domingo, 28 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Setor privado desmente arautos do intervencionismo

O Globo

Com investimentos estimados em R$ 170 bilhões, empresas privadas se tornam solução para infraestrutura

Os investimentos estimados para este ano e os próximos em infraestrutura deverão somar pelo menos R$ 170 bilhões. O destaque, ao contrário do que imaginam os arautos do novo intervencionismo estatal, é a iniciativa privada. Sem ela, estradas continuariam em decrepitude, linhas de transmissão de energia não existiriam, portos deixariam de ser ampliados, e o saneamento básico se manteria no estado de indigência em que esteve nas últimas décadas.

Ao mesmo tempo que anunciou investimentos de R$ 300 bilhões numa nova versão de política industrial — cujos detalhes têm despertado inquietação —, o BNDES elabora no momento a modelagem de 138 concessões e projetos de Parceria Público-Privada (PPP), segundo levantamento do GLOBO. Ao todo, eles podem significar obras no valor de R$ 268 bilhões.

Luiz Sérgio Henriques* - O pessimismo da razão

O Estado de S. Paulo

Há, pois, uma aparência de retomada dos anos 1930, mas também dos que se seguiram a 1945

Acostumamo-nos, não de todo arbitrariamente, a olhar para personagens, fatos e processos de um século atrás em busca de alguma luz que nos guie em meio à enorme obscuridade ao redor. Discutimos se o fascismo pode voltar, ainda que com roupagem nova, ou se a República Popular da China reatualiza o velho comunismo, agora singularmente dotado de dinamismo econômico e capaz de magnetizar, por causa da mobilidade social exitosa, o que antes se considerava o “Terceiro Mundo”. E as sociedades que, cada qual a seu modo, experimentaram a difícil combinação de capitalismo e democracia política voltam a caminhar na corda bamba, ameaçadas pelos seus próprios demagogos e o séquito de massas que arrastam em rodadas eleitorais sucessivas.

Há, pois, uma aparência de retomada dos anos 1930, mas também dos que se seguiram a 1945. Um observador marxista daquela década, pouco propenso ao sono dogmático, viu no surgimento e na imposição do americanismo e do fordismo não uma ardilosa maquinação imperialista, mas sim uma inédita tentativa de racionalização progressista da economia e da sociedade. Não é certo – referimo-nos a Antonio Gramsci – que deixasse de apostar inteiramente no socialismo soviético, mas é fato que admirava na civilização americana, em contraste com a europeia, uma capacidade hegemônica que “nascia diretamente da fábrica”. Por isso, ela dispensava mediações ideológicas excessivas bem como limitava vigorosamente setores parasitários, rentistas e outros dissipadores da riqueza socialmente produzida.

Entrevista | Yascha Mounk: Bolsonaro mostra para onde estão indo os populistas

Yascha Mounk, que lança novo livro, minimiza desinformação nas redes sociais, aponta risco da ascensão de herdeiros da extrema-direita e compara ex-presidente, inelegível, a Trump, candidato: ‘Escolha dos brasileiros não estava disponível a americanos’

 Paulo Celso Pereira / O Globo

Autor de ‘O povo contra a democracia’, o cientista político Yascha Mounk, professor da Universidade Johns Hopkins, lança no Brasil em fevereiro ‘O grande experimento’ (Companhia das Letras), no qual discute como as democracias com ampla diversidade étnica podem triunfar. Nascido na Alemanha e naturalizado americano, Mounk tem uma visão mais otimista que muitos autores contemporâneos e aponta progressos significativos nos direitos de grupos menos favorecidos: “Precisamos analisar a situação de maneira equilibrada”, alerta.

O senhor afirma no livro que há, tanto na direita quanto na esquerda, um “pessimismo que distorce a realidade” sobre a democracia. A situação é melhor do que os dois lados sugerem?

Sim. Nos Estados Unidos, democratas e republicanos não conseguem concordar em quase nada. Mas uma coisa com a qual concordam é que há uma séria ameaça às instituições democráticas. Há uma crise política em muitos países decorrente da ascensão de populistas. Mas a tendência nas últimas décadas é positiva. Tivemos uma grande ascensão das mulheres, expansão da tolerância para gays e lésbicas, e há muito mais representação de minorias étnicas nos níveis mais altos da sociedade, dos negócios e da política.

Eliane Cantanhêde - O ‘SNI particular’ de Jair

O Estado de S. Paulo

Ramagem não agira por conta própria, mas dentro da engrenagem do golpe e a mando de Bolsonaro

Ao anunciar que tinha um “sistema particular de inteligência”, na reunião ministerial tenebrosa de maio de 2020, o então presidente Jair Bolsonaro confessou um crime, a manipulação das instituições e uma velha prática: a confusão entre o público e o privado. O sistema de inteligência do Estado não é propriedade de presidentes e nunca poderia ser considerado “particular”, assim como Exército Brasileiro nunca deveria ser chamado de “meu Exército”.

