Donald Trump nos EUA deve se traduzir numa
política comercial e numa política fiscal com impacto inflacionário, o que vai
resultar num dólar mais forte e em juros americanos mais elevados, fatores
desfavoráveis para economias como a brasileira. Além disso, a China também
enfrenta dificuldades para sustentar o crescimento, uma má notícia para
exportadores de commodities. Uma das consequências das incertezas fiscais e de
um ambiente internacional adverso é o dólar acima de R$ 5,70.
O quadro inflacionário piorou, ainda que não
seja explosivo. Em outubro, o IPCA subiu 0,56%, levando a variação em 12 meses
a 4,76%, com alta forte de alimentação no domicílio e energia elétrica, além da
aceleração dos preços de serviços mais sensíveis à demanda. O aumento da comida
em casa tem chamado a atenção - no mês passado, chegou a 1,22%. Depois de cair
0,5% em 2023, o grupo voltou a acelerar e já acumula alta de 7,28% em 12 meses,
devendo subir 8,2% neste ano, nas projeções do economista Fabio Romão, da LCA
Consultores.
Aumento forte das cotações de alimentos
costuma ser dor de cabeça para o governo, por afetar a popularidade do
presidente entre os mais pobres, que gastam uma fatia maior da renda com esses
produtos. A variação ainda não chega aos mais de dois dígitos do período de
fevereiro de 2022 a fevereiro de 2023, mas o nível de preços da comida em
domicílio já estava elevado, mesmo com o recuo de 0,5% no ano passado, como
destaca Romão. “Houve três anos de altas muito importantes da inflação de
alimentação no domicílio, e 2023 não devolveu essas altas. Parou de piorar, mas
num nível muito elevado”, diz ele, observando que neste ano as cotações desses
produtos voltaram a subir, especialmente no segundo semestre. De janeiro de
2018 a outubro deste ano, alimentação em casa aumentou 70,6%, bem mais que os
43,1% do IPCA “cheio” no período.
Os preços das carnes têm avançado com força,
efeito da estiagem e dos incêndios nas áreas produtoras, pressões adicionadas a
um cenário já marcado por redução do número de abates e aumento das
exportações. O dólar, por enquanto, é um fator secundário nesse processo,
avalia Romão. Em outubro, o avanço das carnes foi de 5,81%; em 12 meses, é de
8,33%.
O economista-chefe da corretora Tullett
Prebon, Fernando Montero, nota que, em outubro, o valor da cesta básica em
relação ao mesmo mês de 2023 superou a variação do salário mínimo nessa base de
comparação. Enquanto a cesta de itens básicos calculada pelo Departamento
Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aumentou 9% no
período, o salário mínimo subiu 7,2%. Isso já tinha ocorrido em setembro e se
acentuou em outubro, diz Montero. “Os próximos meses acelerarão esse
descompasso”, escreve ele, acrescentando que o câmbio não é a única causa desse
aumento e a alta da comida não é a única consequência do dólar mais caro. “Mas
o dólar começa a machucar onde mais dói”, resume ele.
O câmbio desvalorizado se faz sentir também
nos preços de bens industriais. Até o momento, a inflação desses produtos não é
das mais fortes, mas a pressão já começa a aparecer nesse grupo. Em 2023,
subiram apenas 1,1%; neste ano, podem avançar 2,4%, estima Romão.
O dólar avançou 1,09% na sexta-feira,
fechando a R$ 5,7372. No ano, a alta é de 18,2%. Além do impacto do cenário
externo mais adverso, por causa da vitória de Trump, a moeda voltou a subir
devido à frustração com a demora do governo em anunciar medidas para conter
gastos. Um pacote tímido, que não enfrente o crescimento das despesas
obrigatórias, tende a manter o dólar nas alturas. Num cenário em que há
pressões sobre a inflação derivadas dos problemas climáticos e do mercado de
trabalho, uma consolidação do dólar na casa de R$ 5,70 pode fazer mais
estragos.
O quadro externo deverá ser estruturalmente
pior para países como o Brasil nos próximos anos. O Federal Reserve (Fed, o
banco central americano) terá, tudo indica, menos espaço para reduzir os juros
num governo Trump, dadas as políticas inflacionárias que tendem a ser adotadas
pelo presidente eleito. Uma fonte de alívio mais expressivo para o câmbio terá
de vir do cenário doméstico - basicamente de medidas de controle de gastos, que
reduzam as incertezas sobre as contas públicas. O comportamento recente do câmbio
é um alerta claro de que o anúncio de iniciativas fiscais pouco ambiciosas
nesta semana terá um impacto negativo sobre o real. Num cenário como esse, os
juros terão provavelmente que subir muito, para conter uma inflação que se
distancia da meta de 3%, superando o teto da banda de tolerância, de 4,5%. Com
uma Selic acima de 13%, a economia sofrerá mais, sendo grande o risco de
interrupção do processo de retomada do investimento.
Um comentário:
Oliveira, eu postei no Facebook, ontem um texto em que opinei que com o racha e aparente queda do Bolsonarismo, a tucanaiada privateirar iria investir fortemente contra o PT e Lula para aumentarem o Corte de Gastos e aumento da SELIC para aumentar a FINANCEIRIZAÇÃO dos Recursos Públicos e evitar gastos com DESENVOLVIMENTO. O Governo enfrentará uma nuvem de flexas que nem enfrentou Leônidas, o herói grego que disse que "melhor, guerrearemos na sombra".
Hoje espalharam o fantasma da inflação e a alta do dólar ignorando que o Trump de hoje não é o mesmo, inclusive já determinou a Zelenski que estanque a guerra com a Rússia - isto quer dizer queda no petróleo e calmaria dos europeus. Por outro lado. Tenho comigo que o Brasil sempre se deu muito com os governos Republicanos e com a diminuição das políticas identitárias Tztrumpistad
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