Em
substituição ao slogan de Trump 'America first', Biden acena com 'America will
lead again'
Na
campanha eleitoral dos Estados
Unidos, a política econômica vem sendo uma falsa ausente. Os temas
da área parecem esquecidos, mas permeiam os demais.
Os
debates têm focado mais a questão racial, a maneira desastrosa com que Trump enfrentou (ou
não enfrentou) a pandemia e sua incapacidade de liderar o país e o mundo. Mas a
insatisfação com o desemprego, com a perda de renda, com a destruição de
pequenos e médios negócios e com a falta de visão social na distribuição de
ajudas está por detrás de tudo.
Se
as pesquisas não errarem tanto quanto erraram na eleição de 2016, o morador da
Casa Branca a partir de 20 de janeiro será o democrata Joe Biden.
Para
enfrentar o mau desempenho da economia, na maior crise desde os deprimentes
anos 1930, Biden promete aumentar as despesas públicas e, em contrapartida,
pretende arrancar do Congresso um aumento de impostos, especialmente sobre o
lucro das empresas e sobre a renda dos mais ricos.
Alguns
analistas ainda preveem reação negativa dos mercados financeiros caso se
confirme a vitória de Biden. Mas, depois do recado tão insistente e tão
enfático passado pelas pesquisas de intenção de voto, esse resultado já deve
ter passado para o preço.
A
intensidade da reação dos mercados vai depender da abrangência do provável
triunfo democrata. O pior dos mundos seria uma vitória apertada que levasse a
questionamento judicial, de desfecho demorado e imprevisível. Mas se a margem
de votos for ampla e, mais do que isso, se os democratas conquistarem maioria
no Senado, as incertezas se reduzirão e ficará mais fácil a aprovação de
decisões importantes de política econômica no Congresso.
De
um governo Biden se espera um retorno aos termos do Acordo de
Paris e, portanto, uma política ambiental mais consistente do
que a de Trump. Assim, deverá dar apoio para mudanças na matriz energética dos
Estados Unidos em direção à obtenção de combustíveis renováveis. O programa
democrata prevê o desembolso de US$ 2 trilhões em “investimentos verdes”.
Ainda
sobre iniciativas de importante impacto econômico, espera-se a ampliação do
Obamacare, programa de saúde pública iniciado pelo presidente Barack Obama e
boicotado por Trump por considerá-lo “socialista”. Não há estimativas sobre o
quanto exigirá em verbas públicas.
E
há o desafio chinês, que vai se firmando como maior economia do mundo (ver
Coluna de 18 de outubro: A China já é
a maior economia do mundo). A percepção do americano médio é de que
a agressividade do comércio exterior da China e o grande impulso que vem dando
para Pesquisa & Desenvolvimento estão asfixiando a economia americana,
porque obrigam as fábricas a migrar para o exterior ou a aumentar a automação
e, assim, a reduzir empregos.
Não
está claro que programas de aumento da capacidade concorrencial das empresas
dos Estados Unidos sairão das pranchetas dos técnicos do governo Biden. Mas é
certo que o enfrentamento com a China continuará forte, embora com estratégias
não tão truculentas como as adotadas por Trump em sua Nova Guerra Fria. Em
substituição ao slogan de Trump “America first”, Biden acena com “America will
lead again”.
Nesses dois anos, o governo Bolsonaro manteve com o governo Trump uma política muito próxima da subserviência. Uma vitória de Biden produziria algum estrago na política externa do atual governo brasileiro. Mas não se deve exagerá-lo. As relações entre Brasil e Estados Unidos têm sido marcadas pelo pragmatismo e não vai ser a mudança de cor na administração americana que vai produzir uma ruptura ou um afastamento radical.
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