Os sistemas que Bolsonaro tentou transformar em “particulares” foram os de inteligência, como Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin); os armados, Exército, Marinha e Aeronáutica, além de PRF e até polícias estaduais; e os de investigação e controle, como Receita Federal (impostos) e Coaf (operações financeiras “atípicas”).

Rolf Kuntz - Promessas e perigos do plano industrial

O Estado de S. Paulo

Não basta fazer da indústria, novamente, um dos focos da política de crescimento. É essencial evitar a repetição de erros

O Brasil pode voltar a crescer como potência industrial, se nenhuma grande bobagem for cometida em Brasília. Emperrada e abandonada pelo governo por mais de dez anos, a indústria é reabilitada, agora, como um dos focos da política econômica. Com financiamento previsto de R$ 300 bilhões até 2026, o programa foi recebido com ceticismo e críticas por analistas do mercado. Se o dinheiro aparecer e as mudanças começarem, ainda será necessário um enorme esforço de recuperação. O setor produziu em novembro 17,6% menos que em seu pico histórico, atingido em maio de 2011. Mesmo com alguma retomada na fase pós-pandemia, a produção da indústria foi 0,9% menor que em fevereiro de 2020, quando ainda eram poucos, no País, os casos conhecidos de covid-19.

Merval Pereira - A pressão contínua

O Globo

Usar o poder estatal para pressionar uma empresa privada, é a aplicação de um capitalismo de Estado de baixa qualidade que certamente abalará a imagem do país no exterior.

Continua nos bastidores a pressão do governo sobre o Conselho da Vale, embora extraoficialmente se saiba que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega desistiu da indicação para a presidência da companhia, caso raro de alguém que desiste de um cargo para o qual não foi convidado. Seria um prêmio de consolação do presidente Lula para Mantega, que considera seu amigo um injustiçado.

A questão não é se Mantega tem ou não condições para presidir uma empresa do porte da Vale, mas lembrar que a mineradora é uma empresa privada, tem critérios próprios para a escolha de seus dirigentes, pelos quais o indicado pelo governo não passaria. A começar pelo fato de que, segundo essas regras, há um comitê de nomeação que recomenda ao Conselho os nomes dos candidatos, escolhidos por uma empresa de “head hunter” de nível internacional reconhecido.

Dorrit Harazim - Barbárie

O Globo

Pena de morte é incompatível com qualquer sociedade evoluída. Simples assim, apesar de toda a complexidade

É tudo muito louco. Em novembro de 2022, no dia marcado para ser executado por injeção letal, o condenado à morte Kenneth E. Smith, do Alabama, ficara amarrado à maca por quatro horas, enquanto agentes lhe perfuravam braços e pernas à procura de um acesso intravenoso para aplicar o coquetel de fármacos. Demoraram tanto que o prazo para a execução expirou, e Smith foi devolvido ao corredor da morte. Estava traumatizado. Já havia recebido as últimas orações, degustara uma refeição de sua escolha como parte do ritual, se despedira de lembranças. Em resumo, estava despreparado para voltar a ser vivente encarcerado há 34 anos.

Bernardo Mello Franco - O resgate de um diário: Mércia Albuquerque e a resistência à ditadura

O Globo

Nos 60 anos do golpe militar, anotações de advogada viram livro e inspiram monólogo de Andrea Beltrão

Em 2 de abril de 1964, militares amarraram Gregório Bezerra à traseira de um jipe e o arrastaram seminu pelas ruas do Recife. Preso nas primeiras horas do golpe, o ex-deputado foi espancado e exibido como um troféu do novo regime. A brutalidade chocou a jovem advogada Mércia Albuquerque, que presenciou a covardia contra o velho comunista.

“Gregório, apenas com um calção preto e uma corda de três pontas amarrada no pescoço, era arrastado por soldados, seguidos de perto por um carro de combate, com pés que haviam sido banhados em soda cáustica, sangrando”, registrou Mércia. Naquele dia, ela tomou uma decisão: abandonaria o emprego para defender presos políticos.

A advogada virou referência para vítimas do arbítrio em todo o Nordeste. Denunciou torturas, peitou coronéis, ajudou a localizar desaparecidos vivos e mortos. Para aguentar o tranco, despejou suas angústias e num diário secreto, recém-publicado pela Editora Potiguariana. O livro inspira “Lady Tempestade”, monólogo de Andrea Beltrão que tem lotado todas as sessões no Teatro Poeira.

