- Folha de S. Paulo
Apenas um evento político cataclísmico fará Dilma Rousseff trilhar o caminho de volta ao Palácio do Planalto que deixará nesta quinta (12).
O que poderia reverter a sorte da petista, selada na votação do Senado que a afastou para promover o julgamento de seu impeachment?
Alguma hecatombe, por exemplo, nos primeiros dois meses da gestão Michel Temer (PMDB), ligada ao delicado acerto na articulação com o Congresso -um fracasso de saída em encaminhar uma agenda parlamentar mínima, na área econômica.
Isso afetaria mercados, sempre eles, e poderia mudar humores no Senado a analisar o mérito do impeachment.
Seria problema muito maior do que a eventual tentativa de o PT reanimar sua militância residual, até porque a disposição de Luiz Inácio Lula da Silva e dos seus em fazer algo mais do que gritar "é golpe" parece baixa.
A indisposição das populações de grandes centros urbanos com manifestações pequenas que causam grandes transtornos é outro dado da realidade, e as eleições municipais estão à porta.
Visando lidar com a questão congressual, ele negocia uma partilha fisiológica que seja minimamente palatável e compôs com Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Senado, um acerto que terá de inaudito tanto quanto tem de público.
E o peemedebista contou com um erro terminal do Planalto, o fracassado uso do chefe interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), para tentar zerar o jogo.
Com Maranhão inviabilizado como obstáculo, ficou aberto o caminho para uma costura na Câmara, que precisa ser fechada sem alienar o perigoso e enrolado presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Pela configuração política atual, parece remota a hipótese trágica para Temer, embora outros fracassos espreitem o peemedebista.
Sobre Dilma, como disse no começo da sessão da quarta (11) Renan a inexorabilidade do processo decorre também das regras. O afastamento temporário é uma sentença de morte.
Haveria, contudo, como fazer de forma diferente? Se para tentar barrar a admissibilidade do processo na Câmara o governo ofertou até almas que não possuía em troca de votos, o que aconteceria em até seis meses?
Talvez a saída, caso não prospere alguma bruxaria parlamentarista, venha a ser encontrada na reforma das regras do impeachment.
Mas isso é futuro: a partida atual foi disputada dentro do marco legal, cortesia aliás de uma provocação do próprio governo ao Supremo Tribunal Federal ainda em 2015.
Sobra a Dilma prometer resistência, ainda que ela mesma tenha se antevisto como "carta fora do baralho" se o dia de hoje chegasse.
Impeachment é processo político, com elementos similares mas não iguais ao juízo penal, e só cai o presidente que perde as condições de governar. Como definiu seu escudeiro Ricardo Berzoini, sem nem um terço da Câmara para apoiar o Planalto, o que sobra é ir para casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário