segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Avaliação de Lula pode mascarar insatisfação – Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Apostar apenas em índices econômicos positivos e falar que tudo vai bem não é uma boa estratégia

As últimas pesquisas sobre a popularidade do governo Lula 3 parecem revelar certa estabilidade positiva. Em setembro deste ano, pesquisa realizada pela Quaest registrou que o trabalho de Lula é aprovado por 51% e reprovado por 45%. Em outubro, o desempenho de Lula foi avaliado com 50,7% de aprovação e 45,8% de reprovação em pesquisa da Atlas Intel, praticamente os mesmos números medidos pelo instituto em julho.

A estabilidade é ainda maior tendo em vista um período maior de tempo. De acordo com o Instituto Datafolha, considerando a divisão da avaliação em ótimo/bom, regular e ruim/péssimo, no mês passado, 36% afirmaram que Lula está fazendo um governo ótimo ou bom, 29% avaliaram como regular e 32% como ruim ou péssimo, praticamente os mesmos índices do início do governo, em março de 2023.

Além disso, a popularidade do petista como liderança política é muito maior em comparação com as demais figuras da política brasileira. O atual presidente é, de longe, a liderança política com a melhor avaliação do país hoje. Lula é aprovado por 60% da população, e rejeitado por 39%, de acordo com a mesma pesquisa da Atlas Intel citada acima.

Para efeito de comparação, a primeira-dama, Janja da Silva, que aparece em segundo lugar, é aprovada por 48% e reprovada por 40% da população. Tais índices são similares aos de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Simone Tebet, ministra do Planejamento.

À direita do espectro político, Jair Bolsonaro acumula uma das maiores rejeições, 57%, sendo que apenas 42% aprovam o ex-presidente. Michelle Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, por sua vez, acumulam, respectivamente, 39% e 32% de aprovação, e 52% e 44% de rejeição. O pior desempenho de todos fica com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, com 75% de rejeição e apenas 5% de aprovação.

Ao que tudo indica, Lula e seu governo parecem voar em céu de brigadeiro em termos de popularidade. Sobretudo em comparação com a direita. No entanto, números estáveis e positivos hoje podem mascarar potenciais turbulências futuras.

De acordo com a Atlas Intel, para 47% dos brasileiros a situação da economia é ruim, apenas 33% a consideram boa. No levantamento imediatamente anterior do instituto, 49% dos brasileiros acreditavam que a economia iria melhorar, hoje são 41%, quase o mesmo número que acredita que deve piorar, 39%. Não à toa, o ministro da FazendaFernando Haddad, possui a maior rejeição entre os integrantes do governo Lula: 47%, contra 45% de aprovação.

Em sua coluna na Folha, publicada no dia 8 de novembro, Vinicius Torre Freire aponta que a inflação da comida é a maior desde o início do governo. Produtos básicos como arroz, feijão preto, óleo de soja e café tiveram altas "ruins", como qualificou o colunista. O café, com 29%, está com o preço mais alto em 13 anos. Além disso, alimentos como leite e carnes também ficaram mais caros.

Entre os motivos listados estão a alta do dólar e os problemas climáticos, cada vez mais frequentes e graves. Como bem adverte Freire, carestia derruba a popularidade de governos. Considerando o resultado de Kamala Harris, apostar apenas em índices econômicos positivos e falar que tudo vai bem não é uma boa estratégia.

 

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