Elio Gaspari - Mercadante quer o quarto polo naval

O Globo

Não deu outra, 24 horas depois do anúncio do programa Nova Indústria, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, anunciou que a Viúva poderá botar pelo menos R$ 2 bilhões num projeto de recriação da indústria naval. Assim, a geração de Lula será a única que financiou quatro polos navais. Os três anteriores foram a pique.

Mercadante diz que “nós precisamos fazer navios, já fizemos.” Tem toda razão. No século XVII, na Ilha do Governador, construiu-se o galeão Padre Eterno, que pode ter sido o maior barco do mundo. Na mesma fala o doutor informou: “Tivemos uma indústria pujante de construção naval nos anos 70.” Pujante ela era, mas quebrou. Os polos navais quebram porque quando se lança um novo programa não se revisita a causa da ruína dos anteriores.

Luiz Carlos Azedo - Vale reabre debate sobre privatizações

Correio Braziliense

"O mandato de Eduardo Bartolomeu, atual CEO da empresa, termina em maio e o conselho de administração precisa decidir até quarta-feira se o mantém ou não"

Durante a última semana o nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega voltou à ribalta, como suposto indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidir a Vale, a grande empresa brasileira que atua nos setores de mineração, logística, energia e siderurgia. Foi criada como estatal em 1942, por Getúlio Vargas, para exploração de ferro em Itabira (MG), com o nome de Companhia Vale do Rio Doce, um alicerce da industrialização pesada no Brasil, principalmente da siderurgia. O caso reabre o debate sobre as privatizações. Hoje, a Vale S.A. é a 31ª maior companhia do mundo.

Celso Rocha de Barros - Jair criou um SNI clandestino contra Lira e ministros do STF

Folha de S. Paulo

Faz sentido Congresso continuar tratando bolsonaristas como participantes legítimos do jogo político?

Sempre que você ouvir de um bolsonarista que Alexandre de Moraes ameaça o equilíbrio entre os três Poderes, lembre-se disso: enquanto presidente, Jair Bolsonaro mantinha um esquema clandestino de espionagem contra o presidente da Câmara dos Deputados e os ministros do Supremo Tribunal Federal.

Em país sério, isso dá uma cana tão longa que no final da pena o elemento ganha o terreno do presídio por usucapião.

As revelações são da Polícia Federal. Segundo a PF, o esquema era comandado por Alexandre Ramagem, chefe da Abin durante o governo Bolsonaro.

Além de espionar o chefe dos outros Poderes, o esquema clandestino monitorava jornalistas e adversários políticos de Jair, promovia fake news e buscava informações que ajudassem os filhos de Bolsonaro a escapar da cadeia por escândalos de corrupção variados.

Bruno Boghossian - Talvez Lula precise dar mais broncas em seus ministros

Folha de S. Paulo

Presidente começou o ano com três reprimendas após falhas coletivas do primeiro escalão

Lula começou o ano ao ritmo de uma grande bronca por semana em sua equipe. Em reuniões recentes, ele reclamou da demora na retirada de garimpeiros do território yanomami, passou um sabão em ministros por erros nas negociações da energia de Itaipu e repreendeu auxiliares que prepararam o novo plano do governo para a indústria.

O petista já admitiu que é um presidente mais ansioso neste mandato. Passou 2023 dizendo que tinha pressa para entregar resultados e que o tempo de governo era curto. Mas as reprimendas de Lula têm menos a ver com seus humores e mais com falhas coletivas do primeiro escalão.

Muniz Sodré* - A polarização política e a polarização social

Folha de S. Paulo

Episódios de vida são mais reveladores do que conceitos geopolíticos

A polarização política que inquieta especialistas por sua persistência não é o mesmo fenômeno da polarização social. Faz diferença a dimensão afetiva, em que episódios de vida são mais reveladores do que conceitos. Assim, um indivíduo convicto do momento de "pacificação" decide aproximar-se do vizinho percebido como pacato, respeitoso, mas de quem se diz votar no lado violento. Na afabilidade da piscina condominial, aborda-o com tato, a resposta é tranquila: "Sim, sou bolsonarista, mas do bem". Acrescenta: "Isso existe".

Hélio Schwartsman - Gerindo a incerteza

Folha de S. Paulo

Livro mostra como Big Techs se apropriam de informação para assegurar monopólio e lucrar

"Incerteza, um Ensaio", de Eugênio Bucci, é um livro ao mesmo tempo despretensioso e profundo. O autor começa recapitulando ideias da física sobre incerteza e entropia, passa pela teoria da informação de Claude Shannon, e mostra como o mundo moderno, em especial a esfera digital, se tornou um campo de batalha pelo controle da incerteza. As big techs se garantem como monopólios porque são capazes de se apropriar da incerteza e geri-la.

Antes de seguir, devo assinalar que Bucci é meu amigo, o que me torna automaticamente meio suspeito para comentar seu livro. O leitor que aplique os descontos que julgar necessários.

