Folha de S. Paulo
Presentes a homenagem ao presidente do PSD
criticam bolsonarismo de governador e discutem Ratinho Jr.
Secretário diz que seu partido fará cem
deputados em 2026 e vê Lula preparando Boulos como sucessor
Integrantes da elite empresarial e
intelectual paulistana lamentaram, durante um jantar em homenagem a Gilberto
Kassab (PSD) na segunda-feira (13), o que chamaram de erros e
excessos bolsonaristas do governador paulista, Tarcísio de
Freitas (Republicanos).
Segundo duas pessoas presentes ao encontro
relataram à Folha, o tom geral foi de desalento, dado que em diversos
estratos Tarcísio era visto como uma
opção palatável da direita a Lula (PT)
na disputa presidencial do ano que vem.
O encontro, no apartamento de um expoente da
ala do grupo ligada a questões sociais, reuniu cerca de 30 pessoas. A reportagem
não conseguiu conversar com Kassab sobre o evento.
A audiência era heterogênea, sem uma representação maciça da chamada Faria Lima, ou seja, nomes ligados à área financeira. Estavam lá empresários como Luiza Trajano (Magazine Luiza), a herdeira do Itaú Neca Setúbal, o ex-ministro Nelson Jobim e advogados como Pierpaolo Bottini.
Um empresário da área médica foi incisivo em
sua fala, dizendo que Tarcísio inviabilizou o apoio que tinha no setor
produtivo ao ficar ao lado do clã Bolsonaro no imbróglio do tarifaço de Donald Trump contra
o Brasil.
Outros citaram o bolsonarismo
reafirmado pelo ex-ministro da Infraestrutura enquanto o antigo
chefe se prepara para ir à prisão por tentativa de golpe. Na avaliação de
presentes, Tarcísio conseguiu desagradar quem o via como moderado e os radicais
de Jair
Bolsonaro (PL), que sentiram cheiro
de oportunismo em suas falas.
Kassab não entrou nesses méritos, segundo os
presentes. Sobre o seu atual chefe Tarcísio, de quem é secretário de Governo,
disse apenas que a
decisão de candidatar-se à Presidência ainda não foi tomada,
mas que ele tem a impressão de que o governador irá buscar a reeleição ao
Palácio dos Bandeirantes.
É um cenário que agrada Kassab, que tem um
plano de voo no qual ele se candidata a vice e, em caso de
vitória de Tarcísio e da busca pela Presidência do governador em 2030, ele
assume o governo e disputa o pleito estadual naquele ano.
Já sobre o bolsonarismo em si, o chefe
do PSD disse
considerar o movimento inviabilizado pelo radicalismo, e creditou muito aos
movimentos de Eduardo
Bolsonaro nos Estados
Unidos, municiando o governo Trump com dados para tentar salvar o
pai da cadeia.
A operação deu em nada. Apesar das tarifas e
das sanções
impostas ao ministro Alexandre de Moraes e outros magistrados,
Bolsonaro pegou mais de 27 anos de prisão. Para piorar o cenário dos radicais,
Trump e Lula se aproximaram e ensaiam uma reconciliação.
Kassab defendeu, como vem fazendo em público,
a candidatura do governador Ratinho Jr.
(PSD-PR) para o campo da direita. Chamou a atenção ele não ter citado o do
também governador Eduardo Leite (RS), recém-incorporado ao PSD, o que ele
justificou pela juventude do gaúcho de 40 anos —mas o paranaense tem 44.
O secretário previu que seu partido, já
consolidado em termos municipais, fará uma bancada de cem deputados na eleição
do ano que vem. Hoje, é a quarta força na Câmara, ao lado do MDB, com 44 nomes.
E voltou a defender um perfil centrista clássico, longe da esquerda liderada
pelo PT e também do
bolsonarismo.
Citou algumas vezes em sua fala o
ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, deixando a impressão aos comensais de que quer
assumir o espaço do PSDB no
imaginário político —na prática, ficou com os despojos do antes todo-poderoso
tucanato em São Paulo,
amealhando cerca de 1/3 as 645 prefeituras do estado.
Por fim, fiel ao pé firme que mantém na canoa
de Lula, em cujo governo o PSD tem três ministérios, Kassab avaliou o momento
do petista como favorável. Repetindo o que já havia dito reservadamente em
outras ocasiões, disse ver o presidente trabalhando como herdeiro político não
um petista como o ministro Fernando Haddad (Fazenda), mas sim o deputado Guilherme
Boulos (PSOL-SP).
O psolista perdeu duas eleições em
segundo turno na capital paulista com apoio de Lula, mas é visto como alguém
capaz de carregar as bandeiras da esquerda e a retórica palanqueira do petista,
algo que não há nas hostes do partido do presidente.
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