domingo, 19 de outubro de 2025

Lula saiu das cordas, por Elio Gaspari

As pesquisas mostram que Lula saiu das cordas e voltou a ser o favorito para a eleição do ano que vem. Isso foi conseguido por dois fatores. O governo impôs uma agenda positiva com a isenção de imposto de renda para o andar de baixo.

O segundo fator foi o delírio trumpista da oposição, com a espetaculosa atividade de multidão desfilando uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos na Avenida Paulista no 7 de Setembro.

Trump e suas tarifas não produzem um só emprego no Brasil. Ao associar-se a ele, bolsonaristas como o governador Tarcísio de Freitas atravessaram a rua para escorregar na casca de banana da outra calçada.

A esquerda brasileira era conhecida pela sua capacidade de se dividir. Lula tornou-se seu fator de união. A paixão pelas divisões migrou para a direita. Tarcísio, Caiado e Romeu Zema não se entendem e ninguém sabe porquê. Como se isso fosse pouco, o deputado Eduardo Bolsonaro age como um guerrilheiro avulso.

A direita está na ilusão de que em 2026 vão se repetir as condições de 2018, quando o mapa eleitoral passou por uma maré conservadora. Em 2018, Lula estava na cadeia, o PT na lona, derrubado pelas roubalheiras confessadamente cometidas pelos burocratas e empresários apanhados pela Lava-Jato. Hoje o juiz Sergio Moro é um senador ectoplásmico que vaga pelos corredores do Congresso. Quem está em prisão domiciliar é Jair Bolsonaro.

À primeira vista, dividida, a direita não vai a lugar algum. À segunda vista, o bolsonarismo, que foi um agregador em 2018, hoje é um desagregador, uma espécie de encosto.

A bolha de 2025 e a bomba de 1929

Na mesma semana em que chegou às livrarias americanas o “1929”, do repórter Andrew Ross Sorkin, celebrizado pelo seu “Too Big to Fail“ (“Muito grande para quebrar”) sobre a crise financeira de 2008, Sam Altman, fundador da Open AI, disse que alguns setores do mundo da Inteligência Artificial “estão meio inflados”.

Tudo indica que há empresas de IA operando com as mágicas financeiras das bolhas.

Por via das dúvidas, revisitar a crise de 1929, com seus personagens, titãs e charlatães, é sempre uma boa aula. Sorkin fez um belo livro, simples e cronológico.

Em alguns momentos, as falas de 2025 relacionadas com a IA ecoam 1929, com uma diferença: Herbert Hoover, o então presidente dos EUA não cultivava milionários bajuladores.

Em 1929, os milionários usavam polainas e cartolas, em 2025, mostram-se joviais de jeans e camisetas.

Retórica oca

No início de 2023, Lula informou:

“Estejam certos de que vamos acabar, mais uma vez, com a vergonhosa fila do INSS, outra injustiça restabelecida nestes tempos de destruição.”

Chegou-se ao final de 2025, a fila chegou a 2,6 milhões de vítimas e acabou o programa para acabar com ela.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota, não acredita em mensagens eletrônicas e ainda se comunica por telegrama. Mesmo assim, o cretino não entende como os Correios tenham passado de empresa lucrativa à condição produtora de um buraco de R$ 20 bilhões.

Na opinião do cretino, antes que reapareça o coral da privataria, seria o caso de se identificar os gestores dessa ruína. Buraco em estatal, como o jabuti da forquilha, tem mão de gente.

Quebrar empresa para justificar sua privatização foi coisa comum no século passado.

Escala 5/2

Lula, o PT e o ministro do Trabalho farão toda a coreografia de apoio ao projeto de uma nova escala de trabalho, com dois dias de repouso.

E só.

Exagero na blindagem

A bancada governista na CPI do INSS exagerou na prestação de serviços ao Planalto quando derrubou por 19 votos contra 11 a convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), uma das entidades investigadas pela comissão.

Aos 83 anos, Frei Chico é um veterano sindicalista. Foi ele quem levou Lula para o movimento operário. Não precisava da blindagem que poderá transformá-lo em vidraça durante o ano vindouro.

O estilo de Leão XIV

Feito Papa Leão XIV, o cardeal americano Robert Prevost se distanciou dos estilos de seus dois antecessores. Não tem o gosto pelas regalias do alemão Bento XVI com seus sapatos vermelhos, nem os adoráveis lances de peronismo populista de Francisco, abandonando os aposentos regalescos.

Relativamente jovem, com 70 anos, leva mais o jeito de João Paulo II.

Bardot em Búzios

Em 1964, a atriz francesa Brigitte Bardot veio ao Brasil, com Bob Zagury, seu namorado meio marroquino, e passou uma temporada num arraial de pescadores chamado Búzios.

À época, noticiou-se que o prefeito do lugar oferecia terrenos grátis a quem aceitasse algumas condições e construísse uma casa.

Hoje, um metro quadrado de terreno em Búzios chega a valer R$ 7.500.

Elite no crime

Enquanto as forças da lei e da ordem não puserem na cadeia um diretor de grande empresa ou banco de porte médio, o andar de cima de Pindorama continuará flertando e operando com o crime organizado.

Andrew e Kate

Depois de décadas de condutas antipáticas, picaretagens e escândalos sexuais, o príncipe Andrew, filho da falecida rainha Elizabeth, renunciou aos seus títulos.

Tudo bem, mas falta explicar porque, até agora, a burocracia da nobreza britânica não deu títulos a Carole e Michael Middleton, pais de Kate, princesa de Gales.

Pelo lado materno, Kate descende de uma legítima cepa da classe operária inglesa. Nela houve um estucador, um caloteiro preso e uma servidora que trabalhou em Bletchley Park, a central que decifrava os códigos alemães durante a Segunda Guerra.

De olho em Cuba

A escalada trumpista contra a ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela é um ensaio para o seu verdadeiro objetivo na América Latina: Cuba. Nesta fase, os EUA testam a extensão da solidariedade continental.

Marco Rubio é filho de cubanos e Donald Trump sabe que a queda do regime comunista de Cuba poderá abrir espaço para um dos grandes booms imobiliários do século.

Hoje, como em 1961, quando os EUA perfilharam uma desastrada invasão da ilha, a questão está no apoio (ou rejeição) do povo cubano ao regime.

O Arco de Trump

Donald Trump pode estar acometido de um de seus surtos de grandiloquência ao propor a construção de um arco monumental para celebrar os 250 anos da nação americana.

Uma coisa é certa, qualquer comparação com o Arco do Triunfo francês é enganosa.

Com fervor, a França comemora as vitórias de Napoleão Bonaparte, um corso que morreu na ilha de Santa Helena, prisioneiro dos ingleses, a quem se entregou para não ser morto pelos franceses.

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