Poesia | Um homem e o seu carnaval, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Alceu Valença - Luar de Prata

 

sábado, 27 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editorias / Opiniões

Regra do mínimo corrói reforma da Previdência

O Globo

Como apontou colunista do GLOBO, impacto das economias previstas para dez anos cairá pela metade

Pela nova regra proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso no ano passado, o salário mínimo passou a ser corrigido pela inflação do ano anterior somada ao crescimento do PIB de dois anos antes. Em palanques ou no púlpito do Parlamento, defensores da nova lei exaltaram a necessidade de resgatar a dívida social histórica do Brasil. Um olhar mais atento, porém, faz lembrar a máxima atribuída ao Conselheiro Acácio: o problema das consequências é que elas vêm depois. O governo decidiu dar com uma mão, mas acabará tirando com a outra.

Como aposentadorias e benefícios sociais estão atrelados ao salário mínimo, todo aumento repercutirá nas contas do governo. As despesas com o INSS saíram de 2,5% do PIB em 1988 para 8% hoje. Com a nova lei e o envelhecimento da população, não pararão de aumentar. Quanto mais dinheiro for destinado à Previdência e à Assistência Social, menos sobrará para saúde, educação, segurança pública, infraestrutura ou ciência e tecnologia — investimentos capazes de alavancar a economia e beneficiar a renda e o bem-estar dos brasileiros.

Marco Aurélio Nogueira* - Os demônios dos democratas brasileiros

O Estado de S. Paulo

Não há, no Brasil atual, um desaguadouro da movimentação social, que fica assim com baixa potência e pouca incidência reformadora

Agora que o ano político começou, com direito a campanhas eleitorais em gestação e eleições em outubro, é importante pensar nas questões que atormentam o movimento democrático brasileiro desde ao menos 2013, data em que as ruas falaram alto, embaladas pelas redes sociais, que então se disseminavam.

Tal reflexão é, na verdade, uma exigência. Antes de tudo porque o sistema democrático existente realmente funciona voltado para dentro de si mesmo. Privilegia as negociações entre o governo e os demais Poderes de Estado, que estão manchadas pela desconfiança recíproca, pela reduzida transparência e pelo desinteresse em produzir uma ideia de sociedade, políticas claras e eficientes, uma comunicação inteligente com os cidadãos. Isso tem significado que a distância entre governantes e governados permanece grande demais, impossibilitando a formação de um “bloco histórico” de forças que reformem e direcionem o País. Prolonga-se, assim, uma situação de paralisia relativa, diante da qual as atuais ideias de “frente” são meras ilusões ou manobras retóricas.

Bolívar Lamounier* - Perdemos nosso bode expiatório

O Estado de S. Paulo

Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda percebeu que algo havia de errado em nossa mania de usar Portugal como uma Geni

Até poucas décadas atrás, nossa pobreza era mais ou menos igual à de hoje, mas vivíamos bem, tínhamos até certo senso de humor, porque tínhamos um excelente bode expiatório: Portugal.

Toda vez que um indivíduo mencionava uma mazela, outro replicava: culpa de Portugal. Culpa da colonização. Azar nosso termos sido descoberto por um país pequeno, pobre e atrasado. Com seu inexcedível brilho, o compositor Chico Buarque ressaltou que xingar o Brasil era pouco, era preciso injuriá-lo, e tascou: um dia vamos nos tornar um grande Portugal. Pois é, ilustre poeta, que pena você ter errado por uma margem tão larga. Quem nos dera se tivéssemos realizado o sonho de nos tornarmos um grande Portugal. Hoje, somos um país estagnado, incapaz de retomar o crescimento econômico, vendo a criminalidade subir à estratosfera e moradores de rua se apinhando até nos melhores bairros das melhores cidades.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Necessidades e interesses

Os líderes do pós-Guerra negaram-se a entregar o destino das massas ao liberalismo econômico dos anos 20, embrião do nazifascismo

Vou perturbar os leitores de CartaCapital com considerações a respeito das duas dimensões que convivem nas sociedades capitalistas: as necessidades e aspirações coletivas de boa vida dos cidadãos e os interesses particularistas que se realizam através do mercado. Nesse jogo, crucial para a vida moderna e civilizada, deve-se reconhecer que a convivência entre os interesses contrapostos exige um exercício permanente das políticas comprometidas com a soberania popular e com o bem-estar dos cidadãos.

O debate contemporâneo está contaminado por indagações binárias do tipo “é isto ou aquilo”. Estado ou Mercado?

