segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil tem exemplos positivos a mostrar na COP30

Por O Globo

Apesar de combate à devastação florestal apresentar resultado frustrante, país sabe o que fazer para zerá-la

A última avaliação global das metas de redução de emissões anterior à COP30, a Conferência do Clima de Belém, traz dados preocupantes sobre o Brasil, como revelou reportagem do GLOBO. Num ano em que a devastação alcançou 8,1 milhões de hectares de floresta tropical — ou 3,1 milhões acima da perda máxima que permitiria atingir as metas traçadas para 2030 —, o Brasil foi responsável por 47,3% dessa devastação, ou 3,84 milhões de hectares. Apesar de a Avaliação da Declaração Florestal reconhecer a queda de 22% no desmatamento no ano passado em relação a 2023, a área devastada ainda foi o triplo do nível compatível com a meta de desmatamento zero até 2030. Com um terço das florestas tropicais do planeta, o Brasil respondeu por 40% das emissões vinculadas à devastação florestal.

Sobre o conceito de partido político, por Antonio Gramsci*

Quando se quer escrever a história de um partido político, deve-se enfrentar na realidade toda uma série de problemas muito menos simples do que aqueles imaginados, por exemplo, por Robert Michels, considerado um especialista no assunto 

O que é a história de um partido? Será a mera narração da vida interna de uma organização política, de como ela nasce, dos primeiros grupos que a constituem, das polêmicas ideológicas através das quais se forma seu programa e sua concepção do mundo e da vida? Tratar-se ia, neste caso, da história de grupos intelectuais restritos e, em alguns casos, da biografia política de uma individualidade singular.

Herzog, 50 anos, por Miguel de Almeida

O Globo

Soube pelo professor de química que o jornalista fora assassinado no DOI-Codi. Eu tinha 16 anos

Passava da uma da tarde na esquina da Alameda Santos com Rua Leôncio de Carvalho. Era minha hora de almoço numa primavera com tempo nublado, 50 anos atrás. Sentado num muro baixo, lia o paulistano Jornal da Tarde. No pé da página, a notícia da morte de Vladimir Herzog.

De noite, na escola, soube pelo professor de química que o jornalista fora assassinado no DOI-Codi. Eu tinha 16 anos e lembro-me de sentir naquele momento o que uma ditadura faz com seus adversários: mata.

Dias depois, amigos mais velhos me contaram ter estado na missa em memória do jornalista, um ato ecumênico acontecido na Catedral da Sé e que reunira cerca de 8 mil pessoas. Pelos relatos, compreendi que não fora somente uma celebração religiosa, a reza compungida pela alma do morto. Além de tudo, os presentes lutavam em defesa da liberdade de viver sem temor e não ser subjugados por um regime autoritário. Ali se rezava por todos nós.

Bets e paternalismo, por Irapuã Santana

O Globo

É uma lógica que infantiliza o cidadão, tratando-o como alguém que deve ser impedido de escolher

A recente decisão do governo de impedir beneficiários do Bolsa Família e do BPC de realizar novos depósitos em contas vinculadas a sites de apostas parte de uma boa intenção — proteger a parcela mais vulnerável da população do vício —, e isso é ótimo. No entanto a medida erra no alvo e na forma, com uma mera proibição.

Apostar não exige mais que um celular, um CPF e um Pix. A rede de cadastros paralelos, contas em nome de terceiros e promessas de “entrar para o time de investidores” faz com que a proibição funcione mais como obstáculo simbólico do que como mecanismo real de proteção.

O ministro que não foi e o legado de Niède, por Bruno Carazza

Valor Econômico

Com ministro demissionário, falta de políticas de turismo gera oportunidades perdidas de desenvolvimento e inclusão

Em 26 de setembro, o ministro do Turismo, Celso Sabino, apresentou a sua carta de demissão, após pressão da liderança de seu partido, o União Brasil. Embora o ministro continue despachando normalmente, uma eventual troca no comando do ministério não será surpresa, dado o contexto político do governo, sempre às voltas com uma crise no Congresso.

Desde que foi criado como pasta independente, em 2003, o tempo médio de duração de um ministro do Turismo no cargo é de menos de 19 meses - Sabino está lá há quase 27. A consequência óbvia dessa permanente dança de cadeiras é a descontinuidade das políticas públicas, pois nem bem o indicado toma pé da situação, ele perde o cargo por denúncias de corrupção ou brigas políticas.

No FMI, Brasil tenso, estrangeiro tranquilo, por Alex Ribeiro

Valor Econômico

As reuniões do FMI são um momento especial para capturar o humor dos investidores

O climão nas reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, na semana passada, pode ser resumido da seguinte forma: os investidores brasileiros estavam muito preocupados com a deterioração fiscal no Brasil, e os estrangeiros, pouco atentos.

