Folha de S. Paulo
Apontado como intransigente ao defender
soberania, Lula buscou negociação e ganha pontos, enquanto governador se
desgastou
Presidente dos EUA mudou de página ao sentir
o cheiro de queimado do bolsonarismo e os efeitos negativos na economia de seu
país
A conversa
de Donald Trump com o presidente Lula enxotou da sala o bode
bolsonarista que tentava se impor pelo mau cheiro entreguista e deixou os
subalternos Eduardo
Bolsonaro, deputado desertor, e Tarcísio
de Freitas, governador Maga de São Paulo, pendurados na brocha –para usar a
sugestiva imagem popular...
Trumpistas e direitistas radicais, com simpatias moderadas, estavam vibrando com a ofensiva da Casa Branca para salvar golpistas e culpar o Supremo pelas ameaças à democracia brasileira.
A onda que veio do norte seria, afinal, culpa
do Judiciário e de Lula, sempre ele,
que estaria provocando o autocrata americano ao defender a soberania nacional e
a separação dos Poderes. A diplomacia
brasileira foi acusada de incompetente e esperava-se uma escalada de
sanções com a provável condenação de Jair
Bolsonaro.
Antes do julgamento, escrevi aqui que o alarmismo
com as ameaças de Trump era exagerado. Não parecia improvável que as
relações se estabilizassem em níveis administráveis.
Gestões vinham sendo feitas pelo governo,
através do Itamaraty e
do vice-presidente, Geraldo Alckmin, entre outros, em coordenação com
iniciativas empresariais. Os resultados apareceram.
Esta Folha revelou a conversa do empresário Joesley
Batista, da JBS, com Trump, em que defendeu o diálogo, antes do propalado
encontro casual dos líderes na Assembleia
Geral da ONU. O jornal O Estado de S. Paulo, por sua vez, noticiou que os
dois governos teriam mantido contatos secretos e realizado reuniões de trabalho
envolvendo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira, Jamieson Greer, representante
comercial americano, e Richard Grenell, que tem sido enviado pelos EUA para
negociações críticas com alguns países, caso da Venezuela.
A ideia de que as coisas mudaram por causa de
um esbarrão aleatório e de uma "química" repentina
não se sustenta, ainda que a simpatia possa ter se instaurado. Com seu viés
pragmático, o presidente americano não se acomodou na posição de instrumento do
minúsculo Eduardo Bolsonaro e quetais. Sentiu o cheiro de queimado do
bolsonarismo e se deu conta de que os efeitos das medidas não golpearam o
Brasil e criaram problemas para a sua economia. Virou uma página.
A mudança não significa que Trump vá ceder a
todas as demandas. Não irá. Pode-se imaginar contudo que as exceções ao
tarifaço tendem a se ampliar. O Brasil tem o que oferecer e Lula não se tornou
a grande personalidade política da redemocratização por falta de capacidade de
negociar.
Certo é que o país está saindo da turbulência
incitada pela direita, com ocupações bizarras nas mesas do Legislativo,
bandeiras norte-americanas, ameaças e chantagens de toda sorte. O revertério
nas pautas inaceitáveis da Câmara, diante das manifestações
de rua foi um sinal. Ao mesmo tempo, Lula vai contrariando a análise
equivocada de que sua perda de popularidade seria "estrutural".
Pesquisas indicam melhoria na avaliação e vantagem
sobre adversários na intenção de voto para a disputa presidencial.
Tarcísio, o queridão do mercado para o
Planalto, em 2026, se desgastou, cometeu erros e pode se recolher à
disputa paulista, embora o próprio
Lula creia que não.
É o retrato da hora. O do futuro, veremos.
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