É ousadia deselegante um modesto economista invocar um filósofo da estatura de Hegel para arrostar essa banalidade. Mas vou cometer tal impropriedade. Na Introdução à Ciência da Lógica o mestre de Iena asseverou:

“Quando as formas são tomadas como determinações fixas e consequentemente em sua separação uma da outra, e não como uma unidade orgânica, elas são formas mortas e o espírito que anima sua vida, a unidade concreta não reside nelas. …O conteúdo das formas lógicas nada mais é senão o fundamento sólido e concreto dessas determinações abstratas”.

As lideranças democráticas subiram os impostos sobre os ricos e, assim, ensejaram a prosperidade

A unidade orgânica entre as dimensões do capitalismo foi reconhecida no acolhimento dos direitos sociais e econômicos, na posteridade da Segunda ­Guerra Mundial por europeus e americanos. ­Roosevelt, Atlee, De Gaulle, De ­Gasperi e Adenauer sabiam que não era possível entregar o desamparo das massas aos desvarios do liberalismo econômico dos anos 20, matriz das soluções nazifascistas que demoliram as liberdades. Por isso, sacralizaram os princípios do liberalismo político para expurgar da vida social o arranjo econômico liberal dos anos 20, origem dos totalitarismos.

Pablo Ortellado - Conservadorismo entre homens jovens

O Globo

A explicação mais simples é a reação ao movimento feminista

Na edição de ontem do jornal Financial Times, o repórter-chefe de dados, John Burn-Murdoch, compilou estatísticas interessantes mostrando a crescente divergência ideológica entre homens e mulheres jovens em diferentes países. Enquanto elas têm se tornado mais progressistas, eles se tornaram mais conservadores. A constatação merece reflexão.

Desde que a polarização política se tornou global, diversos pesquisadores perceberam um padrão demográfico. Enquanto os mais jovens aderem ao progressismo, os mais velhos se agarram ao conservadorismo. O principal estudo apresentando essa tese, a partir de dados dos Estados Unidos e Europa, é dos cientistas políticos Pippa Norris e Ronald Inglehart no já clássico livro “Cultural backlash” (Cambridge, 2019).

Eduardo Affonso – 200

O Globo

Vão acabar com a Feira de Acari, talvez com a mesma logística usada para dar fim às cracolândias: mudando seu endereço

Hoje vou me permitir uma heresia: um texto em primeira pessoa. Eu, que fujo dela como um pobre-diabo, se pudesse, fugiria do SUS. Porque é desnecessária: numa coluna de opinião, em cada frase há um “eu” implícito. O Houaiss endossa: opinião é o “julgamento pessoal (justo ou injusto, verdadeiro ou falso) que se tem sobre determinada questão”.

Quando o colunista diz “é”, não quer dizer que seja, mas que ele vê dessa forma. Tomar partido — pecado no jornalismo — no artigo de opinião é virtude. Mais: é sua razão de ser.

Anúncio classificado tem viés (“Magnífico 2 quartos, claro, arejado”). Previsão do tempo tem subjetividade (“Chance de alguns raios e ventos moderados. Demais regiões com pouca chuva”). Por que uma coluna de opinião deveria ser “neutra”? Como haveria de ser “objetiva”?

Carlos Alberto Sardenberg - Para os amigos, tudo

O Globo

Culpados, com sentenças em todas as instâncias, não são declarados inocentes. Apenas se arranja uma formalidade, e todo mundo livre

Quando a descoberta dos casos de corrupção estava no auge, derrubando políticos e empresários, tive uma boa conversa com Fernando Henrique Cardoso, já ex-presidente, sobre as relações perversas entre os interesses públicos e privados no Brasil. Um grande empresário, que começava a ser apanhado, havia dito a interlocutores que estava em curso a formação de ampla aliança para acabar com aquela sangria. FH estaria nesse movimento.

De jeito nenhum, disse o ex-presidente quando o procurei para checar a história. Lembro que ficou bem incomodado. Falou com várias pessoas para entender e desmentir a versão do empresário — que, aliás, acabou preso e fez delação.

Para além dos fatos, a questão que colocava para o político e sociólogo FH era a seguinte: como o país havia sido tão tolerante com a corrupção? Pensando bem, o que mais chamava a atenção na Lava-Jato e noutras operações não era propriamente a roubalheira revelada, mas o fato de, finalmente, apanharem os corruptos.

Carlos Góes - O que a economia diz sobre a nova política industrial do governo

O Globo

Esperemos que guardem alguns milhares para avaliar os bilhões em subsídios. Aí no futuro poderemos aprender com nossa realidade

Esta semana, o governo federal lançou um grande pacote de política industrial, com vistas ao que ele mesmo denominou de “neoindustrialização”. Por meio do BNDES, o governo vai oferecer crédito (subsidiado) de até R$ 300 bilhões para a indústria nos próximos dois anos. O lobby da grande indústria, como a CNI e a Fiesp, como esperado, celebrou.