Muita gente que esteve em Washington ficou incomodada com a complacência com que os investidores tratam não só o Brasil, mas também os vizinhos da região - a Colômbia, com sua deterioração fiscal, e o Chile, que terá eleições no mês que vem. Ambos não foram um tema relevante nos encontros.

Compadrio e o Supremo, por Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

A maneira como as nomeações são feitas permite e incentiva o critério de compadrio entre os escolhidos

A possibilidade de Jorge Messias, advogado-geral da União, ser indicado para o STF provocou o fogo amigo de quem, à esquerda, defende uma mulher, de preferência negra, para a vaga. Uma das críticas é de que o favoritismo de Messias reafirma o compadrio nas escolhas de Lula, em detrimento de critérios que tornariam a corte mais representativa da sociedade brasileira.

Mesmo quem rejeita a ideia de que gênero ou raça devam balizar a nomeação há de concordar com o diagnóstico sobre as motivações de Lula para preferir Messias.

As redes de influência e amizade garantem a manutenção de favores não apenas na elite do poder político, mas também do sistema judicial. Nisso se incluem tanto o corporativismo que propicia penduricalhos salariais polpudos quanto os favorecimentos velados entre magistrados e seus familiares que exercem a advocacia. Não faltam exemplos no próprio STF, onde os “embargos auriculares” – aqueles feitos ao pé do ouvido – são valiosíssimos.

O plano de paz, por Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

A criação de um Estado palestino é a consequência desse processo, o que implica que o seja por meio de uma convivência pacífica com o Estado judeu

É bastante curiosa a cobertura que tem sido dada ao plano de paz para o Oriente Médio, proposto pelo presidente Trump. Trata-se de uma proposta arrojada, delineando um caminho claro de execução. Não se contenta com propostas abstratas e inexequíveis, mas apresenta etapas a serem cumpridas. Nada será fácil, visto que muitos dos protagonistas tudo farão para torpedear. No entanto, mal essa proposta foi anunciada, os seus críticos contumazes se voltaram para condená-la, expondo simplesmente preconceitos e posicionamentos ideológicos.

Dilemas dos protestos feitos pela Geração Z, por Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Jovens levam energia às ruas em protestos, mas nem sempre isso resulta em mudanças reais

A chamada Geração Z – de jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e início da década de 2010, a primeira a crescer inteiramente conectada à internet – vem ocupando as manchetes em países do mundo, como Peru, Marrocos, Madagáscar, Nepal e Indonésia.

No Peru, manifestações lideradas por jovens levaram o presidente interino José Jerí a decretar estado de emergência uma semana após assumir o cargo com a destituição de Dina Boluarte pelo Congresso. No Marrocos, um coletivo anônimo chamado Gen Z 212 vem organizando as maiores manifestações em uma década, denunciando a precariedade dos serviços públicos e a desigualdade econômica. Em Madagáscar, protestos encabeçados por jovens que se chamam “Gen Z Madagascar” contra apagões culminaram na queda do presidente Andry Rajoelina no dia 14 e na formação de um governo militar.

Entre o Planalto e o plenário, por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

O que mudou no cálculo político quanto a atratividade de ocupar uma cadeira na Esplanada dos Ministérios?

Atribuir a mudança de posição exclusivamente à popularidade de Lula é uma leitura apressada

Em abril deste ano, quando Juscelino Filhodeputado federal eleito pelo União Brasil no Maranhão, anunciou a saída do Ministério das Comunicações, o também maranhense Pedro Lucas Fernandes, deputado do mesmo partido em seu segundo mandato, alegou que sua contribuição com o país seria maior na liderança da bancada do União Brasil na Câmara dos Deputados do que como ministro.

recusa do deputado resultou na apressada conclusão de que o Executivo não tinha mais o que oferecer para fazer frente aos benefícios já controlados pelo Legislativo, e que ocupar uma cadeira na Esplanada dos Ministérios seria menos vantajoso do que permanecer na Câmara.

‘Pobreza não é fracasso pessoal’, por Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

As famílias muitas vezes entram e saem dessa condição de maneira cíclica

O combate à pobreza abrange a promoção da equidade racial, o acesso à justiça e a inclusão racial

pobreza não é um fracasso pessoal, é uma falha sistêmica, uma negação da dignidade e dos direitos humanos. A afirmação feita pelo secretário-geral da ONUAntónio Guterres, no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17/10), diz muito sobre a realidade do povo brasileiro.

Pessoas negras (pretos e pardos) representam a maioria dos que se encontram em situação de pobreza no nosso país. Para se ter uma ideia, entre 2012 e 2023, mais de 60% dos negros tinham renda de no máximo um salário mínimo. Nesse período, a renda média nos domicílios com pretos e pardos foi menos da metade da auferida nos domicílios sem negros (Cedra).

