Folha de S. Paulo
Expectativa, mesmo na oposição, é de que EUA
revejam ao menos parte das tarifas a produtos brasileiros
Entorno diz que não há urgência para anúncio
sobre candidato à Presidência e estende prazo para 2026
Aliados de Jair
Bolsonaro (PL)
veem o presidente Lula (PT) lucrando politicamente com o avanço
das conversas com Donald Trump. Eles acreditam que haverá uma redução de
parte das taxas comerciais impostas a produtos brasileiros de determinados
setores, como o café.
Mesmo sem conseguir a redução imediata das
tarifas, integrantes do governo brasileiro avaliam que a reunião presencial
entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira,
e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, na quinta-feira (16),
representou a largada para uma negociação séria para a reversão
das sobretaxas.
Este foi o primeiro encontro dos chefes da
diplomacia dos países desde que os presidentes Donald Trump e Lula (PT)
iniciaram contatos, no mês passado.
O avanço das conversas tende a ter um resultado positivo para o governo petista, que já vem numa sequência de boas notícias e resultados favoráveis em pesquisas. A expectativa, mesmo na oposição, é de que a negociação avance até o fim do ano.
O cenário amplia a pressão de setores do
empresariado ao entorno do ex-presidente e a dirigentes de partidos do centrão
e da direita para que o anúncio de um eventual sucessor de Bolsonaro seja feito
ainda neste ano.
Inelegível, o ex-presidente foi condenado
pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) a 27 anos e três meses de prisão por liderar a trama golpista
em 2022. Ele também está em prisão domiciliar desde 4 de agosto.
Na avaliação de empresários com acesso a
esses dirigentes partidários, se não houver uma união da direita em torno de um
nome com viabilidade nas pesquisas, será difícil reverter a preferência do
eleitorado a Lula.
Para eles, o nome com maior viabilidade é o
do governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos), que nega interesse em se candidatar ao
Palácio do Planalto.
Aliados de Bolsonaro vêm buscando nas últimas
semanas segurar as pressões de todos os lados para que ele anuncie logo um
sucessor. Eles dizem que o empresariado não entende o timing da política e que
não há urgência no anúncio.
Primeiro, porque isso reforça o sentimento no
clã de abandono e oportunismo —e eles reagem na mesma proporção nas redes
sociais.
Segundo, porque o ex-presidente ainda tem
recursos pendentes no STF e ele não tomará qualquer decisão enquanto não
estiver sacramentado seu destino no Judiciário e no Congresso, onde seus
aliados buscam aprovar uma anistia.
O projeto de lei que poderia livrar da cadeia
Bolsonaro e condenados dos ataques golpistas de 8 de Janeiro enfrenta
resistência entre os parlamentares. A maior probabilidade é de que seja votado
um texto de redução de penas, com apoio da cúpula do Congresso.
Além disso, aliados de Bolsonaro dizem que
ele está com quadro de saúde debilitado e crises de soluço constantes. Os que
conseguem autorização de Alexandre
de Moraes, do STF, para visitá-lo dizem que não há clima para discutir seu
futuro político abertamente, em respeito à situação. Todos os relatos dão conta
de um ex-presidente abatido e inconformado com sua prisão.
Ainda assim, Bolsonaro tem mantido conversas
sobre política, ainda que não no ritmo anterior. Ele recebeu nas últimas
semanas pré-candidatos ao Senado, como Esperidião Amin (PP-SC) e a deputada
Carol de Toni (PL-SC).
Conversou brevemente também com Márcio Bittar
(PL-AC) sobre a eleição no estado, para a qual o parlamentar tentará se
reeleger ao Senado. Dele também ouviu que Jorge Messias, AGU (Advogado-Geral da
União) escolhido por Lula para a vaga no STF, não terá o seu voto.
O tema da sucessão à Presidência em si é
visto quase como um tabu no bolsonarismo, e tratado com muitas ressalvas.
Na sua última visita a Bolsonaro, Tarcísio
tratou de candidaturas ao Senado pelo estado, num contexto em que ele é
candidato à reeleição.
O desânimo do governador de São Paulo com a
empreitada a que segmentos do empresariado e do mundo político gostariam que
ele enfrentasse também contamina interlocutores de Bolsonaro.
Há alguns meses o prazo imaginário para o
ex-presidente conceder a algum aliado a sua benção para concorrer ao Palácio do
Planalto era dezembro. Agora, já se fala em fevereiro, março e até abril
–quando se encerrará a janela partidária e o prazo de desincompatibilização.
Dentre aliados do ex-presidente, há mesmo
quem diga que não bastará o fim dos embargos e a votação da anistia (ou redução
de penas) no Congresso.
Para estes, o ex-presidente seguirá como
candidato, ainda que inelegível, até o registro de candidatura no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) no meio do ano que vem —que será negado, uma vez que ele
está inelegível.
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