Por um lado, a medida evoca uma série de políticas de sucesso duvidoso da era da escolha de campeões nacionais, na década passada. Por outro, ela também vem na esteira de novas evidências científicas sobre políticas industriais, que mudaram o consenso negativo de outrora em relação a essas políticas.

E quais são essas novas evidências?

Hélio Schwartsman - Democracia amputada

Folha de S. Paulo

Sub-representação de paulistas na Câmara dos Deputados é falha institucional grave que cobra reparo

Se a escola pública fosse um pouco melhor e ensinasse direito os rudimentos da matemática, paulistas já teriam pegado em armas para pôr um fim à escandalosa sub-representação política a que estão submetidos. Se temos interesse em manter a democracia, como acho que temos, é importante apontar os garrotes que a apertam, de modo que possamos aprimorá-la.

Um desses gargalos é o teto constitucional de 70 deputados federais por estado. Apenas São Paulo é atingido por tal mecanismo, que representa uma violação ao mais elementar dos princípios democráticos, que é o de que o voto de todos os cidadãos deve idealmente ter o mesmo peso. Mas na Câmara dos Deputados, onde a lógica do "um homem, um voto" deveria prevalecer, isso não ocorre. A Casa abriga 513 parlamentares. Numa conta de guardanapo, SP, com 22,2% da população do país, faria jus a uma bancada de 114, mas, por causa do teto, tem sua representação tolhida em 44 assentos, o que equivale mais ou menos a um RJ.

Dora Kramer - Fuga dos extremos

Folha de S. Paulo

Nunes vai isolar extremistas para fugir do embate entre Lula e Bolsonaro na campanha

A disposição do presidente Luiz Inácio da Silva (PT) de fazer da eleição de 2024 um ensaio para 2026 e, notadamente em São Paulo reeditar o embate de 2022 entre ele e Jair Bolsonaro (PL), impõe um desafio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB): manter o foco nos problemas da cidade em sua campanha pela reeleição.

Nunes está convicto de que, se dançar conforme a música de Lula, corre o risco de cair numa armadilha. Por isso, seu tom será outro. "Vou sair da discussão de terceiro turno da eleição presidencial" avisa, concentrado que estará em estabelecer as diferenças entre Guilherme Boulos, candidato do PSOL, e ele na capacidade de administrar a maior cidade do país.

Adriana Fernandes - STF, Haddad e taxação de importados

Folha de S. Paulo

Supremo pode tirar bomba da taxação de importados do colo de Haddad

taxação das compras internacionais até US$ 50 colocou o STF (Supremo Tribunal Federal) mais uma vez como ator central na decisão de um tema sensível para a política econômica do governo Lula 3.

Com o movimento das duas maiores confederações empresariais CNI (indústria) e CNC (comércio) de entrar com uma ação no STF para acabar com a política de tarifa zero do Imposto de Importação de bens de pequeno valor que são enviados a pessoas físicas no Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, saiu do foco de pressão do Planalto, contrário a qualquer tipo de taxação.

Bom para Haddad, que tira essa bomba de impopularidade do seu colo. Ruim para muitas lideranças do Congresso que seguem incomodadas e críticas à pauta econômica tomando o caminho na direção do prédio ao lado da praça dos Três Poderes, o do Supremo.

Demétrio Magnoli - Esquecer Auschwitz?

Folha de S. Paulo

Ação sul-africana e apoio do governo Lula a ela é estufa de mudinhas do antissemitismo

Este sábado (27), aniversário da libertação de Auschwitz, é o Dia Internacional da Memória do Holocausto. O governo da África do Sul, com apoio do governo do Brasil, decidiu enterrar a memória do genocídio dos judeus europeus por meio de uma cínica acusação de genocídio contra o Estado judeu.

Na guerra civil síria, o regime de Bashar al-Assad matou mais de 300 mil civis. Cidades inteiras sofreram bombardeios devastadores. Forças do Irã e da Rússia participaram dos massacres. Nenhum país acusou a Síria, na CIJ (Corte Internacional de Justiça), de praticar genocídio. Com razão: a ditadura síria não cometeu o crime dos crimes.

Oscar Vilhena Vieira* - O movimento das marés

Folha de S. Paulo

Tudo indica que nos EUA a onda de populismo autoritário voltará com mais força e fúria

É um equívoco achar que as marés simplesmente passam. Elas vêm e voltam. E tudo indica que nos Estados Unidos a onda de populismo autoritário, encabeçada por Donald Trump, retornará com mais força e fúria. Ressentido, Trump não poupará esforços para romper as amarras estabelecidas pela Constituição para que possa exercer o poder sem embaraços.

Se há uma característica comum às diversas vertentes do populismo autoritário é o seu anti-institucionalismo. As instituições liberais, criadas para estabilizar relações e conter o exercício arbitrário do poder, devem ser subjugadas ou capturadas, para atender os desígnios do líder populista.