As crenças no centro das transições críticas, por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Para Mokyr, o Nobel de Economia, o desenvolvimento é uma batalha de ideias tanto quanto de recursos

Países presos em ciclos de crise, o verdadeiro desafio não é apenas elaborar melhores políticas, mas cultivar os sistemas de crenças que tornam possível a mudança institucional crítica

O prêmio Nobel de Economia 2025, Joel Mokyr, mostrou como o conhecimento, modelos mentais e crenças impactam o desenvolvimento econômico. Como argumentou, a Revolução Industrial surgiu da "grande sinergia do Iluminismo: a combinação do programa baconiano centrado no conhecimento útil" —aplicado, não só teórico— "e o reconhecimento que instituições melhores criavam incentivos melhores".

Em outras palavras, ideias, crenças e valores importam para o desenvolvimento de longo prazo; não são apenas os incentivos materiais, mas a capacidade do "empreendedor cultural" de remodelar os modelos mentais que determina se as instituições evoluem de forma produtiva. Isto explica porque aquela revolução aconteceu na Grã-Bretanha e não na China (a análise recente de Bernardo Mueller aqui é primorosa).

Aliados de Bolsonaro veem Lula em alta e tentam frear pressão por escolha de sucessor, por Marianna Holanda

Folha de S. Paulo

Expectativa, mesmo na oposição, é de que EUA revejam ao menos parte das tarifas a produtos brasileiros

Entorno diz que não há urgência para anúncio sobre candidato à Presidência e estende prazo para 2026

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) veem o presidente Lula (PT) lucrando politicamente com o avanço das conversas com Donald Trump. Eles acreditam que haverá uma redução de parte das taxas comerciais impostas a produtos brasileiros de determinados setores, como o café.

Mesmo sem conseguir a redução imediata das tarifas, integrantes do governo brasileiro avaliam que a reunião presencial entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na quinta-feira (16), representou a largada para uma negociação séria para a reversão das sobretaxas.

Este foi o primeiro encontro dos chefes da diplomacia dos países desde que os presidentes Donald Trump e Lula (PT) iniciaram contatos, no mês passado.

O avanço das conversas tende a ter um resultado positivo para o governo petista, que já vem numa sequência de boas notícias e resultados favoráveis em pesquisas. A expectativa, mesmo na oposição, é de que a negociação avance até o fim do ano.

O Brasil no espelho, por Fernanda Mena*

Folha de S. Paulo

'A Palavra e o Poder' reúne textos sobre democracia publicados pela Folha nos últimos 40 anos e artigos inéditos sobre o tema

Conjunto de textos forma um painel do pensamento crítico brasileiro, um diálogo entre tempos e olhares

[RESUMO] Livro "A Palavra e o Poder", que chega às livrarias em novembro, revê as conquistas e impasses do Brasil nas últimas quatro décadas, maior período de estabilidade democrática da história do país. Obra apresenta artigos de opinião do acervo da Folha, que são reinterpretados por textos inéditos de autores contemporâneos. Debates sobre desigualdade, economia, inclusão, segurança e Judiciário perpassam o conjunto, no qual passado e presente tentam decifrar o Brasil do futuro.

Em 40 anos de Nova República, o Brasil teve dez mandatos e oito presidentes. Três deles foram reeleitos, e dois acabaram destituídos por processos de impeachment. Essa conta, que parece não fechar, indica parte das provações a que nossa jovem democracia foi submetida neste período, durante o qual ela se mostrou resiliente, entre crises, recomeços e ameaças —ao menos até aqui.

Metade desses presidentes —Fernando Collor de MelloMichel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro— chegou a ser presa após deixar o cargo: a de Temer foi preventiva, as de Collor, Lula e Bolsonaro, após condenação. Lula teve a sentença anulada depois de 580 dias de prisão. Bolsonaro foi condenado, entre outros crimes, por tentar abolir violentamente o Estado democrático de Direito.

Ninhos da desrazão, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Um filme mostra um filho que, doce em casa, é na rua um extremista movido a ódio

A ficção sempre gostou dos marginais. Pois, hoje, há mais gente do que nunca à margem da razão

Um filme recente, que ainda não vi, mas de que me têm falado, é o francês "Brincando com Fogo", das irmãs Delphine e Muriel Coulin. Trata de um assunto crucial de nosso tempo. Um pai tem dois filhos jovens, criados e amados por igual. O caçula é bom estudante, amável e expansivo. O outro, doce, mas recluso, introvertido e sem futuro à vista. Um dia, alguém relata ao pai uma agressão que presenciou na rua por um grupo de extrema direita e pensa ter visto entre eles o seu mais velho. O pai descobre que é verdade. Segue-se então a história —o drama de um pai ao constatar que seu filho é movido a ódio, terror e xenofobia.

Poesia | Ela Ama, de Paul Éluard -

 

Música | Marisa Monte - Elegante Amanhecer/A Lenda das Sereias