Folha de S. Paulo
Presidente americano já se voluntariou para
receber comenda da Paz
Se plano para Gaza se mostrar mais do que um
cessar-fogo, Agente Laranja terá realizado uma proeza
Escrevo estas linhas menos de 24 horas antes
da divulgação do prêmio Nobel da
Paz. Donald
Trump voluntariou-se para a comenda, mas será
que ele a merece?
Não creio que os noruegueses sejam loucos o bastante para galardoar Trump por uma iniciativa de paz que pode não durar mais do que alguns dias, mas, se o plano do presidente americano para Gaza se mostrar mais sólido do que um cessar-fogo com troca de reféns por prisioneiros, então não há dúvida de que seria uma façanha digna de Nobel.
É claro que isso seria só parte da história.
Essa e outras iniciativas pacifistas do Agente Laranja teriam de ser cotejadas
com coisas que ele também fez e que vão no sentido oposto. Trump vem dando
passos firmes para sabotar a ordem internacional do pós-guerra, que, ainda que
muito imperfeitamente, tornava o mundo um lugar mais seguro.
É uma conta difícil de fazer. Tendo a
valorizar mais arranjos institucionais permanentes do que empreendimentos de
sucesso isolados, mas reconheço que são os segundos que geram boas manchetes.
Isso estabelecido, quais são as chances reais do plano? Eu diria que são
baixas, mas não iguais a zero.
Ainda que por razões diferentes, nem o
governo do premiê Binyamin
Netanyahu nem o Hamas querem
a paz. Talvez eu exagere no cinismo, mas penso que tanto Netanyahu como o Hamas
aceitaram a proposta torcendo para que o outro lado a rejeitasse. Ficariam com
a guerra e sem o ônus de dizer não. É claro que isso ainda poderá acontecer.
Não faltarão ocasiões para um lado acusar o outro de descumprimento e cair
fora.
A chave para que isso não aconteça é pressão
política. Trump a usou de forma inédita sobre Netanyahu e também conseguiu
fazer com que países árabes pressionassem o Hamas. A conjuntura ajuda. Israel nunca
esteve tão isolado diplomaticamente. Já o Hamas foi quase aniquilado
militarmente e viu o Irã, seu principal financiador, sofrer pesados reveses.
Não sou louco de apostar dinheiro em paz
no Oriente
Médio, mas não custa sonhar que desta vez possa ser diferente.
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