O emprego da Abin para investigar opositores e autoridades vistas como inimigas por Bolsonaro, além de proteger familiares, se comprovado, é uma amostra de como populistas autoritários instrumentalizam as instituições para atender seus objetivos.

Poesia | Balada do amor através das Idades, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Alceu Valença - De Janeiro a Janeiro (com. Maria Bethânia)

 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Limitar trabalho aos feriados é um contrassenso

O Globo

Ministério do Trabalho deveria cuidar de temas mais importantes, em vez de impor amarras ao que funciona bem

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, anunciou que editará nova portaria para regulamentar o trabalho aos feriados. Espera-se que o governo desfaça a confusão criada em novembro do ano passado, quando, sem ouvir a sociedade, o ministério decidiu impor novas regras que dificultam a abertura do comércio nos feriados, desagradando a empregadores, empregados e consumidores. Melhor seria não fazer nada. Na melhor das hipóteses, a portaria será mais uma regulação inútil. Na pior, um empecilho para quem mantém negócios que geram empregos.

A portaria de novembro revogava outra, editada pelo governo Jair Bolsonaro em 2021, reduzindo a burocracia para estabelecimentos comerciais funcionarem aos domingos e feriados. Diante da grita do comércio, Marinho adiou a iniciativa e prometeu discuti-la com os afetados. Fez depois o que deveria ter feito antes. De acordo com ele, a portaria de Bolsonaro afrontava a lei, que permite trabalho aos fins de semana, mas exige negociação com sindicatos para os feriados (algumas cidades brasileiras como Rio de Janeiro e São Paulo já estão adaptadas a essa norma).

Fernando Abrucio - Lula precisa de novas ideias e de boa gestão

Valor Econômico

São fundamentais a definição clara de metas e indicadores, monitoramento contínuo, articulação de organizações e dos entes federativos, engajamento da burocracia e construção de lideranças em vários níveis

Se Lula tivesse um espelho mágico para o qual pudesse perguntar o que deveria fazer para ter sucesso no terceiro mandato, a resposta poderia ser a seguinte: “Presidente, é necessário corrigir os males deixados pela gestão bolsonarista, além de recuperar bons programas e políticas que foram criados e desenvolvidos depois da Constituição de 1988, inclusive em alguns dos seus mandatos anteriores. Mas o futuro está batendo à sua porta e é preciso decifrá-lo antes que ele devore seu governo”.

O enigma proposto ao final pelo espelho mágico é a grande questão do governo Lula III: o passado, tanto o recente desastre bolsonarista quanto as respostas bem-sucedidas e saudosas dos outros dois mandatos, não serão suficientes para melhorar o desempenho governamental e garantir um fôlego político maior ao lulismo. É possível até obter a reeleição do presidente em 2026 jogando quase parado, sem grandes mudanças, mas tudo será mais difícil com essa estratégia, seja na construção da governabilidade nos próximos anos, seja num possível resultado eleitoral que não seria muito diferente do quase empate de 2022.

O governo Lula III precisa ter uma agenda específica voltada à realidade do século XXI, o que exige um novo impulso inovador e reformista. Trata-se de montar uma agenda com prioridades claras e foco preciso, baseada em ideias novas e bons mecanismos de gestão. Afinal, o sucesso do Plano Real e do Bolsa Família não derivou apenas de concepções econômicas e sociológicas corretas. A administração cuidadosa de todas as dimensões da implementação foi fundamental nesses dois casos bem-sucedidos.

César Felício - Ramagem e os 50 anos do caso Watergate

Valor Econômico

Operação da PF confirma a tendência de o Judiciário ser determinante na política do Rio de Janeiro neste ano

A operação da Polícia Federal contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) na quinta-feira confirma a tendência de o Judiciário ser determinante na política do Rio de Janeiro neste ano. Há uma cronologia de episódios potencialmente explosivos que confluíram no cenário local em apenas um mês, antes de chegar ao pré-candidato à prefeitura da capital chancelado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Exatamente uma semana antes foi a vez de os federais baterem à porta do colega de bancada de Ramagem, Carlos Jordy, pré-candidato avalizado por Bolsonaro à Prefeitura de Niterói. Duas outras investigações lançam sombras sobre a política local. São de origem estadual, mas federalizaram-se. O impacto delas dependerá de bombas de tempo que ainda não detonaram.

