sexta-feira, 10 de outubro de 2025

China limita venda de terras raras, vitamina da tecnologia de ponta. Brasil bobeia. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Empresas terão de pedir permissão para negociar produtos e tecnologia relacionadas

Comércio do produto está no centro do conflito econômico entre americanos e chineses

China vai fechar a porteira da venda e do uso de terras raras e de tecnologias relacionadas. Empresas e indivíduos, em especial estrangeiros, terão de pedir permissão para negociar terras raras e produtos que contenham terras raras chinesas. Ou que sejam produzidos no exterior e utilizem "tecnologias originárias da China para mineração, fundição e separação de terras raras, fundição de metais, fabricação de materiais magnéticos ou reciclagem de recursos secundários de terras raras".

É o que diz um comunicado desta quinta do Ministério do Comércio da China. Vendas para uso militar desses produtos serão vetadas; para a fabricação de chips, estarão sujeitas à análise caso a caso.

A decisão pode abalar a produção de tecnologia avançada no mundo, chips de inteligência artificial inclusive. É pelo menos um movimento forte, ameaça, no conflito geoeconômico. O investimento em IA, o americano em especial, e vendas de produtos relacionados são ora o fator principal de crescimento da economia e do comércio do mundo.

No final do mês, Donald Trump e Xi Jinping devem se encontrar. No começo de novembro, vence a trégua da guerra comercial entre EUA e China. Terras raras estão no centro da disputa econômica entre os dois países.

Depois de abril, do megatarifaço trumpiano, a China segurou as exportações do produto, prejudicando fábricas nos EUA e na Europa. Foi um motivo que levou Trump a aliviar o ataque econômico à China.

Terras raras são 17 elementos químicos até em geral abundantes, mas de extração e processamento difíceis e caros, processos que de resto produzem resíduos radioativos. A China agora limitou de modo estrito e formal a venda ou o uso de 12 desses elementos. Extrai cerca de 60% das terras raras do mundo, processa uns 90%.

O país reage de modo similar a ameaças americanas de limitar ainda mais a exportação de tecnologia de fabricação de chips para a China, entre outras sanções. Informalmente, chineses impedem também a emigração de especialistas no assunto.

Semicondutores usados em inteligência artificial dependem de terras raras. Equipamentos de alta tecnologia dependem de produtos feitos com terras raras: aviões de guerra, mísseis, drones, motores elétricos, robôs, turbinas eólicas, partes de automóveis, celulares, aparelhos de ressonância magnética, radares, lasers, discos rígidos, alto-falantes. Dá para entender o tamanho do problema.

As restrições entram em vigor nos dias 8 de novembro e 1º de dezembro. Afetariam os Estados Unidos e quase qualquer país de economia mais avançada, União Europeia, Japão, Taiwan, Coreia do Sul. Afetaram Nvidia e Apple.

Diz-se que o Brasil poderia fazer um acordo com os EUA em torno de terras raras, sabe-se lá qual. Lula 3 diz que não quer apenas extrair esses elementos da terra. Quer industrializá-los.

Apenas agora começa no país a extração em escala significativa. Quanto a processamento, que dirá fabricação de produtos, vamos ficando para trás.

EUA e UE constroem fábricas para processar e desenvolver produtos de terras raras. Deve levar uns anos até que estejam produzindo na capacidade projetada. Mas precisam de matérias primas. Querem uma cadeia econômica "ocidental" livre da China.

O Brasil poderia se beneficiar dessa confusão, pois tem terras raras, a segunda reserva mundial. Por ignorância, descaso com ciência e tecnologia, atraso geral e falta de noção de seu lugar no mundo, não se beneficia.

 

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