Maria Cristina Fernandes - Operação da PF sobre Abin abre novo flanco no bolsonarismo, mas mantém os mesmos vícios

Valor Econômico

Excepcionalidade aberta pelo STF no inquérito das fake news é reproduzida no caso da Abin

A deflagração da operação da Polícia Federal que investiga o aparelhamento de um contrato entre a Abin e a empresa israelense Cognyte (ex-Verint) permite ao governo e ao Supremo Tribunal Federal realocar o foco de investigações e inquéritos até aqui dominados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

Passado um ano daquela intentona, cujo julgamento desperta, até entre governistas, a percepção de que a bandeira da defesa da democracia passou a abrigar exageros pontuais, eis que surge um caso de indiscutível ilegalidade, pela invasão de privacidade e aparelhamento de uma agência de Estado. O problema não está nas operações sigilosas mas no uso delas para municiar o presidente de informações que não são do interesse nacional.

José de Souza Martins* - A escravidão no púlpito

Valor Econômico

À luz da Bíblia, muitas concepções e atitudes que, do ponto de vista de nossos dias, são condenáveis, nos tempos bíblicos não o eram

Uma conferência evangélica sobre teologia, marcada para acontecer durante o Carnaval, na Paraíba, teria como orador destacado o pastor fundamentalista americano Douglas Wilson. Ele já não virá ao Brasil. O convite foi cancelado e ele próprio abriu mão da visita. É o que explica Anna Virginia Balloussier, na “Folha de S. Paulo”, em detalhado artigo.

O assunto é da maior importância no tenso cenário brasileiro de controvérsias ideológicas e sociais envolvendo religião e política. O nome do pastor foi impugnado especialmente por ser ele autor de obras sobre a justificativa bíblica da escravidão. Mas não o foi porque alguém estivesse em desacordo com ele. E sim por temor da nossa reação a essa concepção reacionária da condição humana. Seu discurso poderia ser interpretado como justificador da escravidão daqui.

Entrevista | Alckmin descarta risco fiscal e diz que política industrial pode superar R$ 300 bi

Vice-presidente afirma que regras do plano estão dentro das normas da OMC

Estevão Taiar e Andrea Jubé / Valor Econômico

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin (PSB), afirmou em entrevista exclusiva ao Valor que a nova política industrial poderá ter até mais do que os R$ 300 bilhões previstos inicialmente. Contrariado com as críticas de que o plano Nova Indústria Brasil (NIB) colocaria em xeque o equilíbrio das contas públicas, ele desafiou: “Ninguém tem mais compromisso com a responsabilidade fiscal do que eu”.

O titular do Mdic observou que o programa contempla cerca de R$ 75 bilhões por ano para a revitalização da indústria. “Se puder crescer, ótimo”, ponderou, em tom de otimismo. Mas ele ressaltou que o plano não terá custos fiscais além dos que já estavam previstos no Orçamento. Mesmo que o programa seja expandido, o governo federal não realizará aportes no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Vera Magalhães - Fim dos privilégios ou novos privilegiados?

O Globo

Pregação de Haddad contrasta com reabilitação de compadrio petista e velhas práticas de governos anteriores

O ministro Fernando Haddad está convencido de que o fim de privilégios e benefícios de diversas naturezas, sobretudo fiscais, concedidos a grupos setoriais não reverteram em ganhos para o conjunto da sociedade que justifiquem a União abdicar de bilhões em arrecadação que poderiam ajudar a colocar as contas no lugar e o governo a fazer os investimentos nas prioridades enunciadas por Lula na campanha.

Trata-se de uma posição clara, principiológica, de que se pode divergir em parte ou no todo, mas que demonstra um compromisso com uma linha de condução do Ministério da Fazenda voltada para uma gestão fiscalmente responsável, o que vem agradando ao mercado e ao setor produtivo.

Mas há uma tremenda incongruência, capaz de derrubar o discurso do ministro, nas ações cada vez mais explícitas do presidente, do PT e de vários outros ministérios no sentido oposto: canalizar os privilégios para aqueles mais próximos, criando novas castas e novas discrepâncias.

Bernardo Mello Franco - O sequestro do Orçamento

O Globo
Presidente da Câmara lidera motim contra corte em emendas parlamentares; Lula é avisado de que veto deve ser derrubado

Lula derrotou o bolsonarismo e afastou a ameaça de golpe, mas ainda patina para cumprir outro desafio de seu terceiro mandato: restaurar o presidencialismo no Brasil.

O sistema tem regras simples: o Judiciário julga, o Legislativo legisla e o Executivo governa. Nos últimos tempos, o Legislativo passou a legislar e governar. Sequestrou o Orçamento e esvaziou o poder presidencial.

Num país em que falta dinheiro para o básico, a verba reservada às emendas parlamentares quase triplicou em cinco anos. Em 2024, o valor previsto é recorde: R$ 47,5 bilhões. Passaria de R$ 53 bilhões, não fosse o veto de Lula no início da semana.

O corte de R$ 5,6 bilhões nas emendas de comissão gerou um clima de motim no Congresso. O chefe da grita é o deputado Arthur Lira, que ameaça derrubar o veto e impor outras derrotas ao Planalto.